polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, outubro 23, 2008


"É muito difícil evitar um cataclismo no planeta Terra nos próximos cem anos."

Stephen Hawking


O astrofísico Stephen Hawking passou pela Espanha e deixou seu desalentador diagnóstico em face ao futuro. Dentre outras apostas, ele assegura que “o futuro da raça humana deverá transcorrer no espaço, se não queremos nos extinguir”. O astrofísico também supõe que a tentação por modificar geneticamente o tamanho da memória, a resistência a doenças ou a duração da vida trará conseqüências.

A tradução é de Moisés Sbardelotto.


O cientista mais midiático do planeta esteve na Galícia pernoitando, comendo ostras e inclusive bebendo o famoso vinho albariño. Até o deão da catedral de Santiago utilizou o turíbulo e incenso, na segunda-feira passada, em louvor a esse “peregrino da luz”, eliminando as referências religiosas de seu discurso, para não atrapalhar um homem que acredita que “a ciência não deixa espaço para os milagres”. Stephen Hawking, enfim, anda por Santiago de Compostela com fama multitudinária para receber, no próximo sábado, o primeiro prêmio Fonseca de Divulgação Científica. O físico – prostrado em uma cadeira de rodas por causa de sua esclerose – aproveitou a ocasião para apresentar seu novo livro, a novela infantil “A Chave Secreta do Universo”. Falando por meio de um computador desde que, em 1985, foi-lhe feita uma traqueotomia, Hawking vê como sua paralisia avança a cada dia e, há dois anos, nem sequer pode mover os dedos, e por isso sua velocidade de resposta é de uma ou duas palavras por minuto (ele ativa seu computador com um sensor movido com os olhos). Por isso, os jornalistas tiveram que lhe entregar as perguntas com um mês de antecedência, e ele as respondeu por escrito, para lê-las ontem – ativando seu sintetizador de voz –, em um ato que foi, como qualquer um dos que ele participa, um emocionante canto em homenagem à força de vontade e à superação das próprias limitações. Neste ano, Hawking também publicou “La gran ilusión” [A grande ilusão], em que faz uma critica às principais obras de Einstein.

O senhor conseguiu, com a sua “Breve história do tempo” (1988), que os ensaios sobre temas científicos se convertessem em best sellers. Por que mudou agora para a ficção?

Pela baixa estima que a ciência tem de si mesma, cada vez menos pessoas desejam se converter em cientistas. Para que as crianças vejam que não há emoção maior que a da descoberta, a de perseguir as respostas a nossas grandes perguntas: quem somos? De onde viemos?

Por que o senhor quer viajar ao espaço?

Inscrevi-me para formar parte de um vôo espacial porque quero encorajá-los. O futuro da raça humana deverá transcorrer no espaço se não queremos nos extinguir. Seria desejável estabelecer uma base em um planeta ou em uma lua.

Temos que fugir do planeta? Estamos tão mal assim?

Já é muito difícil evitar um cataclismo no planeta Terra nos próximos cem anos. A longo prazo, a raça humana não deveria pôr todos os seus ovos na mesma cesta, neste planeta. Esperemos que se possa evitar que a cesta caia até que sua carga tenha se espalhado (isto é, nós) por outros lugares. As graves ameaças que nos espreitam são que estamos nos situando à beira de uma segunda era nuclear e essa mudança climática sem precedentes.

Por que o senhor diz que já não há tempo para esperar que a evolução darwiniana nos faça mais inteligentes?

Agora é o momento do auto-projeção. Estou certo de que, durante este século, se descobrirá como modificar tanto a inteligência assim como instintos como a agressividade. Surgirão leis contra a engenharia genética com humanos, mas alguns não resistirão à tentação de melhorar características como o tamanho da memória, a resistência a doenças ou a duração da vida. Uma vez que apareçam esses super-humanos, existirão problemas políticos graves com os humanos não-melhorados, incapazes de competir. Provavelmente, morrerão ou se converterão em irrelevantes. Em seu lugar, haverá uma raça de seres auto-projetados que se melhorarão cada vez mais. Nestes dias, fala-se muito do maior experimento da história, o do acelerador de partículas do CERN. O que aconteceria se não se detectasse nem sequer as ondas gravitacionais? Seria muito mais interessante. Mostraria que algo em nossas teorias funciona mal. Apostei cem dólares que não encontraremos esse Higgs.

Gordon Brown ou David Cameron?

Ideologicamente, sou socialista, de forma que me encontro mais próximo de Gordon Brown, que me parece um bom indivíduo. No entanto, não fiquei nada feliz com as políticas de Tony Blair, especialmente com seu apoio à guerra do Iraque.



2 Comentários:

Às 23 outubro, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

O mundo conforme Casciari

Li uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha, só que mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no 'sistema cão'.

Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7. No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.

Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem 'humanamente' cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne.

Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco.

A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil que tem 14 anos e um membro grande.

O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo, está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem - ainda - dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.

Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos. A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adotar o bebê Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão de moda.

A França é uma separada de 36 anos, mais puta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai acabar virando puto ou bailarino... ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, um caminhoneiro rico que está casado com Áustria, que sabe que é chifruda, mas que não se importa.

A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (A Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar espaguete).

A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.

Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta. A Escócia e a Irlanda, os irmãos de Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.

A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coréia.

A Coréia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gêmeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.

Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negocio para eles. Agora estão comendo lixo. O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrênicos.

Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo, descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna... e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passar por ignorantes.

Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?



NOTA SOBRE O AUTOR:

Hernán Casciari nasceu em Mercedes (Buenos Aires), a 16 de março de 1971. Escritor e jornalista argentino. É conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela. Sua obra mais conhecida na rede, 'Weblog de una mujer gorda', foi editada em papel, com o título: 'Más respeto, que soy tu madre'.



abs

ruga

 
Às 24 outubro, 2008 , Anonymous Anônimo disse...

Porra! Cadê Portugal!!!

Um abraço pro Hawking e pra sua cadeira do Newton!

 

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