polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, novembro 24, 2005


Destino


O destino é o acaso atacado de mania de grandeza.

(Mário Quintana)

A humanidade é uma piada onde o risada final é de morte. Você vai até a esquina e uma bala perdida te acha o cérebro. Babau. Fim? Destino? O que significa esta palavra que, segundo dizem, conduz a vida dos homens como se não passássemos de marionetes? Se o começo e o fim são determinados, é no meio que vale o nosso livre arbítrio? Antigamente se enfrentava o diabo para se conseguir uma consultazinha no Oráculo de Delphos. Hoje, disca-se para um 0900 qualquer e a R$ 4,95 por minuto, você tem todas as alternativas. O problema é que, no vestibular da vida, você é que tem de marcar um x na alternativa correta. Mas o certo mesmo é não ter pressa, porque o destino fatalmente baterá à sua porta. Nos anos sessenta, onde tudo era sonho, sonhava-se em ser "Sem Destino" ou mais tropicalisticamente falando
"Sem lenço e sem documento".
Exageros à parte, a ciência avançou tanto que alcançou o entendimento de Jesus quando disse que não nos preocupássemos com o futuro pois "cada dia traz sua pena" e que não cai uma folha de árvore sem a permissão do Criador. Só jerico para ter a idéia de que peru morre de véspera. Destino é lavra da alma, se colhe o que se plantou, no seio da nossa santa "ingnorância". Ou como dizia Gonçalves Dias "a vida é combate que aos fracos abate e aos fortes, aos bravos só faz exaltar". Não que o caminho da glória seja um mar de rosas, muito pelo contrário, para aquele que enfrenta, o destino é caminho; para o que foge, é tortura. Nietzsche falou e disse: "Destino, sigo-te! E mesmo que não o quisesse,/ deveria fazê-lo, ainda que gemendo!" A verdade é que não se pode tapar o sol do sofrimento com a peneira da felicidade, o resto é conversa fiada e a gente não pode se fiar. Mallarmé, no genial poema Um Lance de Dados Não Abolirá o Acaso, tenta equacionar o destino e o pior é que consegue, graças à mais bela e complexa sintaxe de toda a literatura universal. Para nós, que amamos a dúvida, fica uma certeza: a vida, inteira, está no final da dúvida.


Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso

Parte final
..................................................................................

UMA CONSTELAÇÃO

fria de olvido e dessuetude
não tanto
que não enumere
sobre alguma superfície vacante e superior
o choque sucessivo
sideralmente
de um cálculo total em formação
vigiando
duvidando
rolando
brilhando e meditando
antes de se deter
em algum ponto último que o sagre

Todo Pensamento emite um Lance de Dados

( Mallarmé, tradução de Haroldo de Campos )


diário de bardo

o verso, livre, se lança
ao mar desconhecido
até onde a vista alcança
ao encontro do perigo
navegante de mim
ruma a outro destino
um dia há de assim
tornar-me clandestino

Antonio Thadeu Wojciechowski

Desatino Cruel

esse mal jeito de gênio
minha santa paciência
e esse excesso de oxigênio
me fazem o diabo em pessoa
exato qual morto de susto
acha justo crerem isso desatino?
apesar que não fico triste
mera letra a mais no destino

Roberto Prado

Destino

Não discuto
com o destino
O que pintar
Eu assino

Paulo Leminski

De O Livro dos Contrários

"sou o destino, muito prazer
você parece um pouco abatido"
"estava assim por você
mesmo sem nunca ter te conhecido"
o destino, que não bateu à porta
fatalmente ficou comovido
o acaso, sem querer, foi embora
tomando rumo desconhecido
o destino pensou: "é minha culpa
eu é que o faço inesperado
preciso deste cara como dupla"
e desviou do seu rumo por acaso

Marcos Prado

Trecho de Invenção de Orfeu

Também há as naus que não chegam
mesmo sem ter naufragado.
não porque nunca tivessem
quem as guiasse no mar
ou não tivessem velame
ou leme ou âncora ou vento
ou porque se embebedassem
ou rotas se despregassem,
mas simplesmente porque
já estavam podres nos troncos
da árvore de que as tiraram.

Jorge de Lima

Destinos do Solda

1.
isso é coisa do destino:
o que seria do ébrio
sem o Vicente Celestino?
2.
sou assim genuíno
por obra e graça
do meu destino
3.
alguém já disse e hoje eu ensino:
cada um deve seguir
o seu próprio destino

16 Comentários:

Às 24 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Bem bolado.

BB

 
Às 24 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Belíssimos textos. Lógica aterradora.

Cezar Muniz de Souza

 
Às 24 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Valeu mesmo.

Ivan Siqueira

 
Às 24 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Mais uma de mestre. Tudo de bom pra você, Tadeu.

Julio Okada

 
Às 24 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Grande seleção. Essa vai pra copa e traz a taça da inteligência.

Marcos Aguiar

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Sobre a materia do FERA

O Requião é um escroto que não gosta de Cultura!!!

muito oficialista essa porra de materia

se liga Thadeu!!!!

não remixe o facismo!!!

Rodrigo Barros

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Tirando a "materia paga" , o resto tá sensacional...

Rodrigo Barros

 
Às 25 novembro, 2005 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Rodrigo, a opinião é minha, única e exclusiva, não é paga. Fui lá e adorei. Por favor, não remixe o facismo. Valorize as opiniões, mesmo que ela divirjam das suas. A propósito, o Maurício também é outra pessoa.

Thadeu

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Sempre entro calado e saio quieto aqui das páginas do polaco. Mas hoje achei que deveria dar uns pitacos nessa polêmica.

Acho que o Rodrigo Barros tem razão de reclamar da política cultural do Requião. E de ficar muito desconfiado ( ou desconfortável) da presença do irmão dele aqui no polaco.

Mas, por outro lado, o Polaco tem toda a razão de aplaudir a iniciativa da Fundepar e valorizar a idéia do festival. Ele foi, viu e gostou. Fica para outra a discussão sobre o fato de ser apropriada a presença do secretário e membro de uma das clãs dominantes do política regional neste endereço.

Se os dois têm razão, de quem é a razão? É uma velha discussão. Política suja a poesia? Pode ser que sim, pode ser que não. Tudo depende a intenção do sujeito. E isso, de verdade, só o próprio cara sabe, ele e sua consciência.

Mas, dou uma luz: a matéria sobre o secretário Maurício Requião num blogue de poesia justificou o "polaco da barreirinha" do nome. Realmente uma mistura estranha, uma combinação extravagante.

Talvez fosse melhor criar um link para "notícias", ou algo assim.

Mas quem sou eu para falar... Sou apenas um leitor latino-americano que aqui desfruta do melhor da poesia universal, com uma bela seleção de novos, antigos ou desconhecidos autores, sem fazer força. E vou continuar fazendo, com polaquice ou sem polaquice.

Caique L. C. Moreira

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

A reclamação foi feita!!!

Rodrigo, o reclamão

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

pra desanuviar


O Sujeito vai para o motel com uma gata, que acaba de conhecer e pratica sexo freneticamente com ela até chegar ao ápice.

Ele senta na cama, toma uma cerveja e logo após o último gole, vira-se para a gostosa e fala:

- Vamos para a segunda?

E ela responde:

- Você também é coxa-branca?



Se nào sou eu , ninguém discute no seu blog...hehehe

Rodrigo

 
Às 25 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Como tem gente baixo astral nesse mundo, meu Deus! Não liga não, Thadeu, tem gente que só quer enxergar o podre.

Profa. Maria Luíza

 
Às 26 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

é isso aí profe Polyana...

o movimento punk agradece sua sanha por mudanças!!!

Rodrigo

 
Às 26 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Caro Polaco,

não sou do paraná e nem sei se o Requião é boa gente ou não, adoro suas "Paginas", mas tenho que concordar com o Rodrigo Barros, só faltou um carimbo do estado nesta matéria. Continuo convosco...

Abs

Paulo Almeida Juhi - Tocantins

 
Às 26 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Querem saber de um coisa, fodam-se!


BB

 
Às 26 novembro, 2005 , Blogger Ivan disse...

Saúdo a polêmica: se todos ficassem de nheco nheco e isso é o máximo eu ficaria com nojo:

adoro o poder político quando incentiva a cultura e "perde" dinheiro com arte.

odeio o poder político porque a prioridade é sempre manter o status quo de dominação, exploração e subserviência ao jogo político mais pesado.

penso então que há mais motivos pra adorar do que pra odiar a atual gestão do governo paranaense: mas como eu sou amigo do Rodrigo e também tenho alma de punk, continuo odiando todos os requiões, lerners e quejandos...

 

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