polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, maio 29, 2008

Polaco da Barreirinha e Maringas, no Beto Batata.

Bola Perdida



“Os jovens têm todos os defeitos dos mais velhos e mais dois:

falta de experiência e de sabedoria.”


Ditado do Azeribaijão



Meus benevolentíssimos leitores, não faz muito tempo o grande pacifista Mahatma Ghandi, ao estender seu magnânimo e beatífico olhar para os estragos que os ingleses provocavam na economia e na vida da Índia, saiu com esta : “Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como o oceano. Só porque existem algumas gotas sujas nele, não quer dizer que ele esteja totalmente sujo.” Concordo em gênero, número e grau.


- Eu também, eu também. Fala engordando o olhar sobre o que escrevo, o Geraldo, o ser que senta à minha direita e que tem entre suas predileções diárias assoar-se, rosnar, coçar-se, flatular e espiar sobre o meu ombro para planejar futuros plágios. Se eu o descrevesse fisicamente, certo, vocês não acreditariam no que estavam vendo, então, vamos deixá-lo como está e seguir em frente, meus turísticos leitores. Comecei com o Azerbaijão, encontro o caminho da Índia e chego ao Brasil. Ao desembarcar, o que vejo? Uma passeata de jovens exibindo cartazes com palavras de ordem: “Queimem livros de poetas curitibanos”, “Quem lê Leminski é traficante”, “Poesia é droga, denuncie”, “Morte aos OSS”, “Marcos Prado é merda pura”, “O Polaco da Barreirinha é pior que bosta” , “Forca para o Ivan Justen” , “Procura-se Koproski, França, Leprevost, vivos ou mortos!” , entre outras que prefiro nem citar, tamanha desfaçatez. Mas isso não tem importância.

A HIDROFOBIA BABILÔNICA ou a ERUPÇÃO DA BABA.


- Mas como assim não tem importância? Quem você pensa que é, ô merda mole de fiofó de scargot? Quantas vezes vou ter que repetir que você é pago para escrever sobre futebol, hein, escriba do satanás? O office-old tenta desestabilizar minha quase canina paciência taoísta. Eu apenas olho-o, vejo-o e, acreditem, enxergo apenas uma espinha enorme e mais nada, à minha esquerda. É impressionante, né, meus esclarecidíssimos leitores, mas vocês hão de concordar comigo, tem certas pessoas que, portando um defeito, só ele aparece. É como se todo o corpo deixasse de existir para dar lugar somente ao que mais lhes incomoda, àquilo que lhes é um câncer na alma. Sim, na alma. No caso do Ribamar, nosso idoso office-boy, as suas espinhas, que em suas freqüentes erupções já soterraram as mais vesuvianas Pompéias. Mas não é isso o que eu queria lhes dizer.
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PELA BOLA OITO


Certa feita, estávamos eu e Nelson Rodrigues no Estádio Mário Filho, antigo Maracanã, quando fomos apresentados a uma grã-fina da alta sociedade carioca. Ela, com seu nariz de cadáver, vinha pela vez primeira assistir a um jogo de futebol. O peculiar, meus curiosíssimos leitores, é que ela estava completamente transtornada pela impaciência e aos faniquitos exigia: “Me apresentem a Bola! Quero conhecê-la? Quem é a Bola?” O Nelson, como era do seu feitio, olhou-a tão profunda e longamente, que ela instintivamente abotoou o último botão da blusa e, lépida, afastou-se sem se despedir. O senhor que a trouxe até nós riu-se fartamente e isso fez com que sua barriga de ginecologista chegasse ao oitavo mês. Grávido de vaidade, ele nos confidenciou: “Essa aí já enterrou três maridos e tem mais quatro desquites nas costas.Tem quatro babás só para cuidar dos filhos pequenos, os adolescentes estudam na Suíça, é um fenômeno!” E balançando a pança ainda mais enfático: Que mulher! Não perde uma festa!! Nunca trocou uma fralda!!! Terminado o jogo, eu, Nelson e o exuberante balofo pegamos um táxi e fomos em direção a uma boate no Leblon. No caminho ele dizia: -“Ainda bem que a família está com os dias contados! Os jovens vão enterrar de vez a família!” Riu-se e desceu meia dúzia de quadras depois, nos deixando boquiabertos e estupefatos. Após um pequeno silêncio constrangedor, Nelson soltou o verbo: -“Um dias desses eu estava na PUC e havia uma pequena aglomeração e, ao centro, um jovem estudante perguntava: O que é um lar? E ele mesmo respondia enquanto mascava um chicletes talvez imaginário: O que nós chamamos de lar são cadeiras, mesas, camas, paredes, pratos. Fez uma pausa e concluiu com exultante crueldade: Eu não tenho não tenho que respeitar nem móveis, nem louças, nem toalhas, nem paredes. E sabe de uma coisa, Dalton?, foi aplaudidíssimo e carregado em triunfo. Mas isso não me surpreende tanto, escute essa. Outro dia um colega na redação d’O Globo, me dizia espavorido: Minha filha sabe mais do que eu! Perguntei-lhe: Que idade tem tua filha? Resposta: Onze anos. E já sabia mais do que ele. Procurando um isqueiro , o meu amigo disse mais: Só vendo como minha filha chama a mim de chato, à mãe de chata. Não me respeita, a menina. Minha filha é fogo! No fundo, no fundo, estava quase orgulhoso das desfeitas da menina. E Nelson respirou fundo nesse momento, como se algo o preocupasse infinitamente. E , com os olhos vazando luz, finalizou: Esse conceito “Razão da Idade” existe em todos os idiomas. Em toda parte, não se julga o jovem. A ninguém mais ocorre que o jovem pode ser um santo, um herói, um justo, mas também um canalha, um pusilâmine, um pulha assumido. Nelson, em sua sagrada indignação, só voltou a falar quando o garçom se acercou da nossa mesa. Mas não era isso o que eu ia lhes dizer, meus prolixíssimos leitores.

ENTREVISTA COM O VAMPIRO

O Trevisan esteve lá em casa, aproximadamente à meia noite, e, como um vampiro sedento e faminto, apropriou-se da garrafa de licor de ovos e da tigela de broinhas de fubá mimoso. Soltando farelos pela boca, sob o bigodinho que tenta esconder o dentinho de ouro, desembuchou:
- Passei no terreiro do Pai Véio Chico Fantasma e peguei a mensagem mediúnica do Machado de Assis. Tome, eu já li. Saiu e não disse nem tchau. Começo a pensar com meus botões de futebol de mesa e, bruscamente, sou interrompido:

- Já ia me esquecendo...Soube do Torcedor?

- Sei, a partir de amanhã já recebe visitas.

- Vamos lá amanhã?

- É possível.
Ia completar, mas a cabeça do Trevisan do jeito que veio foi e desapareceu na fresta da porta, me deixando a sós com o envelope na mão. Trêmulas, minhas mãos rasgam o papel e retiram a folha, de onde salta aos olhos a magnífica caligrafia de Machado:

Dalton, Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento. Assim não dá pra ser feliz.


Felicidades. Ass.: Machado de Assis

AGORA É TARDELLI.

Claro é isso! O Machado está certo. Eis a raiz, eis a verdade inexorável. Mas isso não tem importância. O que vale é ponto corrido e o campeonato brasileiro desembestou. Domingo passado, o Tardelli provou, ao vivo e em cores, para todo Brasil que não sabe pra que é que serve o apito. O fato é que ele é um juiz sem juízo e, na sua sandice, passou a mão cheia de dedos no Coritiba. Um descalabro, um achaque, um roubo. Assim podemos definir a sua atuação nos três pênaltis que deixou de marcar para os coxas. Dizem os mais mansos que o empate foi bom, mas quem entende de futebol viu outra coisa. O Polaco da Barreirinha me telefonou para contar que encontrou, na festa de nove anos do Beto Batata, o Maringas, indignado e soltando fogo pelas ventas: "Perdoando demasiadamente aos que cometem faltas, fazemos uma injustiça contra os que não as cometem." E quase saltando os olhos, completou: "É o medo o mais ignorante, o mais injusto e cruel dos conselheiros. Tenho certeza absoluta que o Tardelli é um cagão, se borrou todo de medo dos sampaulinos." O Polaco ainda fez a gentileza de me mandar a foto do insólito encontro, que aproveitei para ilustrar a crônica de hoje. Mas isso não tem importância. O Atlético também somou um ponto, mas não está jogando absolutamente nada. O novo técnico, prestigiadíssimo, fala em mudanças radicais, pois não gostou nadica do que viu. O mesmo discurso passa pela garganta do Bonamigo, que amargou mais um péssimo resultado em casa. Talvez o Paraná queira mesmo a lanterna porque não vê uma luz no fim do túnel.

O Roberto Prado, na sua enorme generosidade, me ligou na segunda de madrugada, aflito:

- Dalton, o futebol do Paraná não tem representação. Os nossos políticos, dirigentes e representantes são um bando de puxa-sacos que cada vez aumentam mais. Ninguém faz porra nenhuma. Ou você acha que só os remorsos suprem a justiça?

- Bem, Beco, penso que...O desgracido desligou e não disse nem boa noite. Fico a sós com minha insônia e penso em vocês, meus queridos leitores. Vocês que torcem pelo Coritiba, Atlético, Paraná. Vocês que entregam parte de seus suados salários em troca de um ingresso e torcem e vibram e se emocionam. Vocês querem, no mínimo, que os jogadores façam a mesma doação, que ponham o coração no bico da chuteira e honrem a camisa que um dia pertenceu a um Krueger, Zé Roberto, Evair, Sicupira, Assis, Régis, Saulo. Pode até perder, mas que até o último segundo o time esteja apertando a goela do adversário e bafejando na nuca.

SEM O ALEX, A RAPOSA MIA.

Vem aí, o Cruzeiro, a pedra da vez no sapato do Coritiba. Mas sem aquele que já foi nosso maior craque e deles também, o Alex. A torcida Coxa não quer nem saber, com Carlinhos Paraíba no time jogando com Michael ao seu lado, não tem pra ninguém. E time por time sou mais o verdão. O Couto lotado é sempre um jogador a mais e o time está jogando bem, na maior parte do tempo. Para vencer, basta entrar ligado, totalmente focado no jogo, que a raposa entrega os pontos. O Atlético vai a São Paulo pegar o Palmeiras, que vai jogar desfalcado. Mas não significa muita coisa, pois o Luxemburgo é um estrategista de mão cheia e o Atlético não mete medo em mais ninguém. O Roberto Fernandes diz que vai mudar isso, mas só teve pouco mais de uma semana para trabalhar. O Paraná...bem...é melhor deixar pra lá, por enquanto, para não atrapalhar. Mas não brinquem com o Ceará, porque o estádio pode cair de vez. Como diz meu amigo Batista de Pilar, paranista doente: agora é ganhar ou ganhar.
Mas isso não tem importância.

NÃO SE MATE E NEM CORTE O SEU PESCOÇO: DEUS ESTÁ CONOSCO.

O que eu queria mesmo lhes dizer, meus cordialíssimos leitores, é que o Brasil ainda vai ser tudo aquilo que queremos. Se hoje vemos bandos de desonestos, dúzias de falsários, pencas de ladrões, vagões de corruptos, carretas de indecentes, contâineres de traficantes e contrabandistas aos montes, vamos pensar que entre eles existem jovens, adultos e velhos. A idade não importa nem para o bem nem para o mal. O que importa mesmo é a consciência de que juntos formamos uma nação e ela é o que nós somos. Há lugar para todos, poetas, pensadores, religiosos, artistas, trabalhadores, enfim, os que aprenderam que viver é somar experiências, acumular ensinamentos e caminhar ao encontro da verdade, da justiça e da solidariedade. A ignorância é a raiz de todo mal, meus sapientíssimos leitores.

Poupem-me todos aqueles que ainda não são o que deveriam ser.

Dalton Machado Rodrigues

31 Comentários:

Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Adoro isso aqui.

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Isso que eu chamo de uma babada bem dada. Parabéns, Dalton, não perco uma.

Flávio

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Isso, Dalton, judia de quem te ama.
kkkkkkkk
Ab

Célio Ribas

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Brilhante.

Antônio César Alves

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Eita polaco filho de uma égua.

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Uma obra prima, texto de um bom gosto admirável.

Beto

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

É muito texto pra ler. Poupe-me Dalton.

 
Às 29 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Não é um texto, Polaco, é um monumento.

Fabiano

 
Às 30 maio, 2008 , Blogger Unknown disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei das cores e dos negritos, ajuda bastante a leitura.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Quem diz que futebol não é cultura, nunca passou por aqui.

Magali

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

ADMIRÁVEL.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

ser humilde é ser simples, e ser simples
é extremamente difícil
o Dalton tem tanta humildade e simplicidade em seus textos, que para os
leitores "carregados de vaidade de quem já sabe" fica extremamente difícil compreender não só verbalmente como
"almamente"? Ainda bem que a maioria
dos leitores desta coluna parecem compreender a parábola do semeador( de um multiplica por 100, divide por 2,diminui 37 e do saldo 13 se multiplica...

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Lendo o 13º comentário deste blog,já sabendo que na próxima sexta vai estar
como sempre melhor que a sexta passada presente e futura ou fora do tempo...lembrando da parábola do semeador, vou através dos meus
e-mail espalhar a semente. Espero que onde ela caia,tenha húmus de minhoca em abundância!Façam o mesmo assíduos comentaristas, não deixe este blog cair nos espinhos e ser sufocado pela inveja e ignorância.
NO MEU BLOG DE HOJE TEM O MEU 3º DELÍRIO MENTAL E OS PALPITES DA LOTECA.PARA ENTENDER O 3º , TEM QUE LER O 2º E PARA ENTENDER O 2º TEM QUE LER O 1º.
MEU BLOG: chicocoxabranca.blogspot.com
e-mail: chicofantasma15@bol.com.br

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Um amigo meu de MG disse que houve um cometário preocupante entre os jogadores do Cruzeiro: - O PARAÍBA vai jogar, cuidado com o cara,mas cuidado mesmo.
Meu palpite é que o Coxa ganha, e o Atlético empata.Parabéns Globo pelas transmissões de nossos times na TV!

 
Às 30 maio, 2008 , Blogger Unknown disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Mestre Dalton Machado Rodrigues, com um nome desses não poderia ser diferente, confesso que fiquei emocionado com o teor de suas crônicas. Passando do humor refinado para o pastelão, da frase feita para o ditado popular, da economia para a filosofia, da religião para os costumes, do deboche para o futebol, todos os assuntos se fundem em tempos diferentes mas presentes o tempo todo. As frases polidas para atingirem o brilho e o efeito máximos. Gostaria de lhe cumprimentar, mestre, pois é tão difícil encontrar textos para ler desse calibre. Chamo-o, se me permite a licença, de mestre. Mestre verdadeiro, aquele que mostra o caminho.

Um grande e afetuoso abraço

Ernani Soares França

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Achei bonzinho, quase meiaboca.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Grande, Polaco.
Tô de olho.

Renato Florentino

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Valeu pela aula.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Quem me dera ter 1% da tua capacidade de escrever, Polaco.
É inacreditável mesmo. Só quem acompnha sabe.

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Jogas pérolas aos porcos. Tenho pena de ti. Tu tens é que colocar em algum jornal e faturar. Não sejas bobo.

Um amigo

 
Às 30 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Torpedo na idéia.

Abraço.

Lincon de Almeida Filho

 
Às 30 maio, 2008 , Blogger Unknown disse...

Se comunicar e cooperar é uma das formas de enxergar a origem e a permanência da vida. Uma outra é a sobrevivência.

 
Às 01 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Du caráio,véio!

 
Às 01 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Nem é tanto assim

 
Às 01 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Dá-lhe coxa
Zito

 
Às 02 junho, 2008 , Blogger Ivan disse...

Pessoalmente, fiquei honrado com minha condenação à forca - mas faria questão de que guilhotinassem na mesma hora o Flávio Jacobsen...

 
Às 02 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Roubalheira do caralho.
Um Pânlti não dado e um gol anulado. Ah puta que o paiu

 
Às 03 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Quem não lê atentamente sua crônica não sabe o que está perdendo. Parabéns.

Milton Coelho

 
Às 03 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Taí, gostei.

Marcos Rogério

 

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