polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

sexta-feira, dezembro 30, 2005

minha cuca
está batendo
horas


batesse
asas
voaria



Antonio Thadeu Wojciechowski




sobe e desce
o elevador
só obedece


Antonio Thadeu Wojciechowski




oito a oito
pausa para buscar
biscoito


Antonio Thadeu Wojciechowski




pára com esse tambor, menino!
tá bom, papai!
tá bom, papai!


Antonio Thadeu Wojciechowski



é tudo ou nada


essa vida é de morte a esmo
quando você menos espera
terá passado pra outra esfera
e nunca mais será o mesmo

do que você era, nem sombra
é como se evaporasse no ar
apenas sua lápide a indicar
a presença que agora assombra.

mas em mais ou menos um século
não restará de você nem o túmulo
removido pelo grande acúmulo
de ossos, alças, sem nenhum nexo

sobre você o silêncio da história
nem uma linha, adjetivo, saudade,
também terão ido para a eternidade
os que te guardavam na memória

e a terra, sob este sol que chamusca,
na primavera florirá espetacularmente
só então você, fruto da própria semente,
há de ser, afinal, a essência que busca!


Antonio Thadeu Wojciechowski




neste cais que é a vida
companheiro de bar
não fique a ver navios
pois Curitiba não tem mar

não adianta se matar
nem cortar o seu pescoço
cada galho ou enrosco
é Deus que está conosco


Antonio Thadeu Wojciechowski


Jardim de Jasmim


Livre adaptação do Poema de Jardim de Twicknam, de John Donne, sobre tradução de Augusto de Campos.

Mar de pranto, monte de gemidos,
procuro uma primavera que me dê ouvidos,
luz para os meus olhos perdidos
e alívio para os males que maldigo.
Mas, traidor de mim mesmo, trago comigo
o amor-morte e suas bruxarias
que transformam em horror as maravilhas.
E para que o paraíso não apenas aparente
eu chego junto com a serpente.

Antes o frio do inverno venha congelar
o sol deste lugar
e a neve deixe prateada
a floresta a rir em minha face resfriada.
Mas para que possa padecer
o sofrimento sem desamor, deixe-me ser, amor,
como eu sou, sem tirar nem pôr,
milagre de mágoa
ou vale de lágrimas a fluir de um olho d'água.

Recolham então, amantes,
meu pranto-fel de amor
e comparem com prantos semelhantes
que mentem, se não têm igual sabor.
O coração não bate em todo olhar,
as lágrimas da mulher nem sempre são
a imagem real, a legítima expressão,
oh, sexo perverso, falsa mente-mulher,
a fêmea veraz que me assassine se puder.


Antonio Thadeu Wojciechowski




vit(r)al



Foi preciso, meu querido Gaughin,
um Cristo amarelo cristalino
para que Jacó visse ainda menino
a profissão do breve enquanto Van
Gogh corta. Vacas no Bebedouro
não aqui, mas acolá no matadouro.
Foi preciso teu precário estar
pra estares em ti, pois foras buscar
todas as cores que, apesar de em ti,
pensaras encontrar ali em Taiti.



Antonio Thadeu Wojciechowski



vida

um ano a mais
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos

um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos

um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais

um ano amais
outro odiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco

um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos


Antonio Thadeu Wojciechowski




a canção que soa
tem o coração do vento
que me sopra à toa


Antonio Thadeu Wojciechowski



quando


quando teus olhos
retornarem
eu quero a impressão
de tuas estrelas

em minha mão


quando teus ouvidos
regressarem
eu quero a intenção
de minhas estrelas

em tua mão

quando teus lábios
falarem
com os meus
eu quero a constelação

uma única estrela
em nossa mão



Antonio Thadeu Wojciechowski


células vivas
uma
duas
bilhões de belas libélulas

visões do fundo
do poço:
medula
carne e osso


Antonio Thadeu Wojciechowski

12 Comentários:

Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Poemas lindos e emocionantes. Mil felicidades.

BB

 
Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Uma bela despedida. Feliz 2006. E venha com tudo.

Abraço

Dalton Luiz Cunha

 
Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Tudo de bom pra vc, polaco.

Julio Okada

 
Às 30 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

felizez serao todos os seus proximos anos querido!!! BEIJOS

Angela

 
Às 31 dezembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Um abração, Polaco, tudo de bom pra você.
Um feliz ano novo para todos os seus leitores.

Miguel Aparício Souza

 
Às 02 janeiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

E a festa de final de ano? Vai demorar 15 dias como das outras vezes? Grande abraço, Brother.

 
Às 03 janeiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

que musiquinhas bacanas que sairam neste fim de ano hein ??? Hein???

"pelo fedor deus morreu aqui perto"... é demais mesmo...

abs

Rodrigo

 
Às 18 janeiro, 2006 , Blogger Unknown disse...

Dá vontade de sair andando pela cidade em compasso de "um ano a mais / um ano a menos..." Muito legal. Grande abraço.

 
Às 22 janeiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Poemas maravilhosos, principalmente "Vitral" e "Vida".

Abraços fraternais.

Visite o meu espaço em www.luamagica.zip.net

 
Às 22 janeiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Poemas maravilhosos, principalmente "Vitral" e "Vida".
Estarei colocando o seu link no meu blog.

Abraços fraternais.

Visite o meu espaço em www.luamagica.zip.net

 
Às 22 janeiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Caro poeta, gostei muito dos teus textos. Ainda existem bons poetas nesse mundo antipoético.
Sabes quem tu me lembras? Leminski - tanto nas linhas como na fisionomia.
Estou na batalha como todos. A poesia me consome.
Visite o meu espaço em http://www.angelcesar.zip.net

Abraços poéticos

 
Às 24 janeiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Obrigado, amigos ( Robson, Rúbia e Cabeza). Estou com dificuldades técnicas para postar. Mas devo resolver em breve.

Grande abraço a todos.

Thadeu

 

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