polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, maio 17, 2007




A vingança do povão.

Capítulo 1

Você acredita em monstros?

“Xi, paiê, sinhô fez xixizinho ni mim,
De novo.” Nunca foi realmente até o fim,
Porém, em muitas noites, arrasta a menina
Pra sua cama e se serve. Ela tem nove anos.
É a mais velha dos quatro irmãos. Única filha.
Além do pai, um tio a inclui entre seus planos.
Costuma aparecer com balas e docinhos,
Quando eles estão completamente sozinhos.

O pai, abandonado pela mulher, bebe
De cair pelas esquinas e, às vezes, se perde.
Fica dois, três dias, bêbado ou muito chapado,
Deixando as crianças sós, para alegria do tio.
“Ô, muié, não posso deixá os piá tudo largado,
Cum fome. Cê fica aí, não sorte nem um pio.”
A mulher, quarto mês de gravidez, dois filhos,
Sabe que se falar algo ele sai dos trilhos.

Já apanhou por mais de uma vida, então, se cala.
Sem ele, pode ver sua novela na sala,
Sossegadinha e alegre, junto aos seus filhotes.
“A noite tá pra mim.” Vai ao bar e enche a cara.
Sai. Chega tropeçando, cheio de pacotes.
“Óia o que o tio comprô proceis: bolacha, bala,
Chocolate e refri.” “Viva! Viva o tio Zeca!”
Felizes papam tudo. “E, agora, soneca!”

Pega os três menorzinhos e leva pra cama.
“Quem drumi por primero vai ganhá uma grana,
De manhãzinha. Quem abri o zóio perdeu.
Eu e a Aninha já tamo biservando oceis.”
Inocentes, nem piscam. “Isso aqui é só seu.”
Entrega-lhe o bombom. “Brigada, outra vez,
Mas não percisava s’incomodá, tio.”
“Quié isso, minha flô, não é incômodo, viu?

Procê dou tudo e mais um pouco. Tá sabendo?”
Puxa-a pela cintura e os dedos vai metendo
Sob a blusa, tocando em seus seios minúsculos.
“Ai, tio, eu sinto cócica!” “Só um pouquinho.”
Beija-a na boca e prende-a com seus fortes músculos.
“O titio vai te dá agora um presentinho,
Mas ocê tem que ser boazinha e ficá quieta.”
Arrasta-a para a cama suja e incompleta.

A pequena debate-se, quer se livrar
Dos braços que a envolvem. Quando vai gritar,
Leva um murro no meio da cara e desmaia.
O Zeca se aproveita. Após descabaçá-la,
A sodomiza enquanto a enforca com a saia.
Juca, o mais velho dos meninos, vai à sala,
Atraído pelos ruídos. “Tio, que fez com ela?”
“Nada! Acho que ela tá c’uma bala na goela.

Ajude o tio aqui.” O garoto vem depressa.
Zeca pula sobre ele e não tem conversa.
Usa um pedaço de lençol como mordaça,
Prende-o e o deixa nu. Barbariza outra vez,
Pois enquanto estrangula o piá, também o traça.
“Agora, boto fogo em tudo!” Pensou e fez.
Com um martelo mata os dois sobreviventes
E com uma garrafa de álcool e um fósforo
Incendiou a pequena casa, sem remorso.

De longe, viu o fogo alto e sorriu aliviado.
Foi pra casa e dormiu um sono sossegado.
De manhãzinha, a mulher o acorda gritando:
“Zeca! Zeca, desgraça, meu Deus! Os meninos
E Aninha! Só tem cinza lá!” “Que tá falando?
Cê tá louca, muié?” “Não, tão aí os vizinhos
Querendo falá, home de Deus.” Meio tonto,
Zeca levanta e rápido vai ao encontro.

“Que que incomoda, Tião? Anda bebendo muito?”
“Nada, Zeca. Queimô a casa e as criança junto.”
A mulher de Zeca, que ouvia atrás da porta,
Tem um ataque histérico, cai desmaiada,
Bate a cabeça fortemente e rola morta.
Os três assistem a última estrebuchada,
Quase paralisados pelo horror da cena.
Quem visse Tião e Joca agora teria pena.

Os dois tinham trazido a notícia fatal
E Zeca os olhava com um ódio mortal.
“Veja o que oceis fez, fios da puta! Vão morrê!”
Quando puxa o punhal, os dois já estão longe.
Ameaça persegui-los, chega até a correr,
Mas pára. “Sei bem onde esses cabra se esconde.
As despois vô sangrá eles todinho. Ah, vô!
Não sobra um pra contá que me perjudicou.”

Entra em casa e olha para a falecida.
A estátua de Nossa Senhora Aparecida
é colocada no chão, ao lado do corpo,
Pela vizinha. Zeca não aprova muito.
Porém, dissimulado, se finge de morto.
Vai fazer um café e esquece do assunto.
Não demonstra nenhum sentimento ou dor.
Acende um cigarrinho e põe pó no coador.

Fim do capítulo 1




A Vingança do Povão


Capítulo 2


A louca do 13º andar.

Netinho está contente e brinca na varanda
Com seu carrinho novo, lindo pra caramba.
Um presente da namorada de seu pai.
Artur é divorciado há dois anos e meio
E a solidão, aos poucos, lhe disse a que veio.
Resolveu reagir. Durante meses, sai
Toda noite à procura de uma companhia
Até que encontra Ana e reencontra a alegria.

Duas semanas depois, estão morando juntos,
Vivendo intensamente os sonhos e os assuntos
Que a nova vida trouxe ao jovem casal.
Foi um primeiro mês para nunca esquecer.
Ana, nos seus dezoito anos, parecia ser
A solução perfeita: bonita e sensual.
Além disso, a paixão verdadeira de Ana
Por Netinho levava Artur ao Nirvana.

Pra ele, nada no mundo tem mais importância
Do que a felicidade total dessa criança.
É seu único filho, razão de sua vida,
Fruto de um casamento infeliz e traumático,
Mas que foi resolvido de um modo bem prático
E os dois tiveram a recompensa devida:
Artur ficou co’a guarda do filho querido;
Ela, com os bens, todos que haviam adquirido.

Artur achou barato mas nunca entendeu
Porque sua ex-esposa, desde que nasceu
Netinho, mudou tanto. Ela não amava
O menino e passou a odiar o marido,
Que virou pai e mãe do então recém-nascido.
Nem a tristeza do divórcio o incomodava.
Aprendeu a viver somente para o filho
E até trouxe o escritório pro seu domicílio.

Netinho agora tem dois anos. É bonito,
Forte, esperto, risonho. Um garoto do tipo.
Ana se apega a ele com todo o carinho
Do mundo, mas de modo bastante estranho.
Primeiro, Arthur notou algo durante o banho.
Ana acariciava o sexo do menino
Bem demoradamente, mas achou normal
E até se censurou por ter julgado mal.

“Eu devo estar maluco. Onde já se viu?”
Porém, dois dias depois, o ato se repetiu.
Ana, de novo, não percebeu sua presença,
E agia como se estivesse em transe mediúnico.
Ele não se contém e, diante do filho único,
Esbofeteia Ana de forma violenta.
“O que você pensa que está fazendo, puta?”
Ela parece não entender o que escuta.

Se agarra ao menino e o abraça fortemente.
“Você vai embora agora mesmo, indecente,
Saia daqui e não volte nunca mais, canalha!”
Ana, chorando, corre e vai para a sacada.
“Me dá meu filho aqui já, sua desgraçada!”
Avança em direção a Ana, após xingá-la.
Ela se solta e leva Netinho no colo,
Um tombo só e dois corpos mortos no solo!

Antonio Thadeu Wojciechowski




11 Comentários:

Às 17 maio, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Quem quiser ler os comentários do primeiro capítulo procure logo abaixo.

Ab

Thadeu

 
Às 17 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Eita Porra !

 
Às 18 maio, 2007 , Blogger Paulo Ugolini disse...

Grande Tadeu! Esse é o poema punk naïf.

 
Às 18 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Grande desafio transformar esses doi capítulos em novela. Mas depois do Wilson Martins acredito que vc vai dar outro banho na gente. O que vem por aí eu não consigo ter a menor idéia. Mas aguardo apreensivo.

 
Às 20 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

MAIS NAIF DO QUE PUNK

JUCA BALA

 
Às 21 maio, 2007 , Blogger Paulo Ugolini disse...

Cadê o terceiro capítulo?

 
Às 21 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

é um soco no rim

 
Às 22 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Dentes foram feitos pra ranger.
Por isso venho aqui.
Grande abraço, Thadeu.

 
Às 23 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

tá fraco tá fraco

galinha dangola

 
Às 23 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Olá Thadeu,
Eu sou estudante de jornalismo e estou fazendo um trabalho sobre a feira do poeta. Não sei se dispõe de algum tempo livre, mas seria uma honra entevistá-lo. Se for possível... Eu gostaria de poder contatá-lo de um modo mais formal, mas não sabia como, então recorri ao seu blog. Tenho até o dia 13 de junho.
Meu e-mail é andrizy_selenita@yahoo.com.br

 
Às 24 maio, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

muito bom!!!

coitadinho do Guri


Ruga Rodrigues

 

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