polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, maio 11, 2006






O outono não mora mais aqui


Frio. Muito frio. A noite vem com vento.
Da janela de casa, posso ver
A rua e as folhas em movimento,
Procurando um canto pra se aquecer.

O outono em Curitiba é raro,
Há inverno e veranico de maio.
Enrolado num cobertor, escrevo,
sem vocação pra estátua de gelo!

O céu pesado agora vem abaixo,
Não sei se nuvem, neblina ou fumaça
Imprime fantasmas na vidraça,
Que com o hálito quente eu opaco.

O conforto da casa me anima,
Esfrego as mãos para aquecê-las,
E sopro-as, e cubro-as, e sento em cima,
Até senti-las novamente acesas.

“Agora é nossa vez!” Gritam os pés.
Ágil, troco o chinelo por pantufa
E digo pra mim mesmo: tudo dez.
Enquanto o cobertor me encaramuja.

Lá fora, as nuvens azulam de vez.
O céu mostra sua cara estrelada
E eu, atento como um gato siamês,
Leio as estrelas sem entender nada.

Quem sou? De onde vim? Para onde vou?
Mil vezes pergunto e mil vezes calo
Sem resposta, como quem perde um gol
Quando tinha tudo para marcá-lo.

Agüenta, coração, agüenta firme.
O amor ainda é a forma mais sublime
De entender o que é inexplicável
E, sentir, o verdadeiro milagre!

O dia não tarda a amanhecer,
Um galo longe canta sem parar
E, aconteça o que acontecer,
O poema já deu o que tinha que dar!

Antonio Thadeu Wojciechowski




21 Comentários:

Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Magnífico esse poema, Thadeu. Meus parabéns mesmo.

Flávio Scoretto

 
Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Incrível como você consegue impregnar de sentimentos as pequenas coisas, ver beleza onde aparentemente não há nada. Cada dia mais fico sua fã.

Leila Amaral

 
Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Foi fundo, hein Polaco?
Putisgrila, cara, é genial o que você faz com as palavras. Você vai de uma coisa pra outra e consegue costurar tudo com a emoção que agente vai sentindo. Sensacional.
Tô aprendendo a gostar de poesia.

Grande abraço

Marcelo Vianna

 
Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

10 com 3 estrelinhas, Thadeu.

Bj

Maria Luíza

 
Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei.

Ruga

 
Às 11 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Coisa fina da melhor qualidade. Vc escreve bem para caralho. Gostei muito.

Zé Pelintra

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

das estrelas ao nada.
sou?
vim?
vou?
Mil vezes
perguntas
respostas
gol marcado
aguenta coração
o velho amor
deu o que tinha que dar

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Meu jovem
o seu retrato do cotidiano
descrevem o tesouro do dia a dia que nós velhos esquecemos
continue simples
que o treco vai se elaborando sozinho
plinio

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Concordo com o Flávio, magnífico esse poema. Os decassílabos são tão expontâneos que o ritmo se impõe serenamente. O fato de inventar de algumas palavras também fortalece o ritmo. Essas palavras soam tão naturalmente que dão a impressão de fazerem parte do nosso cotidiano. Vai ser um prazer tê-lo conosoco aqui em Piracicaba, em junho.

Um afetuoso abraço


Carlos Sousa.

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Corpo e alma do nosso outono, só quem mora em Curitiba pode realmente comprender.

Forte abraço

Beto

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Que lindo!

Marisa

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Puta poema, velhão.


Dalton L. Cunha

 
Às 12 maio, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Ô, Plínio, alegria total ver um comentário seu por aqui. Apareeeça.

 
Às 12 maio, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Não entendi direito, Carlos Sousa, mas acho que vc quis dizer "dar um sentido novo para palavras". É o que fiz ao transformar em verbo duas palavras existentes ( opaco - caramujo ) mas me pareceram ser totalmente pertinentes. A única dúvida que me ficou ao ler seu comentário é quanto a palavra pantufa, muito usada em Curitiba, mas não tenho certeza quanto ao resto do Brasil. Se for ela, pantufa é um tipo de calçado apropriado para o frio, pois é todo forrado com lã. No mais, um grande abraço, e espero conhecê-lo lá em Piracicaba, onde estarei com o Chacal e a Alice Ruiz.

Thadeu

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Simplicidade é tudo mesmo. Entender e sentir é o que o leitor quer. Sou colega da Professora Maria Luíza e ela é fã ardorosa do senhor, pode desde já me incluir na lista.

Um abraço carinhoso

Olga de Olinda Santos

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Maravilhoso, como tudo o que li de vc até agora...
Já sou sua fã . Beijinho ...
Anna

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Por que você só está escrevendo em decassílabos ultimamente? Não acha que aprisiona um pouco a idéia?

Guardador de Vaca

 
Às 12 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

a rua, as folhas em movimento,
procurando um canto para se aquecer

que coisa mais genial, Thadeu.

Abraço

Fabiano

 
Às 12 maio, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

É bom vê-lo por aqui, Guardador de Vaca. Adorei o seu poema Nasce uma estrela no país das maravilhas. Quanto aos decassílabos, fique tranqüilo, isso ainda vai longe. Coloquei como meta espartana de escrever pelo menos 3 por dia, como treinamento para desenvolvimento da técnica. Mas por falar nisso esse seu poema que cito acima é em dodecassílabos, está treinando também?

Grande abraço

Thadeu

 
Às 21 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
»

 
Às 21 maio, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

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