polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

segunda-feira, julho 16, 2007

Foto de Valdecir Galor



O que seria de mim sem eu?

Capítulo 1

Quem me rotular, perde a rótula.

Nasci aqui, nesta porra de lugar comum,
A cidade sorriso, capital de bosta,
Paraíso ecológico, a número um.
Por ser laboratório, todo mundo gosta
Dos adjetivos ufanistas, puxa-sacos.
“O que dá certo em Curitiba é sucesso
No Brasil inteirinho!” Dizem os velhacos.
Mas o que mais me dá um verdadeiro acesso
De raiva e de loucura é a visível empáfia
Desses conservadores, puídos pela ráfia.

Minha Santa Maria Bueno, me perdoe,
Mas não engulo hipócritas e fariseus.
Só peço, minha Santa, pra que me abençoe
Mesmo quando pareço não ser um dos seus.
Se xingo essa caterva, é porque me sinto
Um ET nessa terra de ninguém, um allien,
Um eunuco de pau na mão, bebendo absinto
E sonhando massacres, como Columbine.
Ser pobre em Curitiba soa mal como insulto
E ser mendigo então não tem nenhum indulto.

Se o cara não trabalha “mas que vagabundo!”
Porém, se arranja um bico pra distribuir folhetos,
Por exemplo, e o cara resolve ir fundo
Pra descolar um troco, que puxe amuletos,
Patuás, rezas, feitiços e os santos que ajudam,
Porque curitibano não é solidário
Nem no câncer. Se for preciso que te acudam,
Melhor seria chamar o agente funerário.
Aqui por um cadáver se mata, se esfola,
Se dá até o fiofó em um colchão de mola.

Os filhos de uma puta vão fechar o vidro
Do carro na tua cara, para não pegar
O folder e foder com você, meu amigo.
E muitos ainda vão querer gozar, xingar,
Te humilhar, mas não ligue. São curitibanos,
Merecem compaixão: sofrem mais que você.
Eles só dão valor à grana, carros, panos
Da moda, cargos, títulos. Vale vencer.
Curitiba é alma noturna que some
Na neblina e em si mesma se consome.

Isso não é Brasil. Veja, cabe a Europa
Inteira e mais um naco do Oriente, entendeu?
Imagine um Big Brother, onde entre uma tropa
Falando N idiomas e nenhum é o teu.
Os caras se instalando, tomando o pedaço,
Impondo seus costumes e cagando regras.
Dá para imaginar o tipo de arregaço
Que toda essa Babel fez na alma aqui do degas?
Curitiba já era. Agora não é nada,
Nem sequer uma ferida cicatrizada.

Quando encho o cu de vodka, às vezes, eu choro
De saudades da minha cidade sorriso.
Sou filho dessa terra, em Curitiba moro,
Nasci, cresci, casei, morrerei, mas aviso:
Curitiba não mora mais aqui, mudou.
Eu não tenho um retrato na parede morta,
Como Carlos Drummond tinha quando pregou
Sua Itabira em dor e saudades sem volta.
Contudo, Curitiba tem intelectuais
Que a colocam no mapa, lá em Minas Gerais.

Você, que se acha esperto pra caralho, diga.
Por acaso sou trouxa, um polaco da nhanha,
Um chucrutz, um portuga, uma raça inimiga?
Se eu perder pra você, será que você ganha?
Meu nome é Zé Ninguém. Diga-me: qual é sua graça?
De que clube foi solto? Não estamos mortos?
Que ótimo! Melhor pra nós dois: tudo passa.
Porém não passa muito bem. Em nossos corpos
Há visíveis sinais de decomposição.
Além dela, o que mais caberá no caixão?




Fim do capítulo 1





16 Comentários:

Às 16 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Estupendo começo.

 
Às 16 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Manda bala nessa putada curitibana de merda!

 
Às 16 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Ihh, Thadeu, lá vem polêmica de novo. Vão te encher o saco com aqueles papinhos curitibocas.

Fabiano

 
Às 16 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Eu adoro esses batebocas.

Daniela

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Quem se habilita a adivinhar?
O personagem é o Dalton Trevisan, o Leminski, o Emílio de Menezes ou o Espanta?

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Pra falar mal de Curitiba ninguém precisa de ajuda.

Beto

 
Às 17 julho, 2007 , Blogger Zoe de Camaris disse...

perfeito. me senti em casa.

monica

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Que vai ser divertido ler, isso vai. Manda brasa.

Getúlio

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Adorei me ver tão claramente.

Jeferson

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Ótima abertura, se continuar assim vai ser a melhor de todas. Tem que meter a boca nesses curitibanos de merda.

Paulo Junqueira

 
Às 17 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Ser curitibano deve ser carma.

 
Às 18 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

ficou universal . curitiba nem é um retrato na parede, o cara ta podendo e ta fazendo valer, quem fizer uma leitura,de si mesmo e do outro esta lendo em dobro, começou com gol aos cinco minutos, jogo bom
Plinio

 
Às 19 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Uma pérola da alma curitibana, um retrato fiel.

Sérgio Warchowski

 
Às 20 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

porra thadeu

vai copiar "como me fiz por mim mesmo" na cara dura. mesmo como transcriação ficou meio forçado.

Juca Bala

 
Às 20 julho, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Juro que não entendi nada do que vc está dizendo, Joaquim.
Explique-se, meu jovem. Por um acaso vc se refere ao título do livro do grande Jamil Snege COMO EU SE FIZ POR SI MESMO ou é outro?
Aguardo sua resposta.

 
Às 23 julho, 2007 , Blogger She Python disse...

duka... bravo...kkkkkk

 

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