polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, novembro 28, 2006




Capítulo 4

O problema, sua mulher e seus probleminhas


O sábado amanheceu todo endomingado
E vestido pra festa. Um sol de rachar
E com mania de quinta grandeza, esquentado,
Deu ao bar um colorido novo, sem par.
Dos sessenta e poucos pés-de-cana, da noite
Anterior, nenhum arredou a bunda e foi-se.

Cerveja da boa, maconha da melhor, kibe,
Coxinha e pastel à vontade, quase tive
Uma congestão por ingestão excessiva
De sólidos, líquidos e gasosos, mas,
Beatriz garantiu-me a compostura capaz
De manter bom humor e alegria expressiva.

Pra quem não sabe, Beatriz é a morena ao lado,
Que, por unanimidade, foi eleita rainha
Do meu coração, deusa da minh’alma, rima,
verso e estrela do palco do meu quarto.
O namoro vai bem, apenas duas intrigas,
Três tapas e uns palavrões é o saldo das brigas.

Mas nada que interfira em nossos sentimentos,
Puros e ternos que, na suscessividade
Dos minutos, vão se transformando em momentos
De profunda entrega e frisson sexual. Verdade
Que, ali no bar, o ato não pode ir até o fim,
Mas o de bêbada não tem dono e assim...

O Jair, proprietário do estabelecimento,
Até ofereceu o quartinho lá do fundo,
Mas meu desejo, esse meu estremecimento,
A sensação de que este é o amor maior do mundo,
Levou-me àquele mesmo arrebatamento
Juvenil, inocente, idiota e profundo.

Eis as razões pelas quais não pulei em cima
E não troquei o óleo na sua bela oficina.
Mas é bom o toque de sua pele, seu beijo,
As palavras sussurradas em meus ouvidos,
Seu cheiro de mel, seus dentes e seus sorrisos,
De repente, são tudo que quero e almejo.

Em nossa mesa, o bom velhinho dorme bem.
Sob ela, um dos punks, o tal de Cobaia,
Desmaiado, dorme melhor do que ninguém.
São dez horas e, antes que meu rabo-de-saia
O acorde com a discussão que começou,
Levo-a ao jardim sob um pessegueiro em flor.

Há uma mesa pequena e nos instalamos.
O tom baixa e a fala ganha um amoroso
Contorno. Logo logo estamos que estamos.
É um tal de pega e aperta mas tão gostoso,
Tão gostoso que ali mesmo ela vai pro pau,
Vítima do meu enorme instinto animal!

Saciado, fecho o zíper e ouço a sentença:
-Só sei que você acabou de me engravidar!
-Como? Mas nós mal nos conhecemos, Beatriz!”
- Sim eu sei, mas a ter filho estou propensa,
Neste período fértil não podia lhe dar.
- Pelo amor dos meus filhinhos! O que é que eu fiz?

- Toda mulher sabe quando ela engravida.
É uma intuição, um poder divino da vida.
- Pai!, vou ser pai! Saio gritando como um louco,
Acordando, derrubando, abraçando a todos.
Recomeçamos a brindar e não foi pouco:
Brindo até com quem tinha me dado uns socos.

Bebemos tanto que alguns, não demora muito,
Começam a vazar. E o vômito em conjunto
Daquela gente veio sobre nós em jorro.
Nem penso: enfio a mão no primeiro cagão,
Que rola sobre a gosma com o bofetão
E transforma o noivado num tremendo esporro.

O nojo acabou com a briga dessa vez.
Fedíamos e o quanto fedíamos não perguntem.
Sei que um não querer encostar no outro fez
Uma pausa e nessa pausa só ouvi: “Ajuntem!
Limpem tudo, seus porcos filhos de uma puta!”
Num minuto ninguém nem pensa mais em luta.

Um pedaço de mangueira vira chuveiro
E eu depois do banho já me sinto inteiro.
O seo Nestor, este espetacular velhinho,
Saíra e voltara com carnes e lingüiças,
Pães, tomates e cebolas, além de vinho,
Cachaça, carvão e muitas outras delícias.

O Jair parte para a ação instantaneamente.
Distribui tarefas específicas, dá
Ordens coletivas e, num piscar de cílios,
O braseiro solta faíscas no olho da gente
E o cheiro da lingüiça na brasa é o que há,
Pra atrair mulheres, sogras e muitos filhos.

Uma caipira num balde de cinco litros
Rolava de mão em mão quando eles chegaram.
Se é verdade que a bebida atrai maus espíritos
Então o inferno entrou por onde eles entraram.
Mais de um casal começa a discutir, brigar,
E a bater nas crianças que passam a gritar.

Fim do capítulo 4



19 Comentários:

Às 28 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Ahahahahahahahahah!
Sensacional! Li todos agora. Estava de férias. Ainda bem que já voltei.

Abração, polaco

 
Às 28 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Até consigo imaginar o que vem por aí, meu deus!

 
Às 28 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Você podia ter entrado em mais detalhes na hora de afogar o ganso.
Mas dá pra fazer um flash back. Não sacaneie a gente, Thadeu.

Fabiano

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Du caralho! Tá melhor que novela mexicana e gibi de sacanagem.

Rubens Cordeiro

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

No te atrevas a hablar de mis amigos produtores. Soy macaquito de nuestras produciones. Arriba, hombre, tenimos que ver mutcho sexo, drogas e rock pela frente.

Pancho Vila

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Ainda bem que vc conseguiu arrumar o seu computador, já estava comendo as unhas.

Bj

Leila

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Rsrsrsrsrs muitos risos.
Tô me divertindo com essa porra, e pelo jeito a festa está apenas começando. Que venha o quinto dos infernos.

Renato Souza

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Que loucura, meu Deus do Céu!

Maria Luíza

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Melhor que isso aqui nem gibi. Está boa, muito boa a história e o personagem central encarna um sacana com grande empatia. Gosto da levada e do humor negro.

Arthur Fialho Netto

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Excitante.

BB

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

hahaha...chegou a familhada...

rodrigo

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

e com cocô no meio...


ruga

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Quero ver tiros, facadas, queimados vivos e polícia distribuindo o cacete na maloquerada.

Tibério Gaspar

 
Às 29 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Tem gente que vem aqui e não gosta de comentar mas me manda emails. Eu postei o do Rubens Cordeiro mas ele prefere não aparecer. Ok, Rubens foi feita a sua vontade e já excluí o post.

Abração

Thadeu

 
Às 29 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

E por falar em comentários onde anda o pessoal de Rondônia, Mato Grosso e Ceará? Vcs querem me matar de saudades?

Abraços ao Jr., Demomi, Norton, Célia e Orival, Clay, Adriano e Mary.

Thadeu

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Bom de ler, bom de rir, bom de imaginar.

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Adorei o um e o três, mas o dois e o quatro são de derreter o cérebro.
Por que vc não transforma em história em quadrinhos? É um roteiro perfeito para um bom quadrinista.

Walter Meirelles

 
Às 29 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Também acho.

Júlio Okada

 
Às 29 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

O Beco, Roberto Prado, já havia me dado essa idéia. Por mim, tudo bem!
Que se apresentem os artistas do traço.

Thadeu

 

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