polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quarta-feira, abril 23, 2008


Meu parceiro e grande amigo Plínio vai estar lá com sua criatividade inigualável. Quem estiver a fim de uma parceria genial, apresse-se.

A torcida que nunca abandona quer goleada no Couto e festa na Baixada. Foto Maringas.

Os atleticanos confiam no jogo decisivo em casa para reverter qualquer resultado adverso no Couto Pereira. A sensação que dá é que falta ainda alguma coisa para esta afirmação ser levada mesmo a sério.


Bola perdida.

“Não se preocupem com o jogo da volta, o de ida já traz seus próprios males.”


Meus obstinadíssimos leitores, salvo um daqueles solavancos do destino que, entre muitos acontecimentos, já provocou o desaparecimento de uma Atlândida ou fez cair o avião de meia seleção italiana, tem Atletiba pintando domingo.
Como previ semana passada, deu coxa no duelo com o paranito e com sobra elástica. Então a coluna de hoje que antecede a realização do jogo do final de semana, se é que esta semana vai acabar, servirá para exorcizar velhos fantasmas que trago no sótão de minha pobre alma futebolística. Mas, catástrofes à parte, dou como certo o pega dos dois velhos rivais
para mais um tira-teima, daqueles de fazer coronárias alviverdes

e rubronegras pedirem carona para a eternidade.
O Atlético, campeão brasileiro das séries A e B, depois de algumas tentativas de levantar inenarráveis canecos, acabou na Baixada. E como só lhe resta o campeonato paranaense, com toda a certeza, virá, soltando fogo pelas ventas, querendo fazer valer a vantagem de disputar o último jogo em casa. Fato que lhe dá um certo favoritismo, mas que pode também ser mais uma armadilha armada pelo destino da bola, principalmente se avaliarmos o futebol apresentado em suas últimas partidas. Levou um banho de bola do Toledo, na arena, mas ganhou. Levou outro em Toledo, mas perdeu só por 1 x 0 e se classificou,
porque tinha a vantagem da igualdade de resultados.
O Coritiba, pela tradição da camisa – também campeão brasileiro das séries A e B, tem ainda em seu cartel de títulos o Torneio do Povo e incontáveis outros do campeonato paranaense - sempre cresce em decisões e, por ter a maior torcida, se torna um inimigo mortal no Alto da Glória
e um inimigo poderoso na Baixada.
Nelson Rodrigues, certa feita, me sussurrou ao pé do ouvido: “no futebol quem ganha ou perde as partidas é a alma”, ao que acrescentei: “mas quem empata é o espírito de porco”. Rimos, como duas grandes almas puras e, sob a luz das estrelas, mais emocionados que mãe de padre em dia de primeira missa, fomos um para cada lado do gramado do Maracanã.
Às torcidas sempre cabe o grande e oscilante espetáculo: a louca alegria , o penoso sofrimento, a catarse do drama, o coração querendo saltar pela boca cheia de dentes. A euforia de uma é sempre a desgraça da outra. Mas isso não tem importância, o que eu quero mesmo dizer é que essa decisão é totalmente igual às que Atlético e Coritiba têm enfrentado desde que surgiram. Mas nada de desespero, coxas; ou de euforia, atleticanos. Depois de uma Tragédia do Sarriá sempre tem uma Curva do Tamborello. A verdade é que, num Atletiba, o Imponderável é um verdadeiro Pelé em campo. Explico melhor: quando joga o Imponderável
até santo de barro apressa o andor e faz milagre.
O meu velho e bom amigo Torcedor – esse é verdadeiro nome de um tio meu - o único deste mundo que não tem time (gosta de futebol e torce pelo bom espetáculo), sabendo que eu ia escrever esta coluna, como sempre faz, foi ao terreiro do Véio Chico Fantasma pegar o a mensagem mediúnica do Machado. Como eu não estava em casa, além da mensagem do mestre, me deixou um recado, que transcrevo aqui, na íntegra: “Dalton, todo time tem seu perna de pau de estimação, aquele que, para defender as cores do seu time, é capaz de morrer estrebuchando em campo e ainda pedir pra voltar. Porém, só os torcedores dos times adversários notam a má qualidade da madeira. Me diga, são os pernas-de-pau que vão decidir o Atletiba? Ricardinho ou Alan Bahia pegando um rebote depois de um sururu e errando o chute para colocar no ângulo sem querer? Deus nos livre e guarde!”
Amém! Digo em voz baixa pra nem eu ouvir. Já vi muitas coisas estranhas durante um Atletiba, só não vi falta de garra, valentia, luta. Jogador deste clássico tem mais fôlego e força que um Sansão, antes da Dalila descabelar o palhaço. Mas agora me dêem licença
que vou atender o telefone.
- Alô.
- E daí, Dalton?
- Ô, Trevisan, grande prazer.
- Você já escalou o imponderável para o próximo domingo?
- Claro, né?
- É, imaginei, mas ele não joga sozinho...(pausa)
- ... (eu engulo em seco 3 ou 4 recôncavos bahianos).
- Ele tem ao seu lado o Coutinho para tabelar, aliás, Coutinho é apelido, o nome verdadeiro é Detalhe. E aqui chego aonde queria: à escalação do Imponderável ao lado do Detalhe, pelo Grande Técnico. Entendeu, cara?
Desligou, antes de eu acabar de pigarrear. O que fazer? O Trevisan e o Torcedor são peças raras. Mais esquisitos que dissidentes russos, presos na Sibéria, lamentando e batendo a cabeça, aos gritos desesperados, ao receberem a notícia da morte de Stalin, que os havia praticamente dessossado, para usar ossos como dormentes num projeto de estrada mais fajuto que a Transamazônica. Mas, como sempre fazem, me deixam a pensar com os meu botões de futebol de mesa. Estarão lá, os dois? Imponderável e Detalhe, Pelé e Coutinho. Jogando pra quem? Pego a mensagem do Machado de Assis em seus garranchos elegantes e, com a alma sofrendo os fortes abalos peristálticos que sofrem os elefantes, leio: “o melhor sempre ganha, a menos que acabe perdendo a partida pra si mesmo”. Vencerá a heróica e sofrida recuperação coxa-branca (uma força da natureza) ou a plácida e auto-elogiada formação rubro-negra
(produto da moderna economia globalizada)?
Um amigo, por e-mail, me mandou um arrazoado pra lá de razoável. Confiram: “Um clássico como Atletiba tem mais de sobrenatural dos santos do que de realidade da silva, tudo ou nada pode acontecer. Dalton, do alto da glória dos meus muitos anos de Atletiba, cheguei a algumas verdades definitivas sobre o clássico: 1. Nem sempre o que está melhor vence. 2. Jogar em casa representa vantagem mínima, já que não é incomum aparecer um Cavalo de Tróia dentro do gramado. 3. O resultado dos jogos é questão de detalhe, principalmente, quando alguém é goleado. 4. Existe uma metamorfose plena e total em certos jogadores, assomam-se-lhes características de craque, personalidade de gênio e intuição divina. Ou exatamente o contrário disso, o cara vira mosca morta e só serve mesmo pra ter chilique e ser expulso. 5. No dia do jogo, Curitiba vai a 17 graus na escala Richter. Pense nisso com carinho. Grande abraço do Maringas.”
Não dá pra não concordar. No entanto, o Edílson Del Grossi, acha que não e me diz no Messenger que o Atlético repete a dose da fase de classificação. O Roberto Prado, ao saber disso, vem a pé até aqui em casa e me diz, completamente transtornado: “O Edílson, tá louco! Doidinho de pedra! O cara perdeu o senso num boteco qualquer lá de São Paulo. Será que ele já esqueceu da torcida que nunca abandona? Aquela que transformou o Renê Simões em ser humano?
E, mais do que isso, em técnico de futebol?”
Responda você, leitor, ou cale-se para sempre. Como eu me calo e sei onde me aperta.
Mas, por favor, poupem-me, porque depois do tremor de ontem (5,2 na escala Richter) eu já me sinto um habitante de Pompéia esperando um Vesúvio me soterrar completamente. E, o que é pior, eu totalmente fora de mim.
Até quarta.

Dalton Machado Rodrigues.




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sábado, abril 19, 2008

Foto tirada no dia anterior à sua morte.
Nabuto morreu aos 17 anos no dia 19 de abril de 2007.




insignes ficantes


sim, eu já fui um índio, meio bicho,
meio homem, espécime mui rara,
daqueles que não eram ainda arara
e nem coisa de se jogar no lixo

por estar entre a boca e incerto bico
por nem ter decidido se pele ou pêlos
ou penas ou plasma apenas, sem umbigo
sem ossos e sem nervos nem cabelos

mas o tempo que forma e deforma
por mim e pelos outros decidiu
utilizando-se da velha fórmula
e apareceu o que nunca se viu

um muito estranho hábito de fala
pela boca copiada de um peixe
foi reunindo idéias, formando um feixe
que a nada se equipara e nem se iguala

da caverna ao apê, do iglu ao spa,
da pena ao computador só um lapso
desse maravilhoso transformar
permanentemente em total colapso

eu já fui índio, pássaro, mamute,
hoje sou poeta, vírus programado
para acabar o mundo inacabado
e alcançar o prazer do real desfrute

Nabuto Almada (1990-2007)
Osaka – Japão

(tradução de Kevin Kojo Wojciechowski e Thadeu W)






Um Índio



Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias


Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio


Caetano Veloso




quarta-feira, abril 16, 2008


A Cláudia faz um trabalho belíssimo, que merece
o apoio de todo mundo.
Como diz a sabedoria popular: é de pequenino que se torce o pepino.
Não esqueça, Cláudia, dia 19 também é o dia do índio.
Um bom motivo para fantasia, né?





para não dizerem que não falei dos índios



vão acabar com o índio
do jeito que as coisas
vão
indo


thadeu w




Parabéns, Língua. E aquela cerveja pra comemorar seu aniversário, como é que fica?


A Pryscila Vieira me mandou um e-mail, dizendo pra eu ir sem falta.
Bem que eu queria, mas hoje é a formatura de minha nora Cláudia Muniz Wojciechowski.
E não posso perder de jeito nenhum.
Quanto ao horário, é uma incógnita´pois a propaganda não diz.
Coisa de artista.





Dalton Machado Rodrigues.
O melhor comentarista esportivo do sul do cu do mundo,
só aqui, no Polaco da Barreirinha.


A partir de agora, todas a quartas-feiras, você, leitor (a) do Polaco da Barreirinha terá, com exclusividade, a coluna do meu amigo Dalton Machado Rodrigues, Bola Perdida, nela, além do futebol, como assunto principal, você vai encontrar muitas coisas sem importância alguma. Mas, como sempre digo, é melhor do que nada. E aí vai o texto de estréia desse portento de nossas letras.
Polaco da Barreirinha


Bola Perdida

“A bola vai ao encontro do craque e, submissa,
obedece a quem, com o pé,
lhe oferece carícias de mão.”

Tem frase de locutor esportivo que nos leva para muito além do que sonha a vã filosofia. “No destino da bola, a marca implacável do tempo”, me jogava na cara, com incrível lucidez, a fugacidade da vida. Cresci, com a sabedoria de um Shakespeare, no radinho de pilha colado ao ouvido. Mas isso não tem importância, o que eu quero mesmo dizer é que o goleador nato e o craque são abortos da natureza, que sobreviveram ao apito do primeiro juízo final. Eles não são humanos como nós, parecem gente mas não são. São protótipos do futuro. Ouso dizer que o Pelé ainda não nasceu, seus mais de 1200 gols são apenas sonhos da humanidade, como o de ter asas, por exemplo. E ouso mais, muito mais, o QI de Einstein somado a de todos os gênios da humanidade não chegam aos pés do maravilhoso crioulo. Garrincha é outro. O mais célebre filho de Pau Grande - RJ, foi a prova concreta e definitiva para os homens de que Deus joga certo por pernas tortas. Com seus dribles, fazia o estádio inteiro rir, no entanto, a torcida adversária ria sempre mais, porque ria da própria desgraça. A felicidade que ele levava ao público, unia as torcidas. Arrisco mais, Garrincha as redimia de todos os pecados. Durante suas jogadas, todos rezavam com a pureza das crianças ainda nem nascidas. Mas isso não tem importância, o que eu não posso deixar de dizer é que o Carlinhos Paraíba me assusta. Meu Deus do céu, o que joga o carinha é sobrenatural. É digno de se apresentar não num campo de futebol, mas, num teatro, numa passarela, onde todos pudessem ver e entender as sutilezas requintadas de seu belíssimo futebol. Mas, por gentileza, me permitam atender o telefone:
- Alô.
- E daí, cara?
- Ô, Trevisan. Diga, aí. Estou escrevendo sobre o Carlinhos Paraíba do Coritiba.
- Eu liguei pra você pra saber se você viu o jogo?
- Eu fui ao Couto Pereira, sim. O Blog Polaco da Barreirinha me garantiu entrada, limusine na porta de casa, camarote e até grana pra broinha de fubá mimoso e o licor de ovos.
Maior mamata.
- Pô, me arruma uma vaguinha, cara. Mas... falar o quê do Carlinhos Paraíba? O cara tem agilidade de um gato, a precisão do laser e a visão do raio-x, o que ele vê a gente só sabe que existe depois que ele faz. É gênio puro. Chega ou quer mais?
Desligo, mas não sem antes cumprimentá-lo pelo novo livro. E que livro! Agora, se me permitem, volto às minhas bem traçadas linhas para a decisão. O Dorival Jr. é, sem discussão, um técnico que conhece o ofício. Montou com o que tinha um time forte, criativo, veloz e, falta pouco para ser, objetivo. Leandro Donizete, Marlos, Carlinhos e Keirrysson estão começando a se entender e, com mais alguns jogos, essa turminha vai incomodar mais que pedregulho na ponta da chuteira. E ele, o Carlinhos, mais do que ninguém, mereceu a coroa de louros pelo vitória de domingo. Mas na próxima partida, fora do Couto Pereira, a coisa vai ser diferente e apertar bem mais. Sei que os 2 mil torcedores coxas vão ajudar, fazendo mais barulho que a pororoca do Amazonas, no entanto eles vão vir com tudo pra cima da gente. Com casa cheia, time completo e uma sempre boa estratégia do Bonamigo, que de bobo não tem nada, a coisa vai pegar fogo. Contudo, acho que não tem erro: os alviverdes vão fazer a festa. O adversário é forte, tem tradição, mas algo me diz que essa vaga é do Coritiba. Por tudo isso e muito mais, no domingo,
sou coxa-branca roxo desde que nasci.
- Cooooxa! Cooooooxaaa!
O Torcedor, um tio meu que só torce pelo futebol arte, entra no meu escritório, babando, gritando e vestindo a camisa autografada do Coritiba, que o Carlinhos Paraíba lhe deu, e me entrega mais uma mensagem mediúnica do Machado de Assis, via terreiro do Pai Véio Chico Fantasma. Eu pago a ele para fazer isso toda vez
que eu tenho que escrever uma coluna.
Para vocês, meus obstinados leitores, transcrevo-a, na íntegra:
“O Coritiba será o finalista por ser incapaz de menos.
Mas se perder será porque perdeu para si mesmo”.
Depois dessa, chuto meu tio porta a fora
e fico a pensar com meu jogo de botões:
Será?
O Maringas me manda um e-mail afirmando que o título é nosso
e porco nenhum lambe.
O Edilson Del Grossi manda outro, dizendo que o caneco
já está lá na Baixada.
Durma-se com um barulho desses.
De minha parte, apenas peço: poupem-me,
pois, quando eu cheguei em mim, já estava mais por fora do que peito
depois de levar uma siliconada.
Até quarta que vem.

Dalton Machado Rodrigues





uedhat



foi bonito ver
um urubu
pano de fundo
frente ao infinito

foi só vontade
de me dividir
duas metades

uma cá por baixo
OLHANDO
a outra lá de cima
OLHANDO

Thadeu W

sexta-feira, abril 11, 2008




o óbvio ululante

me mandaram um email falando mal do lula
uma gozação na verdade
mas fiquei puto do mesmo jeito
não é possível que as pessoas não percebam a trama escondida
falar mal como se não falasse
dizer como se não dissesse
mas pegar pequenos pontos presentes na mídia
enrolá-los em um enredo torpe
e dar-lhes um toque humorístico
pronto: a maledicência está instaurada

como é que podem falar mal desse homem?


15 milhões a mais estão comendo
17 milhões saíram da linha de pobreza e foram para a classe média
o brasil, desde que o lula assumiu, nunca mais pegou um tostão com o FMI
(todo ano era aquela renegociação lembram?
e mais 10 ou15 bilhões de dólares desapareciam?)
hoje, a dívida externa está paga
( temos mais para receber do que para pagar)
nos tornamos auto-suficientes em petróleo
líder mundial do programa biodiesel
hoje somos o país com o menor risco para investimentos no mundo
e, acaba de sair a notícia,
o brasil já é o segundo país onde menos morrem crianças
sei que tem falcatrua, onde tem política sempre tem
mas olhem para as nossas reservas internacionais
olhem para o salário mínimo que já dobrou o valor em dólar
talvez estejam roubando alguns milhões de reais para as campanhas,
pode até ser,
mas eles roubavam bilhões de dólares todos os anos
ou será que vocês já se esqueceram das privatizações a preço de banana?
da grave crise econômica durante o governo do FHC?
do achaque do colllor?
dos 5 anos do sarney?
puta que o pariu! se não têm memória, anotem
se não sabem escrever, enfiem os dedos no rabo
e saiam rasgando

polaco da barreirinha

ps: gosto do lula, de graça

segunda-feira, abril 07, 2008





Poeminhas ecológicos

1.


proposta decorosa:

essa água
sem cor
sem cheiro
sem sabor

que água mais gostosa!

2.

esperto
gosta de verde
perto

3.

arvorezinha
quanto maior a arte do bonsai
mais pequenininha

4.

que tudo evolua
a minha e a tua
o nosso luar no mundo da lua


5.

lua de fazer rir
nem os meus cobertores
querem dormir

6.

luz do pirilampo
iluminando o caminho
a vela do santo

7.

noite de primavera
no silêncio das flores
os grilos são cores


8.

chuva enfim
na lagoa
ondas de marfim

9.

triste
pensei ter visto algo
que nem mais existe

10.

poluição:
rio
choro

Antonio Thadeu Wojciechowski


De como, depois de acertados os termos do negócio,

coube ao poeta bisbilhotar Fausto,

o desgraçado e infeliz objeto da aposta.



TRAGÉDIA

(noite)

FAUSTO (só)

Eta, vida de merda de cachorro !
Filosofia, direito, medicina,
até com teologia gastei o meu latim.
Pra que saber a anatomia do piolho,
a composição química da estricnina,
se tudo labirinta dentro de mim ?

Mestres, padres, escritores, nada mais absorvo,
crenças, receios, escrúpulos, desceram pela latrina.
Já não sinalizo a cruz contra o coisa ruim,
jamais tive um riso que não nascesse morto.
Todos sabem nada, ainda menos quem ensina,
por isso e pela magia deixei de ser um Dr. chinfrim.

Hoje conheço da verdade o invólucro e seu forro,
tecidos pela força demoníaca-divina,
mas a palavra humana não descostura esse interim.
Só, tu, lua, foste clara testemunha do meu esforço,
pudera brotar como a luz que sai de tua mina,
mas aqui estou, pregado à cruz da minha vida de festim.

Troco minha ciência eterna por um momentâneo prazer,
vendo meus livros e aparelhos toscos a preço de doador.
No final do inventário de meus trastes me resta uma taça,
cuja cristalina pele me chama ao derradeiro dever.
Tu, que conténs o veneno, tão oportuno ao meu humor,
da morte bem que podes me conceder a graça.

Meu olhar deságua em tua boca ao te ver
e como por encanto, dentro de mim, se apaga a dor.
Vejo um estranho carro em chamas à minha caça,
será que chegou a minha hora ? Vão me adiantar este prazer ?
Oh vida, ó céu, ó dia, ó azar de ser doutor!
Sendo verme não posso ver-me com Deus cara à cara.


Tomo nas mãos o copo que há de me dar de beber.
Nos bons tempos, de boca em boca, teu alcóolico teor
mostrou, a mim e meus convivas, orgias pela vidraça.
Enfim sós! A ninguém mais te posso oferecer,
não é pra qualquer paladar saber da morte o sabor.
No último brinde, o último pedido: que a luz se desfaça!


POETA


O Dr. Fausto está bem disposto ao ato extremo,
quando soam, nítidos, um canto pascoal e um sino terreno,
anunciando a ressurreição de alguém proscrito
pelos que não entendem bem o espírito do que está escrito.
A música foi antídoto para o gesto cheio de veneno.
Aqui pra nós, o nosso amiguinho não estava tão convicto.

Pra esquecer o seu ato extremamente caloteiro,
o Dr. Fausto dá uma volta em volta da aldeia
e na volta é seguido por um cão negro de mau-cheiro,
ao que parece louco pra vestir uma coleira.



FAUSTO

Cão negro, passa já pra dentro !
Não me arrependa por te abrigar, pulguento,
seus aposentos são logo ali atrás do fogão
e já já meu afago te deixa o mundo menos cão.

Se você não rosnasse seria melhor pra nós dois,
os homens também rosnam para o que só vão entender depois !
Teu fedor me traz o inferno de um livro que li faz tempo,
mas de mim espere no mínimo um novo testamento.

Na minha língua a Bíblia é outra coisa,
a primeira idéia sempre é a mais doida:
"No princípio era o verbo!"
Não se conjuga assim tão elevado o verbo.

E se eu melhorasse um pouco essa sentença?:
"No princípio era a inteligência!"
Não, não é isso, quem sabe a sabedoria, um dia, morra:
"No princípio era a força!"

Acho que finalmente me veio a inspiração:
"No princípio era a ação!"

Portanto, fora cão !


POETA

Foi o Fausto falar e o bicho virar monstro,
uma espécie de hipopótamo bem diante do seu rosto.
E virou um elefante. Virou um nevoeiro. Virou um estudante.
Finalmente como Mefistófeles saiu do canto enevoante.

(continua)

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos





quarta-feira, abril 02, 2008

Sérgio Viralobos, poeta em alta voltagem

Já escrevi muito nesta vida, mas as coisas que mais me divertiram foram as livre-adaptações de alguns autores que me são muito caros, como Dante Alighieri, Goethe, Bashô, Issa, Shakespeare, Yets, Poe, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, o polaco Adam, Lao Tsé e mais uma canalhada interminável. Um Fausto Dois, que fiz junto com Sérgio Viralobos, é uma das minhas prediletas. Apesar de estar pronta há mais de 4 anos ainda não foi publicada inteira. Explico: publicamos apenas a primeira parte, o Um Fausto, em 1996. Quem sabe dia desses aparece uma editora que preste e publique a obra completa.




Um Fausto Dois


Livre adaptação das obras Fausto 1 e 2, de Goethe,
por Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos.






Dedicatória: “Favor ler até o final. Não pare na primeira mancada.”





Prefácio na Editora


( presentes o editor, o poeta e a musa )



De como um editor, à beira da falência, tenta convencer seu melhor poeta a escrever um best-seller seguindo certas regras, que tenta impor de modo envolvente.


EDITOR


Precisamos de um best-seller,
a editora vai mal das pernas
e a crise atrás vem célere.
Que tal pilhar uma dessas obras eternas ?

Um bom enredo, com efeitos spielberg,
muita ação, cenas de amor não piegas,
perseguições de carros e um pouco de suspense,
nem épico nem romântico, alguma coisa entre.

Esta é a chave do cofre do sucesso
e da saída para esses montes de papel estocado.
Preciso que seu livro ressuscite meu comércio
e valorize meu dinheiro, nunca tão trocado.

Nos sonhos rarefeitos das noites mal dormidas,
vejo multidões brigando entre estantes comprimidas,
para comprar nossa obra a qualquer soma,
como se fosse um exemplar do Sex de Madonna.

Conceber um milagre que ludibrie tanto público
somente um poeta pode, ó, meu dileto amigo!




De como o poeta aceita fazer a obra, sem se dobrar ao pedido.


POETA


Não quero nem saber desta canalha!
Torre de marfim pra mim é entulho,
andar entre o povo é pisar em rabo de palha,
a arte é o círculo fechado em que me incluo.

Se não sirvo, contrate um ghost-writer.
Poeta, por mais estranho, tem direitos humanos,
não se pintam unhas sujas com esmalte,
um dom não pode ser vendido a seus planos.

Quem diz como dizer o que se diz a uma amante ?
Quem tem poder para comover uma alma carregada ?
A quem se deve, pelo menos, o efeito fulminante
de uma frase perdida numa história mal contada ?

Ao gênio inato que o poeta genuíno exala!
Nessa obra quero de volta a vida que era minha antes,
quando o nada que eu tinha enchia a sala.
Que o amor e o ódio me voltem triunfantes !




De como a musa intercede a favor do editor, vendo, no sucesso do projeto a possibilidade de uma velhice tranqüila com o poeta.


MUSA

Bem que você precisa dar de novo
um mergulho na fonte da juventude,
por estas mocinhas que te cobram gozo,
pelas bebedeiras e festas que te cuidam a saúde.

Mas quem vai me cantar os teus sucessos de outrora ?
É para isso, meu querido, que existem os velhos,
que não se tornam infantis, como se diz da boca pra fora,
a idade é que transforma alguns em fedelhos sérios.





De como o editor se aproveita do clima criado pela musa para atiçar os brios do poeta, com grande entusiasmo.


EDITOR


Se tens veia poética no sangue,
capaz de trovar entoando alexandrino,
mande poesia! Sabes como ser divino:
queremos porres mais possantes do que Dante.

Nem a desculpa da censura te garante,
quero no papel um videoclip por escrito,
não negues fogo, pago bem por teu espírito.
Acende as luzes de um céu tonitroante!

Preencha páginas mais páginas com mágicas,
faça de nós iguais a gemas desterradas,
como se fôssemos estrelas visionárias.

Depois, empalhe na vitrine, nomeadas,
todas espécies da criação, e abra as jaulas,
feras do Céu por entre Terra Infernadas.




De como o poeta inicia a sua obra-prima, sem abdicar de interferir diretamente como narrador ausente, presente.




Prefácio nas Alturas


( presentes um coro de anjos, Mefistófeles e o Senhor )


POETA

Três anjos jogando conversa ao léu,
como confete para deixar Deus nas nuvens.
Nada aproveitei das louvações de Miguel, Gabriel e Rafael,
mas ao menos de uma frase tive ciúmes:
"a Terra é o paraíso em holocausto."
Sei disso desde que comecei o Fausto.


MEFISTÓFELES

Senhor, sei que tens por mim uma queda,
se não não seria eu o seu informante dos infernos.
Me apresento, amigo, pra cumprir outra missão na Terra.
Perdão se não tenho o papo desses anjos modernos,
a essas alturas só a vertigem me eleva,
o que sei é tentar os homens, para tê-los internos.

Meu Deus, não me destrua por uma crítica construtiva,
mas onde estava a tua linha de raciocínio
quando encheu-lhes de razão a vida ?

Teu lampejo divino pariu um eterno morticínio,
comandado por teu animal mais brutal,
um gafanhotão grilado por ser anormal,
um porco que fuça na lama entre o bem e o mal.




SENHOR


Você me arrepende de ter criado o baixo astral,
no mundo, então, nada se leva direito ?



MEFISTÓFELES
( para si mesmo )


Com tal Deus quem precisa de um pobre diabo ?
Tanto sofrimento e tão bem feito,
só mesmo Ele para deixar-me desocupado.



SENHOR


Faz de conta que não li seu pensamento.
Já ouviste falar de Fausto, meu jumento ?



MEFISTÓFELES


O doutor de faustuoso (sic) intelecto,
aquele que Te acredita uma quimera ?
Exemplo acabado de um homem perplexo,
uma bela fera metida à besta esperta?



SENHOR


Boto minha mão no seu fogo por meu Fausto.




MEFISTÓFELES


Quanto quer valer que este animal eu desembesto ?



SENHOR

Tudo que escreveres será tinta da minha pena.
( fecha-se o céu para Mefistófeles )


MEFISTÓFELES
(só)


A fala de Deus diviniza o que não presta,
não digo isso por Ele ser quem me mecena,
mas para alguém tão superior tiro meu chifre da testa.


(Fim do primeiro ato)


Livre adaptação de Goethe, porAntonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos



terça-feira, abril 01, 2008


Verônica Rodrigues, foto de Gilson Camargo, durante o espetáculo Noivas de Curitiba.


saudades

madruguei
o sol ainda nem se anunciou
e eu aqui querendo escrever
que estou com saudade do Jamil Snege
eu, que nunca fui seu amigo de verdade
mas fã, de longe, com uma quase ausência de aplauso
sei que os às vezes e os por acaso foram a tônica de nossos encontros
assim como as meias frases
as palavras impronunciadas
mas havia um sentimento
um não sei quê em nossos olhos quando se viam
e a gente se reconhecia
dois estranhos gentis

ontem falei com o Solda ao telefone
e reverenciamos por alguns minutos o seu enorme talento
depois lembrei do meu último encontro com ele
suas palavras carinhosas sobre mim
sobre meu livro Assim até eu
e antes de dormir reli sua generosa apresentação
acho que foi por isso que acordei pensando no Jamil
no Roberto Prado, Solda, Leminski, Marcos Prado
Walmor, Viralobos, Del Grossi, Del Rei, Ferreira, Quege,Vulcanis
Magoo, Cobaia, Buffo, Octávio, Bárbara, Bueno
Kolody, Ruiz, Berger, Colin
Bortoloto, Américo, Pellegrines, Assumpção
Justen, Koproski, França, Leprevost, Pilar
e em todos esses que deixaram “ésses”
para eu aprender a escrever saudades

Thadeu W