polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, novembro 30, 2006




Capítulo 5

O inferno é mais em cima.


A loira oxigenada, batom roxo, saia
Justa e curta, bate com a bolsa num piá.
No ato, saltam seios do tomara-que-caia,
Não são bonitos, mas ninguém deixa de olhar.

Um sujeito, pintor, pelas manchas de tinta
Nas roupas, mete o pé na bunda da distinta,
Que rola e grita histericamente na grama.
Beatriz intervém, rapidamente e reclama.

O guri, alvo da bolsada, se aproveita,
Ergue a saia da falsa loira e deixa a bunda
Enorme aos olhares da malária inteira.
O pintor, que de tão puto, já está corcunda,

Se agacha mais ainda, agarra o menino
Pelos cangotes e, então, bem devagarzinho,
Começa a apertar c’os dedos seu gorgomilo,
Beatriz fecha os olhos pra não ver aquilo.

O garoto, arroxeado, esperneia mais
Que aposentado quando recebe o extrato
Do benefício. Súbito, um outro malaco
Resolve dar as tintas ao pintor. Jamais

Presenciei tamanha porrada e tão bem dada.
O pintor, primeiro, fica azul; depois, vesgo;
Em seguida, cai duro junto à arreganhada,
Que ainda exibe o pentelhame preto e crespo.

A mãe da loira, sogra do pintor, intrusa
Da festa, sob um ataque de nervos, desmaia
E tem convulsões. O piá vendo a avó confusa,
Chora, abraça a velha e fica de atalaia.

A cena que se segue serviria de exemplo
Para qualquer palestra à cerca do non sense.
O dono aproveita a deixa e não perde tempo,
Passa a mão numa ripa e, insensivelmente,

Começa a cacetear parelho todo mundo.
O corre-corre abre uma clareira imensa,
Os beberrões fazem, aos berros, um rotundo
Protesto. O Jair se acalma e tudo, lenta

E silenciosamente, retorna ao normal.
Acodem o pintor, a loira, o piá e a velha,
Porém um sério deslize, quase fatal,
Põe a mulherada toda em pé-de-guerra.

É que na hora de acudir a velha epilética,
O bebum, que a carrega no colo, tropeça,
Cai e os dois se esborracham, de forma patética,
No chão. A velha rola e bate com a testa

Num toco, que lhe abre uma larga avenida,
Dividindo os dois lados do rosto enrugado.
A mulherada reunida, puta da vida,
Avança contra o borracho que, aterrorizado,

Recua e cai sobre a churrasqueira improvisada.
A cena se inverte e elas engatam a ré
Ao tomar consciência da tremenda cagada.
Queimado, enlingüiçado, da cabeça ao pé,

E ainda de fogo, o bebum sobre a brasa, em chama,
Levanta e, parecendo um monstro de ficção
Científica, dá dois passos em direção
À sua família que grita, chora e reclama,

E cai como um corpo morto cai, desmaiando.
Tenho a impressão de estar dentro de um pesadelo,
Onde todos os movimentos vão passando
Em câmera lenta, como se o meu apelo

Não conseguisse sair da garganta e ser
Ouvido pelas pessoas que me rodeavam.
Ilusão minha. Dois grupos se formaram
Rapidamente como pude perceber.

E dois carros partiram para hospitais
Diferentes. Só então eu disse pra Beatriz,
Que me dizia vamos embora: - me diz
Uma coisa, nas circunstâncias atuais,

Não é melhor ficarmos e esperar notícias?
Ela reluta um pouco, mas sorri e diz sim.
Suas mãos tocam as minhas cheias de carícias
E eu só desejei viver para sempre assim!

Fim do capítulo 5





14 Comentários:

Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Brilhante, Thadeu, brilhante.
O final então nem falo, simplesmente perfeito. Parabéns você merece tudo de bom.

Flavio

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Vou te dizer uma coisa, eu também me senti no meio de um pesadelo naquela cena. Você faz tudo parecer tão real, tão próximo, que me dá impressão de estar participando da história. Que tal descrever fisicamente a Beatriz?

Fabiano

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

O Flávio falou tudo. Esse capítulo termina maravilhosamente.

Um beijo

Leila

 
Às 30 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Vou descrever a Beatriz sim, mas não agora, estou com preguiça.

Thadeu

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Caracoles, hombre, voy a morir de rir.

Pancho Vila

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Polaco, acho que a densidade dramática já se estendeu o suficiente e está de bom tamanho, acho que você deria refluir sobre os acontecimentos, valorizando cada detalhe. Pequenas descrições, ajudariam a compor o quadro todo. Na minha modesta opinião falta muito pouco para essa novela se transformar numa obra-prima.

Grande abraço

Gerson Taborda

 
Às 30 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Espere até amanhã, Taborda, se não a ansiedade te come pelas beiradas.

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Vai dar palpite pra tua mãe, Taborda.

Ruga

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Polaco;

Tira logo a morena do estabelecimento e leva pruma alcova; se não o dono do boteco te cobre de porrada e te rouba a namorada.
Quem avisa amigo é!

Maringas

 
Às 30 novembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

E o ratinho ventríloquo? Desapareceu da história?

 
Às 30 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Vc que infelizmente não assinou deve ser da turma dos piá da véia.

 
Às 30 novembro, 2006 , Blogger + malocas disse...

Esse pessoal que te comenta é tão brilhante que nem percebeu o Inferno de Dante passando resoluto a sua frente.

 
Às 30 novembro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

É que vc é um observador mais atento à história da poesia, Sérgio. Mas veja que os que não percebem também se divertem, já que uma coisa independe da outra.
Ainda tem referências do Guimarães Rosa, Catulo da Paixão, Noel Rosa, Ataulfo, Adoniran e, especialmente, Augusto dos Anjos na arquit6etura das frases.

Abração

Thadeu

 
Às 09 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

puxa....quem disse que eu nao disse nada
um abraço

 

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