Edilson, Marcos e Eu, em 1980.
Botando a palavra na roda.
“- Pára com esse tambor, menino!
- Tá bom, papai.
“- Pára com esse tambor, menino!
- Tá bom, papai.
Tá bom, papai.”
Eu e o meu querido e saudoso amigo Marcos Prado ( 1961-1996), durante quase 20 anos de convívio, atravessamos madrugadas e madrugadas descobrindo e nos divertindo com essa linguagem cifrada, cheia de sustos e surpresas, que quem tem um tamborim nos ouvidos pode distinguir em meio à ingênua, ignorante e repetitiva cantilena popular. Não raras vezes, o Walmor Góes, o Trindade e o Edilson Del Grossi estavam lá para animar a festa. Violões afinados, as canções iam surgindo tão natural e prodigamente que, finda a noitada, além das garrafas vazias, cinzeiros entupidos, corpos espalhados sobre sofás e carpetes, sempre havia na mesa dezenas de folhas de papel com as últimas canções, anotações, poemas e algumas loucuras generalizadas que, no dia seguinte, teriam lugar de destaque no lixo que não é lixo.
Orgias poéticas à parte, eu e o Marcos tínhamos ainda outras diversões: leitura e música. Assim fomos lendo e ouvindo tudo que o Brasil e o mundo têm de bom. Lembro que em nossa companhia tínhamos sempre Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Noel Rosa, Jimi Hendrix, Tom Waitts, Frank Zappa, Maiakóvski, Dante Alighieri, Pixinguinha, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Adoniram, Lupiscínio, só para citar alguns dos mais assíduos freqüentadores de nossas intermináveis conversas. O assunto mudava muito pouco e estava insistentemente relacionado à precisão, cadência, elegância, adequação e concisão dos termos utilizados nas composições que líamos, ouvíamos ou fazíamos. A bossa do ritmo, a batucada das sílabas, a riqueza e simplicidade da melodia, o inesperado da rima, tudo era deliciado e degustado com os extremos rigores que impúnhamos às nossas tresloucadas análises e composições. Momentos de grande iluminação proporcionados pela riqueza da língua portuguesa e sua capacidade de se fundir na melodia, quando a batuta do poeta tem maestria.
Com Marcos Prado, Roberto Prado, Leminski, Sérgio Viralobos, Solda, Dalton Trevisan, aprendi que, em Curitiba, a palavra é de lei. Letras com poesia de alta tensão, versos a laser/lazer, pulsar rítmico das etnias portuguesa, italiana, polonesa, alemã, ucraína, japonesa, africana. Conversa entre pessoas inteligentes e bem humoradas.
O Marcos Prado estaria fazendo 47 anos hoje. Mas abandonou o barco em 1996. Parece que foi ontem, mas foi há 12 anos. Agora a saudade já não dói tanto. Dói a vida ter ficado menos interessante.
Antonio Thadeu Wojciechowski.
Eu e o meu querido e saudoso amigo Marcos Prado ( 1961-1996), durante quase 20 anos de convívio, atravessamos madrugadas e madrugadas descobrindo e nos divertindo com essa linguagem cifrada, cheia de sustos e surpresas, que quem tem um tamborim nos ouvidos pode distinguir em meio à ingênua, ignorante e repetitiva cantilena popular. Não raras vezes, o Walmor Góes, o Trindade e o Edilson Del Grossi estavam lá para animar a festa. Violões afinados, as canções iam surgindo tão natural e prodigamente que, finda a noitada, além das garrafas vazias, cinzeiros entupidos, corpos espalhados sobre sofás e carpetes, sempre havia na mesa dezenas de folhas de papel com as últimas canções, anotações, poemas e algumas loucuras generalizadas que, no dia seguinte, teriam lugar de destaque no lixo que não é lixo.
Orgias poéticas à parte, eu e o Marcos tínhamos ainda outras diversões: leitura e música. Assim fomos lendo e ouvindo tudo que o Brasil e o mundo têm de bom. Lembro que em nossa companhia tínhamos sempre Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Noel Rosa, Jimi Hendrix, Tom Waitts, Frank Zappa, Maiakóvski, Dante Alighieri, Pixinguinha, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Adoniram, Lupiscínio, só para citar alguns dos mais assíduos freqüentadores de nossas intermináveis conversas. O assunto mudava muito pouco e estava insistentemente relacionado à precisão, cadência, elegância, adequação e concisão dos termos utilizados nas composições que líamos, ouvíamos ou fazíamos. A bossa do ritmo, a batucada das sílabas, a riqueza e simplicidade da melodia, o inesperado da rima, tudo era deliciado e degustado com os extremos rigores que impúnhamos às nossas tresloucadas análises e composições. Momentos de grande iluminação proporcionados pela riqueza da língua portuguesa e sua capacidade de se fundir na melodia, quando a batuta do poeta tem maestria.
Com Marcos Prado, Roberto Prado, Leminski, Sérgio Viralobos, Solda, Dalton Trevisan, aprendi que, em Curitiba, a palavra é de lei. Letras com poesia de alta tensão, versos a laser/lazer, pulsar rítmico das etnias portuguesa, italiana, polonesa, alemã, ucraína, japonesa, africana. Conversa entre pessoas inteligentes e bem humoradas.
O Marcos Prado estaria fazendo 47 anos hoje. Mas abandonou o barco em 1996. Parece que foi ontem, mas foi há 12 anos. Agora a saudade já não dói tanto. Dói a vida ter ficado menos interessante.
Antonio Thadeu Wojciechowski.
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PS: Quando o Maxixe lançou o filme/CD Bar Babel, escrevi esta apresentação, que reproduzo agora sem o elogio final ao belíssimo trabalho da dupla Rodrigão- Ferreira.
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