polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

domingo, março 05, 2006


A trajetória do artista


Em 1934 compõe com J. Aimberê, a marchinha DONA BOA que venceu o concurso carnavalesco organizado pela Prefeitura de São Paulo, no ano seguinte. O sucesso dessa música levou-o a decidir casar-se com Olga, uma moça que namorava já há algum tempo. O casamento durou pouco menos de um ano, mas é dele que nasce a única filha de Adoniran: Maria Helena.
Passa por várias rádios até se fixar na Record.
Sua estréia no cinema se dá em 1945 no filme PIF-PAF.
Em 1949 casa-se pela 2ª vez com Matilde de Lutiis, que será sua companheira por mais de 30 anos, inclusive parceira de composição em músicas como Pra que chorar? e A garoa vem descendo.
Seu melhor desempenho no cinema, acontece no filme O CANGACEIRO (53), de Lima Barreto, na Vera Cruz. Compõe inúmeras músicas de sucesso, quase sempre gravadas pelos Demônios da Garoa. As músicas MALVINA e JOGA A CHAVE foram premiadas em concursos carnavalescos de São Paulo. Destacam-se SAMBA DO ERNESTO, TREM DAS ONZE, SAUDOSA MALOCA etc.
Participou também, como ator, das primeiras telenovelas da TV Tupi, como A pensão de D. Isaura. O reconhecimento, porém, vem somente em 1973, quando grava seu primeiro disco e passa a ser respeitado como grande compositor. Vive com simplicidade e alegria. A vida em família transcorre tranqüila. O sucesso espoca ora aqui ora ali. Mora Adoniran em São Paulo, perto do aeroporto – bairro afastado dos da burguesia paulista. Continua com sua vida no rádio, mas nada é permanente e ele reconhece isto com a própria vida. A voz a cada ano fica mais roufenha, produto dos cigarros e da bebida, para uns, e das imitações que faz como ator, para outros. Adoniran é considerado o compositor daqueles que nunca tiveram voz na grande metrópole.

Aposenta-se em 1972, com 62 anos de idade e, como a pensão que recebe é pequena, procura engordar a renda familiar em shows que faz nos circos e nos palcos. Canta nos circos às quintas, sábados e domingos. Certa feita, quando se preparava para entrar no picadeiro, diz para seu sobrinho, Sérgio Rubinato, que o acompanha nos últimos anos: “Está me cheirando a um certo fedor de ausência de público...” Ganha pouco e para ele a necessidade da afluência do público é importante.

Nem seu último sucesso, gravado e regravado diversas vezes, o Trem das onze, traz-lhe a devida recompensa. Trem das onze é gravado originalmente pelos Demônios, em 1965. Lançado no meio do ano, se torna o maior sucesso no carnaval do Rio de Janeiro e depois é novamente repatriado para São Paulo. É curioso que este samba apareça num momento importante para a música popular brasileira.

A música brasileira, após o advento da bossa-nova e da tropicália, mesmo mantendo o samba como pano de fundo, se integra a um processo de troca cultural com o resto do mundo, principalmente a música americana, que é importante para a sua remodelação e para o questionamento do fazer cultural, mas que retira dos meios midiáticos a expressão de certa parcela da população, que fizera da música base para quebrar com o preconceito e a não aceitação das elites culturais e econômicas. O samba é banido das rádios e da televisão.

Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística. Compõe pouco.

Mas inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, cria um mundo mágico. Quando recebe alguma visita em casa, que se admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental...” Como se vê, cultiva o humor como marca registrada. Marca aliás, que aliada à observação da linguagem e dos fatos trágicos do cotidiano, faz dele um sambista tradicional e inovador.

Adoniran Barbosa morre em 1982, aos 72 anos de idade.