polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

segunda-feira, janeiro 22, 2007


O DIA QUE EU MATEI O WILSON MARTINS


Capítulo 1

Foi profundo

Mais de cem mil pessoas presentes ao enterro
Dão adeus ao mestre da manha e da moda
Em palavras difíceis e inocentes de erro.
A Gazeta do Povo Extra propõe e roda
A beatificação do morto ainda quente;
A Câmara, a maior nova pedreira urgente.

Nem durante o apagão vendeu-se tanta vela!
No câmbio negro, de hoje, até as de aniversário,
Com números e letras, foram à janela
Pra iluminar o último itinerário,
A preço de completo e raro candelabro.
E, assim mesmo, pra achá-las foi obra do diabo.

Se abriram centenas e centenas de faixas,
Em letras garrafais, homenageando o morto,
Pelas ruas e avenidas. No percurso, rachas.
Discípulos, legiões de fãs que, em desconforto
Visível e triste, choram copiosamente;
Mas, a grande maioria olha simplesmente.

Alguém inaugurou o primeiro milagre,
Aos berros: “Eu toquei em seu caixão
E fiquei são. Agora, sou mais um que sabe!”

E continuou berrando: “Sou um sabichão,
O bom e velho Wilson colocou uma lâmpada
Onde, na escuridão, reinava Lobsang Rampa!”


Alguns param e querem saber pormenores;
Outros seguem em frente, empurrados, forte
E incessantemente, pela massa e seus suores
Que, misturados às lágrimas, dão-lhe suporte
E dramaticidade. Aparentemente,
Todos têm chafarizes a jorrar pra sempre.

O cheiro provocado pelo esforço dá
À cena uma atmosfera mortalmente lúgubre
E carnicenta, a tal ponto que no céu já
Há, voando em círculos, o espectro de um abutre.
É a sombra da morte que persegue o féretro,
Como um sinal das trevas dado ao nosso cérebro!

Um congestionamento monstruoso toma
Conta das ruas, calçadas e acessos à cova,
Onde os vermes aguardam o corpo que tomba
Pra dar início à lauta refeição, tão nova
E fresca que hão de deixar somente as unhas,
Ossos e cabelos, para o horror das testemunhas!

Bom, mas isso não tem importância nenhuma.
O fato é que o Martins, vivo, era um ilustre
Desconhecido. Como é possível que reúna
Mais gente do que uma passeata contra o Bush?
Uma senhora idosa, gorda e varicosa
Até os braços, explica, em detalhes, vaidosa:

“A anulação de opostos, contradições, faz-se
Quando um dos membros deixa de existir, abrindo
Uma lacuna que, dependendo da classe
Ou amplitude, dá lugar a um labirinto,
Para Minotauro nenhum botar defeito.
E agora, Miguel Sanches Neto leva jeito?”

Alguns, com palavrões, tentam calar a velha,
Porém, irredutível, ela continua:
“Está certo que o assunto aqui não se encerra,
A mesma multidão que hoje está nesta rua
E veio homenagear o mestre literário,
Amanhã é muito comum voltar ao calendário

E marcar em vermelho a data do feriado
Novo. Minha formação de diarista serve
Pouco para ir mais longe; porém, de bom grado
Seria ouvir agora de alguém a quem se deve
Eleger. Afinal, ao rei morto, rei posto.
Como já disse, Sanches Neto faz o meu gosto.”


O pipoqueiro, até então calado, estoura:
“Cala essa boca, bruxa! O pragmatismo ímpio,
Farisaico, da classe operária é cenoura
Enfiada no nosso rabo. Há que se jogar limpo,
Essa substituição envolve muitos nomes
De peso. Uma eleição tem que ser nos conformes.”


Um guardador de carro, que ouvia de orelha
Em pé, retruca: “O povo não sabe votar!
Essa história da inteligência brasileira,
Pelo menos pra mim, alguém tem que contar
De novo. A tal poesia do Bruno Tolentino
É ouro de tolo, ao Wilson faltou tino.”



Diarista, lavadeira de estirpe raríssima,
Não se dá por vencida: “Concordo, ele errou
Feio. Aliás, de poesia mesmo coisíssima
Nenhuma ele entendeu. Na trave ou dentro do gol,
A bola faz placar diferente. Talvez
Seja esse o caminho pra saber a da vez.”


Aplaudida de pé, a anciã não cabe em si,
E retoma, erudita: “A meu ver, com Leminski
Ele cometeu grande injustiça. Reli,
Dias atrás a matéria, tomando meu uísque,
E fiquei assustada. Superficialidade
Tamanha deveriam proibir nesta cidade.”

Com ganas de intervir, freio o impulso mortal.
À plebe rude restam poucas coisas, mínimas
Referências, escassas palavras - sal
Que infertiliza o chão - de preferência, as cínicas
Que se desdobram sórdidas e incompreensíveis.
Eu não estou nem aí e me alço a outros níveis.

Ao mestre, com carinho, estendo meus braços,
Longos, desajeitados, mas cheios de amor.
Tomo de um só tomo entre os estudos esparsos
E com ele ameaço universo e criador:
“Aqui pra vocês, lentes e inspetores, cânones
Desse lugar comum, ecos de mantras brâmanes,

Que se repetem pelos séculos afora,
Como se esse nosso coração, arca única
Da vida, fosse um fóssil perdido na história.
É preciso lembrar que o monge faz a túnica,
Reveste-a do mais santo respeito ou a lança
Ao fogo do inferno, onde nada mais se alcança!

Fim do capítulo 1



58 Comentários:

Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Valeu a espera. Não sei o que vem por aí, mas pela amostra, me encho de expectativas. As personagens estão divinas, mesmo sendo inverossímeis, se sustentam como contraponto ao tema erudito.
Só vc mesmo, Polaco.

Grande abraço e parabéns

Arthur Fialho Neto

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Não consigo imaginar ninguém mais no mundo preocupado com o verso clássico e fazendo uma novela em pleno século XXI falando de sei lá quem. Mas sabe que eu gostei.

Abraço

Fernando Schiavonne

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

O ritmo meio fúnebre no mínimo deve ser uma sacanagem das boas.
Mas o diálogo está pra lá de bom, essa do Lobsang Rampa quase me partiu a cueca.

Sucesso

Fabiano

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Pra que matar o velhinho, ele é um homem bom e de valor.

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Começou bem mas não me iludo na última levei um dible que não esqueci. Se sua intensão é provocar suspense atingiu o objetivo. Tô louco pra saber como é que continua essa porra.

Mauro Fernandes Souza

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vc é um cínico adorável.

Bj

BB

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Eu queria um enterro assim pra mim.
Mas se minha mãe for já tá bom.

Marília

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Eu queria fazer o primeiro comentário, não deu. Cheguei atrasado em casa e me fodi.
Eu já tinha lido esse capítulo que vc me enviou via e-mail, mas mesmo assim ver ele publicado no blog é outra coisa.

Muito sucesso.

Dalton

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Li sobre o Wilson e estou entendendo o que você quer fazer.
Ele merece todo respeito e alguns puxões de orelha. Passe o pito.
Colocá-lo em seu honroso lugar não vai ser tarefa fácil, mas você consegue.

Abraço de sua amiga

Maria Luíza

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Wilson Martins é um ícone da cultura paranaense, talvez o nosso nome mais forte dentro da cultura. Pra que fazer isso? Ele tem quase 90 anos você gostaria que fizessem isso com você?

Armando Soares

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vai tomar no cu polaco do caralho.

 
Às 22 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Humor cínico e refinado, bons versos, você conseguiu criar uma expectativa enorme, vire-se.

Beto

 
Às 22 janeiro, 2007 , Blogger Marilda Confortin disse...

Mas você é muito abusado mesmo, né Thadeu?! Só um cara como você pra fazer uma poesia clássica sobre o assassinato do Wilson. Vai que aconteça, seu louco?
Beijão

 
Às 22 janeiro, 2007 , Blogger Rodrigo garcia Lopes disse...

Simplesmente genial. Manda bala.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Quem diabos é Wilson Martins?


Anônimo Desconhecido.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

È teu cu, viado.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Adoro esse jeito que vc escreve, parece que a gente está ouvindo música.

Bj

Leila

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Por que pedreira, não entendi.

Paulo Tibério

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Fui no google ver quem era esse cara, mas, pelo amor de deus, é muita coisa pra ler. Mas pelo que consegui observar ele tem estudos importantes na literatura, por que matá-lo?

Sandro Santiago Suzano

 
Às 23 janeiro, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Paulo Tibério, quando o Leminski morreu deram o seu nome a uma pedreira, que hoje é local para shows. É comum aqui em Curitiba se dar valor a alguém, só depois que morre.

Um abraço

Thadeu

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Você tá querendo aparecer encima de um cara que é muito melhor que você.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Você devia é lavar as mãos antes de escrever sobre o nosso grande professor Wilson Martins, tomara que ele o processe, para a aprender a respeitar os outros, canalha.

Regina Marcondes Mello

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vixi, Polaco, não tão entendendo nada.

Minha solidariedade e meu abraço


Paulo Monteiro

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Se não parar com essa porra quem morre é você, filho da puta.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Senhor Thadeu, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela escolha do tema. Excelente, alguém do porte do prezado professor Wilson Martins, por tudo que já fez, merece ser colocado a público e discutido ( por que não?) para que lhe dêem as merecidas honras ou críticas. Os homens passam, as obras ficam, se forem merecedoras da imortalidade. Gostei muito desse primeiro capítulo, creio que há um equilíbrio perfeito entre o deboche, a graça, o fino humor e a dramaticidade que a descrição de um enterro merece. Estranhei a entrada do narrador, nas 3 últimas estrofes, fazendo uma espécie de defesa do Wilson. Bom, mas o senhor deve ter suas razões. Os versos são uma beleza para os olhos e para os ouvidos, é muito gostoso ler sua prosa metrificada à exaustão. Não há palavras desnecessárias nem adjetivos que não se justifiquem. Sei o quanto isso é difícil, quando se tem uma rima pela frente e apenas doze sílabas poéticas para ir ao encontro dela, sem perder o conteúdo lógico da história.
Sua “novelha” anterior já tinha me conquistado, uma obra-prima, sobre a qual vou fazer um estudo completo e publicar. Talvez amplie a idéia com a introdução dessa sua inovação de fazer uma novela exclusivamente para o blog, coisa que, tenho certeza, é inédita no mundo. E até mesmo um estudo sobre esta novelha, mas vou esperar o desenrolar e ver como o senhor dá cabo de tão espinhosa missão.

Um grande e respeitoso abraço

Desse que o tem em alta estima e consideração


Eduardo Monteiro Santos

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Brilhante o comentário do Eduardo, assino embaixo.

Sucesso, Polaco.

Jonas Arruda Mendonça

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Muito divertido.


Daniela

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Também me arrisco a fazer uns versos, desde que li o OSS, livro que você, os Prado e o Del Grossi assinam. Acho que era 1985 ou 1986, não lembro do ano mas, o que mais me impressiona é a clareza com que você vai levando a história em frente. Uma beleza realmente. Se você fizer uma oficina para ensinar seus segredinhos pode contar comigo e com minha esposa entre os alunos, mas tem que ser à noite, porque trabalhamos o dia todo. Não se impressione com esses ignorantes que não estão entendendo nada e querendo amedrontá-lo, cão que ladra não morde.

Um abraço carinhoso e muito sucesso


Paulo Marques Sobrinho e Clarissa Mota Marques

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

É isso aí, Polaco, manda bala e esquece esses idiotas que não fazem nada a não ser se meter onde não devem.

Saudações coxabrancas

Renato Oliveira Quirino

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vai se foder!!!!

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vai enterrar tua mãe filho da puta

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vai enterrar tua mãe filho da puta

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Fui um dos primeiros a elogiar a sua novela Os Bêbados Amam Demais, mas não posso concordar com esse desrespeito ao grande mestre Wilson Martins. Com tantas coisas erradas e tantas pessoas más, desonestas, corruptas, você pega um símbolo de nossa escassa e miserável cultura para detratar? Me perdoe, mas condeno e repudio essa manifestação que deve estar sendo movida pela inveja ou sabe-se lá o quê.


Paolo Lucarezzi

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Puta que pariu, como tem ignorante nesse mundo. Não liga não Tadeu, são tudo uns complexados.

Antonio Carlos Sampaio

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

uma bosta!

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Não dá para colocar a matéria que o Wilson escreveu sobre o Leminski, Thadeu? Acho que ajudaria a compreender melhor.

Abraço

Daniel da Costa

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Perfeito. Grande, poeta!

Hélio Salinas

 
Às 23 janeiro, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Aí vai, Daniel. Mas tem mais coisas, é só pesquisar no google.
Um abraço do Thadeu



De imitação em imitação



Wilson Martins

in Gazeta do Povo

23/08/1999



"décio disse: ferreira gullar está certo, mas pelo avesso errado, a gente só via o 'avesso errado', q tal ver o 'está certo'? veja q ninguém execra nem repudia gullar, seu carreirismo, seu oportunismo na luta pelo poder, seu puxaquismo vergonhoso com o q a classe médua universitária de esquerda entende por poesia (...)"

Paulo Leminski





Para além do interesse propriamente biográfico que possam ter, as cartas de Paulo Leminski (1944-1989) são um documento da vida literária, em particular no que ele mesmo denominava as "intrigas palacianas pelo poder" (Paulo Leminski/Régis Bonvicino. Envie meu dicionário. Cartas e alguma crítica. São Paulo, Editora 34, 1999).

É nisso, de fato, que se resumem as motivações, os pressupostos e os objetivos das vanguardas literárias e artísticas, cujo paradoxo, segundo creio, bem merece algumas reflexões: longe de serem movimentos abertos e prospectivos, e ao contrário do que sustentam em proclamações e manifestos, são empresas fechadas nos seus próprios limites e limitações, paralisadas no que a doutrina sugere de abertura. Pertencem à história das instituições, não à história da criação artística, pois não admitem herdeiros e infratores, menos ainda voluntários ou involuntários desvios da norma. Cristalizam-se na imobilidade do que prescrevem. Fundam-se em anátemas e exclusões em nome da liberdade e da invenção; não aceitam rivais, mas apenas discípulos, ciumentamente excludentes de qualquer ameaça ao seu império. À exceção dos fundadores, todos os demais fiéis situam-se na periferia imitativa, na reverência respeitosa. Suas obras só têm sentido no interior delas mesmas e começam a esgotar-se e perder o atrativo da novidade no momento em que aparecem.

Paulo Leminski pertenceu à vanguarda concretista, uma das mais ruidosas e intolerantes de nossa vida intelectual, ao lado da modernista, igualmente intolerante e ruidosa. Mas, enquanto o Modernismo "desdobrou-se" em três décadas, renovando a poesia nos anos 20, o romance nos anos 30 e os estudos brasileiros nos anos 80, o concretismo cristalizou-se nos próprios manifestos e mal terá durado cinco anos, entre as proclamações do grupo Noigrandes e o atestado de óbito que Haroldo de Campos lhe passou em 1960.

Seus criadores tinham consciência obscura da própria efemeridade, procurando afirmar-se e reafirmar-se por meio de sucessivos manifestos e manifestações, para nada dizer das excomunhões periódicas. Ferreira Gullar foi o primeiro herético sacrificado em fogueira simbólica, merecendo este escólio de Paulo Leminski: "décio disse: ferreira gullar está certo, mas pelo avesso errado, a gente só via o 'avesso errado', q tal ver o 'está certo'? veja q ninguém execra nem repudia gullar, seu carreirismo, seu oportunismo na luta pelo poder, seu puxaquismo vergonhoso com o q a classe médua universitária de esquerda entende por poesia (...)".

Sem excluir a existência eventual de documentos mais antigos, Leminski manifestou desde 1977 a sua impaciência contra a ditadura da trindade canônica: "Passei muitos anos de olhos voltados para S. Paulo / para o grupo Noigrandres / para Augusto, principalmente / escrevendo para eles / preocupado em saber O QUE ELES IAM ACHAR." Começou a chamá-los de "patriarcas" – patriarcas esses que, segundo parece, não revelaram entusiasmo excessivo pelo Catatau "seu trabalho mais bem realizado" (Carlos Ávila dixit). A reação dos patriarcas "foi curiosa", escreve Leminski: "não sei dizer se eles gostaram ou não / enfim, o que é gostar? / tenho certeza q para o paladar weberiano-joão gilbertinho / de Augusto / o Catatau deve ter parecido bagunçado demais / irregular demais / entrópico demais / Augusto nunca foi muito claro comigo acerca do q ele achou do Catatau produto final )...) décio se refere ao Catatau falando em 'monolito', 'é uma boa', coisas assim / haroldo, de haroldo nunca ouvi nem uma palavra."

A acolhida negativa da trindade canônica provocou, como é natural, despeitada frustração em Leminski, se é verdade, por outro lado, que coloca em boa companhia os que acreditam nas insuficiências do romancista em face de suas ambições renovadoras. É história a ser acompanhada mais de perto. Se Finnegans Wake desencadeou o delírio imitativo no Haroldo de Campos de Galáxias (parcialmente publicado desde 1964), o Leminski de Catatau (1975) e o Glauber Rocha de Riverão Sussuarana (1977) não resistiram ao tropismo simultâneo de Joyce, Haroldo de Campos e Guimarães Rosa. É uma cadeia de emulações frustradas ou bem sucedidas (dependendo do ponto de vista).

Por definição e natureza, as vanguardas estão destinadas a desaparecer no meio de ruído e furor, na medida mesmo em que se recusam às adulterações de programa. Paulo Leminski, vanguardista típico, estava condenado à periferia, como reconhecia num poema conhecido: "um dia a gente ia ser homero / a obra nada menos do que uma ilíada / depois / a barra pesando / dava pra ser aí um rimbaud / um ungaretti um fernando pessoa qualquer / um lorca um eluard um gingsberg / por fim / acabamos o pequeno poeta de província / que sempre fomos / por trás de tantas máscaras (...)."



O que ficou foi o personagem da vida literária, ainda hoje celebrado em cerimônias propiciatórias, missas solenes na Catedral Basílica de Curitiba e repetidos rituais de exorcismo.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

você não vai pro céu, thadeu.

aquele abraço, gerson.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Que filho da puta, hein, Thadeu, mate ums dez vezes pra não sobrar nada.

Alberto Ferreira Filho

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

difícil de acreditar a polêmica que se gera ao enfiar o dedo no formigueiro dos acadêmicos, catedráticos, críticos e outros onanistas de plantão.

injustos os comentários que põem, acima daquele que produz, aquele que só pensa a respeito. talvez, então, o único caminho para se tornar um "ícone da cultura curitibana" seja mesmo o de gozar com o pau dos outros.

catatônia

 
Às 23 janeiro, 2007 , Blogger Roberto Prado disse...

É isso aí, Thadeu. Jogue querosene e carque fogo!

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Muito bom mesmo, é isso, polaco, tem que botar pra foder.

Janete Mendonça

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Fazia tempo que não me divertia tanto, acho que desde a outra novelha. Aliás este nome novelha é perfeito. Nova na velha novela.
Dispare pra tudo quanto é lado, que só dá filho da puta.

Lucas Barbieri

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Homenagear e ao mesmo tempo criticar, a mão que afaga é a mesma que apedreja. Do caralho a idéia. Os versos estão deliciosos e
os personagens sensacionais. Assim até eu, Thadeu, viro teu fã. Muito bom o seu romance, de tirar o fôlego. Gostei muito também da primeira novelha. Força e tudo de bom pra você.

Rômulo da Costa

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Como vc escreve bem, Polaco, é inacreditável como vc consegue fazer fluir o texto. Pra mim, é sempre uma aula.

Túlio Neves

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Uma merda.

Ruga

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Não tem o que fazer, vagabundo?
Por que tem que mexer com o velhinho, filho da puta? Vou te dar um pau, seu porco.

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Se ignorância fosse capim o Brasil era o paraíso das vacas, ovelhas e demais vegetarianos. Puta que o pariu, Tadeu, põe o mediador e tira esses babacas. Muito bons, idéia e texto.

Nelson Frommer

 
Às 23 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

tá ótimo sem mediador thadeu!!! eu gostei muito do enterro do velho wilsão martins e já tinha dito isto na sua casa!!!

lembra do bloco do velório?? dá pra sair no carnaval...do wilson.


ruga

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

es talentoso mas invejoso...te viram aplaudindo de pé o wilson martins um dia desses...verdade não? Vai catar cquinho polaco? deixe o velhinho em paz.

Paulo Lima e Flecha

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Flecha é o nome de um dos meus cachorro...o que gosta de literatura.

paulo lima

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Polaco, Vc vai morer...

Tusca

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Nem sei o que dizer, mas é muito valioso o seu trabalho.

Lauro Ramos

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Perfeito, uma obra de arte como o povo gosta.

Congratulações

Adílson Santana

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

A simplicidade por um forma de escrever que acho deve ser bastante difícil. Como fica bom de ler.

Clarissa

 
Às 24 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Belíssima homenagem ao professor Wilson. Parabéns.

Cícero Magalhães

 
Às 25 janeiro, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Um belo texto.


Hermes Temproski

 

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