Saboro Nossuko começa a escrever aos 3 anos. Dizem que, a princípio, pareciam só garranchos disformes, por isso seus textos estão guardados por sete monges num mosteiro secreto, para que a humanidade tenha tempo de evoluir, as ciências avançarem e finalmente poderem decifrar o seu conteúdo. Enquanto isso, Saboro, saboreia as delícias da Barreirinha, onde vive em seu pequeno, mas confortável templo. Seus adeptos, segundo dizem, diminuem dia-a-dia em quantidade, mas aumentam em qualidade.
Vários de seus discípulos já foram vistos, pelas ruas do bairro na madrugada, bêbados e cantando para a lua. O que, segundo dizem os polacos da região, é um sinal de profunda e reveladora iluminação.
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Poeminhas para meditação
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1.
- Mestre,
o dia-a-dia sempre me emociona.
O sol aceso como uma lâmpada,
o céu a nos servir de tampa,
o vento que a tudo detona.
- É, essas coisas existem!
- Mas o senhor não vê beleza nelas?
- Vejo graça no que dizes!
- Como assim?
- Na inocência de tuas comparações,
na fragilidade de tuas conclusões.
- Mas tenho lido tanto, mestre.
Será que nunca vou aprender?
- Cala boca, idiota!
Duas horas após profundo silêncio,
o mestre retoma:
- O que aprendeste neste tempo?
- Só uma coisa, mestre.
- E que coisa foi essa?
- Não te interessa!
- Estás começando a virar um mestre!
Saboro Nossuco
2.
Certa manhã,
nem bem o sol botou a cara pra fora,
o jovem Buda despertou dentro de um sonho.
A princípio, estranhou não haver mudança.
“Está tudo igual!”
Olhou e conferiu tudo à sua volta.
“Exatamente igual
Não há diferença entre sonho e realidade!”
O velho jardineiro, ao centro,
sorria para as flores que brotavam.
“Por que sorris para elas?”
Perguntou admirado.
“Para que estejam sorrindo quando acordares?”
Meses depois, Buda encontrou
o velho jardineiro e contou-lhe o seu sonho.
“Lembro-me perfeitamente do que lhe disse,
naquele manhã, ó iluminado.”
Disse-lhe sorrindo, o velho serviçal.
E Buda ao olhar para as flores, despertou.
Saboro Nossuco
3.
À noite, diante do céu estrelado:
- Mestre, pra mim, as lágrimas são estrelas da alma.
Em silêncio, o mestre demonstra toda a sua satisfação.
- Obrigado, mestre. Mas por que choras agora?
O mestre nada mais disse, apenas fixou seu olhar no céu,
onde lágrimas e estrelas já não se diferenciavam.
Saboro Nossuco
4.
“Chorando, Hi Fun, ajoelhou-se:
- Mestre, ensina-me a não sentir dor!
Em resposta, levou um chute no peito,
que chegou a levantá-lo do chão.
- Sai daqui, cão sarnento!
Rastejando e com o rabo entre as pernas,
Hi Fun afastou-se, raivoso, do mestre.
Durante meses, incentivou um ódio mortal dentro de si.
- Quem esse idiota pensa que é,
para me tratar como um cão sarnento?
Evitava, a qualquer custo,
todos os possíveis encontros com o mestre,
desviando e esgueirando-se pelos cantos.
Mas, um dia recebeu uma ordem:
- Mestre Khoan Wu deseja vê-lo!
Sem alternativas, foi ao seu encontro.
- Que desejas, mestre Wu?
- Que me ensines a não sentir mais dor!
Envergonhado, Hi Fun foge, chorando
e berrando: - Perdão, mestre, perdão!
1.
- Mestre,
o dia-a-dia sempre me emociona.
O sol aceso como uma lâmpada,
o céu a nos servir de tampa,
o vento que a tudo detona.
- É, essas coisas existem!
- Mas o senhor não vê beleza nelas?
- Vejo graça no que dizes!
- Como assim?
- Na inocência de tuas comparações,
na fragilidade de tuas conclusões.
- Mas tenho lido tanto, mestre.
Será que nunca vou aprender?
- Cala boca, idiota!
Duas horas após profundo silêncio,
o mestre retoma:
- O que aprendeste neste tempo?
- Só uma coisa, mestre.
- E que coisa foi essa?
- Não te interessa!
- Estás começando a virar um mestre!
Saboro Nossuco
2.
Certa manhã,
nem bem o sol botou a cara pra fora,
o jovem Buda despertou dentro de um sonho.
A princípio, estranhou não haver mudança.
“Está tudo igual!”
Olhou e conferiu tudo à sua volta.
“Exatamente igual
Não há diferença entre sonho e realidade!”
O velho jardineiro, ao centro,
sorria para as flores que brotavam.
“Por que sorris para elas?”
Perguntou admirado.
“Para que estejam sorrindo quando acordares?”
Meses depois, Buda encontrou
o velho jardineiro e contou-lhe o seu sonho.
“Lembro-me perfeitamente do que lhe disse,
naquele manhã, ó iluminado.”
Disse-lhe sorrindo, o velho serviçal.
E Buda ao olhar para as flores, despertou.
Saboro Nossuco
3.
À noite, diante do céu estrelado:
- Mestre, pra mim, as lágrimas são estrelas da alma.
Em silêncio, o mestre demonstra toda a sua satisfação.
- Obrigado, mestre. Mas por que choras agora?
O mestre nada mais disse, apenas fixou seu olhar no céu,
onde lágrimas e estrelas já não se diferenciavam.
Saboro Nossuco
4.
“Chorando, Hi Fun, ajoelhou-se:
- Mestre, ensina-me a não sentir dor!
Em resposta, levou um chute no peito,
que chegou a levantá-lo do chão.
- Sai daqui, cão sarnento!
Rastejando e com o rabo entre as pernas,
Hi Fun afastou-se, raivoso, do mestre.
Durante meses, incentivou um ódio mortal dentro de si.
- Quem esse idiota pensa que é,
para me tratar como um cão sarnento?
Evitava, a qualquer custo,
todos os possíveis encontros com o mestre,
desviando e esgueirando-se pelos cantos.
Mas, um dia recebeu uma ordem:
- Mestre Khoan Wu deseja vê-lo!
Sem alternativas, foi ao seu encontro.
- Que desejas, mestre Wu?
- Que me ensines a não sentir mais dor!
Envergonhado, Hi Fun foge, chorando
e berrando: - Perdão, mestre, perdão!
a
Todos que estavam a par do entrevero,
cercaram Wu, curiosos e aflitos:
- O que fizeste com ele, Mestre?
- Nada, apenas curei sua dor, seu ódio e
Transformei um cão sarnento num santo.
- Como, Mestre?
- Não me dissestes, há alguns dias,
que o ódio dele por mim era tanto
que ele já não pensava em sua dor?
- Dissemos sim, mestre!
E, aproximando-se, ainda mais curiosos:
- Mas isso não explica a transformação!
Mestre Wu, então, com todo amor no coração,
distribuiu pontapés a torto e a direito.
Assim termina a aula de hoje! "
Pouco tempo depois:
- Mestre Huei, nós nos reunimos,
discutimos e chegamos à conclusão
de que nada entendemos de sua aula.
O senhor poderia nos explicar, por favor?
Todos que estavam a par do entrevero,
cercaram Wu, curiosos e aflitos:
- O que fizeste com ele, Mestre?
- Nada, apenas curei sua dor, seu ódio e
Transformei um cão sarnento num santo.
- Como, Mestre?
- Não me dissestes, há alguns dias,
que o ódio dele por mim era tanto
que ele já não pensava em sua dor?
- Dissemos sim, mestre!
E, aproximando-se, ainda mais curiosos:
- Mas isso não explica a transformação!
Mestre Wu, então, com todo amor no coração,
distribuiu pontapés a torto e a direito.
Assim termina a aula de hoje! "
Pouco tempo depois:
- Mestre Huei, nós nos reunimos,
discutimos e chegamos à conclusão
de que nada entendemos de sua aula.
O senhor poderia nos explicar, por favor?
a
- Estou velho demais para chutá-los pra longe.
Mas meditem um pouco mais.
Se o ódio, que Hi Fun sentia,
o fez esquecer sua dor,
do que ele seria capaz se sentisse amor?
Mas meditem um pouco mais.
Se o ódio, que Hi Fun sentia,
o fez esquecer sua dor,
do que ele seria capaz se sentisse amor?
Mestre Wu, ao pedir que ele o ensinasse,
mostrou-lhe o caminho do amor,
da bondade, da compreensão e da humildade.
- É por isso que o templo se chama Khoan Wu?
- Sim e foi Hi Fun quem o construiu.
a
- Mas, Mestre Huei, construir um templo
transforma alguém em santo?
Mestre Huei olha à sua volta
e, em profundo silêncio,
aponta com o dedo o que vê:
- Mas, Mestre Huei, construir um templo
transforma alguém em santo?
Mestre Huei olha à sua volta
e, em profundo silêncio,
aponta com o dedo o que vê:
a
os entalhes harmoniosos,
os bambus tocando o céu em seu bailado ao vento,
o pátio simples e aconchegante,
a pequena fonte a jorrar continuadamente,
a varanda rústica, forte e iluminada,
as portas quase musicais,
as flores colorindo o jardim
e volta-se para seus discípulos,
que também se voltam para ele,
ajoelhando-se, maravilhados.
Até hoje dizem que o silêncio que se fez
os bambus tocando o céu em seu bailado ao vento,
o pátio simples e aconchegante,
a pequena fonte a jorrar continuadamente,
a varanda rústica, forte e iluminada,
as portas quase musicais,
as flores colorindo o jardim
e volta-se para seus discípulos,
que também se voltam para ele,
ajoelhando-se, maravilhados.
Até hoje dizem que o silêncio que se fez
foi tanto mas tanto
que dava para ouvir: Santo! Santo! Santo!
Saboro Nossuco
que dava para ouvir: Santo! Santo! Santo!
Saboro Nossuco
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10 Comentários:
Absolutamente geniais, mestre Thadeu!
Du caralho!
Beto
No começo não entendi nada, Polaco.
Mas agora percebo bem o que você está fazendo e pra variar é mais uma obra prima. Assim como o Dalton Machado o Saboro é um jeito de escrever e você dá baile de qualquer jeito.
Grandessíssimo abraço!!!!!!
Que coisa mais linda, véio!
Arthur Fialho Neto
Bravo, Polaco, bravo!
Saboro como no suco "de manga"!
É, Thadeu ...
Taqueospa!
Thadeu amigo querido,
cada vez gosto mais desse mestre,
Saboro Nossuco, leio, releio e me reflito nele, embora minha mente racional ocidental, me atrapalhe continuo tentando.
Só me responta uma coisa,
vc é o mestre ou o discipulo?
Ritalix
Os dois, Ritalix.
Então, Thadeu, você escreve dando caneladas em si mesmo? Você é um "Personal Pai Mei" da Barreirinha?
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