polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, junho 26, 2008




Solivan.
O movimento das águas sem fim.

O olho tem pensamentos que a mão adivinha. E Solivan tem a mão cheia de galhos, habitados por circunféricas laranjas, solares tangerinas às margens de Quedas do rio Iguaçu. Olho que olha muito para essas águas acaba virando peixe ou ganha contornos de vento. E pedra na mão do vento é areia. Cada grão um deus-tema para Solivan. Nele, a palavra pedra já vem com avalanche; a palavra água, com inundação e abertura de picadas. Um poeta vertiginoso, um rio de palavras que não aceita barragens e nem a opressão das margens. Um grande poeta. Uma poesia que não corre pro mar, mas para nós. Nosso coração, a foz.
Aos marinheiros de primeira viagem, fica o aviso: terra firme, para Solivan, é nuvem pronta pra tempestade.

Polaco da Barreirinha


Ensaio mínimo

Ler
é escutar com os olhos.
Escrever
é falar com a mão.





Orações ecumênicas
ou sombras divinas


Buda
descansou à sombra
de uma árvore.
A árvore morreu,
mas sua sombra ainda esta lá.

Shiva
com todos esses braços
sua sombra parece com a de
uma árvore.

Maomé
alimentou com sua sombra
um leão esfomeado.

Tupã
disse aos Tamoios:
- A harpia voa,
mas sua sombra rasteja na terra.

Jesus
ficou parado sob o sol escaldante
porque um menino
dormia no frescor mentolado
de sua sombra.


Pensamentos dispersivos
sobre minha reencarnação

Esta manhã quis que
meu rosto fosse
e sentisse a água fresca
temperada com musgos e folhas,
correr eterna sobre minha face.

E meu olhar distâncias
ou linha do horizonte
para ver o sol
estender sua luz limpa e quente sobre a terra,
como um lençol recém passado sobre
a cama.

Que de meus braços emplumados de folhas
e dedos transformados em galhos de árvores
pingassem tangerinas.



Apresentação

Nasci
no útero da Via Láctea,
neste óvulo fecundado pelo sol
chamado terra
como todos.
Era fraco,
mantive-me vivo graças às vitaminas, proteínas
e sais minerais
contidos nas orações de minha avó.
Meu corpo é feito de folhas, carne
ar, sol e água.
Meu primeiro medo foi que das sementes
engolidas nascesse
pela minha boca um galho carregado de laranjas.
Das etapas
já mastiguei a doce infância, a amarga adolescência
estou roendo o osso da vida adulta
e roer osso é saboroso.
Amanhã morrerei
aliás absolvo a morte,
é a morte que renova a vida.
Por fim
sou poeta
porque gosto de lamber
folhas em branco,
lembra-me leite materno.



Solivan Brugnara

19 Comentários:

Às 26 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Muito bom mesmo, Thadeu. Mais uma prova de que existe gente com muito talento no Paraná. Valeu.

 
Às 26 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Maravilhosos e profundos. Onde posso encontrar o livro do Solivan, Thadeu?

 
Às 26 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei, o cara é duca.

Fabiano

 
Às 26 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Nunca ouvi falar nesse cara, Thadeu,mas ele tem bons poemas, aquele que fala de Jesus é muito bonito.

 
Às 26 junho, 2008 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Leila, o livro do Solivan se encontra à venda nas livrarias Curitiba.

 
Às 26 junho, 2008 , Blogger polacodabarreirinha disse...

O poeta Silas Correia Leite postou esse comentário no meu poema, por engano.Copiei e coloquei no lugar certo.


O Encantador de Serpentes:

A poesia de Solivan Brugnara é diferente, especial, magnífica. Mantras, orações, blues elípticos? Tudo a ler. Também aqui e acolá tangerinas, pinturas, raios fúlgidos, sementes, frases para chaveiros, venenos gozosos. Diz ele: “Buda descansou à sombra de uma árvore/A árvore morreu/Mas a sombra ainda está lá” Taí um fragmento-apresentativo da poética de Solivan Brugnara. Já pensou? Algo zen, close translúcido. “Sou poeta porque gosto de lamber folhas em branco/Lembra leite materno”...salpica ele. Página de rosto. A poesia de Solivan Brugnara fala. Leva fé e bagagem. Como tudo é matéria prima para o fazer poético, os poemas dele dizem de uma ótica extremamente sensível. E ele pensa o mondo cane para redefini-lo sacro-sanscrito, finamente espiritual, em artes e criações purgando o verbo viver por um prisma humanista, contemplador, melhorado, claro. Essa é a dele. Poesia é tudo o que move. E o que verte sob o olhar do artista ourives da palavra fazendo o diferencial. A poesia de Solivan Brugnara é o que abrange o humanus mais infinitalmente telúrico no macadame de si mesmo. Fios desencapados da poesia pura e cristalina, na rota de fuga (ai a espécie!) feito um perene tear de granizos. Sim, somos todos serpentes (seres-entes) encantados na sua confeitaria de açúcares díspares. Nuances, contradições, ambigüidades, toleimas. Ele dá uma releitura de um mundo pueril no aprisco de suas inteirezas. E o nosso mundaréu de uma selva de cimento armado perdidinho. Ele, feito um sábio, um monge, recupera o aproveitável, destila, ventila, dá-se. Há encantários também. Quase salmos. A faca cega acordando, a mão trazendo o fotograma, a pincelada magna meio mantra, meio oração, meio moendas e engenhos d´almas. Foca sentidos. Coloca-nos frente a frente com véus indizíveis. Ficamos molóides quando o lemos. Voltamos para dentro de nós mesmos, e só nós sabemos o que é estar lá em revisitança. A sua fala interior, de uma maneira ou de outra, rebusca coisas que perdemos atrás de uma estrada de tijolos amarelos. Ele recupera andanças e paisagens, feito uma enorme roda-cotia de sabenças. A poesia nesse diapasão, mesmo assim, ainda às vezes transgride, fragmenta matizes, adota ritmos, quebra-os, desmonta andaimes íntimos de paisagens perdidas nas paredes da memória. Meio Belchior, meio Gonzaguinha, meio Tom Jobim, ele dá seu testemunho bem chão que é a nossa cara. Na enxovia do poema, a aleivosia de fluxos recorrentes (do in/consciente?). Prosopopéias e rapapés. Sal e vinagre também. Talvez mundos e fungos, ícaros e ácaros. E logo desperta a consciência inevitável de nosso desencarrilhamento existencial. Estamos todos perdidos? E o lado sentidor do poeta? A mão hábil, a olaria do ser, a sofrência e a perda. Rocambole de idéias. Cortes. Nódoas da vida, nichos dela, jazidas de construções epigramáticas. Para o poema, tudo é; vetor e orgânico, ralo e lirismo, organismo sensorial de entregas e resultantes diletas de. Criar é se afirmar como ser. A coletânea O Encantador de Serpentes mostra o poeta em fibra e lucidez, recodificando signos ficantes de um mundo insano. Pois não é que ele tem jeito próprio, peculiar, estilo e vertente. Vida louca? Olha o rock do Cazuza. Um peregrino que sonda o calibre das palavras, os flancos delas, os cabimentos e os universos em movimentos. Compõe poemas. Edifica, transmuta, corrói quando soa feito um templo nas nuvens e deposita-se num mosaico de letramentos e livramentos. Arames da memória, pensares (talvez por falta de peças de reposição para o ser tão pouco humano nesses tempos tenebrosos), torpedos poéticos com tons de cítaras, harpas, tudo num embonitamento fora de série. Quando não irônico ao pé da letra. Foi o que li/vi (senti) de muito gostosamente lê-lo nessas novas paragens. Todo poeta res/pira pelo círio ardente de suas próprias criações-colheitas, em livros-testemunhos. Os loucos herdarão a guelra, numa futura Atlântida pluridimensional entre pirâmides marinhas, oásis cósmicos, cavaleiros trovatores, campos de lavandas náuticas. O que virá do passado nos surpreender no quartzo-róseo do futuro? Poetas dão testemunhos de cismares enluados, radares edificantes, revisões e tabuleiros, incensos e recolhimentos, pois na versalhada do viver/crer/ser, quer no baratinado surgimento das idéias, quer entre cabides de pregos, sempre haverá a voz que canta no deserto, a voz que soa na montanha, a voz que edita no mosteiro, a voz que imprime em livro os cânticos dos verdes campos do Paraná. Solivan Brugnara dá seu testemunho em alto estilo. Sensível e conferidor de resultados do verbo viver, mostra asas de resistências na sensibilidade aflorada, dentro de sua ótica madurada a depurar poemas muito além dos estúpidos que fermentam impropriedades. Ele sabe o que faz. Ele faz bem. Ele é do ramo. Árvore que viça poemas. E assim se enlivra, livrando-se do que cria muito bem feito um liquidificador do que capta e dilue em versos, dizendo mais coisas maravilhosas dessa vida do que nós mesmos captamos na correria da sobrevivência sacrificial. Afinal, o sol é grátis, a poesia é seqüela de labirintos, e escrever é dar um registro de luz. Solivan Brugnara pintou mais um livro.

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

texto viado.

Ruga, o verdadeiro

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Acho que o ruga tem razão esse Silas escamoteia. Mas os poemas do Solivan são muito bons.

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Se tirarem um raio x do saco do Solivam vai aparecer os cinco dedos do Silas. rerererere. Os poemas dizem mais do que toda essa baboseira.

Beto

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

È esse Silas tá perdidão mesmo, até postar comentário ele postou no lugar errado.

Carlos Eduardo

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

10 com estrelinhas para o poeta.

Maria Luíza

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Grande poeta.

Russo

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Cabra bom esse Solivan. Pôe mais textos dele, Polaco.

Juca Bala

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Puta que o pariu que tesão, Polaco!! De onde vc tirou este monstro? O cara é fudido.

Valeu o toque.

Ricardo de Almeida Pontes

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Excelentes os poemas do Solivan, Thadeu. Gostei e vou procurar o livro dele. Um grande abraço e vê se aparece para uma cervejada.

Santiago Nogueira

 
Às 27 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

que delicia de livro, e de autor parece aqueles bolo gostoso que a gente nao tem vontade de parar de comer bricadeirinha hehhehehehehe
muito bom parabens solivan!!!!

 
Às 27 junho, 2008 , Blogger Unknown disse...

Grande Thadeu!
Batemos um papo (mais ouvi) no lançamento do livro do Solivan no Kapelle (C?). Infelizmente o almoço de domingo não saiu.
Favor informar-me seu e-mail no grotesko@estadao.com.br, preciso fazer contato!
Forte abraço/Carlos

 
Às 29 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Diz um amigo meu que "os grandes filósofos são poetas e os grandes poetas, poetas são".
Solivan, que voce brilhe muito, como o Sol

Aplausos pra voce

Beatriz

 
Às 30 junho, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

muito bom solivan!!!continue assim fazendo poemas que fazem a gente viajar,eu me sinto solta quando leio seus poemas. quero ver mais livros, saindo desse rio sem fim...

 

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