polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

sexta-feira, maio 25, 2007





A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 3

Eu teria sido um grande poeta.


Quando dei por mim mesmo, eu já havia passado
Dos limites: palavras me insignificavam.
Lembro-me bem do extenso tempo dedicado
Às classificações que meus dedos buscavam
Entre os vários saberes da humanidade.
Livros, livros e mais livros e eu na redoma,
Sob torres de marfim, ia, de felicidade
Em felicidade, recalculando a soma
Dos erros ancestrais, eliminando fórmulas,
Criando atalhos e descobrindo novas rotas.

A realidade rarefeita, a evasão
De princípios, a escolha de cada um dos mestres,
Tudo feito nas coxas, pura diversão,
Não sobreviveriam ao mais simples dos testes.
Mas meu ego se embebedava a bel prazer
Com a facilidade dos que dizem não
E riem, como eu ria, por não ter nada a fazer.
Meu Deus, tanta ignorância teria solução?
A maconha, o álcool, o cigarro, a insônia,
Esse estremecimento, essa visão agônica,

Esse antigo torpor, não serviram pra nada?
Isso não vai ficar assim!? Mudemos pois...
Primeiro, fico mudo. Só. E na calada
Da noite cálida ouço o que vem depois.
O silêncio não é dor que dói simplesmente,
Ele tem entendimentos, razões de sobra
Pra acabar com tua vida ou gritar em tua mente.
Todo tempo perdido então vem e te cobra.
O que fazer agora que já é tão tarde?
Bem...desistir nunquinha! Aqui, ó, covarde!

Vou começar do zero, estamos conversados?
Entre eu e mim borracha e apagador, ok?
Esse A, só por exemplo, braços levantados
Seria um belo H. Com ele escreverei
Hoje, amanhã. Depois não? Está bem então.
Não quero perder o fio de bosta nenhuma.
Será que eu sei com quem estou falando ou não?
Bom, se for assim, é comigo mesmo: única
Pessoa que eu, desconfio, confio até a morte.
Pode acreditar, acabei de achar um norte.

Duelarei c’as palavras sem dó nem piedade.
Vou na garganta e arranco o pomo de adão.
Está pensando o quê? Que não é de verdade?
Olhe bem pra você, iguais quantos serão?
As aparências sempre aparecem de viés,
Quando você menos espera, certo, Errado?
Dicotomia é pra quem tem não pra quem quer.
No fundo, no fundo, esse poço está furado.
Vaza e é aquela água. Não, essa não vale
Nesse vale de lágrimas nem se equivale.

Posso escrever então? Então está escrito.
Ninguém pega pra cristo um proscrito qualquer.
Mas tinha que ser eu? Serei o Benedito?
Essa flor mal me quer bem e já não me quer.
Bem, pelo menos, mais maus sinais serão dados.
A Tribuna está cheia, de segunda à segunda,
E você não crê em monstros? Olhe para os lados,
Ali tem um querendo comer a sua bunda.
E outra louca que pula com teu filho ao colo,
Levando todo teu futuro a tiracolo.

Eu, de tanto escrever, virei um escrivão.
Já vi de tudo e mais um pouco, você viu
O que você fez? Porra! Não sou teu irmão,
Compadre, nem avô, nem pai nem mãe nem tio!
Sou policial, um tira que não crê em justiça
E só encontra nos livros e na guerra a paz.
Olhe pra mim, mas olhe bem, ser da polícia
Não diz nada, entendeu? E do que sou capaz
Só eu sei. Mato um, rindo, com muito prazer.
Os tribunais que soltem, para você ver.

Fim do Capítulo 3




20 Comentários:

Às 26 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

3x0, Thadeu! E abrações. Fraga.

 
Às 27 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Você está na melhor forma, polaco.

 
Às 27 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Detestei os dois primeiros capítulos pela brutalidade e estupidez mas adorei esse e acho que percebi pra onde vai a história. Beijos.

 
Às 27 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Melhor impossível.

 
Às 27 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Me senti cobrado, mas não entendi bem o que e o quanto devo a mim mesmo. Bela reflexão.

Beto

 
Às 27 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Você tem o dom de pensar por mim.

Grande abraço

Paulo Souto

 
Às 28 maio, 2007 , Blogger RAUL POUGH disse...

Não li os anteriores. Mas começar pelo terceiro capítulo tem uma grande vantagem: a gente fica com tesão de conhecer o fim e o começo. Como alguém já disse, tu estás em grande forma. Abração...

 
Às 28 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Thadeu,

é o Rodolfo quem te escreve.

Se bem gosto de teus poemas, sobretudo esses últimos, de fôlego e alta inspiração, este é sem dúvida o que penso ser o mais refinado. Sob vários aspectos sobre os quais depois, pessoalmente, podemos conversar.

Escrevo, isso sim, para te contar que beatriz, a revista de poesia, será lançada amanhã no Wonka Bar, às 22hs. O poema "vc acredita em monstros", primeiro dessa última série, conforme combinamos, está publicado na beatriz. Espero tua presença.

É isso, um abraço, Rodolfo.

www.rodolfojaruga.blogspot.com

 
Às 29 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

vai tomar no cú thadeu

essa foi de foder


Ruga Rodrigues

 
Às 29 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

no bom sentido , é claro

ruga

 
Às 29 maio, 2007 , Blogger Paulo Ugolini disse...

MUITO bom!
Aguardando o próximo capítulo, não vá demorar.

 
Às 30 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Li os 3 hoje. Admiráveis.

Grande abraço ao amigo

 
Às 30 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

fantástico, thadeu.

abraço

kleyton presidente

 
Às 30 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

maravilha de vera

Ernesto Pangliaccio

 
Às 30 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

sensacional, li os 3, vou acompanhar.

Fabiano

 
Às 30 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

tchan tchan tchan ô polaco que c tá pretendendo? muito bom até aqui, mas não consigo adivinhar o que vem por aí. tá escrevendo muito e bem, parabéns.

Paulo Lima

 
Às 31 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Te adoro mas estou odiando.

BB

 
Às 31 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Cada vez melhor. É assim mesmo que tem que ser, Polaco.

 
Às 31 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei do novo personagem. Tem mistério e força. Vai embalar a novelha.

Arthur Fialho Netto

 
Às 31 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

MacGregor na área... aê, Thadeu... show de bola esse capítulo! Muito bão! tá de parabéns, hermano! manda ver q o gol é teu!

Carlos MacGregor

 

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