polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, março 30, 2006


TAO
O LIVRO DA SABEDORIA


Lao Tse



Eis aí TAO - O LIVRO,
uma livre-adaptação/tradução do Tao Te Ching, que é considerado
um dos livros-base da humanidade.
Essa idéia não é de hoje.
Parece que foi ontem.
Mas são 13 anos depois. 4 lendo todas as versões disponíveis e 6 escrevendo e mais 3 dando os últimos retoques.
Algumas páginas reescritas dezenas de vezes.
Outras, caíram do céu.
No total, 81 preceitos/poemas/salmos/receitas/textos
(enfim, como lhes queiram nomear),
que nada mais são do que tudo aquilo que aprendemos, vivemos, sonhamos e extraímos em grande parte, com certeza, dos amigos.
E que, depois, fundimos, no calor da vida,
com o legado de Lao Tse: a possibilidade de ser co-criador da vida.
Quem lê, entra nesta parceria.


Receita para engolir esta tradução.


As convenções da leitura convencional
não convencem o leitor de Tao.
Para chegar à sua mais completa tradução é necessário citar, compilar, inverter, misturar, acrescentar, desmembrar, emendar, remendar, somar, ceifar, deletar, introduzir, anagramatizar, atualizar referências, enfim, sambar.
O melhor mesmo é o fato do livro dispensar a necessidade de decodificar a mixagem original durante a leitura.
O que não deixa de ser notável.
Lutamos com todas as forças para escapar da fácil tentação de recair no pastel ou no pastelão da falsa dicção oriental, do chinês de botequim, da mística filosofenta,
do pseudo paralelismo yin-yang que, geralmente, vulgarizam a antítese não como figura de linguagem mas como meio para fugir das dificuldades que o simples pensamento Tao oferece. Ou qualquer coisa que, a exemplo da explicação que agora simulamos dar, ofenda o pensamento moderno da China Antiga.
Lao Tse, nascido em 570 a.C., foi compreendido (apenas para destacar um entre muitos exemplos) por Einstein, que inclusive, o citou no texto de abertura
da Teoria da Relatividade.
Não é pouca coisa. Nem nós deixamos por menos. Ou vai querer mais ?


Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado.



Abaixo alguns textos que compõem o livro, como aperitivo. Compre e ganhe a vida eterna por um bom tempo. Mande e-mail para thadeupoeta@yahoo.com.br e receba as instruções.


1


O Perfeito Tao


O Tao que se revela como Tao
não é o Tao
O tal que se diz de Tao
não é o Tao
O Tao que se acha o tal
não é o Tao
O Tao que se quer saber tal qual
não é o Tao
O Tao que se mede num total
não é o Tao
O Tao que balança bem e mal
não é o Tao
O Tao que separa mel e sal
não é o Tao
O Tao que se chama Tao
tal não é o Tao

Não tem nome a fonte da matéria
mas a Mãe da vida pode ter.
Por não-ser a gente sonha o segredo;
pelo ser capturamos a fagulha.
Ser, não-ser, são faces
do rosto original.
São vias da mesma láctea,
cores do mesmo leite,
no mesmo leito abissal.

Escurecer a escuridão
na escuridão total:
eis a iluminação.


4


O Caráter de Tao


Tao está sempre
e ainda é cedo.

Meça e ele se estende,
você encolhe.

Acredite quem quiser:
"a matéria, um dia, acordou fora da inércia."
Mas ainda dá pra sentir o empurrãozinho.(1)

São átomos agudos
que o Universo arredondou.
Energia latente
que Tao acumulou
e devolve em luz,
aos poucos,
muito aos pouquinhos,
pra não chamuscar
gente como nós.

É verdade: aos olhos de não ver,
tudo parece não se mover.

Tao deve ser o pai de todos os deuses,
mas,
no fundo, no fundo,
é filho de não sei quem.
Se veio antes o filho da Mãe?
Talvez.
Pois Tao é a imagem que dele mesmo fez.


8


O Tao Como a Água


O homem de Tao é aquela água:
cai para fazer levantar.
Dá a vida e sobe aos céus
onde nem ser reconhecido pode mais.
Já sabendo viver de brisa nas nuvens,
chove de novo para estar na lama
até quando Tao quiser.

Sendo assim o sábio dispensa fogos e artifícios.
Isto é:
dá a luz à sombra de um parto sem dor.

Já que joga sem adversários,
sua diversão é ser generoso, profundo, bondoso,
sincero, pacífico, hábil, reto.

E porque ele não deixa furo,
o seu mérito jamais esvazia.



11


O Mérito da Impersonalidade


Entre o puro átomo e tudo aquilo que se vê
estão diferenças de velocidade,
mas é na lei da gravidade
que você se prende a uma das utilidades do átomo.
O fino trato e a correta porcelana
tornam visível uma moringa ming, (3)
mas é o seu interior, visivelmente vazio,
que transborda de utilidade.
Uma casa só paredes, sem o espaço das portas e janelas,
é também composta de meras diferenças de velocidade,
mas como utilizar o seu vazio interior ?

Daí, que:
o corpo serve
e a alma fica servida.

Portanto:
através da matéria utilizamos este mundo,
mas é com espírito que vivemos.


18


A Decadência


Quando entram em serviço a covardia e a preguiça
recebem procuração a religião e a polícia.

Quando a sabedoria e a inteligência dão trabalho
os medíocres se aposentam na hipocrisia.

Quando o lar vira uma casa de detenção
a família se desmancha em salamaleques.

Quando um país nem a própria cara suporta mais
os bons de fachada aparecem nas fotos oficiais.


21


Tao em Ação


As manifestações do poder absoluto,
que fazem você ficar disposto
a fazer tudo certinho,
têm origem em Tao.

Onipresente, onisciente, onipotente,
verbivocovisual está lá (7)
a coisa que é Tao.

Se você quer ver para crer,
Tao se esconde,
embora as miragens que ele emita sejam formas reais.
Se você quer fazer parte desta miragem,
Tao providencia objetos.
Se você não quer nem saber,
Tao orienta com a força da vida.
E se Tao é miragem real, objeto e força da vida,
dentro dele você busca provas
e prontamente as provas se apresentam.

Desde antes de antanho até depois de agora,
Tao nunca fez falta.
Nas formas que Tao mantém você vê Deus Pai em pessoa.
Mas como é a forma de Deus Pai em pessoa?
Todas as alternativas são corretas.


23

Conservador Revolucionário


O conservador é escola do revolucionário.
O revolucionário é mestre do conservador.

Por isso o homem de Tao revoluciona a poeira dos caminhos
mas conserva o peso da responsabilidade.

Não perdendo o sono por aplausos ou vaias (10)
a vida não lhe é um pesadelo.

É claro que é possível ordenar pelo não mandar
sem necessidade de conflitar os extremistas.

No pútrido conservadorismo o bem se imobiliza.
Na frívola revolução o que é ruim vira moda.


30


A Inutilidade da Violência


Aquele que se dirige aos povos
a mando de Tao
não comanda violência.
Toda ação armada
gera uma reação até os dentes.

Onde as armas são grandiloqüentes,
o silêncio é de morte.
A uma grande guerra a natureza responde
negando sustento a quem desceu o braço.

O bom guerreiro afia sua defesa
mas não se fia no poder da lâmina.
Se for preciso vencer,
vence como quem empata.
Se for preciso vencer,
vence e não espalha.
Se for preciso vencer,
vence e não postula medalha.
Se for preciso vencer,
vence e isso já lhe é uma derrota.
Se for preciso vencer,
vence por ser incapaz de menos.

Ao que atingiu o apogeu da montanha,
restou rolar ribanceira abaixo.
Aquele que aplaude a violência, vaia Tao.
E sobre quem vaia Tao, logo logo,
vai fogo.


31


A Lei da Destruição


Há coisas que só o sofrimento ensina.
Tem gente que só morrendo.
A força bélica é um dos instrumentos da Lei da Destruição.
Perto dela o terremoto é sutil
e o furacão uma brisa que acaricia.

O homem de Tao deixa Pompéia
ao humor do Vesúvio,
Atlântida ao sabor das ondas,
a Idade Média com suas próprias pestes,
para que a faxina faça a limpa
e a morte sobreviva.

Na Natureza é artificial a ajuda da chacina.
Só marcham para matar os que estão marcados para morrer.
Vê mérito na carnificina
aquele que gosta de sofrer.

Perante a Lei da Destruição,
quem apressa a própria ou a alheia desencarnação
joga fora o que foi no caixão.

Finda a batalha, o luto:
quem está possuído pelo Tao chora a vitória
que o sabor de derrota enluta.


49


O Ter Coração


Sábio não tem opinião nem sentimento.
Nem por isso deixa de saber o que o povo acha
e de sentir muito o que o povo sente.

O bem e o mal dos outros
lhe são indiferentes
pois estão fora de si.

O bem está bom.
O mal também.
Para o bom diz: não está nada mau!
Para o mau diz: tenha a bondade!
Tao é a virtude.

A mentira e a verdade dos outros
não lhe são diferentes
pois estão dentro de si.

A verdade é crível.
A mentira é incrível.
Para os honestos diz: é verdade!
Para os mentirosos diz: não diga!
Tao é a fé.

O sábio não precisa viver do outro mundo
pois este é um mundo bom e verdadeiro.
No coração do sábio cabe todo mundo
e todo mundo sabe quem são seus filhos.


62


O Mapa Do Maior Tesouro


Tao é o pano de fundo de todas as cenas vivas e mortas
onde personagens se revezam à sua procura.
Para o bom, Tao dá o tesouro do mapa.
Para o mau, Tao dá o mapa do tesouro.

Meias palavras constituem as meias verdades dos sofistas. (20)
Através delas, se pode arrancar um tesouro completo.
Com hipocrisia e com jeito, de um dia para outro,
se pode erguer um palácio em torno desse tesouro abjeto.

Embora exista muita gente com índole para o mal,
quem lhes solaparia as bases
sem ofender a sua preciosa pedra fundamental,
que nada mais é se não a famosa primeira pedra
atirada por Tao?

Ao prestar homenagem a um supremo mandatário
não há tesouro que chegue
nem comportamento que mais impressione
do que o eterno óbolo secreto daquele que, sem ter, (21)
envia um dízimo do seu quase nada em direção a Tao.

Por que razão Tao é tão respeitável ?

Não nos deixaram por escrito os antigos
que o ventre de Tao
é o esconderijo
onde o homem mau se esconde
e quando a mão da justiça o alcança
já não o encontra criminoso ?

Por isso Tao é o único mapa
para o coração de todos os tesouros do universo.



67


Os Três Tesouros


É verdadeiramente debilóide a unanimidade (23)
quando o Tao se manifesta.
Em uníssono repetem como doidos:
"ele é coisa de louco, muito louco, louco mesmo".

Porque ele é demais
talvez ele pareça louco.
Se ele não parecesse loucura
há muito ele seria o de menos.

Existem três loucuras elevadas
que entesouro a salvo no meu íntimo.
A primeira é o amor, constante brandura.
A segunda é o desprendimento, caridosa reserva.
A terceira é a humildade, poderoso jugo suave.

Com amor enfrento sem lutar
e o medo desaparece sem susto.
Com desprendimento dou sempre sem faltar
e ninguém quer tudo pra já.
Com humildade ensino sem dominar
e o talento de cada um vai por todos.

Lutar sem amor é odioso.
Ser caridoso sem desprendimento é torturante.
Ser poderoso sem humildade é humilhante.
Saber tudo isso e não ser nada disso
é ser um sofredor de conseqüências.

As três maiores forças do Universo
defendem e atacam como se fossem a primeira.
Entre o meu louco amor e Tao
existe diferença nenhuma.
O Céu é o amoroso braço armado
dessa imbatível trindade una.


Livre-adaptação/tradução de
Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado.

20 Comentários:

Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Que coisa maravilhosa. Mil beijos.

BB

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Porra meu, du caralho.

Hélton

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Não parece com os livros de Tao que eu li, aliás, li 3 versões e
esses textos são completamente diferentes apesar de essencialmente parecerem.
Muito bom mesmo. Dou a mão a palmatoria.

Bocudo

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Não tenho grana pra comprar, tem na biblioteca?

Ivan Siqueira

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Quando a gente menos espera sempre encontra por aqui algo maravilhosamente novo.
Parabéns, Thadeu!

Maria Luíza.

 
Às 30 março, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Tem sim, Ivan.
Boa leitura.

Abração

Thadeu

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Belíssimas e sábias palavras. Mas concordo com esse tal de Bocudo, parece e ao mesmo tempo não parece
com o livro de Tao que eu li.

Leandro Fonseca

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Oi, Tadeu!
Adorei e mandei e-mail pra vc me mandar o livro.

Beijo Ana

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Oi, mano.

Gostei muito e bateu a saudade.

Abração

Wallace

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Ô, Polaco, me disseram que vc está com câncer no pulmão, é verdade?
Fiquei preocupado, monstro.

Rezende

 
Às 30 março, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Quem te disse essa besteira deveria ter, mas no cérebro.
Tô mais vivo que nunca.

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Desculpe, mas ouvi dizerem. Bom saber que é só conversa fiada. Espero que não me leve a mal, mas tinha ficado triste e preocupado de verdade.

Rezende

 
Às 30 março, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Tesouros, verdadeiros tesouros esses textos. Quero um livro, quero um livrooooo!!!!!

Mário Alberotti

 
Às 30 março, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Desculpe-me, Rezende, se fui meio grosseiro. Mas não tenho idéia de onde possa ter surgido essa conversa. Eu te conheço? Você conhece algum dos meus parceiros?
É que não lembro de ninguém com esse nome, exceto um amigo que se mudou pra Bahia. Vc é ele?

 
Às 03 abril, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito da iniciativa, e a vinculei em um novo post no meu blog. A leitura é muito gostosa, preserva um bom humor muito jóia, e ponto para a livre criação de vocês

 
Às 03 abril, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

aliás, o blog parecia parado nos últimos dias. e que surpresa tantos posts novos!

 
Às 03 abril, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

um saco

Ruga

 
Às 03 abril, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

não é cancer nào... é efisema ... e dos grandes!!!


Parrudão

 
Às 03 abril, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

para de fumar Thadeu, pelos menos diminua pra duas carteira por dia... senão serão 7 palmos abaixo da terra de malboro...

Brocolis

 
Às 03 abril, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Podem sossegar o pito. Meu pulmão é como uma couraça de aço, suas nicotinas e alcatrões não me atingem. Como diz o Edson só a pinga tem gosto de alça de caixão.

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial