polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Careqa no Jornal do Brasil


A língua de Babel de Careqa
Cantor e compositor aposta na pluralidade de gêneros e climas em terceiro CD

TÁRIK DE SOUZA

Lançado em setembro, em São Paulo, só agora desembarca no Rio o terceiro CD do compositor e cantor paranaense Carlos Careqa. Numa ironia com o interminável cardume de descendentes nadando de braçada na carreira artística, ele intitulou Não sou filho de ninguém o disco que lança, dia 12, no Centro Cultural Justiça Federal. Saiu pelo selo Thanx God, atestado de outro tipo de DNA, sua filiação estética. A empresa é do próprio Careqa em sociedade com Arrigo Barnabé, da vanguarda paulista pós-tropicália, e Chico Mello, curitibano radicado em Berlim, militante da música contemporânea e parceiro na faixa Achado.
Da capital paranaense são outros parceiros de letras sarcásticas, como o poeta Paulo Leminski (Isto), Adriano Sátiro (a do título), Beto Trindade (Frente é verso), Edson Vulcanis e Thadeu Wojciechowski (Língua de Babel). Também da vanguarda do Lira Paulistana, Itamar Assumpção, morto em 2003, entra em outra das parcerias, Pai postiço. Participam ainda do disco André Abujamra (Os Mulheres Negras, Karnak), Chico Cesar, Zeca Baleiro e os cantores Edson Cordeiro e Vania Abreu.
Trafegando no exíguo espaço concedido pelo mercado aos inovadores, CC lançou apenas dois discos antes, Os homens são todos iguais, de 1993 (cuja faixa Acho foi incluída por David Byrne na coletânea Brasil tropical 2), e Música para final de século, de 1999, que chegou a ter uma faixa (Ser igual é legal), pasmem, incluída na trilha do remake da novela Anjo mau, da Rede Globo.
Como ator, Careqa participou dos filmes Bicho de sete cabeças, Avassaladoras, Cristina quer casar e Alô. Seu disco (com composições de 1985 a 2003) reflete um tanto dessa mobilidade, permeando o repertório de humor e dramaticidade sem descuidar das dissonâncias.
O baião calangueado do título que abre os trabalhos tem sacadas hilárias. ''Posso ser filho de Chitãozinho e Xororó/ ou do Gilberto Gil (...) dizem que um olho parecido sempre sai/ posso chamar Chico Buarque de papai/ será mamãe a Zizi Possi?/ será o Reginaldo Rossi?''. Já no delicioso samba sincopado Pai postiço, letra surreal de Itamar Assumpção, no dueto com um impecável Jards Macalé, misturam-se tragicomédia e cinismo pós-moderno.
Quando aportou à celebre esquina da Ipiranga com Avenida São João, Careqa achou um lixo a degradação do ambiente que inspirou Sampa a Caetano. E refez o mapa com um sampler de Adonirã Barbosa (''carma pessoá, a situação aqui tá muito cínica, os mais pió vai pras crínica'') no belo samba canção de ritmo quebrado Eh! São Paulo (não confundir com o sucesso homônimo da dupla Alvarenga e Ranchinho).
Um moto-contínuo instrumental (que lembra o arranjo de Rogério Duprat para Deus lhe pague, de Chico Buarque) atravessa Achado. O poema de Leminski Isto é recitado por Zeca Baleiro e Careqa (''fui maoísta/ ocultista e comodista/ ocupei todos os lugares da lista/ onde só tinha socialista/ eu fui capitalista'') numa cadência de rap. A pontuação é do ótimo acordeon de Toninho Ferragutti, imprescindível na tessitura do disco, incluindo o surpreendente oratório Meu querido Santo Antonio. Outra surpresa é a desbragada Frente é verso (''mas quando me vira a bunda/ ela é um Deus nos acuda''), de tintura brega, com um floreio vocal de Edson Cordeiro.
A pluralidade de gêneros e climas do CD culmina no inventário de suposições do xaxado Issi (''E se Jesus fosse marciano/ e se Caetano não fosse baiano/ e se João Gilberto fosse americano'') e na proposta inconformista do manifesto Língua de Babel, que sintetiza a arte iconoclasta de Carlos Careqa: ''Vamos abusar do palavrão/ enfiar o dedo na ferida/ tirar das letras mortas/ a carne viva''.

14 Comentários:

Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Onde posso encontrar o CD aqui em Fortaleza?

BB

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Não sei. Careqa é com vc, brother.

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Blogger J.R. Woodward disse...

I like the picture.

JR Woodward

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

o careqa e demais....

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

o careqa e demais....

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

ass careqa

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Para comprar em Fortaleza, por favor contacte a TRATORE DISTRIBUIDORA.
www.tratore.com.br


abraço.

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

THADEU de onde vc tirou essa. abraço.

 
Às 07 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

THADEU de onde vc tirou essa. abraço.

agora sim que esta escrevendo sou eu

CC

 
Às 08 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Careqa, quais os teus telefones? Por favor, me mande um e-mail urgente, preciso falar com vc ainda hoje. Acho que o número que eu tenho é antigo.

Abraço

 
Às 08 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Muito bom o CD mesmo. Obrigado Tadeu pelo presente. Vou te mandar um CD de OS BONS CANALHAS, VC VAI GOSTAR.

Luiz Esteves

 
Às 08 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Tirei do site do jornal do Brasil, Careqa.
Se quiser o endereço eu te mando.

Abração

Thadeu

 
Às 08 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

O jornal do brasil se curva ante o Brasil. O Careqa é fodão mesmo!
Abração
Beco

 
Às 10 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

que é genial é você Beco. um abraço.

 

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