polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

sexta-feira, junho 01, 2007





A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 5


Um homem sem buceta não é nada?


“Cansei de ser ninguém, papai, vou mudar mesmo.
Eu quero mais pra mim. Não lhe faltou esmero
Ou carinho na minha educação, papai.
Mas cansei de ser pobre. Chega de contar
De tostão em tostão. Isso vai me matar.
Diga ao meu noivo fim, adeus, tchau e bye bye.
Vou sumir, quero um homem rico, poderoso,
Que me dê valor, jóias e seja generoso.

Eu amo o Gilberto, o senhor sabe bem.
Faria qualquer loucura por ele, mas sem
Dinheiro não consigo mais viver, ok?”
- Minha filha, você é tão jovem ainda,
Mal começou a vida. Espere que um dia finda
Essa amargura. Saiba que o que eu não te dei,
Não foi porque não quis; eu realmente não pude.
Tua mãe sofreu demais c’as bobagens de Hollywood.

Ela me deixou só e falando sozinho,
Encantada c’a grana do nosso vizinho,
Que é sempre mais verdinha. Até riu da minha
Cara e disse que tinha vergonha de mim.
Cinco anos depois, o sonho chega ao fim
E volta para casa, trazendo sua ruína.
Tinha se tornado uma alcoólatra, viciada
Em cocaína e outra droga mais pesada.

Não morreu porque Deus não quis levar a triste.
Por favor, não me faça pôr o dedo em riste.
“Já decidi, papai. Minha mala está pronta.
Vou aprender a amar o Artur, mas voltarei
Um dia, e provarei ao senhor que acertei.
Sei que lhe devo muito e pagarei a conta
Com juros e juras de amor. Tá bem, paizinho?”
- Não, não está bem não. Eu me sinto miudinho.

Esse cara vai ser tua desgraça, meu anjo.
Você é uma criança; ele, um baita marmanjo.
Já tem filho e vocês mal se conhecem, Ana.
“Você e a mãe, deu certo? Namoraram cinco
E ficaram noivos mais de dois anos. Vínculo,
Papai, só faz o amor. Artur não é um sacana.
Ele tem sido bom pra mim, me sinto bem
Ao seu lado. Cansei, pai, de não ser ninguém.”

- Está bem então, filha. Se tua mãe não serve
De exemplo, apodrecendo no hospital, observe,
Pelo menos, o aviso que vou dar agora:
Não engravide já. Espere ter certeza
De seu amor, de seus sentimentos, princesa.
“Claro, papai. Mas tenho que ir sem mais demora,
O Artur odeia quando o faço esperar
E, aliás, pai, ele acabou de buzinar.”

Foi, deixando seu pai e um coração partido.
- Mas o senhor não poderia ter impedido?
- Tentei, Gilberto, pode acreditar. Tentei,
Com todos argumentos de um desesperado
Pai, mas falhei. Falhei...Estou desamparado
Como você, meu filho. Tudo que sonhei
Foi embora também. Não sobrou nada. Nada.
Espero que a tristeza seja camarada.

Gilberto ficou mudo, acendeu um cigarro
E saiu violentamente, amassando o barro.
Foi à sua oficina e enforcou-se todo.
Encontraram-no preso por um cabo de aço.
A ironia maior: Ana perdia o cabaço
Na mesma hora em que a alma abandonou o corpo.
Quando soube da morte, Ana pediu pra morrer.
E morre, só a paixão de Artur não deixa ver.


Fim do capítulo 5





14 Comentários:

Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Adeus ordem cronológica. Acho que amarrar as histórias vai dar algum trabalho... Aguardo ansioso os próximos capítulos.

Abraço, Gerson.

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Tal mãe tal filha tal sogro tal genro

Maringas, o tal...

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Du caralho, polaco.

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Tá bom, pode continuar que tá bom.

Fabiano

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Eu estou adorando.

Maria Luíza

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Flash back é um recurso, Gerson.
Acho que está muito bem amarrado o enredo.

Julio Okada

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

O pessoal em vez de curtir a história sempre ficam inventando sarna pra se coçar.

Bj

 
Às 01 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

É isso, Thadeu, eu estava super curioso pra saber porque a Ana matou o menino. Ainda não sei mas o perfil psicológico dela já dá uma idéia. Estou gostando da levada. Abração.

Flávio

 
Às 03 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Muito bom, POlaco.


Anderson

 
Às 03 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Haja inspiração! E da boa.

Hamilton Gomes

 
Às 03 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Essa tinha que se foder mesmo.

 
Às 04 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Thadeu, primeiro você enfurece as palavras
e depois faz as frases pularem por um aro de fogo. Sei, com tigres teria muito menos risco. Abração admirado.

 
Às 05 junho, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Ô, Fraga, estou esperando aquela tua vinda a Curitiba. Podemos colocar essa discussão em pauta, regada a cerveja e pirogui.
Que tal?

Abração

Thadeu

 
Às 05 junho, 2007 , Blogger Paulo Ugolini disse...

Tou lendo com atraso, puxa.

 

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