polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quarta-feira, agosto 30, 2006






roteiro para um pedinte mais incisivo


"eu já disse a você
que malandro demais vira bicho
e também já lhe pedi
pra você parar com isso.”

Bezerra da Silva / Nilo Dias


me joga uma grana na mão
te pago quando seqüestrar o avião
eu já agüentei o mais que pude
é duro manter a fama de robin hood

tudo o que eu preciso é de uma força
torça por mim antes que eu te torça
morra com a grana aqui e agora
pra não morrer com ela depois lá fora

ser bonzinho foi o meu grande mal
quero a primeira página do jornal
o inferno vive de cara esperto

meta a mão devagar e no bolso certo
muito cuidado ou viro bicho já
daí não quero nem estar onde você está

antonio thadeu wojciechowski e roberto prado



terça-feira, agosto 29, 2006



amor demais


nós aqui sozinhos
queremos dizer good bye
eu sei o quanto isso dói
eu sei o quanto isso ai

velas são acesas
flores pelo chão
meu coração é só tristeza
onde andará a tua mão?

deixa de ausência
volta agora pra ficar
se dormir cá do meu lado
se prepare pra sonhar


(thadeu w e carlos careqa)
01.01.97



Vou começar a preparar uma grande festa para os 10 anos da partida prematura do
Marcos Prado. Mandem idéias, sugestões, para o meu email
Todos que quiserem participar, por favor, façam isso com antecedência,
entrem em contato comigo.

segunda-feira, agosto 28, 2006





FÓSSIL VIVO

Na vida nem sempre pinta uma monalisa
querida é a mamãe que sempre avisa
“não confunda aspereza com realeza”

os gatos nascem com unhas,
os cães têm dentes,
só nós não reconhecemos bem nossos antecedentes

primos, tios e avós
nem sempre têm voz
na nossa infrutífera árvore genealógica

genial,
fundamental
saudades dos meus tempos neanderthal


(Thadeu, Edilson, Magoo, Chico Capetão, Walmor,Bira e Ferreira)





quinta-feira, agosto 24, 2006


chico mendes

Cabeça, tronco e membros fazem um homem,
assassinos, juízes, demônios e santos -
seres - vivos os contrastes: peso, medida, cor.
Mas um homem não é apenas um mero nome,
isso todos têm e os títulos são tantos,
que, em essência, a diferença está mesmo no amor.

Amar é conhecer o chão em que se pisa,
sabedoria que brota pela profundidade das raizes
e vai de coração a coração prestando benefícios.
O sol, por exemplo, com sua irradiação precisa,
entre luz e sombra, matriz de todos os matizes,
sobre tudo brilhando, bons e maus, virtudes e vícios.

Uma Amazônia não cabe apenas num poema,
só mesmo um Deus para defini-la ao certo,
ou um homem que Dele se aproxime e dela faça parte.
Alguém que não prede o seu próprio ecossistema,
pois sendo planta, peixe ave, bicho e não deserto,
sabe que reside dentro de si, intacto, o seu habitat.

Fora, longe do equilíbrio que a tudo regenera,
estão os que só vêem lucro por toda a mata,
com suas armas de fogo, machados e motosseras.
É necessário, aqui, definir o que realmente é fera:
de um lado, aquela que mata na medida exata;
do outro, a que perdeu a noção do que são essas terras.


Chico, incorporado ao espírito da floresta,
não sente mais as balas que lhe atingiram o tronco
e hoje vive como nunca entre gnomos e duendes.
É que a sua vitória régia é a que nos resta
até que seringueiros e índios ensinem ao homem bronco
o que significa para o mundo a Amazônia e Chico Mendes.

antonio thadeu wojciechowski, marcos prado e ubiratan gonçalves de oliveira



terça-feira, agosto 22, 2006


Duas semanas atrás fui, com o meu filho Alessandro, a Florianópolis e fiquei na casa de minha irmã na Lagoa da Conceição. Adoro ir lá e pescar. O tempo não ajudou e a pesca foi fraca, mas rendeu boas imagens para o Alessandro que não parou de clicar. Entre as fotos que ele tirou, essa me emocionou muito. Eram 6,30 h e havia ainda uma neblina sobre meu pesqueiro, mas o mar estava calmo e a água um espelho, quando cometi este pequeno poema.



Lagoa da Conceição
Tanta beleza que até embaça
O céu cai mas do chão não passa

Antonio Thadeu Wojciechowski










Ontem, na casa do Fajardo, a festa foi das melhores. Bebemos todas e mais algumas. Entre as muitas gargalhadas, saíram esses dois poemas. O primeiro com a participação de todos os presentes, o segundo nasceu da idéia de se fazer uma poema para colocar na sala da casa do Fajardo e foi escrito por mim aos olhos do Fajardo e do Otávio, pois o Língua tinha saído para renovar o estoque de cervejas.




Octonagem posológica


Beber é um ato de consciência
O melhor remédio que tem pra alma
Almas como a minha que não tem remédio
Agradeço a Deus por essa dose de paciência
Mas preciso de mais uma pra manter a calma
Reverter a tristeza e partir pro assédio

Cintas-ligas, tiaras, soutiens, calcinhas, despi-vos
O poeta está nu, aparentemente sem motivos

Thadeu W, Fajardo, Língua e Otávio


Detector de hipocrisia

“entre, a casa é sua”

onipresença
onipotência
onisciência
disso nem deus duvida
portanto, cuidado com o que você vai dizer
nesta casa, acreditamos em tudo
fantasma, gnomo, duende, bruxa,
disco-voador, bicho-papão, saci pererê
até aí novidade nenhuma
o que eu peço, aliás, exijo, é alegria
todo amor do mundo como eu sonhei um dia

Thadeu W





domingo, agosto 20, 2006





o poeta é um poema inacabado


grande barriga
resplandescente careca
lá vai o poeta
e sua alma maltrapilha

no alto da pilha
num papel ensebado
o poema inacabado
quer que a gente diga:

“se as coisas vão mal
deixe que vão
se as coisas vão bem
não diga que não”

antonio thadeu wojciechowski e marcos prado










doa, dor


essa dor que me dói
e dói tanto que deus me perdoe
já passou desta pra melhor
sabe-se lá quantas vezes
milênios, séculos, anos, meses,
de um dia para o outro bem pior
essa dor não quer que eu me doe
até que eu sinta o quanto dói a bondade
de escrever sem dó nem piedade

antonio thadeu wojciechowski



segunda-feira, agosto 14, 2006





Lá vou eu.


Estarei fora nos próximos dias, vou dar uma oficina em Wenceslau Brás, uma pequena cidade do Paraná. A iniciativa é do meu grande amigo Cláudio Fajardo, diretor da Biblioteca Pública do Paraná e da prefeitura da cidade. 20 professores e 25 alunos vão conversar comigo sobre poesia. Poucos assuntos me atraem tanto, não vejo a hora de começar. E por falar em poesia, o rasgamortalha, clic no link ao lado, está de aniversário e o Jorge Ferreira fez uma homenagem pra mim. Não deixem de ver.
E para vocês verem como eu sou bonzinho, deixo quatro livre-adaptações de quatro poetas geniais, um inglês, um irlandês, um alemão e um polonês, assim ninguém vai sentir minha falta. Até semana que vem.





Espermadulário

Desperdiçar o precioso sêmen numa greta
Debilita o esbanjador e vitamina a luxúria.
E a luxúria em ação é deliberadamente proxeneta,
Perversa, pérfida, perjura, espantadora, espúria.
Tão logo abatida quanto de pronto descartada,
Ídolo abandonado ao ódio do adorador,
Luxúria volta ao seu disfarce de isca armada
Para prostituir o próximo propício pescador.
Loucos de água na boca: enfim dois
(e pensar que este fato pode gerar um feto).
Nada de nada sobra, depois do depois.
Antes o sonho mais querido, no final, um espectro.

Tudo isso sabem todos, mas ninguém sabe ao certo
Evitar o paraíso que antecede o inferno.

William Shakespeare
Por Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos


It’s Yeats

Se eu me vestisse os anjos
Do sol e azuis da noite os tons
Das estrelas do céu os arranjos
Eu colocaria o mundo a seus pés
Mas sou pobre e tendo só meus sonhos
Quero colocá-los a seus pés
Pise com cuidado, são meus sonhos.

William Butler Yeats
Por Antonio Thadeu Wojciechowski e Marcos Prado


terra nostra

Fora essa estrelinha apagada,
Acho que não temos mais nada
E ela está toda suja e devastada
Ela é nossa casa, nossa única casa
E olhe só o estado da coitada.

Bertold Brecht
Por Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado.


Romantismo

“antigamente eu vivia sonhando
hoje já nem durmo”


Frase extraída de um pára-choque de caminhão


- Acorda, menina, acorda! –
Dia claro. Cidadezinha.
Ela não se importa,
Parece estar puxando uma linha
Costureira das bordas entre o rir e o chorar.
- Você costuma às paredes falar? –
Ela não ouve nadinha.

“Há quase dois anos morreu meu amado,
é o que todos têm falado
além de das minhas lágrima pilheriarem.
Ninguém, amor, vê o que eu vejo
Através delas: tua mais nítida imagem.
Quantas vezes ainda te darei o primeiro beijo?”


-Ela está louca, continuo sem ver a entidade! –
“É que não me interessa servir como lição:
Quem vê um milagre revê a verdade,
Olha com coração para o coração.”


Adam Mickiewicz
Por Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos


sábado, agosto 12, 2006





O juízo final está próximo.

O blog malocabilly está com os dias contados. Nascido para durar apenas 90 dias, ao moribundo restam pouco mais de 60 dias. 3 maloqueiros são os irresponsáveis pela blogcídio. Vá lá e veja como é que pode um troço desses. Clic aqui.



O comedor de ranho é uma meleca.

Outro que merece uns tapas é esse porralouca. Vá lá e confira as barbaridades que o cara anda escrevendo. Clic aqui.



O Solda não tem perdão.

Mesmo porque ele não precisa disso. Vá lá e participe da campanha da preservação da mata atlântica. Oiés. Clic aqui.


Façam link em seus blogs desses endereços ou enviem via e-mail para os seus mais chegados. Vale a pena conferir todos os dias.







Súplica da página em branco


Me ame como se eu fosse um linho de anágua,
Branco mais branco do que toda palidez,
Amor isento de intriga, posse e mácula.
Na carne o final feliz do era uma vez...

Me ame assim assado pelos pêlos em brasa,
Envolto em colcha de retalhos e embriaguez,
Sonho de quimeras mil nas telhas da casa,
Línguas de fogo encapsulando-nos talvez...

Me ame em cada palavra consagrada ao homem
Que emerge de tuas profundezas abissais,
Babujando lírios na captura de teu pólen.

Me ame tanto quanto possas melhor e mais,
Para que teu coração desabe incólume
Em mim e diga a que veio por amar demais!

Antonio Thadeu Wojciechowski




sexta-feira, agosto 11, 2006


Hoje o passado tem futuro


Hoje, cedinho, dei de comer às saudades.
O passado passado a limpo sempre volta
Melhor e a vida se amplia, de dentro pra fora,
Transformando coisas velhas em novidades.

É engraçado rever suscetibilidades,
Mágoas, desilusões, ódios sob a escolta
Da distância e da paciência que agora
Me fazem ver um mundo de felicidades.

Errei por muito, acertei por pouco, e daí?
Sonhei como um louco, tanto que confundi
Alhos com bugalhos e pela entrada eu saí.

Mas, neste momento, olhando o passado, ri,
Ri de tudo, ri de mim mesmo, ri por rir,
Ri até virar do avesso e não ter pra onde ir!


Antonio Thadeu Wojciechowski