polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quarta-feira, maio 07, 2008



Dois brindes a Baudelaire.


1.

o vinho dos amantes

indo belo lindo um dia todo sim
é proibido proibir que tenha fim
bebo o vinho mel, divino néctar
o céu ainda por cima parece concordar

um par de arcanjos, que figuras!
ambos puros artífices das alturas
eu e a taça, vinhetas da paisagem
o vinho volta à uva; eu, à miragem

no embalo dos tragos a terra gira
mecanismos de um turbilhão inteligente
que tudo ouve sabe vê e só delira

o paraíso já era aqui paralelamente
em outro entramos agora como um só
ic! epa! ops! hum rum...ahn? ó!

(livre adaptação de antonio thadeu wojciechowski, marcos prado e roberto prado)

2.

alma do vinho

O espírito de Baco, exalando pelo gargalo,
bafejou: “bebum, a sua saúde é minha alegria.
Tirou a tampa, agora engula até o regalo,
mesmo de língua enrolada serei tua melodia.

Não é mole agüentar no lombo o sol rachando,
montanha de suor e mal trato tamanho
para me parir, beber e sair tropeçando,
esquecido que subo mais se sou de antanho.

Ao descer, pelo estalo da língua, faço eco
na goela de quem se gasta para gastar comigo.
Não me apego à adega de qualquer boteco,
prefiro cair de boca na valeta de um amigo.

Não dás ouvido nem vês o coro embargado
na esperança de que o peito um dia faça bico?
No duro e frio balcão, ó dor atroz do baqueado!,
se for só pra felicidade diga ao povo que fico.

Acordo já já o teu olhar de raposa mal dormida,
com tal força e cor te transfiguro, bebum,
que nunca mais desgrudarás da minha vida,
seremos pra sempre, eu e teu sangue, apenas um.

Desmaio contigo, guerreiro de copo ao vento!
Estou até os grãos, bagos estourando, Deus acuda!
A rima que aflora no guardanapo sujo e sebento
seja eternamente divina e tua razão sacuda!”

(livre adaptação de antonio thadeu wojciechowski e roberto prado)

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial