O que seria de mim sem eu?
Capítulo 3
Curitiba é melhor cidade do sul do cu do mundo.
Então está bem, né? Pra você arroz, ovo
E feijão; pra mim, nada além desse pão seco.
O que você pretende, hein? No cu do povo,
Pimenta pode ser simplesmente refresco
Ou sinal de que alguém se deu bem novamente.
Sempre quando falamos você não diz nada.
Há quantos anos falo sozinho? Nem tente
Responder, não estou a fim de uma roubada.
Melhor eu continuar de onde parei, que tal?
Mas não vou esperar sua resposta oficial.
Pensa que não sei quanto tempo leva isso?
Dúzias de carimbadas, mais assinaturas,
Protocolos e pareceres, sou submisso
Mas nem tanto. Aliás, nomenclaturas
Como essas só confundem o interlocutor.
Melhor seria você dar fim nessa mania
De terceiro-mundista e apresentar o autor
De forma digna, clara, honesta. Poesia
É lavra rara, fina flor da nossa fala,
Coisa mais cheia de graça, faz que a vida valha.
Sabe como morreram nossos grandes poetas
Gregório, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos,
Sousândrade? Tua cara diz tudo. Patetas
Como você não lêem, se protegem em bandos,
Criam modas, leis, polícia, religiões, exércitos.
Poeta que é poeta não tem tempo ruim,
Foge dos ideais mundanos, esses analgésicos
Dos sentidos. Falácias, tiros de festim,
Isso é para os boiolas que estão de plantão.
Os seres ilusórios, de pouca expressão.
Tua Curitiba é fria, desumana, prosaica.
Marcos Prado e Leminski, dois grandes poetas,
Gênios da arte maior, desta cidade arcaica
receberam desprezo, ódio, indiretas.
Eu vi com estes olhos, não sou testemunha
De aluguel. Só mamaram de suas próprias tetas,
Andaram com suas pernas, vidas carne e unha.
A palavra dada não se olha as letras?
Bem...que seja! Tem gente pra tudo no mundo.
O povão se corrige sozinho e vai fundo.
Ler é gozar c’o pau dos outros? Então, tá.
Ficamos assim. Pego a reta e ando até
Cair mortinho da silva do lado de lá?
Vou ensinar o padre a rezar a missa, é?
A fé remove montanhas, que dirá sete
Palmos de terra. Catatau é profissão
De fé; O Livro dos Contrários, ariete.
Para deixar bem claro, mudo a acentuação.
De proparoxítona a paroxítona.
Levo tonalidade soprana à barítona.
Dizer que não está me entendendo, resolve?
Eu não sou alemão; se sim, filosofava,
Em vez de ficar dando trela a papo mole.
O povo é o inventa-mundos da palavra,
Vai ferindo suas regras e criando sintaxes.
Adoniran que o diga com sua poesia
À flor dos cavaquinhos. Se Concreta ou Práxis,
Seja lá o que for o rótulo do dia,
Poesia vive na boca do povo, feliz
Com a metamorfose da eterna aprendiz.
Você, escute bem, ainda não findei.
Essa tua Curitiba é um rebotalho,
Madrasta com nativos; pros de fora, gay.
Chupa, dá o cu e paga bem para caralho.
A família é farsa da grossa, teatro,
Conversa para boi dormir. Formam as redes
Desses retalhos moralistas que, de fato,
Escondem pecados entre quatro paredes.
O Dalton Trevisan ouve tudo e escreve.
Não é ele que faz aquilo que não deve.
Uma charge do Solda vale uma bíblia;
Nosso Rogério Dias, menos que passarinhos?
Que dizer do Miran que o mundo todo admira?
Dante e Thiago Recchia, ainda bem vivinhos,
Não merecem o pão nosso de cada dia?
Wilson Bueno, Buchmann, mais Roberto Prado?
Koproski, França, Leprevost, menor valia?
Walmor Góes, Rodrigão, Ferreira, damos cabo?
Quantos foram embora dessa Curitiba
ou enterrados vivos na Boca Maldita?
Melhor ser surdo que ouvir Otávio Camargo?
Melhor ser cego que ver as telas do Átila?
Melhor ser mudo que cantar canções do bardo
Polaco Wojciechowski? Não vê na sátira
A máscara em seu próprio rosto pendurada?
Vanzolin, Jacques Brandt, Paulo Sandrini, Fábio
Campana, Smaniotto, essa rapaziada
Toda queimará junto com os alfarrábios?
Del Grossi, Ivan, Édson, Alice Ruiz
Condenados pra sempre ao verdugo-juiz?
Tatára cairá ao som de um ratatatá?
Nem sei de quantos nomes olvidei,
Mas de uma coisa tenho certeza: não há
Artista nessa terra sem governo, lei
E vergonha, que não se sinta maltratado
Pela falta de séria política pública
Na área cultural e do ensino focado
No desenvolvimento das artes, a única
Maneira de tirar chicote de feitor.
Ora, senhor diretor, faça-me o favor!
Fim do capítulo 3
16 Comentários:
gélida escura essa nossa
procura...
curitiba me fez busar poesias além de seu ar
e eu aqui perdido,
menino em delírio,
por ela a mais me apaixonar...
"busCar",sorry
Este comentário foi removido pelo autor.
Puta queos pariu Polaco !
oi Thadeu, olha, voltei com um blog só meu: www.luanavignon.blogspot.com
Grande beijo.
busar -> buscar de ônibus...
Maravilha das maravilhas. Um texto pra ensinar como é que se rege uma orquestra. Cadência perfeita.
Perfeito.
Fabiano
Essa do aríete para ariete, com a explicação que segue, foi no mínimo
genial.
Marquinhos Costa
É isso aí mesmo, aqui só os de fora tem valor. Se o cara não tá na mídia, tá fudido.
Viva o Polaco da Barrerinha!
Beto
rsrsrs realmente, meu meio de busca é o ônibus, além da poesia rsrsrs
os três capítulos estão irretocaveis...
ou sendo mais coerente:
do caralho!
fico aguardando mais!
não merecia ser citado em tão nobre poesia e em tão valorosa companhia.
ruga
ja busei muito nesse mundo agora só vou de Buscarr.
ruga
cara, o pão de cada de Curitiba atualmente dia é semanal e tem que pagar em 12 prestações mensais...
parabéns e força aí na novelha...
tá chato..vc só fala dos seus amigos...
ruga
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