BURRICE
“Toda unanimidade é burra.”
Nelson Rodrigues
rapazinho, estuda depressa
pois burro aos trinta
é burro à beça
Millôr Fernandes
O que faz aqui um tema como esse? Pound dizia que poesia é conversa entre pessoas inteligentes. Mas isso não tem importância. Burrice é um estado de espírito de porco. O cara sabe tudo sobre tudo e dá aulas gratuitas às suas vítimas. Fala como se os outros estivessem ouvindo, escreve em papel que ostenta com orgulho uma descomunal orelha de burro. Enfim, tem cara inteligente pra burro. E o que é pior: burro metido à besta. Nós e vocês, caríssimos leitores, que tanto primamos pela busca do saber (que não acaba nem quando termina), não nos sentimos tão confortáveis a ponto de importunar alguém com nossos conselhos. Mas aqui vai um: se pensar não dói, faça, todos os dias de 2005, o seu cérebro pegar, nem que seja no tranco.
De O Livro dos Contrários, 2ª parte do Livro de Poemas de Marcos Prado
"tanto faz o que fiz
que cada vez faço mais"
pensou o gênio, feliz
alheio em meio aos demais
"eu fazendo ou não, tanto faz"
zurrou o burro olhando as botas
de seu mestre e capataz
que carregava todo dia às costas
"se ele tem patas, por que não anda sozinho?"
pensou o burro pela primeira vez na vida
e empacou espetacularmente no caminho
tornando a viagem do gênio sem volta ou ida:
"interessante, não sinto mais mudança na paisagem
toda a natureza se transformou na árvore em frente
parece ser esse o fim da minha viagem"
e ficaram os dois ali até o para sempre
Marcos Prado
as desventuras de um bem intencionado
pra ver esse sol
redondo
rodei um mundo
e meio
e o imbecil
me fecha
no bueiro
Roberto Prado
crueldade mental I
medito excepcional positivo
cérebro qual helicóptero
capta genial primata
sherlock lupa telepata
sempre nuca sempre
bruta entrementes inteligente
Marcos Prado e Sérgio Viralobos
crueldade mental II
estou estúpido
cada vez menos bípede
fiquei assim súbito
aceleraram meu velocípede
canguru na arábia
camelo na austrália
descia de escada rolante
pensando subir o monte
pra mim os dez mandamentos deviam ser vinte
vagas lembranças de um cérebro transeunte
lapsos de tempo ininterruptamente
Nelson Rodrigues
rapazinho, estuda depressa
pois burro aos trinta
é burro à beça
Millôr Fernandes
O que faz aqui um tema como esse? Pound dizia que poesia é conversa entre pessoas inteligentes. Mas isso não tem importância. Burrice é um estado de espírito de porco. O cara sabe tudo sobre tudo e dá aulas gratuitas às suas vítimas. Fala como se os outros estivessem ouvindo, escreve em papel que ostenta com orgulho uma descomunal orelha de burro. Enfim, tem cara inteligente pra burro. E o que é pior: burro metido à besta. Nós e vocês, caríssimos leitores, que tanto primamos pela busca do saber (que não acaba nem quando termina), não nos sentimos tão confortáveis a ponto de importunar alguém com nossos conselhos. Mas aqui vai um: se pensar não dói, faça, todos os dias de 2005, o seu cérebro pegar, nem que seja no tranco.
De O Livro dos Contrários, 2ª parte do Livro de Poemas de Marcos Prado
"tanto faz o que fiz
que cada vez faço mais"
pensou o gênio, feliz
alheio em meio aos demais
"eu fazendo ou não, tanto faz"
zurrou o burro olhando as botas
de seu mestre e capataz
que carregava todo dia às costas
"se ele tem patas, por que não anda sozinho?"
pensou o burro pela primeira vez na vida
e empacou espetacularmente no caminho
tornando a viagem do gênio sem volta ou ida:
"interessante, não sinto mais mudança na paisagem
toda a natureza se transformou na árvore em frente
parece ser esse o fim da minha viagem"
e ficaram os dois ali até o para sempre
Marcos Prado
as desventuras de um bem intencionado
pra ver esse sol
redondo
rodei um mundo
e meio
e o imbecil
me fecha
no bueiro
Roberto Prado
crueldade mental I
medito excepcional positivo
cérebro qual helicóptero
capta genial primata
sherlock lupa telepata
sempre nuca sempre
bruta entrementes inteligente
Marcos Prado e Sérgio Viralobos
crueldade mental II
estou estúpido
cada vez menos bípede
fiquei assim súbito
aceleraram meu velocípede
canguru na arábia
camelo na austrália
descia de escada rolante
pensando subir o monte
pra mim os dez mandamentos deviam ser vinte
vagas lembranças de um cérebro transeunte
lapsos de tempo ininterruptamente
Marcos Prado, Sérgio Viralobos e Roberto Prado
Desinteligência Brasileira
Uma alma despenada
Um coração sem lastro
Uma pena enviezada
Um navio de mastro
Sete camões não valem um olavo
Poesia exangue, prosa anoréxica
Crítica ao nada que interessa
Assim escreve o nosso grande enviado
Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
Textos 6 e 135 do livro Ah, é?.
6
- Um doutor de tanta cerimônia. Falava explicado e tudo com vírgula. O discurso inteiro...
- ...agora tem só duas palavras - puuuta meeelda.
135
- Que loucura, João, beber tanto.
- Mais loucura não é, depois de bêbado, voltar pra casa?
Texto 207 do livro 234.
- Falar com você, querida, é discutir para sempre.
Dalton Trevisan
O que é que há ?
( Reflexões na sala de espera do hospício
cercado de cadernos 2 por todos os lados.)
há os de barbicha de mágico de mafuá
quando entram na entrevista
falando pelos cotovelos
quem lhes decifra os garranchos ?
há os que dão cotoveladas de amor
há os que ajoelhou tem que resenhar
carolas coronários do normal
quem lhes ouve a ladainha ?
há os que se escrevem de bruços
pra justificar o dialeto
de seus amigos diletos
quem lhes aplaude a tolice ?
há os que acertaram um dia
ao pegar de susto
e até hoje tiram o sono dos justos
quem lhes publica a insônia ?
há os zagueiros violentos
que levantam sepulturas com seus podres
sem conseguir abrir mão do osso
quem lhes rói os traumas ?
há, principalmente, os impublicáveis,
hienas aplaudindo a volta da carniça
que dá vida e graça às suas claques
quem lhes fareja a sabujice ?
e há ainda, os balões de ensaio,
egos inflados por prisão de ventre,
digerindo os cheiros do passado heróico
quem lhes conta a verdade ?
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
Excerto do capítulo 65.
Desinteligência Brasileira
Uma alma despenada
Um coração sem lastro
Uma pena enviezada
Um navio de mastro
Sete camões não valem um olavo
Poesia exangue, prosa anoréxica
Crítica ao nada que interessa
Assim escreve o nosso grande enviado
Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
Textos 6 e 135 do livro Ah, é?.
6
- Um doutor de tanta cerimônia. Falava explicado e tudo com vírgula. O discurso inteiro...
- ...agora tem só duas palavras - puuuta meeelda.
135
- Que loucura, João, beber tanto.
- Mais loucura não é, depois de bêbado, voltar pra casa?
Texto 207 do livro 234.
- Falar com você, querida, é discutir para sempre.
Dalton Trevisan
O que é que há ?
( Reflexões na sala de espera do hospício
cercado de cadernos 2 por todos os lados.)
há os de barbicha de mágico de mafuá
quando entram na entrevista
falando pelos cotovelos
quem lhes decifra os garranchos ?
há os que dão cotoveladas de amor
há os que ajoelhou tem que resenhar
carolas coronários do normal
quem lhes ouve a ladainha ?
há os que se escrevem de bruços
pra justificar o dialeto
de seus amigos diletos
quem lhes aplaude a tolice ?
há os que acertaram um dia
ao pegar de susto
e até hoje tiram o sono dos justos
quem lhes publica a insônia ?
há os zagueiros violentos
que levantam sepulturas com seus podres
sem conseguir abrir mão do osso
quem lhes rói os traumas ?
há, principalmente, os impublicáveis,
hienas aplaudindo a volta da carniça
que dá vida e graça às suas claques
quem lhes fareja a sabujice ?
e há ainda, os balões de ensaio,
egos inflados por prisão de ventre,
digerindo os cheiros do passado heróico
quem lhes conta a verdade ?
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
Excerto do capítulo 65.
“Sob a proteção da santa ignorância”, do Livro de Tao.
(...)
No tempo inteligente do universo
a novidade é uma impossibilidade matemática.
No espaço não existe vácuo suficiente
para a incipiente sabedoria humana equacionar.
A verdade precária da humanidade
não passa de um passe de mágica
perdido no passado que desperta pouco a pouco.
São ligações de neurônios que o indivíduo
relê instintivamente em seus arquivos
simulando uma tremenda descoberta.
(...)
Lao Tse ( China, 570 a.C.)
Livre adaptação/tradução de Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
Quanto mais estuda mais cavalo ele fica.
seu pai gastou tanto dinheiro
para que ele fosse um poliglota
como recompensa foi o primeiro
a sentir o sabor da sua bota
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
estudou teologia e filosofia pura
montando a dialética de sua cavalgadura
absorveu do mestre a suprema sabedoria
pra transformar seu templo em uma estrebaria
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
recebeu do mundo só amor e carinho
sólida cultura, todo o conhecimento
mas a grande eureca ele teve sozinho
burro é mistura de égua com jumento
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
Roberto Prado, Marcos Prado, Edilson D’El Grossi Fonseca, José Alberto Trindade
4 zurros do Solda
1
essa é minha grande mágoa:
tudo que planejo
acaba dando com os burros n’água
2.
isso alguém já disse:
tudo que eu sei
é culpa da minha burrice
3.
a minha burrice
vem desde
a minha meninice
4.
essa besteira
merece um murro
quem manda ser tão burro
Luís Antônio Solda
(...)
No tempo inteligente do universo
a novidade é uma impossibilidade matemática.
No espaço não existe vácuo suficiente
para a incipiente sabedoria humana equacionar.
A verdade precária da humanidade
não passa de um passe de mágica
perdido no passado que desperta pouco a pouco.
São ligações de neurônios que o indivíduo
relê instintivamente em seus arquivos
simulando uma tremenda descoberta.
(...)
Lao Tse ( China, 570 a.C.)
Livre adaptação/tradução de Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
Quanto mais estuda mais cavalo ele fica.
seu pai gastou tanto dinheiro
para que ele fosse um poliglota
como recompensa foi o primeiro
a sentir o sabor da sua bota
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
estudou teologia e filosofia pura
montando a dialética de sua cavalgadura
absorveu do mestre a suprema sabedoria
pra transformar seu templo em uma estrebaria
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
recebeu do mundo só amor e carinho
sólida cultura, todo o conhecimento
mas a grande eureca ele teve sozinho
burro é mistura de égua com jumento
quanto mais estuda
mais cavalo ele fica
Roberto Prado, Marcos Prado, Edilson D’El Grossi Fonseca, José Alberto Trindade
4 zurros do Solda
1
essa é minha grande mágoa:
tudo que planejo
acaba dando com os burros n’água
2.
isso alguém já disse:
tudo que eu sei
é culpa da minha burrice
3.
a minha burrice
vem desde
a minha meninice
4.
essa besteira
merece um murro
quem manda ser tão burro
Luís Antônio Solda
7 Comentários:
até pra falar da burrice vcs são espertos. parabéns pela brilhante seleção.
Roberto Trompowski
Mais uma aula de escolha e critério.
Profa. Maria Luíza
Sensacional. Fiquei até mais inteligente. (rsrsrs)
Julio Okada
Milagre ver essas coisas sendo divulgadas. Felicitações e um muito obrigado. Passei um fim de semana maravilhoso lendo e me divertindo.
Mário Biels Nogueira
Thadeu, precisa voltar pra Londrina logo. O blog me encanta a cada dia!
Taí, achei um local para usar meu cérebro. Bem ótimo isso aqui.
Paulo Roberto Repelieg - SP
ô polaco, quando é que vamos te ver aqui em Natal? Vem pra cá lançar teus livros. Ou me manda pelo correiro no endereço que eu te enviei no e-mail.
Abraço
Robert Ewerton Siqueira
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