Cigarro
“Escarrar de um abismo em outro abismo
mandando ao céu o fumo de um cigarro,
há mais filosofia neste escarro
do que em toda moral do cristianismo.”
Augusto dos Anjos
Se tem uma indústria que fatura até o nabo é a do cigarro. Com ou sem filtro, com as mais diversas graduações de alcatrão e nicotina, o cigarro já fez muito neguinho, branquinho, amarelinho e vermelhinho virar fumaça. Eu já me sinto mais leve, mas ainda estou quase vivo. Tenho um cunhado, um dos melhores pneumologistas do Brasil, o
Dr. Jairo Sponholz, que só falta me dar tiros quando me vê com um cigarro na mão. Bem, convenhamos, morrer, neste caso, seria bem mais rápido.
Dizem que o cigarro mata lentamente, mas alguém aí está com pressa? Um compositor que não lembro o nome no momento, cantava: “quem não fuma quem não bebe que alegria pode ter?”. Morreu já faz algum tempo, mas a causa mortis foi frieira no dedão do pé esquerdo.
O Leminski e o Marcos Prado fumavam que nem dois condenados. Eu, Roberto Prado, Solda, Walmor Góes, Edílson, Magoo, Marcelo e o Octávio Camargo comemos com farinha e baforamos como sapo índio. O Edson de Vulcanis só fuma por osmose. Um dia, lá pelos anos 90, eu e o Sérgio Viralobos, que não fuma, fizemos as contas de quantos cigarros eu já havia fumado. O total girou em torno de 380.250 cigarros. De lá pra cá, perdi a conta. Mas do poema fiz música de carnaval, gravada pelo Maxixe Machine, no CD Folias de Momo.
Agora, falando sério, tem coisa melhor do que um cigarrinho depois de um café, junto com a cervejinha ou depois de agasalhar o croquete? Pode até ter, mas ainda não cheguei lá. E acho que nem vou chegar porque devo morrer de câncer, enfisema, problemas circulatórios, envenenado como um rato, sem um pedaço da perna, sem dentes, careca ou, pior ainda, impotente. Ai ai ai, acho que amanhã mesmo começo a parar de fumar. Ou, no máximo, semana que vem.
arvorada ou o admirável fumo novo
plantei déis arquere
de fumo do bão
os pé cresceu
que nem os pé de feijão do joão
a roça ficou uma maraviia
eu moiava de noite
eu oiava de dia
não pus espantaio
porque os passarinho
ficaram tudo nos gaio
admirando
admirando
admirando
admirando
Antonio Thadeu Wojciechowski, Édson de Vulcanis, Edílson del Grossi e Ubiratan Oliveira
bolero lero
cada vez que tu me miras
com sus ojos sujos de baton
berrante terete
treamo mas
jo soy un borracho fumegante
à espera de una amante
caliente terete
treamo mas
neste cais que é a vida
companheiro de bar
não fique a ver navios
pois Curitiba não tem mar
não adianta se matar
e nem cortar o seu pescoço
todo galho ou enrosco
é deus que está conosco
Antonio Thadeu Wojciechowski, Luiz Antonio Ferreira, Renato Quege, Rodrigo Barros e Walmor Goes
diário de uma ninfeta prostituída
desde o princípio da humanidade
os homens corrompem as menininhas
em troca de bebida, comida
e queimadura de cigarro
eles chegam em carros possantes
sapato branco reluzente
charutos jamaica, chapéu panamá
e champagnes espoucantes
os que vêm para os prazeres da carne
têm à mão um baby beef
uma garrafa de arak
e uma carteira de free
Alessandro Wojciechowski, Antonio Thadeu Wojciechowski, Edson de Vulcanis e Marcos Prado
eu não vou ter amigos aos 40
meus amigos bebem demais
meus amigos fumam demais
meus amigos falam demais
meus amigos brigam demais
meus amigos morrem demais
do jeito que tudo vai
eu vou ficar
na cidade sem cachorro
bebendo sozinho
fumando sozinho
falando sozinho
brigando sozinho
morrendo sozinho
minha cabeça não agüenta
um por um indo pro saco
rezando prum deus babaco
eu chego sozinho aos 40
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
fã de fandango
ai que saudades tenho da baía de Paranaguá
na festa da tainha eu sempre estava lá
olhando aquela água verde até ficar azul
cego por cem sóis vermelhos me guiava o vento sul
tamancos batem no chão
fandango é a nossa canção
pinga de banana na cabeça
fumo caiçara na mão
estou adiantando as horas pra voltar pra lá
tem barco me esperando em Paranaguá
pisando na areia branca fica tudo azul
enfuna as velas do veleiro, me leva, vento sul
tamancos batem no chão
fandango é a nossa canção
pinga de banana na cabeça
fumo caiçara na mão
Antonio Thadeu Wojciechowski, Edílson Del Grossi, Walmor Góes e Ubiratan Oliveira
Levando fumo
quando eu morrer não quero choro nem oração
quero pacotes de holliwood
pra levar muito fumo no caixão
serrei até estourar a caixa toráxica
o escarro e o pigarro eram a tática
pro meu pulmão não se esparramar pelo chão
cigarro de xepas do cinzeiro eu fi-lo
traguei paióva, bituca e matarrato a quilo
equivalo a um quarteirão de nicotina e alcatrão
já enrolei tabaco pra mais de metro
se enfizema fizesse rei, eu tinha coroa e cetro
recordista filão, quebro a marca do milhão
há tosse e sinais defumantes em meu corpinho
alvéolos, brônquios, pleuras, não passam de toucinho
baforo no caixão, resoluto, meu último charuto
Antonio Thadeu Wojciechowski e Rodrigo Barros
nível de periculosidade
quanto uma bactéria pode ser nociva?
esta mariposa por quanto tempo continuará viva?
o conhaque vai acabar
e isto me entristece um pouco
quanto tempo viverei neste bar
até estar morto?
70 cigarros por dia é mortal?
será que hoje é natal?
Antonio Thadeu Wojciechowski e Marcos Prado
o cigarro está me matando de saudade
anteontem no ano passado
meu dedo estava amarelado
preciso de um vício novo
bombom, caracu com ovo
bingo, corrida de cachorro louco
ai que saudades da minha querida nicotina
e do meu velho e bom arcatrão
e da porvinha do paperzinho que fazia
catarrinho, cosquinha no meu purmão
Antonio Thadeu Wojciechowski, José Alberto Trindade, Márcio Goedert e Rodrigo Barros
samba do meu ranchão
estava andando pela rua numa noite
quando meu mundo caiu
astros me pisam distraídos
indiferente o chão fugiu de mim
se essa rua, se essa rua fosse minha
eu andava contramão
paralelepípedos uni-vos
pra eu voltar a ter os pés no chão
se você pensa que vai fazer de mim
o que faz com os carlões por aí
acorda, maria bonita, cachaça não é água não
já fumei mais de um maço e meio
pode vir firme que eu estou tremendo
Antonio Thadeu Wojciechowski, José Alberto Trindade, Rodrigo Barros, Magoo, Walmor Góes e Ubiratan Oliveira
sete palmos abaixo da terra de marlboro
380.250 cigarros depois
resolvi tomar uma atitude
nada de entregar pulmão para ciência
só há um jeito de ir atrás do prejuízo
apresentar os meus raio-x
para uma junta de advogados
agora quero 5 milhões e mais nada
vai ser um raro prazer queimar essa bufunfa
de dentro da tenda de oxigênio
Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
testamento
fumarei mais um depois do último
minha mãe nunca me viu mais magro
cigarros é tudo que trago
sei que serei apenas um número
um zero a esquerda do além
nem pense que você não é assim também
esconjuro exorbitante
uma vida para mim não é o bastante
Antonio Thadeu Wojciechowski
“Escarrar de um abismo em outro abismo
mandando ao céu o fumo de um cigarro,
há mais filosofia neste escarro
do que em toda moral do cristianismo.”
Augusto dos Anjos
Se tem uma indústria que fatura até o nabo é a do cigarro. Com ou sem filtro, com as mais diversas graduações de alcatrão e nicotina, o cigarro já fez muito neguinho, branquinho, amarelinho e vermelhinho virar fumaça. Eu já me sinto mais leve, mas ainda estou quase vivo. Tenho um cunhado, um dos melhores pneumologistas do Brasil, o
Dr. Jairo Sponholz, que só falta me dar tiros quando me vê com um cigarro na mão. Bem, convenhamos, morrer, neste caso, seria bem mais rápido.
Dizem que o cigarro mata lentamente, mas alguém aí está com pressa? Um compositor que não lembro o nome no momento, cantava: “quem não fuma quem não bebe que alegria pode ter?”. Morreu já faz algum tempo, mas a causa mortis foi frieira no dedão do pé esquerdo.
O Leminski e o Marcos Prado fumavam que nem dois condenados. Eu, Roberto Prado, Solda, Walmor Góes, Edílson, Magoo, Marcelo e o Octávio Camargo comemos com farinha e baforamos como sapo índio. O Edson de Vulcanis só fuma por osmose. Um dia, lá pelos anos 90, eu e o Sérgio Viralobos, que não fuma, fizemos as contas de quantos cigarros eu já havia fumado. O total girou em torno de 380.250 cigarros. De lá pra cá, perdi a conta. Mas do poema fiz música de carnaval, gravada pelo Maxixe Machine, no CD Folias de Momo.
Agora, falando sério, tem coisa melhor do que um cigarrinho depois de um café, junto com a cervejinha ou depois de agasalhar o croquete? Pode até ter, mas ainda não cheguei lá. E acho que nem vou chegar porque devo morrer de câncer, enfisema, problemas circulatórios, envenenado como um rato, sem um pedaço da perna, sem dentes, careca ou, pior ainda, impotente. Ai ai ai, acho que amanhã mesmo começo a parar de fumar. Ou, no máximo, semana que vem.
arvorada ou o admirável fumo novo
plantei déis arquere
de fumo do bão
os pé cresceu
que nem os pé de feijão do joão
a roça ficou uma maraviia
eu moiava de noite
eu oiava de dia
não pus espantaio
porque os passarinho
ficaram tudo nos gaio
admirando
admirando
admirando
admirando
Antonio Thadeu Wojciechowski, Édson de Vulcanis, Edílson del Grossi e Ubiratan Oliveira
bolero lero
cada vez que tu me miras
com sus ojos sujos de baton
berrante terete
treamo mas
jo soy un borracho fumegante
à espera de una amante
caliente terete
treamo mas
neste cais que é a vida
companheiro de bar
não fique a ver navios
pois Curitiba não tem mar
não adianta se matar
e nem cortar o seu pescoço
todo galho ou enrosco
é deus que está conosco
Antonio Thadeu Wojciechowski, Luiz Antonio Ferreira, Renato Quege, Rodrigo Barros e Walmor Goes
diário de uma ninfeta prostituída
desde o princípio da humanidade
os homens corrompem as menininhas
em troca de bebida, comida
e queimadura de cigarro
eles chegam em carros possantes
sapato branco reluzente
charutos jamaica, chapéu panamá
e champagnes espoucantes
os que vêm para os prazeres da carne
têm à mão um baby beef
uma garrafa de arak
e uma carteira de free
Alessandro Wojciechowski, Antonio Thadeu Wojciechowski, Edson de Vulcanis e Marcos Prado
eu não vou ter amigos aos 40
meus amigos bebem demais
meus amigos fumam demais
meus amigos falam demais
meus amigos brigam demais
meus amigos morrem demais
do jeito que tudo vai
eu vou ficar
na cidade sem cachorro
bebendo sozinho
fumando sozinho
falando sozinho
brigando sozinho
morrendo sozinho
minha cabeça não agüenta
um por um indo pro saco
rezando prum deus babaco
eu chego sozinho aos 40
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
fã de fandango
ai que saudades tenho da baía de Paranaguá
na festa da tainha eu sempre estava lá
olhando aquela água verde até ficar azul
cego por cem sóis vermelhos me guiava o vento sul
tamancos batem no chão
fandango é a nossa canção
pinga de banana na cabeça
fumo caiçara na mão
estou adiantando as horas pra voltar pra lá
tem barco me esperando em Paranaguá
pisando na areia branca fica tudo azul
enfuna as velas do veleiro, me leva, vento sul
tamancos batem no chão
fandango é a nossa canção
pinga de banana na cabeça
fumo caiçara na mão
Antonio Thadeu Wojciechowski, Edílson Del Grossi, Walmor Góes e Ubiratan Oliveira
Levando fumo
quando eu morrer não quero choro nem oração
quero pacotes de holliwood
pra levar muito fumo no caixão
serrei até estourar a caixa toráxica
o escarro e o pigarro eram a tática
pro meu pulmão não se esparramar pelo chão
cigarro de xepas do cinzeiro eu fi-lo
traguei paióva, bituca e matarrato a quilo
equivalo a um quarteirão de nicotina e alcatrão
já enrolei tabaco pra mais de metro
se enfizema fizesse rei, eu tinha coroa e cetro
recordista filão, quebro a marca do milhão
há tosse e sinais defumantes em meu corpinho
alvéolos, brônquios, pleuras, não passam de toucinho
baforo no caixão, resoluto, meu último charuto
Antonio Thadeu Wojciechowski e Rodrigo Barros
nível de periculosidade
quanto uma bactéria pode ser nociva?
esta mariposa por quanto tempo continuará viva?
o conhaque vai acabar
e isto me entristece um pouco
quanto tempo viverei neste bar
até estar morto?
70 cigarros por dia é mortal?
será que hoje é natal?
Antonio Thadeu Wojciechowski e Marcos Prado
o cigarro está me matando de saudade
anteontem no ano passado
meu dedo estava amarelado
preciso de um vício novo
bombom, caracu com ovo
bingo, corrida de cachorro louco
ai que saudades da minha querida nicotina
e do meu velho e bom arcatrão
e da porvinha do paperzinho que fazia
catarrinho, cosquinha no meu purmão
Antonio Thadeu Wojciechowski, José Alberto Trindade, Márcio Goedert e Rodrigo Barros
samba do meu ranchão
estava andando pela rua numa noite
quando meu mundo caiu
astros me pisam distraídos
indiferente o chão fugiu de mim
se essa rua, se essa rua fosse minha
eu andava contramão
paralelepípedos uni-vos
pra eu voltar a ter os pés no chão
se você pensa que vai fazer de mim
o que faz com os carlões por aí
acorda, maria bonita, cachaça não é água não
já fumei mais de um maço e meio
pode vir firme que eu estou tremendo
Antonio Thadeu Wojciechowski, José Alberto Trindade, Rodrigo Barros, Magoo, Walmor Góes e Ubiratan Oliveira
sete palmos abaixo da terra de marlboro
380.250 cigarros depois
resolvi tomar uma atitude
nada de entregar pulmão para ciência
só há um jeito de ir atrás do prejuízo
apresentar os meus raio-x
para uma junta de advogados
agora quero 5 milhões e mais nada
vai ser um raro prazer queimar essa bufunfa
de dentro da tenda de oxigênio
Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
testamento
fumarei mais um depois do último
minha mãe nunca me viu mais magro
cigarros é tudo que trago
sei que serei apenas um número
um zero a esquerda do além
nem pense que você não é assim também
esconjuro exorbitante
uma vida para mim não é o bastante
Antonio Thadeu Wojciechowski
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