polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, dezembro 27, 2005

Uma madrugada pensando na mãe


A mãe me deu uma mão
A mãe me deu um sermão
A mãe me deu um safanão
A mãe repete a ladainha: seja feliz
Por que será que eu não faço o que ela diz?

Antonio Thadeu Wojciechowski


A mãe pôs 10 filhos na linha
A mãe sempre sabe onde começa, onde termina
A mãe diz que teve 17 fora os ameaços
A mãe tá velha com os nervos em cacos
A mãe nem sabe que eu estive lá hoje
A mãe declama o mesmo poema com a mesma pose
A mãe toma cerveja e dá nó em pingo d’água
A mãe tem essa coisa que só mãe tem na alma:

“Filho meu não tem defeito nem maldade
Filho meu tem o meu selo de qualidade”

Antonio Thadeu Wojciechowski

Minha mãe é eu


Eu sei que não vou dizer à minha mãe tudo que sinto
Eu sei que minha mãe sabe a verdade quando minto
Eu sei que ela sabe tudo e mais um pouco sobre mim
Eu sei e ela sabe que eu sei que ela sabe que eu sei
Assim o que sabemos é nosso segredo sabido e guardado
Porque ela sabe que, por mim, esse assunto está encerrado

Antonio Thadeu Wojciechowski


Claro, mãe, claro que vai dar tudo certo
Não importa essa floresta, hoje, deserto
Nem essa pressa de conquistar o mundo
Tudo que eu sei, mãe, é que vou fundo
E essas asas de anjo, verdadeira herança,
Você me deu quando eu ainda era criança
E achava que voar era só um exercício
Viver, o que havia entre cume e precipício

Antonio Thadeu Wojciechowski


Tá bom, minha velha
É isso ou coisa que o valha.
Minha poesia mais bela
É como corte de navalha.
O teu filho, mulher,
hoje quase um estranho
o mesmo filho ainda é
e você lhe dava banho,
comida, roupa lavada,
mas isso é água passada
hoje tua presença é pão,
se me falta, abro o bocão!

Antonio Thadeu Wojciechowski


A mãe tá mais doente do que nunca
É sobre isso que meu poema assunta
Uma coisa que, espalhada, junta
dor que só sei dizer que é muita
guilhotina que pede o pescoço da minha nuca

Antonio Thadeu Wojciechowski


Minha mãe tem os cabelos brancos negros
Ela nunca viu seus cabelos negros brancos
Quem sabe se os visse subisse nos tamancos
Ou sua vovozice se espalhasse sem segredos
Entre os que amam seus negros cabelos brancos.

Antonio Thadeu Wojciechowski

7 Comentários:

Às 27 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Chorei.

BB

 
Às 27 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Acho que ela é minha mãe também.

Ivan Siqueira

 
Às 28 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Bonito, polaco. Digno de um grande poeta.

Júlio Okada

 
Às 29 dezembro, 2005 , Blogger Projeto Miolo Mole disse...

muito belo mesmo! cutucou um algo que eu pensava incutucável... abraço

 
Às 29 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

edipo perde

rodrigo

 
Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Minha mãe também pinta os cabelos, só que de ruivo. Achei muito bonito o poema dos cabelos, porque também queria ver minha mãe com os cabelos brancos.

Feliz ano novo

Dílson Freitas

 
Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Que no próximo ano vc continue com esse seu trabalho maravilhoso. Muito obrigada por tudo que você fez por mim e pelos meus alunos.

Profa. Maria Luíza

 

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