polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

sábado, fevereiro 11, 2006

Sonhos

O sonho acabou
mas ainda tem cuque

(Luiz Antonio Solda)

Antigamente eu vivia sonhando,
hoje já nem durmo.


(Antonio Thadeu Wojciechowski)

Foi poeta: amou e sonhou na vida.

(Epitáfio do Álvares de Azevedo)

Sonhar, melhor que viver. Os antigos achavam que sonhando conversavam com os deuses. Hoje em dia, o pessoal anda sonhando com casa própria, acertar na loteria, automóveis e tudo que se compra à vista, a prazo ou a calote. Ou seja a maioria virou concorrente ao prêmio Nobel de química por ter conseguido transformar a vida numa grande merda. Mas tem quem transforme sonhos em grandes realizações e dê à vida um sentido mais amplo, magnânimo e beatífico. Kurosawa, por exemplo, com a ajuda do George Lucas nos efeitos e o Spielberg na produção, fizeram Sonhos, um dos mais belos e bem realizados filmes de todos os tempos. Sonho quando vira do avesso é pesadelo. Uns acham que o sonho é um tipo de aviso; outros, jamais lembram de um; mas tem aqueles que acham que são lembranças de outras vidas ou os que afirmam que são desejos latentes. Nesse “diz que diz que”, a verdade é que um sonho agradável bota um sol na cara acordando. Mas os mais lembrados são sempre os sonhos que deixam provas materiais: os melacuecas, os éagoraqueeumemijotodo. Mas sonhar pode ser também o encontro com deuses bons e generosos que nos dão respostas, palpites, rimas, acordes, melodias, idéias e até nos livram de doenças.
Livros é que não faltam para interpretar nossos sonhos, mas, ao lê-los, você com certeza cairá numa grande confusão de sentidos. Como não poderia deixar de ser, cada autor sonha à sua maneira. José do Egito interpretou o sonho do Faraó e o que se viu foi vaca pra tudo quanto é lado, gordas e magras. Meu maior sonho é ver um Brasil letrado e feliz, portanto, boa leitura. Essa página, antes de pronta, não passava de um belo sonho.


Sonhos: considerações filosóficas sobre a vida

sonhar é acordar pra dentro
abro a cortina ao sol para me expor
o que coça é a imaginação
a felicidade súbita do coração
ou trocando em miúdos
redivivo revivo
meio-dia
meio morto meio vivo

Antonio Thadeu Wojciechowski e Edson de Vulcanis


pastelão

depois dos sonhos
doces suspiros
irritados brigadeiros
amor aos pedaços
depois de mim
não haverá mais tortas na cara

Antonio Thadeu Wojciechowski e Édson de Vulcanis

pequena mulherão

boa de cama, rica e bonita
excesso de imagem na televisão
pra te refletir todo espelho se habilita
só dá você no meu campo de visão

triste e só choramingo no pijama
toda a tua boazuda forma me atacanha
uma performance que ridiculariza a espécie humana

nessa nossa música não tem coração
sei que jamais passarei de tua sala de visita
o pesadelo põe pra dormir o sonho de quem te ama

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos

hora do pesadelo

obdúlio varela entrando na área
bandido da luz vermelha entrando pelo telhado
collor entrando no palácio alvorada
brasileiro entrando no cheque especial

homem do saco saindo debaixo da cama
políticos saindo em bando pelo ladrão
aracnídeos saindo pra cima de você
e você saindo do meio do pântano

para uma ilha de areia movediça

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos


sonhos: anticorpos da alma


eles são como pequenos animais selvagens
enjaulados num espaço menor que seus corpetes
são gourmets alimentados de lavagem
assistindo ao ritual preparatório de um banquete

chegam, como vírus de computador numa sexta treze
e despacham a realidade para outro terreiro
fica o santo bem-estar que sentimos poucas vezes
quando entregamos a cabeça aos nossos travesseiros

logo ligam os neurônios em todos os sentidos
para a salva de palmas da alma em seu esconderijo
assim são os sonhos: iludem-nos com imagens errôneas
para nos conduzir desacordados ao calabouço da hipersônia

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos


epístola ao poeta marcos prado

daqui desta terra firme
a ti, príncipe invicto,
mecenas das idéias de estirpe
do poeta mais indigno

enfermo de tua ausência
tento curar por escrito
a tua súbita transferência
quem quebrou deve colar o partido

tu te ausentastes de nossa esfera
porque esse povo maldito
te pôs em pé de guerra
e aí vives em paz contigo

os dias não mais te acham
o tempo, teimoso, bate e volta
pelo meio dos caminhos que passam
quando chegas à solidão que te revolta

vejamos pelo lado positivo:
não te batem mais à porta
o vendedor de enciclopédia, o falso amigo,
o verdadeiro amigo, esse bando de borra-bosta

hoje, aí na ilha, visitam-te pescadores de redada
povo simples, sincero e distraído
que entra com a boca fechada
e sai de queixo caído

caçula, fino, laurentino, magal e seo pseudônimo
três que bebem nada, dois que bebem todas por um
superagüi, água superior, menina dos olhos de posseidon
vistos do chão, céu e mar não se largam de jeito nenhum

tu, tesouro e tesoureiro, aquele pelo que vales
este, por seres como o pássaro sem pouso,
que come e dorme durante o vôo,
sabes ser vela e timão pelos sete mares

de noite tomas as frescas e vês as luas
de quarto em quarto até a nova escuridão
para, em claro, passá-la dormindo no bem bom
e quem sabe, certeza, sonhes e quiçá nele me incluas

eu que, como tu, escrevo por fora da linha
faço desta pena um cavalo para tuas visitas
nem adeuses nem até logos entre pessoas esquisitas
o que conversamos não se dissolve em cal fina.

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
participação especial: Gregório de Matos Guerra

o velho leon e natália em coyoacán

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

Paulo Leminski

cadê os chinelos

Cadê os chinelos
aquele sonho cadê
vou procurar de joelhos
assim já estou pronto
para agradecer

Domingos Pellegrini Jr

oração partida

acordei num sonho esquisito
eu mesmo era um estranho
que me falava coisas desconhecidas
e de vez em quando sumia

fiz força para decorar
aquelas tão belas palavras
não dava tempo de anotar
a metade que eu entendia

tentei voltar a dormir
como todo sonhador que se preza
mas continuei surdo às súplicas
não mereço ouvir minha própria reza

Roberto Prado


passou a geléia, general

tão velho quanto o velho testamento
foi divertido ser beatnik
ter cabeça de sputinik
na órbita de um mau elemento

em tempos de paz e amor eu tinha cabelos compridos
gostava de maconha e usava bata de monge
o mundo era meu e morava longe
assim eu pensava depois daqueles comprimidos

quando o sonho acabou fui para o estado de sítio
bichos, yogas, estrelas, sol, lua e macrobiótica
saudades de jimi joplin apertando a carótida
a horta da contracultura era meu único ofício

quando voltei eu já não era tão compreensivo
cuspi num punk, comi uma wave, entortei um metal
se não for por bem agora vai no pau
não tenho mais paciência de perder a paciência revirando arquivo

lendo jornal fiquei são de repente
matou à machadada a mãe doente
comeu a orelha do vizinho com cachaça quente
ainda se faz sucesso como antigamente

antonio thadeu wojciechowski e roberto prado


um pequeno sonho

Escolha no pequeno país uma pequena cidade
e da pequena vila seja a pequena população.
Deixe que o mundo lá fora tenha o tamanho que quiser,
desde que nele caiba Deus e todo mundo.

Multiplique os bens e abra a despensa
para que os bons parem e se desarmem.
Pela honrada humildade da casa,
eles não vão querer saber de nada
e nunca mais sairão de perto.
Nem viagens, nem mudanças, nem guerras,
nem mortos voltarão ao encontro da morte.

Deixe a ciência deste lugarejo ser a simpatia
e a roda será inventada todo dia.
Que seja saborosa a sua comida
e sua roupa muito bem vestida.
Que a felicidade doce do lar
se reflita na saúde dos costumes
e na alegria da costumeira diversão.
Os caminhos dos vizinhos são diversos
mas até aí nenhuma novidade.

Quando duas aldeias se protegem com os mesmos cães
e acordam pelos mesmo galos,
lado a lado,
as vilas vizinhas estão em paz
e todos tomam conta uns dos outros,
sem que nunca ninguém haja cruzado a fronteira.

Quem não quer a tragédia da invasão
dispensa o prazer da visita.
Mas se os corações se aproximam
Céu e Terra se unem para apartá-los.
Não para que haja a desunião
mas para que não seja possível separá-los.

Lao Tsé ( livre adaptação de Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado)

Do Rubaiyat de Omar Khayyam

Ah, vem, vivamos mais que a vida, vem,
Antes que em pó nos deponham também;
Pó sobre pó, e sob o pó, pousados,
Sem cor, sem sol, sem som, sem sonho – sem.

(tradução de Augusto de Campos)

suave mãe que nos dá a sombra

a suave mão do pai fecha as cortinas
não é fácil, pai e mãe, sonhar sozinho

na triste treva o coração ingrato
ao ledo engano pede belo pesadelo
ora pela luz de um astro estranho
e fere os olhos na noite medonha

o meu, pai e mãe, sonhar mesquinho
é não sentir mais o peso do descanso
e ainda pedir uma graça: sempre ver no escuro
palavra, cantiga, beijo, boa noite

se o mais certo é dormir sem ficar cego
não é fácil, pai e mãe, sair do sonho

roberto prado


poeminha para uma madrugada insone

bom deus, não me abandone
já contei todos os carneirinhos
separei a lã da lua em cachinhos
fiz até versinhos
para essa madrugada insone

e dormir que é bom
nem em sonho, nem em sonho

no tic tac vejo só o teu nome
eu nu em pêlo sobre teus pelinhos
mas já não tenho teus carinhos
e nem esses versinhos
vão matar a minha fome

e teu amor que é bom
só em sonho, só em sonho

Antonio Thadeu Wojciechowski

24 Comentários:

Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Du caralho, mano.
Inteligência a flor da pele.

Henriquesgoto

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Bonito e sensível, ao mesmo tempo, muito engraçado. Um painel completo.

Paula Mendes

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Tô de ressaca, mas pqp!

Rogério Souto

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

O Luiz Antonio me mandou um link do teu blog. Vim dar uma olhada,tudo que ele me disse é verdade. Maravilha, parabéns.

Helton Medeiros

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Você é foda, polaco da barreirinha. Eu adoro criticar, mas toda vez que venho aqui, só tem troço genial. Hoje você se superou.

Grande abraço

Marcelo Vianna

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Tudo bem que essas postagens são de ótimo nível, mas será que não dá pra se acrescentar algo mais nestes comentariuozinhos de merda. Porra, que bando de puxassacos.

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Puta, como tem idiota neste mundo.

BB

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Vc acrescentou o que exatamente, o bossal?

Ivan Mesquita

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns, Tadeu, continue fazendo essas pílulas de inteligência e bom humor e deixe pra lá esses palhaços que nem pôe o nome e só falam merda.

Fernando Krieger

 
Às 11 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Não vejo nada de puxa-saquismo nesses comentários. Vejo, sim, uma porção de pessoas me dando força, estímulo e querendo participar dessa maravilhosa aventura que é a poesia. E as críticas, já houveram várias, serão também benvindas, porque fazem parte do aprendizado.

Abraço a todos

PS: que bom que vc gostou, Careqa.

 
Às 12 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

...
veja só meu pesadelo
meus sonhos
são roubados
durante o sono
...

 
Às 12 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Boa, Norton!

Quando é q vc vai trazer aquelas lagostas aí de Fortaleza?
Minha água na boca ja dá pra irrigar meio nordeste.

Ab

Thadeu

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

vao tomá no cú seus filho da puta
puxa saco


Ruga

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

qualé a su8a, paspa?

Rodrigo

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

vai se fude vc tb...

Ruga

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

hshshshshh


Zeca P

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

o apelido é ruga
tão devagar que até rima
com tartaruga

rsrsrsrsr

Henriquesgoto

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

fico imaginando ... o ruga deve ser um skinhead que chora, copiosamente, de um ódio homoerótico... batendo o pé e dizendo: Vão se fude!!! Vão se fude!!!

Rodrigo

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

O texto certo é:

o ruga deve ser um skinhead que chora, copiosamente, de um ódio homoerótico, suado que está da dança entre os seus... batendo o pé e gritando aos prantos: Vão se fude!!! Vão se fude!!!


Rodrigo

 
Às 13 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

To me roendo de inveja desse Thadeu, o Rodrigo descobriu que eu sou bicha, estou deformado de tanta...

Ruga

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

quem escreveu isto não fui eu...

seu bando de babacas

Ruga

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

desisto , paspa... vc é de uma imbecilidade imparável.


Rodrigo

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Polaco,

O Blog tá D+

Rodrigo , não provoque mais o paspa, pois quanto mais vc o faz mais de Cú duro ele fica.

Paspa, chupe mané!

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Crianças, comportem-se.
O Tio Thadeu não gosta de agressões gratuitas.
Vou chamar o boitatá pra mandar vcs tomar no curupira.

 

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