minha cuca
está batendo
horas
batesse
asas
voaria
Antonio Thadeu Wojciechowski
sobe e desce
o elevador
só obedece
Antonio Thadeu Wojciechowski
oito a oito
pausa para buscar
biscoito
Antonio Thadeu Wojciechowski
pára com esse tambor, menino!
tá bom, papai!
tá bom, papai!
Antonio Thadeu Wojciechowski
é tudo ou nada
essa vida é de morte a esmo
quando você menos espera
terá passado pra outra esfera
e nunca mais será o mesmo
do que você era, nem sombra
é como se evaporasse no ar
apenas sua lápide a indicar
a presença que agora assombra.
mas em mais ou menos um século
não restará de você nem o túmulo
removido pelo grande acúmulo
de ossos, alças, sem nenhum nexo
sobre você o silêncio da história
nem uma linha, adjetivo, saudade,
também terão ido para a eternidade
os que te guardavam na memória
e a terra, sob este sol que chamusca,
na primavera florirá espetacularmente
só então você, fruto da própria semente,
há de ser, afinal, a essência que busca!
Antonio Thadeu Wojciechowski
neste cais que é a vida
companheiro de bar
não fique a ver navios
pois Curitiba não tem mar
não adianta se matar
nem cortar o seu pescoço
cada galho ou enrosco
é Deus que está conosco
Antonio Thadeu Wojciechowski
Jardim de Jasmim
Livre adaptação do Poema de Jardim de Twicknam, de John Donne, sobre tradução de Augusto de Campos.
Mar de pranto, monte de gemidos,
procuro uma primavera que me dê ouvidos,
luz para os meus olhos perdidos
e alívio para os males que maldigo.
Mas, traidor de mim mesmo, trago comigo
o amor-morte e suas bruxarias
que transformam em horror as maravilhas.
E para que o paraíso não apenas aparente
eu chego junto com a serpente.
Antes o frio do inverno venha congelar
o sol deste lugar
e a neve deixe prateada
a floresta a rir em minha face resfriada.
Mas para que possa padecer
o sofrimento sem desamor, deixe-me ser, amor,
como eu sou, sem tirar nem pôr,
milagre de mágoa
ou vale de lágrimas a fluir de um olho d'água.
Recolham então, amantes,
meu pranto-fel de amor
e comparem com prantos semelhantes
que mentem, se não têm igual sabor.
O coração não bate em todo olhar,
as lágrimas da mulher nem sempre são
a imagem real, a legítima expressão,
oh, sexo perverso, falsa mente-mulher,
a fêmea veraz que me assassine se puder.
Antonio Thadeu Wojciechowski
vit(r)al
Foi preciso, meu querido Gaughin,
um Cristo amarelo cristalino
para que Jacó visse ainda menino
a profissão do breve enquanto Van
Gogh corta. Vacas no Bebedouro
não aqui, mas acolá no matadouro.
Foi preciso teu precário estar
pra estares em ti, pois foras buscar
todas as cores que, apesar de em ti,
pensaras encontrar ali em Taiti.
Antonio Thadeu Wojciechowski
vida
um ano a mais
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos
um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos
um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais
um ano amais
outro odiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco
um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos
Antonio Thadeu Wojciechowski
a canção que soa
tem o coração do vento
que me sopra à toa
Antonio Thadeu Wojciechowski
quando
quando teus olhos
retornarem
eu quero a impressão
de tuas estrelas
em minha mão
quando teus ouvidos
regressarem
eu quero a intenção
de minhas estrelas
em tua mão
quando teus lábios
falarem
com os meus
eu quero a constelação
uma única estrela
em nossa mão
Antonio Thadeu Wojciechowski
células vivas
uma
duas
bilhões de belas libélulas
visões do fundo
do poço:
medula
carne e osso
Antonio Thadeu Wojciechowski
batesse
asas
voaria
Antonio Thadeu Wojciechowski
sobe e desce
o elevador
só obedece
Antonio Thadeu Wojciechowski
oito a oito
pausa para buscar
biscoito
Antonio Thadeu Wojciechowski
pára com esse tambor, menino!
tá bom, papai!
tá bom, papai!
Antonio Thadeu Wojciechowski
é tudo ou nada
essa vida é de morte a esmo
quando você menos espera
terá passado pra outra esfera
e nunca mais será o mesmo
do que você era, nem sombra
é como se evaporasse no ar
apenas sua lápide a indicar
a presença que agora assombra.
mas em mais ou menos um século
não restará de você nem o túmulo
removido pelo grande acúmulo
de ossos, alças, sem nenhum nexo
sobre você o silêncio da história
nem uma linha, adjetivo, saudade,
também terão ido para a eternidade
os que te guardavam na memória
e a terra, sob este sol que chamusca,
na primavera florirá espetacularmente
só então você, fruto da própria semente,
há de ser, afinal, a essência que busca!
Antonio Thadeu Wojciechowski
neste cais que é a vida
companheiro de bar
não fique a ver navios
pois Curitiba não tem mar
não adianta se matar
nem cortar o seu pescoço
cada galho ou enrosco
é Deus que está conosco
Antonio Thadeu Wojciechowski
Jardim de Jasmim
Livre adaptação do Poema de Jardim de Twicknam, de John Donne, sobre tradução de Augusto de Campos.
Mar de pranto, monte de gemidos,
procuro uma primavera que me dê ouvidos,
luz para os meus olhos perdidos
e alívio para os males que maldigo.
Mas, traidor de mim mesmo, trago comigo
o amor-morte e suas bruxarias
que transformam em horror as maravilhas.
E para que o paraíso não apenas aparente
eu chego junto com a serpente.
Antes o frio do inverno venha congelar
o sol deste lugar
e a neve deixe prateada
a floresta a rir em minha face resfriada.
Mas para que possa padecer
o sofrimento sem desamor, deixe-me ser, amor,
como eu sou, sem tirar nem pôr,
milagre de mágoa
ou vale de lágrimas a fluir de um olho d'água.
Recolham então, amantes,
meu pranto-fel de amor
e comparem com prantos semelhantes
que mentem, se não têm igual sabor.
O coração não bate em todo olhar,
as lágrimas da mulher nem sempre são
a imagem real, a legítima expressão,
oh, sexo perverso, falsa mente-mulher,
a fêmea veraz que me assassine se puder.
Antonio Thadeu Wojciechowski
vit(r)al
Foi preciso, meu querido Gaughin,
um Cristo amarelo cristalino
para que Jacó visse ainda menino
a profissão do breve enquanto Van
Gogh corta. Vacas no Bebedouro
não aqui, mas acolá no matadouro.
Foi preciso teu precário estar
pra estares em ti, pois foras buscar
todas as cores que, apesar de em ti,
pensaras encontrar ali em Taiti.
Antonio Thadeu Wojciechowski
vida
um ano a mais
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos
um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos
um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais
um ano amais
outro odiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco
um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos
Antonio Thadeu Wojciechowski
a canção que soa
tem o coração do vento
que me sopra à toa
Antonio Thadeu Wojciechowski
quando
quando teus olhos
retornarem
eu quero a impressão
de tuas estrelas
em minha mão
quando teus ouvidos
regressarem
eu quero a intenção
de minhas estrelas
em tua mão
quando teus lábios
falarem
com os meus
eu quero a constelação
uma única estrela
em nossa mão
Antonio Thadeu Wojciechowski
células vivas
uma
duas
bilhões de belas libélulas
visões do fundo
do poço:
medula
carne e osso
Antonio Thadeu Wojciechowski
12 Comentários:
Poemas lindos e emocionantes. Mil felicidades.
BB
Uma bela despedida. Feliz 2006. E venha com tudo.
Abraço
Dalton Luiz Cunha
Tudo de bom pra vc, polaco.
Julio Okada
felizez serao todos os seus proximos anos querido!!! BEIJOS
Angela
Um abração, Polaco, tudo de bom pra você.
Um feliz ano novo para todos os seus leitores.
Miguel Aparício Souza
E a festa de final de ano? Vai demorar 15 dias como das outras vezes? Grande abraço, Brother.
que musiquinhas bacanas que sairam neste fim de ano hein ??? Hein???
"pelo fedor deus morreu aqui perto"... é demais mesmo...
abs
Rodrigo
Dá vontade de sair andando pela cidade em compasso de "um ano a mais / um ano a menos..." Muito legal. Grande abraço.
Poemas maravilhosos, principalmente "Vitral" e "Vida".
Abraços fraternais.
Visite o meu espaço em www.luamagica.zip.net
Poemas maravilhosos, principalmente "Vitral" e "Vida".
Estarei colocando o seu link no meu blog.
Abraços fraternais.
Visite o meu espaço em www.luamagica.zip.net
Caro poeta, gostei muito dos teus textos. Ainda existem bons poetas nesse mundo antipoético.
Sabes quem tu me lembras? Leminski - tanto nas linhas como na fisionomia.
Estou na batalha como todos. A poesia me consome.
Visite o meu espaço em http://www.angelcesar.zip.net
Abraços poéticos
Obrigado, amigos ( Robson, Rúbia e Cabeza). Estou com dificuldades técnicas para postar. Mas devo resolver em breve.
Grande abraço a todos.
Thadeu
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