Sérgio Viralobos, poeta em alta voltagem
Já escrevi muito nesta vida, mas as coisas que mais me divertiram foram as livre-adaptações de alguns autores que me são muito caros, como Dante Alighieri, Goethe, Bashô, Issa, Shakespeare, Yets, Poe, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, o polaco Adam, Lao Tsé e mais uma canalhada interminável. Um Fausto Dois, que fiz junto com Sérgio Viralobos, é uma das minhas prediletas. Apesar de estar pronta há mais de 4 anos ainda não foi publicada inteira. Explico: publicamos apenas a primeira parte, o Um Fausto, em 1996. Quem sabe dia desses aparece uma editora que preste e publique a obra completa.
Um Fausto Dois
Livre adaptação das obras Fausto 1 e 2, de Goethe,
por Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos.
Dedicatória: “Favor ler até o final. Não pare na primeira mancada.”
Prefácio na Editora
( presentes o editor, o poeta e a musa )
De como um editor, à beira da falência, tenta convencer seu melhor poeta a escrever um best-seller seguindo certas regras, que tenta impor de modo envolvente.
EDITOR
Precisamos de um best-seller,
a editora vai mal das pernas
e a crise atrás vem célere.
Que tal pilhar uma dessas obras eternas ?
Um bom enredo, com efeitos spielberg,
muita ação, cenas de amor não piegas,
perseguições de carros e um pouco de suspense,
nem épico nem romântico, alguma coisa entre.
Esta é a chave do cofre do sucesso
e da saída para esses montes de papel estocado.
Preciso que seu livro ressuscite meu comércio
e valorize meu dinheiro, nunca tão trocado.
Nos sonhos rarefeitos das noites mal dormidas,
vejo multidões brigando entre estantes comprimidas,
para comprar nossa obra a qualquer soma,
como se fosse um exemplar do Sex de Madonna.
Conceber um milagre que ludibrie tanto público
somente um poeta pode, ó, meu dileto amigo!
De como o poeta aceita fazer a obra, sem se dobrar ao pedido.
POETA
Não quero nem saber desta canalha!
Torre de marfim pra mim é entulho,
andar entre o povo é pisar em rabo de palha,
a arte é o círculo fechado em que me incluo.
Se não sirvo, contrate um ghost-writer.
Poeta, por mais estranho, tem direitos humanos,
não se pintam unhas sujas com esmalte,
um dom não pode ser vendido a seus planos.
Quem diz como dizer o que se diz a uma amante ?
Quem tem poder para comover uma alma carregada ?
A quem se deve, pelo menos, o efeito fulminante
de uma frase perdida numa história mal contada ?
Ao gênio inato que o poeta genuíno exala!
Nessa obra quero de volta a vida que era minha antes,
quando o nada que eu tinha enchia a sala.
Que o amor e o ódio me voltem triunfantes !
De como a musa intercede a favor do editor, vendo, no sucesso do projeto a possibilidade de uma velhice tranqüila com o poeta.
MUSA
Bem que você precisa dar de novo
um mergulho na fonte da juventude,
por estas mocinhas que te cobram gozo,
pelas bebedeiras e festas que te cuidam a saúde.
Mas quem vai me cantar os teus sucessos de outrora ?
É para isso, meu querido, que existem os velhos,
que não se tornam infantis, como se diz da boca pra fora,
a idade é que transforma alguns em fedelhos sérios.
De como o editor se aproveita do clima criado pela musa para atiçar os brios do poeta, com grande entusiasmo.
EDITOR
Se tens veia poética no sangue,
capaz de trovar entoando alexandrino,
mande poesia! Sabes como ser divino:
queremos porres mais possantes do que Dante.
Nem a desculpa da censura te garante,
quero no papel um videoclip por escrito,
não negues fogo, pago bem por teu espírito.
Acende as luzes de um céu tonitroante!
Preencha páginas mais páginas com mágicas,
faça de nós iguais a gemas desterradas,
como se fôssemos estrelas visionárias.
Depois, empalhe na vitrine, nomeadas,
todas espécies da criação, e abra as jaulas,
feras do Céu por entre Terra Infernadas.
De como o poeta inicia a sua obra-prima, sem abdicar de interferir diretamente como narrador ausente, presente.
Prefácio nas Alturas
( presentes um coro de anjos, Mefistófeles e o Senhor )
POETA
Três anjos jogando conversa ao léu,
como confete para deixar Deus nas nuvens.
Nada aproveitei das louvações de Miguel, Gabriel e Rafael,
mas ao menos de uma frase tive ciúmes:
"a Terra é o paraíso em holocausto."
Sei disso desde que comecei o Fausto.
MEFISTÓFELES
Senhor, sei que tens por mim uma queda,
se não não seria eu o seu informante dos infernos.
Me apresento, amigo, pra cumprir outra missão na Terra.
Perdão se não tenho o papo desses anjos modernos,
a essas alturas só a vertigem me eleva,
o que sei é tentar os homens, para tê-los internos.
Meu Deus, não me destrua por uma crítica construtiva,
mas onde estava a tua linha de raciocínio
quando encheu-lhes de razão a vida ?
Teu lampejo divino pariu um eterno morticínio,
comandado por teu animal mais brutal,
um gafanhotão grilado por ser anormal,
um porco que fuça na lama entre o bem e o mal.
SENHOR
Você me arrepende de ter criado o baixo astral,
no mundo, então, nada se leva direito ?
MEFISTÓFELES
( para si mesmo )
Com tal Deus quem precisa de um pobre diabo ?
Tanto sofrimento e tão bem feito,
só mesmo Ele para deixar-me desocupado.
SENHOR
Faz de conta que não li seu pensamento.
Já ouviste falar de Fausto, meu jumento ?
MEFISTÓFELES
O doutor de faustuoso (sic) intelecto,
aquele que Te acredita uma quimera ?
Exemplo acabado de um homem perplexo,
uma bela fera metida à besta esperta?
SENHOR
Boto minha mão no seu fogo por meu Fausto.
MEFISTÓFELES
Quanto quer valer que este animal eu desembesto ?
SENHOR
Tudo que escreveres será tinta da minha pena.
( fecha-se o céu para Mefistófeles )
MEFISTÓFELES
(só)
A fala de Deus diviniza o que não presta,
não digo isso por Ele ser quem me mecena,
mas para alguém tão superior tiro meu chifre da testa.
(Fim do primeiro ato)
Livre adaptação de Goethe, porAntonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
Já escrevi muito nesta vida, mas as coisas que mais me divertiram foram as livre-adaptações de alguns autores que me são muito caros, como Dante Alighieri, Goethe, Bashô, Issa, Shakespeare, Yets, Poe, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, o polaco Adam, Lao Tsé e mais uma canalhada interminável. Um Fausto Dois, que fiz junto com Sérgio Viralobos, é uma das minhas prediletas. Apesar de estar pronta há mais de 4 anos ainda não foi publicada inteira. Explico: publicamos apenas a primeira parte, o Um Fausto, em 1996. Quem sabe dia desses aparece uma editora que preste e publique a obra completa.
Um Fausto Dois
Livre adaptação das obras Fausto 1 e 2, de Goethe,
por Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos.
Dedicatória: “Favor ler até o final. Não pare na primeira mancada.”
Prefácio na Editora
( presentes o editor, o poeta e a musa )
De como um editor, à beira da falência, tenta convencer seu melhor poeta a escrever um best-seller seguindo certas regras, que tenta impor de modo envolvente.
EDITOR
Precisamos de um best-seller,
a editora vai mal das pernas
e a crise atrás vem célere.
Que tal pilhar uma dessas obras eternas ?
Um bom enredo, com efeitos spielberg,
muita ação, cenas de amor não piegas,
perseguições de carros e um pouco de suspense,
nem épico nem romântico, alguma coisa entre.
Esta é a chave do cofre do sucesso
e da saída para esses montes de papel estocado.
Preciso que seu livro ressuscite meu comércio
e valorize meu dinheiro, nunca tão trocado.
Nos sonhos rarefeitos das noites mal dormidas,
vejo multidões brigando entre estantes comprimidas,
para comprar nossa obra a qualquer soma,
como se fosse um exemplar do Sex de Madonna.
Conceber um milagre que ludibrie tanto público
somente um poeta pode, ó, meu dileto amigo!
De como o poeta aceita fazer a obra, sem se dobrar ao pedido.
POETA
Não quero nem saber desta canalha!
Torre de marfim pra mim é entulho,
andar entre o povo é pisar em rabo de palha,
a arte é o círculo fechado em que me incluo.
Se não sirvo, contrate um ghost-writer.
Poeta, por mais estranho, tem direitos humanos,
não se pintam unhas sujas com esmalte,
um dom não pode ser vendido a seus planos.
Quem diz como dizer o que se diz a uma amante ?
Quem tem poder para comover uma alma carregada ?
A quem se deve, pelo menos, o efeito fulminante
de uma frase perdida numa história mal contada ?
Ao gênio inato que o poeta genuíno exala!
Nessa obra quero de volta a vida que era minha antes,
quando o nada que eu tinha enchia a sala.
Que o amor e o ódio me voltem triunfantes !
De como a musa intercede a favor do editor, vendo, no sucesso do projeto a possibilidade de uma velhice tranqüila com o poeta.
MUSA
Bem que você precisa dar de novo
um mergulho na fonte da juventude,
por estas mocinhas que te cobram gozo,
pelas bebedeiras e festas que te cuidam a saúde.
Mas quem vai me cantar os teus sucessos de outrora ?
É para isso, meu querido, que existem os velhos,
que não se tornam infantis, como se diz da boca pra fora,
a idade é que transforma alguns em fedelhos sérios.
De como o editor se aproveita do clima criado pela musa para atiçar os brios do poeta, com grande entusiasmo.
EDITOR
Se tens veia poética no sangue,
capaz de trovar entoando alexandrino,
mande poesia! Sabes como ser divino:
queremos porres mais possantes do que Dante.
Nem a desculpa da censura te garante,
quero no papel um videoclip por escrito,
não negues fogo, pago bem por teu espírito.
Acende as luzes de um céu tonitroante!
Preencha páginas mais páginas com mágicas,
faça de nós iguais a gemas desterradas,
como se fôssemos estrelas visionárias.
Depois, empalhe na vitrine, nomeadas,
todas espécies da criação, e abra as jaulas,
feras do Céu por entre Terra Infernadas.
De como o poeta inicia a sua obra-prima, sem abdicar de interferir diretamente como narrador ausente, presente.
Prefácio nas Alturas
( presentes um coro de anjos, Mefistófeles e o Senhor )
POETA
Três anjos jogando conversa ao léu,
como confete para deixar Deus nas nuvens.
Nada aproveitei das louvações de Miguel, Gabriel e Rafael,
mas ao menos de uma frase tive ciúmes:
"a Terra é o paraíso em holocausto."
Sei disso desde que comecei o Fausto.
MEFISTÓFELES
Senhor, sei que tens por mim uma queda,
se não não seria eu o seu informante dos infernos.
Me apresento, amigo, pra cumprir outra missão na Terra.
Perdão se não tenho o papo desses anjos modernos,
a essas alturas só a vertigem me eleva,
o que sei é tentar os homens, para tê-los internos.
Meu Deus, não me destrua por uma crítica construtiva,
mas onde estava a tua linha de raciocínio
quando encheu-lhes de razão a vida ?
Teu lampejo divino pariu um eterno morticínio,
comandado por teu animal mais brutal,
um gafanhotão grilado por ser anormal,
um porco que fuça na lama entre o bem e o mal.
SENHOR
Você me arrepende de ter criado o baixo astral,
no mundo, então, nada se leva direito ?
MEFISTÓFELES
( para si mesmo )
Com tal Deus quem precisa de um pobre diabo ?
Tanto sofrimento e tão bem feito,
só mesmo Ele para deixar-me desocupado.
SENHOR
Faz de conta que não li seu pensamento.
Já ouviste falar de Fausto, meu jumento ?
MEFISTÓFELES
O doutor de faustuoso (sic) intelecto,
aquele que Te acredita uma quimera ?
Exemplo acabado de um homem perplexo,
uma bela fera metida à besta esperta?
SENHOR
Boto minha mão no seu fogo por meu Fausto.
MEFISTÓFELES
Quanto quer valer que este animal eu desembesto ?
SENHOR
Tudo que escreveres será tinta da minha pena.
( fecha-se o céu para Mefistófeles )
MEFISTÓFELES
(só)
A fala de Deus diviniza o que não presta,
não digo isso por Ele ser quem me mecena,
mas para alguém tão superior tiro meu chifre da testa.
(Fim do primeiro ato)
Livre adaptação de Goethe, porAntonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
5 Comentários:
como q isso n foi publicado ate hj. Genial. Mas uma prova de quew Mefistoteles ta ganhando a aposta!
Gafanhoto.
do caralho!!!!
Off topic, mas nao deixe de conferir thadeu:
http://www.coxanautas.com.br/noticia.phtml?id=19762&t=Na-terra-do-Sultao
Beijo e saudade docêis
ok, fabiano.
a revolução vai acontecer naturalmente.
Bj
Thadey
Cláudia, q bom ver vc por aqui de nvo.Bj, querida.
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