polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

domingo, maio 18, 2008



Polaco do caralho.

Uma das grandes alegrias quando eu, Edílson, Roberto e Marcos Prado, lançamos o livro OSS em 1985, fora o fato de ter influenciado toda uma geração em Curitiba, foram algumas matérias sobre o livro. Quando lançamos em São Paulo o Estadão chegou ao ponto de nos dedicar duas páginas (bons tempos!) uma descendo o cacete no livro e a outra nos lançando na estratosfera. Destaco também a página inteira na Folha e no Jornal da Tarde. Mas nenhuma dessas matérias chegou aos pés da matéria que fez o Leminski e que transcrevo agora pra vocês na íntegra. Divirtam-se.

Polaco da Barreirinha




Textos OSS, OSS textos!

A recente descoberta dos textos OSS, na antiga capital do Paraná, uma cidade que se chamava Ka-ra-I-Tu-Ba (ou Ko-Reu-Du-Pa, conforme outra leitura possível), começa a provocar verdadeira revolução na idéia que se fazia do aborígene que habitava as bordas da Boca Maldita, rico sítio arqueológico onde foram encontrados restos do ¨Homo Aderbalensis” e uma mandíbula do “Homo Mazzensis”, índices seguros de que havia vida inteligente no lugar, quando os textos foram escritos.
O crâneo de um Dalton Trevisanossaurus Rex, um antepassado do vampiro da Transilvânia, com seus caninos afiados, prova que boa parte da fauna local se alimentava do sangue dos próprios companheiros de flora e habitat.
A imensa quantidade de garrafas de Velho Barreiro e de cerveja é uma evidência dos hábitos etílicos da população desse vale, que se revelou tão rico em tesouros arqueológicos. Basta dizer que foram encontrados vestígios do esqueleto de um Solda, a vértebra de uma Manoel Carlos Karam intacta, a asa inteira de um Rogério Dias e até a omoplata de um Roberto Requião, facilmente reconhecida pela sigla PMDB, gravada na face interior. Nenhum Leminski foi ainda encontrado nas imediações da Boca, mas isso pode se dever ao fato de que esses animais ariscos preferiam as cruzes do Pilarzinho para desovar seus ovos e desatinos. Esses animais viviam às custas dos bandos de dantes mendonças e setos que sobrevoavam os pântanos da Boca em busca de tipos para caricaturar.
As primeiras tentativas de decifração dos textos OSS, hoje classificados em dois grupos, o Grupo OSS-Nossos e o Grupo OSS-Deles, começam a produzir resultados. O primeiro texto a ser traduzido nos revela um mundo cheio de esperança e alegria , onde as ternas alegrias do lar se mesclam, delicadamente, a algumas porradas de karatê na boca. Ele diz mais ou menos assim (traduzo livremente):

“meus amigos bebem demais
meus amigos fumam demais
meus amigos falam demais
meus amigos morrem demais
.........................
eu chego sozinho aos quarenta”


A julgar por este fragmento dos textos OSS, os contemporâneos tinham muitos amigos. Sem dúvida, a amizade era um dos sentimentos mais cultivados entre os OSS. O tom melancólico da conclusão insinua que os OSS não chegavam facilmente aos 40 anos, coisa que se devia certamente às condições insalubres da vida que levavam, a seus hábitos noturnos e aos vícios que praticavam.
O que mais espanta os tradutores dos textos OSS é a violência de inúmeras passagens, o que insinua que não era fácil a sobrevivência desse povo, em eterna luta contra instituições injustas. Basta atentar para passagens como:

“vou te preparar uma emboscada
se sobrar um osso, dou pra cachorrada”

OU:

“é duro perder um dedo
mesmo tendo esta mão
cheia de dedos”

Nada nos autoriza a imaginar que os OSS tivessem mais de cinco dedos. “Cheia de dedos”, aqui, quer dizer apenas “uma mão inteira”. Por esse lado, podemos fazer um paralelo entre os OSS e a tribo punk que nessa época invadiu as butiques, as danceterias e as lanchonetes da Boca, e proclamou o império da porrada, do Relógio das Flores até o Pasquale, ao lado da ilha dos macacos. Alguns pesquisadores suspeitam, por isso, que os OSS tinham relações íntimas com os primatas que praticavam “rock-and-roll”, um ritual sangrento que exigia que um Jimi Hendrix morresse de overdose de heroína de seis em seis anos, para aplacar a fome de lucros da Warner Brothers, uma divindade da época que soltava elepês e compactos pelas narinas.
Segundo opinião unânime, o mais comovente dos textos OSS é um hino a um cometa chamado “Desta vez vai bater”, um poema que começa dizendo:

“em todos os textos antigos
desde os tempos mais remotos”
PARA TERMINAR, MELANCÓLICO:
“quer correr mas agora é tarde
quer gritar mas agora é longe”

Não, senhoras e senhores. Não era fácil a vida do povo que escreveu os textos OSS. O pessimismo que permeia os textos OSS fornece um testemunho eloqüente da dificuldade de se relacionar, o desencanto com as ilusões da época, o desespero transformado em sarcasmo e ironia, a agressividade dos agredidos, a ira estéril daqueles que já não acreditam mais em nenhuma utopia. Nas areias movediças da angústia, os OSS não economizavam palavrões, nem insultos, nem maldições aos deuses do céu e da terra.
Amanhã de manhã, na livraria Dario Vellozo, na Feira Hippie, na Praça do Relógio das Flores, vão estar à venda alguns poemas OSS, num volume chamado exatamente “OSS”. Quem quiser ir, vai. Quem não quiser, vai plantar batatas. Pois como diz um texto OSS:

“ninguém vai querer saber
se você presta ou não presta
a grande maioria te odeia
e o resto te detesta”


Paulo Leminski

14 de dezembro de 1985, jornal Correio de Notícias

9 Comentários:

Às 18 maio, 2008 , Blogger Ivan disse...

Polaco:

lendo os comentários no seu blog confirmei uma certeza absoluta: o mundo está lotado de loucos -

não obstante, fico muito grato por você nos apresentar um texto do Leminski -

(o do Solda também não fica atrás)

fico ainda mais grato por você ter linkado meu imodesto blog duas vezes (sinal de que está saudoso da minha parca presença)...

Pra não deixar de ser eu mesmo, comento também aqui o poema Relatividade:

está muito bom mesmo (como sói acontecer com seus textos - e também os do Dalton Machado...), mas repita comigo sete vezes:

EMpecilho
quiproQUÓ

 
Às 18 maio, 2008 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Ivan, às vezes passa um errinho ou outro, mas, como diz o Dalton, isso não tem importância. Revisão é uma merda. Quanto ao empecilho não tem a menor dúvida, erro de digitação. Mas quanto ao quiproquó, não abro mão da forma que utilizei.
Abraço

 
Às 18 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Um delicioso texto, diga-se! Que para maior delicia minha, foi publicado no dia do meu aniversário de 2 anos.

---

Gostei do novo layout do blog.

Um abraço

 
Às 20 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

to vendendo um OSS ( tenho 02) autografado pelo Marcos Prado.R$ 200,00.

Ruga

 
Às 20 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

concodrdo com o Thadeu quanto ao quiprocó... quento ao empecilho...me parece que o "I" é bem longe do "e " no teclado. Ig do Polaco mesmo.

Ruga, o verdadeiro.

 
Às 20 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

vou te matar Ruga < o verdadeiro >

ruga

 
Às 20 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

já o "a" é bem perto do "e"


Ruga , o verdadeiro.


P.S. ruga, que meda!!!!

 
Às 20 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Dou 100.

Juca Bala

 
Às 21 maio, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

nemfu...200

ruga

 

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