Saboro Nossuco, muita vez, assim que sai o sol ou quando está prestes a se recolher, sai a passear pelas ruas da Barreirinha, próximo ao seu modesto templo. Na região ainda há muitos pequenos lagos e bosques onde vivem criaturas realmente encantadoras. Saboro tem especial carinho pelos animais e aves. E dizem as boas línguas que ele bate altos papos com os passarinhos e outros bichos.
1.
- Mestre Saboro, o fato de eu ser uma anta quer dizer que eu pequei muito em outras encarnações?
- Que outras?
- As minhas muitas vidas.
- De onde você tirou essa idéia?
- Ah, todo mundo por aqui sabe disso.
- E por que perguntas para mim?
- Para ter certeza.
- Mas eu nunca fui uma anta.
- Sim, mas és um mestre e mestres, quando não sabem, intuem e encontram respostas que ajudam o mundo a evoluir.
- Essa foi de mestre!
- Achas mesmo?
- Sim, mas não tenho certeza.
- E por que todos te consideram iluminado?
- Vai ver é porque dou atenção a antas como você.
- Sim, mas se não consegues dar as respostas fundamentais que necessito, diferes pouco de uma anta.
- Muito pouco.
- Poderias ser mais claro?
- Sim.
- ....?
- ...
- E então?
- Então, o quê?
- Seja mais claro, para que eu possa entender.
- Ah, vai pastar!
Saboro Nossuco
2.
Saboro estava sentado em um tronco à beira de um pequeno rio, a 300 m de seu templo, quando se deparou com uma corruíra muito triste.
- Que tens, para estares assim?
- Nada. Você não entenderia..
- Ah, que bom!
- Te sentes assim também?
- Agora não.
- Que pena, poderíamos compartilhar este sentimento.
- Fica pra outra vez.
- Está bem. Ei, mas agora não consigo mais pensar no que me deixava triste.
- Então fique mais um pouco. Podemos compartilhar este sentimento.
- A alegria te é mais importante que a tristeza?
- Quem sabe?
- Para um mestre és muito reticente.
- Pode ser.
- Assim não ajudas a quem precisa.
- Não tenho conceitos formados sobre isso.
- Acho que estou perdendo um tempo precioso, vou procurar minha turma.
- Faça isso!
- Ficarás bem sozinho?
- Sem dúvida!
Saboro Nossuco
3.
Ouvindo o escorrer das águas sobre as pedras de um tortuoso córrego, Saboro deu de cara com um preá do banhado, que, feliz, nadava com sua numerosa prole.
- Vem nadar com a gente, Mestre!
- Agora não.
- Mas agora é que está bom, o dia está muito abafado.
- Perfeito pra ti e pra teus filhos. Aproveita!
- É isso aí!
Saboro passou parte da tarde observando o movimento, a graça dos mergulhos, do mastigar raízes, da pesca certeira do pai e olhar atento e estudioso dos menores. De repente, um jovem aproximou-se silenciosamente e, rápido como um raio, matou o preá e três dos seus filhotes. Ao perceber a presença de Saboro, exclama em voz alta:
- Uau, que bela refeição!
- O melhor deles tu perdeste.
- Tinha um melhor, é? Mas isso aqui vai dar um bom prato pra minha mãe que está doente e faminta.
- Com toda certeza. Sabes tirar a pele?
- Vou tentar.
- Deixa-me ajudá-lo.
- O senhor é muito legal.
Saboro ajudou-o a lavar e limpar os animaizinhos. E o jovem se despediu agradecido. Um de seus discípulos que, escondido, a tudo observava, aproximou-se enfurecido.
- Como pôdes cometer tão asqueroso ato?
- Por piedade. Se não fossem bem limpos, a carne se perderia.
- Mas como pudeste concordar com essa matança?
- Não concordei, apenas não deixei que o egoísmo me cegasse.
- Não te entendo, Mestre.
- Eu estava aqui e me divertia tanto com a alegria da família dos preás que desejei que ela fosse para sempre. Mas não foi assim. Quando o rapazinho os matou, pude ver meu egoísmo claramente.
- Não vejo como.
- Ele os matou para fazer uma refeição para a mãe doente.
- Mas onde está o seu egoísmo?
- Na diferença de posse. Eu queria para mim aquela alegria de vê-los felizes e em grácil atividade e o rapazinho não queria nada para si mesmo, mas para a mãe. Por isso me penitenciei.
- Deus te perdoe, Mestre!
- Não é necessário. Mas pede perdão para ti, que ainda estás a matar os preás.
Saboro Nossuco
4.
Entre as árvores, Saboro observou uma lesma em sua jornada frenética até chegar a umas folhas que, parecia, ela muito desejava.
- Onde vais com tanta pressa, dona lesma?
- Lanchar.
- Posso te ajudar?
- Como assim?
- Ora, posso levá-la rapidamente até elas ou, simplesmente arrancá-las e trazê-las até ti.
- Como podem chamá-lo de Mestre? Na verdade, és um estúpido!
- ...???
- Já lanchaste?.
- Claro, às 16 h como sempre.
- Então não me atrapalhe que o meu é às 19 h e eu já estou atrasada.
Saboro Nossuco
1.
- Mestre Saboro, o fato de eu ser uma anta quer dizer que eu pequei muito em outras encarnações?
- Que outras?
- As minhas muitas vidas.
- De onde você tirou essa idéia?
- Ah, todo mundo por aqui sabe disso.
- E por que perguntas para mim?
- Para ter certeza.
- Mas eu nunca fui uma anta.
- Sim, mas és um mestre e mestres, quando não sabem, intuem e encontram respostas que ajudam o mundo a evoluir.
- Essa foi de mestre!
- Achas mesmo?
- Sim, mas não tenho certeza.
- E por que todos te consideram iluminado?
- Vai ver é porque dou atenção a antas como você.
- Sim, mas se não consegues dar as respostas fundamentais que necessito, diferes pouco de uma anta.
- Muito pouco.
- Poderias ser mais claro?
- Sim.
- ....?
- ...
- E então?
- Então, o quê?
- Seja mais claro, para que eu possa entender.
- Ah, vai pastar!
Saboro Nossuco
2.
Saboro estava sentado em um tronco à beira de um pequeno rio, a 300 m de seu templo, quando se deparou com uma corruíra muito triste.
- Que tens, para estares assim?
- Nada. Você não entenderia..
- Ah, que bom!
- Te sentes assim também?
- Agora não.
- Que pena, poderíamos compartilhar este sentimento.
- Fica pra outra vez.
- Está bem. Ei, mas agora não consigo mais pensar no que me deixava triste.
- Então fique mais um pouco. Podemos compartilhar este sentimento.
- A alegria te é mais importante que a tristeza?
- Quem sabe?
- Para um mestre és muito reticente.
- Pode ser.
- Assim não ajudas a quem precisa.
- Não tenho conceitos formados sobre isso.
- Acho que estou perdendo um tempo precioso, vou procurar minha turma.
- Faça isso!
- Ficarás bem sozinho?
- Sem dúvida!
Saboro Nossuco
3.
Ouvindo o escorrer das águas sobre as pedras de um tortuoso córrego, Saboro deu de cara com um preá do banhado, que, feliz, nadava com sua numerosa prole.
- Vem nadar com a gente, Mestre!
- Agora não.
- Mas agora é que está bom, o dia está muito abafado.
- Perfeito pra ti e pra teus filhos. Aproveita!
- É isso aí!
Saboro passou parte da tarde observando o movimento, a graça dos mergulhos, do mastigar raízes, da pesca certeira do pai e olhar atento e estudioso dos menores. De repente, um jovem aproximou-se silenciosamente e, rápido como um raio, matou o preá e três dos seus filhotes. Ao perceber a presença de Saboro, exclama em voz alta:
- Uau, que bela refeição!
- O melhor deles tu perdeste.
- Tinha um melhor, é? Mas isso aqui vai dar um bom prato pra minha mãe que está doente e faminta.
- Com toda certeza. Sabes tirar a pele?
- Vou tentar.
- Deixa-me ajudá-lo.
- O senhor é muito legal.
Saboro ajudou-o a lavar e limpar os animaizinhos. E o jovem se despediu agradecido. Um de seus discípulos que, escondido, a tudo observava, aproximou-se enfurecido.
- Como pôdes cometer tão asqueroso ato?
- Por piedade. Se não fossem bem limpos, a carne se perderia.
- Mas como pudeste concordar com essa matança?
- Não concordei, apenas não deixei que o egoísmo me cegasse.
- Não te entendo, Mestre.
- Eu estava aqui e me divertia tanto com a alegria da família dos preás que desejei que ela fosse para sempre. Mas não foi assim. Quando o rapazinho os matou, pude ver meu egoísmo claramente.
- Não vejo como.
- Ele os matou para fazer uma refeição para a mãe doente.
- Mas onde está o seu egoísmo?
- Na diferença de posse. Eu queria para mim aquela alegria de vê-los felizes e em grácil atividade e o rapazinho não queria nada para si mesmo, mas para a mãe. Por isso me penitenciei.
- Deus te perdoe, Mestre!
- Não é necessário. Mas pede perdão para ti, que ainda estás a matar os preás.
Saboro Nossuco
4.
Entre as árvores, Saboro observou uma lesma em sua jornada frenética até chegar a umas folhas que, parecia, ela muito desejava.
- Onde vais com tanta pressa, dona lesma?
- Lanchar.
- Posso te ajudar?
- Como assim?
- Ora, posso levá-la rapidamente até elas ou, simplesmente arrancá-las e trazê-las até ti.
- Como podem chamá-lo de Mestre? Na verdade, és um estúpido!
- ...???
- Já lanchaste?.
- Claro, às 16 h como sempre.
- Então não me atrapalhe que o meu é às 19 h e eu já estou atrasada.
Saboro Nossuco
10 Comentários:
Gosto muito dessa tua levada a la Saboro Nossuco. Você vai ou não vai lançar o livro?
Não sei ainda, Flávio. Tenho 48 inéditos do Saboro e fiz mais estes 8 que publiquei semana passada e hoje. Mas eu me divirto muito escrevendo. Também acho que merecia um livro. Mas cadê a editora?
Abraço
Thadeu
esse dos preás é de mestre.
o saboro tá te possuindo!
Caramba, o Saboro é demais! Ficamos na torcida pelo livro!
com o blog do mestre
não precisamos mais de mestre
eu gostei da lesma - me lembrou o segundo livro que li na minha vida:
Lúcia já-vou-indo
...
e assim eu quase chorei enquanto gargalhava...
É verdade, Bárbara, sinto um enorme prazer ao escrever. E você sabe pensar nem pensar para escrever. Meus dedos estão ficando espertinhos.
grande abraço
Pois é, Ivan. Apareça para uma limonada.
Abraço
Thadeu
Karácolis, muito bom, Thadeu. Tudo rigoroso fino e divertido. Para que ir à India se temos o índio?
Queremos mais sabor NO SUCO
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