O outono não mora mais aqui
Frio. Muito frio. A noite vem com vento.
Da janela de casa, posso ver
A rua e as folhas em movimento,
Procurando um canto pra se aquecer.
O outono em Curitiba é raro,
Há inverno e veranico de maio.
Enrolado num cobertor, escrevo,
sem vocação pra estátua de gelo!
O céu pesado agora vem abaixo,
Não sei se nuvem, neblina ou fumaça
Imprime fantasmas na vidraça,
Que com o hálito quente eu opaco.
O conforto da casa me anima,
Esfrego as mãos para aquecê-las,
E sopro-as, e cubro-as, e sento em cima,
Até senti-las novamente acesas.
“Agora é nossa vez!” Gritam os pés.
Ágil, troco o chinelo por pantufa
E digo pra mim mesmo: tudo dez.
Enquanto o cobertor me encaramuja.
Lá fora, as nuvens azulam de vez.
O céu mostra sua cara estrelada
E eu, atento como um gato siamês,
Leio as estrelas sem entender nada.
Quem sou? De onde vim? Para onde vou?
Mil vezes pergunto e mil vezes calo
Sem resposta, como quem perde um gol
Quando tinha tudo para marcá-lo.
Agüenta, coração, agüenta firme.
O amor ainda é a forma mais sublime
De entender o que é inexplicável
E, sentir, o verdadeiro milagre!
O dia não tarda a amanhecer,
Um galo longe canta sem parar
E, aconteça o que acontecer,
O poema já deu o que tinha que dar!
Antonio Thadeu Wojciechowski
21 Comentários:
Magnífico esse poema, Thadeu. Meus parabéns mesmo.
Flávio Scoretto
Incrível como você consegue impregnar de sentimentos as pequenas coisas, ver beleza onde aparentemente não há nada. Cada dia mais fico sua fã.
Leila Amaral
Foi fundo, hein Polaco?
Putisgrila, cara, é genial o que você faz com as palavras. Você vai de uma coisa pra outra e consegue costurar tudo com a emoção que agente vai sentindo. Sensacional.
Tô aprendendo a gostar de poesia.
Grande abraço
Marcelo Vianna
10 com 3 estrelinhas, Thadeu.
Bj
Maria Luíza
Gostei.
Ruga
Coisa fina da melhor qualidade. Vc escreve bem para caralho. Gostei muito.
Zé Pelintra
das estrelas ao nada.
sou?
vim?
vou?
Mil vezes
perguntas
respostas
gol marcado
aguenta coração
o velho amor
deu o que tinha que dar
Meu jovem
o seu retrato do cotidiano
descrevem o tesouro do dia a dia que nós velhos esquecemos
continue simples
que o treco vai se elaborando sozinho
plinio
Concordo com o Flávio, magnífico esse poema. Os decassílabos são tão expontâneos que o ritmo se impõe serenamente. O fato de inventar de algumas palavras também fortalece o ritmo. Essas palavras soam tão naturalmente que dão a impressão de fazerem parte do nosso cotidiano. Vai ser um prazer tê-lo conosoco aqui em Piracicaba, em junho.
Um afetuoso abraço
Carlos Sousa.
Corpo e alma do nosso outono, só quem mora em Curitiba pode realmente comprender.
Forte abraço
Beto
Que lindo!
Marisa
Puta poema, velhão.
Dalton L. Cunha
Ô, Plínio, alegria total ver um comentário seu por aqui. Apareeeça.
Não entendi direito, Carlos Sousa, mas acho que vc quis dizer "dar um sentido novo para palavras". É o que fiz ao transformar em verbo duas palavras existentes ( opaco - caramujo ) mas me pareceram ser totalmente pertinentes. A única dúvida que me ficou ao ler seu comentário é quanto a palavra pantufa, muito usada em Curitiba, mas não tenho certeza quanto ao resto do Brasil. Se for ela, pantufa é um tipo de calçado apropriado para o frio, pois é todo forrado com lã. No mais, um grande abraço, e espero conhecê-lo lá em Piracicaba, onde estarei com o Chacal e a Alice Ruiz.
Thadeu
Simplicidade é tudo mesmo. Entender e sentir é o que o leitor quer. Sou colega da Professora Maria Luíza e ela é fã ardorosa do senhor, pode desde já me incluir na lista.
Um abraço carinhoso
Olga de Olinda Santos
Maravilhoso, como tudo o que li de vc até agora...
Já sou sua fã . Beijinho ...
Anna
Por que você só está escrevendo em decassílabos ultimamente? Não acha que aprisiona um pouco a idéia?
Guardador de Vaca
a rua, as folhas em movimento,
procurando um canto para se aquecer
que coisa mais genial, Thadeu.
Abraço
Fabiano
É bom vê-lo por aqui, Guardador de Vaca. Adorei o seu poema Nasce uma estrela no país das maravilhas. Quanto aos decassílabos, fique tranqüilo, isso ainda vai longe. Coloquei como meta espartana de escrever pelo menos 3 por dia, como treinamento para desenvolvimento da técnica. Mas por falar nisso esse seu poema que cito acima é em dodecassílabos, está treinando também?
Grande abraço
Thadeu
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