polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, novembro 23, 2006







Novelha:
Os bêbados amam demais

Capítulo 2: A divina comédia



Por alguns poucos instantes nada se fez,
O gago falar sem gaguejar bateu fundo,
Como se o milagre fosse o fato da vez.
E nada mais interessasse nesse mundo.
O acontecimento de tão inusitado
Nocauteou a todos e tudo ficou parado.

Suspensos no ar, todos se olhavam, admirados,
Tempo que se não me falha a memória deu
Para ver se eu ainda estava com dois bagos
E conferir nos documentos se Thadeu
Era ainda meu nome e estava mesmo ali.
“Fi-fi-filho da puputa!” Súbito, ouvi.

O que se seguiu então foi o fim do milagre.
Ato contínuo, se voltaram contra mim,
Todos, sem exceção. Mas eu, mais liso que bagre
Besuntado: “Isso não vai ficar assim!”
Comecei a arrumar as cadeiras no lugar
E fui imitado pelo dono do bar.

“Ok, pessoal, acabou!” Olhou de cima em baixo
pra mim e disse “Você paga cinco casco!”
“Cinco cascos?” Retruquei. Ele: “Agora, seis!
E não se fala mais nisso! Bebam, vocês!
Chega de merda, se não eu fecho essa porra!”
Falou, como se estivesse com a cachorra.

E foi obedecido instantaneamente.
O gago me olhou como se quisesse mais,
Pegou um copo e virou para um cara em frente,
Que me analisava e ignorava os demais.
Revidei com meu olhar exterminador,
Que o atravessou e foi parar no agressor.

A cara do lazarento já dizia tudo:
Estava para o crime, o filho da puta.
Pedi mais duas e uma vodka com limão e gelo.
Acendi um cigarro e baforei, resoluto.
Nisso, cheguei a pensar no fim da disputa,
Pois todo mundo tem amor ao próprio pêlo.

A música recomeçou e junto os papos
Animados retomaram conta das mesas.
Tranqüilizei-me e passei a saborear
A vodka, a cerveja, lembrando dos sopapos,
Do esporro e também da troca de gentilezas.
Ri, levantei, olhei em volta e fui mijar.

Coisa boa, ah!, esse é um prazer inenarrável.
No mundo dos homens, mijar é religião.
Nessa hora o bebum não tem Deus, tem um pau,
O altar é o vaso e a reza, um jorrão.
Sacudi com amor para que nenhum pingo
Molhasse minha cueca branca, que estava um brinco.

Saio do reservado gostando mais da vida.
Quando dou de cara com duas caras de poucos
Amigos. O gago e o que me armou pra briga.
Olhamo-nos feio e só. As marcas dos socos
Eram visíveis a olho nu. Saí a salvo
Do banheiro, achando positivo o saldo.

Já estava me imaginando estar com tudo,
Quando entra no bar uma morena daquelas
Que deixa qualquer homem sem rumo e sem nada.
Acompanhada de uma feinha e um peludo,
Calvo, forte e musculoso como um gorila.
No peito, sobre os pêlos, a corrente brilha.

A morenaça senta, cruza as pernas, vira-se
Pra mim e pergunta: “Tem fogo, bonitão?”
Isso me incendiou o corpo e a alma e, diga-se
A verdade, o ego virou cauda de pavão.
Solícito como um bom garçom, acendi-lhe
A tão famosa cigarrilha Picadilly.

O olhar de agradecimento que ela meu deu
Não passou em branco pelo seu acompanhante,
Que sorriu, avisando que aquilo era seu.
Entendi perfeitamente e, dali em diante,
A coisa tomou rumos que nem eu nem Dante
Ousaria imaginar entre o inferno e o céu.

Fim do capítulo 2





15 Comentários:

Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Vai pegar fogo a coisa, hein Thadeu? Tá bom, muito bom.

Flávio

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Se manter o clima essa novela vira obra prima.

Ernesto Souza

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

A coisa vai esquentar e eu já estou pegando fogo.

Bj

Leila

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Agora eu entendo o sofrimento das mulheres na frente da TV.
Que aflição ler assim entrecortado.
Quando chega a melhor parte termina.

Até amanhã

Rubens Cordeiro

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Adorei, Thadeu!

Viviane

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Quero só ver onde isso tudo vai parar.

Mala

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Tô adorando, querido.

BB

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Agora que a gostosa entrou na história já estou até vendo o final. Aposto que você vai dar um picote.

Jayme da Copel

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Hombre, no hay novela mexicana que tenga tantos culiones. Arriba, muchacho.

Pancho Vila

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

boa a citação

...e resoluto, baforo meu charuto...

lembra desta thadeu...

...recordista filão ainda atinjo a marca do milhão...

Rodrigo, esperando a continuação

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Menino, onde você vai com essa história? A impressão que dá é de que tudo é possível. Vamos lá.

Abraço e afeto da

Maria Luíza

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Tá bom mas tem que melhorar.

Urtiga

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

|Se todo mundo escrevesse assim, eu seria o maior leitor do mundo.
Massa.

Fabiano

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Quero ver a coisa derreter de tão quente.

 
Às 23 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Vai amanhecê onde?

Maringas

 

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