polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

domingo, outubro 09, 2005

Poemas de Roberto Prado


oração partida


acordei num sonho esquisito
eu mesmo era um estranho
que me falava coisas desconhecidas
e de vez em quando sumia

fiz força para decorar
aquelas tão belas palavras
não dava tempo de anotar
a metade que eu entendia

tentei voltar a dormir
como todo sonhador que se preza
mas continuei surdo às súplicas
não mereço ouvir minha própria reza



na captura


falei
até a letra
ficar grande

fiz de tudo
até figura

já me entende agora
ou ainda falta
mulher nua?



tantã


por fora
por dentro e entre
pela vida afora
e antes
hora após hora
por exemplo, agora,
eu rimo sempre

dono de batuque nato
às vezes bato fraco
não atendeu, pronto!
já fui embora

nenhuma razão para dor
nenhuma razão de orgulho
somente mais uma canção
apenas mais um coração
fazendo barulho



é muito


Tempo ruim não foi
e o agora não quer ir.

Tudo precisa de dois.
Isso, no momento,
é muita gente.
Fica pra depois


agora depois


o poeta
quando morre
pra onde vai?

irá para a lua
onde não há ninguém
para olhá-lo?

ou para a China
chorar cantando
entre seus iguais?

sumir ou sofrer?
ninguém ou bilhões?
melhor não morrer



cuidado, período fértil



Você lança qualquer coisa
sem saber que qualquer coisa pega.

Nem precisa ser semente
e já uma raiz me agarra
ergue-se um tronco
uma folha me escreve.

Não chego a dizer:
- coma, já que matou.
Tampouco digo:
- toma que o filho é teu.

Mas já que nasceu
sinta este perfume
coisa de Deus
que você plantou.



a volta triunfal

aqui vamos fazer nossa casinha
ali a fábrica não ficará muito longe
uma escola com vista pra montanha
e o templo sem imagem nenhuma

desta vez não vamos sujar o rio
nem inventar leis desalmadas
apenas novamente simples heróis
descobrindo mundos, trocando fraldas



palavras na mesa


sombras se esgueiram
entre vírgulas
separadas por tontas sílabas
que se espantam

nesta mesa, caros amigos,
como em tanta véspera
o que ainda me separa
de minha santa ceia?



criatura memória

nossa senhora das minhas musas
minha angelical divina fada
que a treva bata em sua trave
antes da batalha ser travada

sopre sua brisa, diva santa elegância
relevo morno, enlevo doce, leite, úmida alvorada
me leve logo para que eu não esqueça
como a vida é difícil de ser lembrada



oração a são nunca

dei duro e eros me abriu seu coração
não preciso nem de boca pra baco me estender o garrafão
marte me deu uma mão
mamom perguntou quanto era e puxou o talão
um belo dia tive de dizer não
mas ainda amo essa humanidade marrom
fiel a eros, baco, marte e mamom


descascando cebola

dentro do dentro
no meio do miolo
nas profundas do centro
do núcleo de tudo
é ali, no fundo, no fundo,
que habita você
minhalma doutro mundo

1 Comentários:

Às 09 outubro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

O Roberto tem livro de poemas?

BB

 

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