Bola Perdida
“Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.”
Meus esclarecidíssimos leitores, uma coluna de jornal, não importa o assunto a que se preste, tem que imprimir no espírito de quem lê a sensação de que o autor está falando de tudo ao mesmo tempo agora já neste momento inclusive antes e depois. Sem essa universalidade e intemporalidade, ela não há de prestar nem para embrulhar peixe podre no mercado. Certo? Certíssimo! Odeio textos tratados com a objetividade de um eunuco em assuntos sexuais. Não ensinam, não informam, não emocionam, não divertem, não pensam e nem abrem espaço para o leitor pensar. Pior do que um texto assim só mesmo aquele bem escrito, mas mal intencionado, ou seja, feito sob medida para enganar os menos esclarecidos e os que babam bovinamente por qualquer coisa.
Mas isso não tem importância.
A hora e a vez dos falacianos.
Mas não era exatamente isso que eu queria dizer a vocês.
- Vai enrolar assim lá na casa da vaca tua mãe, ô traça de biblioteca. Se não era isso que você queria dizer, por que disse? Não é possível, meu deus! Fale sobre o campeonato, cavalo de teta!! Gane uma espinha purulenta à minha esquerda que atende por Ribamar. É o office old aqui da redação, fez 22 anos ontem e 8 de profissão. É um caso único no mundo, quase uma década de leva e traz, com certeza é o office boy mais idoso do planeta. Ribamar quando não tem nada para fazer, espouca espinhas. Onde começa seu rosto ou onde acabam as espinhas é um mistério que a ciência levará séculos para desvendar.
- Vai enrolar assim lá na casa da vaca tua mãe, ô traça de biblioteca. Se não era isso que você queria dizer, por que disse? Não é possível, meu deus! Fale sobre o campeonato, cavalo de teta!! Gane uma espinha purulenta à minha esquerda que atende por Ribamar. É o office old aqui da redação, fez 22 anos ontem e 8 de profissão. É um caso único no mundo, quase uma década de leva e traz, com certeza é o office boy mais idoso do planeta. Ribamar quando não tem nada para fazer, espouca espinhas. Onde começa seu rosto ou onde acabam as espinhas é um mistério que a ciência levará séculos para desvendar.
Mas isso não tem importância.
Cartão vermelho para o juiz.
O Trevisan, o contista vampiro, traduzido para dezenas de idiomas em todo o mundo, como sempre, me ligou, cedinho na segunda:
Cartão vermelho para o juiz.
O Trevisan, o contista vampiro, traduzido para dezenas de idiomas em todo o mundo, como sempre, me ligou, cedinho na segunda:
- Não pude ir, cara. Mas me conte como foi a visita ao Torcedor. Ele está bem?
- Quase teve um novo surto.
- Como assim?
- Liberaram a TV e ele viu as imagens da roubalheira.
- Que merda!
- É pra você ver. Os palpites do Torcedor sobre arbitragens você conhece melhor do que eu.
- Não erra um, cara. Se ele diz que vai ter gatunagem, pode escrever.
- Pois é, de cada dez palpites, nove são no coraçãozinho da mosca e um na sambiquira. Agora, diga aí, você, Trevisan, um cara que ama o futebol como o Torcedor, que não tem time, tem ou não tem muito mais visão e distanciamento do que nós?
- Acho que não só isso, como também frieza para analisar. O cara tem classe, muita classe. Ah, e a elegância do velhinho nas discussões, então? O Torcedor, quando fala, parece o Rui de Haia, o Barão do Rio Branco das fronteiras, o Arnaldo Jabour da indignação burguesa. Você conversou com ele sobre os jogos da dupla Atletiba?
- Claro. O Torcedor estava transtornado. Os gols anulados quase mataram o velho. Ele disse que...
Sou uma besta! Uma besta!
Mas o que eu queria mesmo lhes dizer é que encontrei ontem o Roberto Prado na Rua das Flores e o cara estava mais indignado do que um Danton diante dos crimes de Roberspierre:
“Pode um troço desses, pode? Os caras meteram a mão na gente, Dalton. Um crime, aliás, três crimes, assim não dá!! Isso está me cheirando à maracutaia. Não sei o que fui fazer no Couto Pereira e ainda pagando para entrar. Acho que sou uma besta. Uma besta!”
Sem me deixar dizer uma palavra, saiu a passos mais firmes que a defesa dos 300 de Esparta.
Mal escureceu, tomei uma café na Boca Maldita, e pus-me a caminhar pelas ruas que me levam sempre para casa. Fazia frio, mas me senti confortável sob o meu sobretudo. Andar me faz bem, me faz pensar. Olhei para o céu e não fui muito longe. Algumas nuvens baixas negaram-me a companhia das estrelas. Senti-me melancólico e, quando entrei na Fernando Moreira, com seus chorões enfileirados, veio-me à lembrança uma conversa que tive com Nelson Rodrigues, logo após assistirmos ao Fla-Flu. Foi em 1970...não, não foi... foi em 1969, isso mesmo, 15 de setembro de 1969. Nelson estava triste porque a data marcava 3 anos da morte do seu irmão Mário Filho e dizia:
Mal escureceu, tomei uma café na Boca Maldita, e pus-me a caminhar pelas ruas que me levam sempre para casa. Fazia frio, mas me senti confortável sob o meu sobretudo. Andar me faz bem, me faz pensar. Olhei para o céu e não fui muito longe. Algumas nuvens baixas negaram-me a companhia das estrelas. Senti-me melancólico e, quando entrei na Fernando Moreira, com seus chorões enfileirados, veio-me à lembrança uma conversa que tive com Nelson Rodrigues, logo após assistirmos ao Fla-Flu. Foi em 1970...não, não foi... foi em 1969, isso mesmo, 15 de setembro de 1969. Nelson estava triste porque a data marcava 3 anos da morte do seu irmão Mário Filho e dizia:
- “Meu irmão foi de uma bondade desesperadora. Bom a cada minuto. Bom de uma bondade que, por vezes, nos agredia e humilhava. Se ele aparecesse com um passarinho em cada ombro, eu não me admiraria nada, nada. Era um ser atravessado de luz como santo de vitral. Meu irmão foi, no futebol brasileiro, um criador de multidões. Foi ele, e só ele, o autor do Fla-Flu. Ora, o Fla-Flu, sem esta abreviação, existia desde 1911 ou 12. Até que Mário Filho resolveu promover o velho clássico, tão velho que era anterior à primeira batalha do Marne, anterior ao fuzilamento de Mata-Hari. Preliminarmente, mudou o nome do clássico para Fla-Flu. Em seguida, montou todo um folclore fascinante sobre o jogo superconhecido e desgastado. Eram os mesmos clubes, as mesmas camisas, os mesmos jogadores. E, de repente, o Fla-Flu extroverteu todo o patético, todo o sortilégio que trazia no ventre. Senhoras, que não sabiam nem quem era a bola, compareciam ao jogo, magnetizadas pelo mito. A multidão do Fla-Flu é um milagre do Mário Filho. Veja, Dalton, o maior estádio do mundo tem o seu nome. Pena é que não o tenham enterrado lá. Com o Maracanã por túmulo, Mário Filho mereceria que o velassem multidões imortais.” Seus olhos se encheram de água e, por alguns segundos, percebi insondáveis Marianas em seu rosto transido de dor. Demo-nos as mãos, abraçamo-nos e, sob a luz das estrelas, caminhamos um para cada lado.
Mas isso não tem importância.
O enigma do Machado nas mãos do Chico Fantasma.
O que queria mesmo lhes dizer é que quando cheguei em casa encontrei um envelope sob a porta, com um bilhete sobre ele. Era do Pai Véio Chico Fantasma e transcrevo-o na íntegra para vocês, meus curiosíssimos leitores: “Dalton, estive aqui, esperei, esperei, esperei e nada de você. Recebi a mensagem do Machado de Assis, está dentro do envelope, leia com cuidado. Grande abraço. Ass.: Chico Fantasma.”
Aquele “leia com cuidado” despertou em mim todos os fantasmas da ópera, suando bicas e com mãos de gelatina, corajosamente abri e o que li repito aqui: “Meu irmão de letras e sentimentos, quem avisa amigo é e você sabe muito bem que escreveu não leu, é analfabeto. Portanto, vou te mostrar com quantos paus se faz uma canoa e porque quando um não quer dois obrigam. Na verdade, em terra de cegos quem tem um olho é rei, mas devagar com o andor que o santo é de barro. Com os dois pés atrás é pra frente que se anda.
O enigma do Machado nas mãos do Chico Fantasma.
O que queria mesmo lhes dizer é que quando cheguei em casa encontrei um envelope sob a porta, com um bilhete sobre ele. Era do Pai Véio Chico Fantasma e transcrevo-o na íntegra para vocês, meus curiosíssimos leitores: “Dalton, estive aqui, esperei, esperei, esperei e nada de você. Recebi a mensagem do Machado de Assis, está dentro do envelope, leia com cuidado. Grande abraço. Ass.: Chico Fantasma.”
Aquele “leia com cuidado” despertou em mim todos os fantasmas da ópera, suando bicas e com mãos de gelatina, corajosamente abri e o que li repito aqui: “Meu irmão de letras e sentimentos, quem avisa amigo é e você sabe muito bem que escreveu não leu, é analfabeto. Portanto, vou te mostrar com quantos paus se faz uma canoa e porque quando um não quer dois obrigam. Na verdade, em terra de cegos quem tem um olho é rei, mas devagar com o andor que o santo é de barro. Com os dois pés atrás é pra frente que se anda.
Grande abraço, Machado de Assis.”
Confesso, meus solidaríssimos leitores, fiquei petrificado diante do enigma. E, sem pé nem cabeça, caí aturdido sobre a realidade macia do sofá. Quando acordei de manhãzinha, o sol já era a bola da vez no céu e, ainda por cima, amanhecera com ares de quinta grandeza. O céu azul me deixou tão exultante que tive uma heureka: “Claro é isso! O Machado está certo. Certíssimo. Não dá para tapar o sol do sofrimento com a peneira da felicidade.” Mas isso não tem importância. O campeonato brasileiro é por pontos corridos e vai que é um upa.
A dura realidade não é mole.
Os líderes estão com 10 e a dupla Atletiba com 5 pontos. Domingo, no Joaquim Américo, às 16 h, o Atlético pega de pau o Goiás, com um novo esquema tático, o 4-4-2. O Roberto Fernandes acredita que com essa formação o time será mais ofensivo. É bom que seja, porque se não a torcida, que já está de saco cheio, é que vai fazer cantar a vara no seu lombo. O Goiás está na zona de rebaixamento com 3 pontos, mas o técnico Vadão não é fraco e armou seu time com 3 zagueiros, liberando Paulo Baier para alimentar e ir ao ataque. O Atlético que se cuide, dos seus pés saem verdadeiros tomawhaks e uma derrota em casa pode transformar a Arena em terra arrasada.
O Coritiba, segundo o Maringas me disse, vai ao Engenhão com Felipe no lugar de Nenê, suspenso por ter 3 cartões amarelos, e Alex Silva no lugar de Pedro Ken, vetado pelo DM do coxa. No Botafogo, a derrota de 3 x0 para o Náutico deixou todos aflitos e o time quer uma vitória a qualquer custo em casa. Mas também vai jogar bastante modificado, sem Triguinho, sem Castilho, sem Jorge Henrique e sem vergonha de ser feliz. Uma coisa é certa: os times vão se respeitar mais que estivadores pelados em sauna úmida, Mas como disse o Maringas: “Que vença o melhor, a vitória dará ao coxa a tranqüilidade necessária para se recuperar dos assaltos de que foi vítima.”
O Paraná joga em casa, no sábado, às 16,10 h, contra o Ceará e não tem mais desculpas. Bonamigo teve 11 dias para preparar, corrigir, acertar, recuperar e dar descanso aos seus atletas. Vai ser a luta do 19º colocado contra o 9º, o Paraná com 2 pontos na vice-lanterna, não pode nem pensar em perder. Mas isso não tem importância.
A vida é combate. Vamos à luta!
Como eu disse, no começo desta crônica, ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional. Ou seja, bola pra frente, pois como disse o nosso grande poeta Gonçalves Dias: “ A vida é combate/ que aos fracos abate/ e aos bravos e aos fortes/ só faz exaltar!” É isso aí, meus pacientíssimos leitores, a vida não tem replay nem volta. Pra que então baixar a cabeça se a nossa queixa, mesmo quem seja de cair o queixo, nada vai acrescentar?
Enquanto vocês buscam uma resposta decente para me dar, eu papo todas essas broinhas de fubá mimoso e enxugo até o último litro de licor de ovos da despensa.
Poupem-me de tudo que não for para a felicidade geral da nação.
14 Comentários:
Como sempre brilhante, mestre.
Sexta nobre.
Beto
É difícil encontrar o que dizer depois de tudo que eu já disse, mas espero que este abraço sincero que lhe mando agora diga tudo que eu não disse.
Furacão 3 x 0. Não tem pra ninguém.
Saudações rubronegras.
Walter Fotografias
Sou fã do Geraldo e do Ribamar, dê mais espaço pra eles.
Desse jeito eu vou virar um leitor profissional, é texto pra caralho, mas eu gosto porque´flui bem.
Rubens Milankowicz
Não sou de comentários e nem de lenga-lenga o que vou dizer é pura verdade, dá gosto ler sua crônica.
Adaberto Pereira
Este comentário foi removido pelo autor.
thadeu, vc fica ridículo falando do atlético...muito forçado...fique só com os coxas!!!
Rubro negro
Polaco que te adoro barreirista/ Antes de postar no blog me manda o texto por email pra eu ilustrar/ Faço com o maior prazer, abraçado ao artista/ Porque arte é ejacular, porra!
Ninguém escreve neste Brasil melhor do que vc, polaco do caralho.
João Michielowski
Não ligue pra esses fdp q te criticam, esses caras não sabem nem escrever o próprio nome.
Quem sabe das coisas tá te curtindo.
É isso aí, meu irmão.
Abração
do
Miguel Antõnio Javarski
Thadeu, tire os comentários e mande esse pessoal pastar.
Ruga
Mandei centenas de e-mail aos amigos
è muito bom estes textos
todos inclusive as poesias
mas futebol realmente atiça o povão
nota 1001
este blog tem mais utilidade que
bombril! Até Sexta se o Dalton deixar?
chicocoxabranca.blogspot.com
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