polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, junho 26, 2007



A VINGANÇA DO POVÃO

Capítulo 10

O nome da guerra


“De janeiro de dois mil e sete até hoje
Mais de vinte mil mortos mostrados em close
Desfilaram nas capas e nos noticiários
De jornais e TVs desse nosso Brasil.
O país do futuro? Puta que o pariu!
Massacres e chacinas, estupros diários,
Polícia mais corrupta do mundo, juízes
Saindo pelo ladrão. Nação dos infelizes,

Terra de ninguém, Osso. Estamos por nossa
Conta, cada um por si. Tem três leis nessa joça:
Da selva, do mais forte e do cão. Entendeu?
Turista traz na mala rosários, colete
À prova de bala, patuás, mas ricochete
Não tem superstição, onde pegou, valeu.
Veja lá no distrito, não se salva um só.
Eu é que sei. Tem lei pra pobre de dar dó.

Quem tem o poderoso checão, não tem erro.
Rouba, corrompe, mata, envia flores pro enterro.
Não condeno você, Osso; pelo contrário,
Te admiro pra caramba. Você me conhece
E amigo que é amigo a gente não esquece
Nem muda de opinião. È extraordinário
Se ter um de verdade, vale para sempre.
Quem não tem, nunca vai viver completamente.”

- Que que tá pegando, hein, mano? Tá urubuzando
O verbo, bródi! Levanta, meu. Filosofando,
A morte chega antes. Morrer sem saber
O que tá acontecendo é pra jacu de teta,
Pra esses caras que têm medo de buceta
E sentam pra mijar. Jamais deve comer
Quem tem medo de cagar, diz um velho dito.
Sem essa de papagaiar meu periquito!

Tu é o Escriba, tem licença pra falá.
Tamos junto na guerra pra morrê e matá.
Desde o dia que saímos fazendo justiça,
Não lembro de vacilo nem de trairagem.
Meu olho esquerdo vê direito, não reage.
Se tá certo, tá certo e fim. Enchê lingüiça
É pra otário, playboy, filhinho de papai.
Nós tamos noutra. Nós balança mas não cai.

“Ha ha ha...Você lembra daqueles palhaços
Que encheram de porrada a Marlene dos Passos?”
- Claro, aquela diarista que por muito pouco
Não morreu de tanto apanhá da playboyzada.
“Os pais dos desgraçados, essa burguesada
Filha da puta, quase me deixaram louco.
Era um tal de prefeito, deputado, juiz
E desembargador mostrando os pedigrees

Que o nosso delegado ainda pediu desculpas
Pela prisão. Saíram sorrindo os batutas.
- É. Pensaram que tinham se dado bem, né?
Botei a tropa na rua na semana seguinte
E peguei um a um. Pais, mães, filhos, deu vinte
E um no fechar das contas. E tudo mané.
“Nem Dante imaginou inferno igual ao deles.”
- Tu e tua poética trouxa. Mandei é pau neles.

Apanharam mais que Jesus na cruz, meu Deus!
Deixei tudo pelado aqueles fariseus
E dei voz de comando pra tropa descer
O cacete bonito. Esfolemo vivo
Os cara e as granfina passemo no crivo.
“Ah ah ah ah ah...Essa eu pagava pra ver.”
- Foi muito divertido vê as madame dando
O cu pra turma toda c’os fiofó sangrando.

E depois chamei Preto Feio, rei da salsinha,
Que levou as melhores carnes pra cozinha.
Comprei paio, feijão branco, bacon, lingüiça
E costelinha defumada, da mais cara.
Muita cerveja e pinga de Salinas, cara!
Chamei as vilas todas para o forra-tripa.
Vieram mais de quinhentas pessoas, acredita?
Todo mundo comeu de estufar a barriga.

“Até hoje lá no distrito o delegado
Leva esporro do juiz, pra resolver o caso.”
- Ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah!!
Estão no meio da bosta junto com o Zeca.
“He he... isso que eu chamo de ficar na merda!”
-Bom, pelo menos, não podem nem se queixar,
Foram eles que criaram esse mundo cão.
E têm que agüentar a vingança do povão.


Fim

Antonio Thadeu Wojciechowski

37 Comentários:

Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Belo nome para uma guerra - A vingança do povão. O Apocalipse Now virou fichinha. Deveriam fazer um filme com o teu enredo. Brilhante do começo ao fim.

Beto

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Crueldade no limite máximo, mas ao mesmo tempo engraçado e lírico. Nelson Rodrigues ia adorar.

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

du caralhíssimo!!!!!!!!!!!

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns por mais esta obra, divertida e dolorida.

Abs

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Surpreendente como sempre.
Uma aula de como escrever uma história.

Rômulo da Costa

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

É mesmo surpreendente, os fiapos formaram um mozaico triste e belo da natureza humana.

Cícero Magalhâes

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Bravo!!!!!!

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Q coisa mais pavorosa, Thadeu. Credo! se o mundo ficar assim vou me mudar pra outro planeta. Vc escreve de um jeito q fica emocionante e dramático mas faltou humor.

Bj

Ana Maria

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Quem dá aula na periferia como eu entende perfeitamente o que você está falando.

Abraço

Maria Luíza

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Uma pérola da narrativa, sem dúvida. Tijolo por tijolo a construção se ergueu de forma magnífica. Uma aula para quem quer ser escritor como eu quero.
Muito obrigado.

Adriano

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Se superou, Thadeuzão.
Pago todas no próximo encontro.

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei que vc voltou à pegada da novelha Os bêbados amam demais.

Juca

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Pô, Thadeu, do cacete, velho. Você está cada dia melhor, impressionante!

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Li inteira agora. Os capítulos 1 e 2 que aparentemente estavam soltos se tornaram essenciais para a compreensão do restante, cada detalhe é importante e nenhum foi esquecido ou desdenhado. Acho você um excelente escritor, pois sabe envolver o leitor e manter sua atenção e sua tensão no nível máximo.

Beijoca

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Genial mesmo.

Felipe Souza

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Um final apocalíptico para uma grande novelha. Tinha que ser assim, outra jogada de mestre.

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vc é um monstro lindo.

Bj

BB

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Thadeu querido, parabéns por mais essa obra.Xinguei, chorei, ri, amei. Teve de tudo um pouco muito.

BJ

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Lírico, filho da puta, violento, brincalhão, dramático, musical, seu texto é o que há.

abs

Hélio

 
Às 26 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Assino embaixo de tudo que disseram, menos do que diz que faltou humor.

 
Às 27 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto.

Maurílio

 
Às 27 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

O q q vc ganha com isso?

 
Às 27 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Ainda bem que "ninguém" disse isso.

Jarbas Passarinho

 
Às 27 junho, 2007 , Blogger bertol disse...

muito bom polaco.

e pior que isso não é exagero, caso alguem esteje pensando isso.

quem morou ou mora perto das beradas da cidade sempre acaba sebando de estórias, não tão cruéis como as do osso, mas trágicas e sanguinolentas.

abraço thadeu

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei bastante, valeu.

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Não tem como não admirar sua maestria em versificar. A novela apresentou vários conflitos (de frente pra trás e de trás pra frente) e todos repletos de lirismo mesmo quando violentos.
Até a próxima.

Flávio Medeiros

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns pelas brilhantes soluções de todos os dramas. O final em aberto do Osso e do Escriba é o retrato da nossa triste e violenta realidade. Emociona e intriga a história da louca do 13 andar. Tudo mais que perfeito.

Rogério Alcântara

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Pode começar outra, por favor.

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Caberiam bem mais dois ou três capítulos, com outras aventuras do Osso e do Escriba ou que tal uma novelha sobre eles? Fica a sugestão.

Márcio Arruda

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

As razões do coração quem entenderá?

Aninha

 
Às 28 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Polaco do diabo!

 
Às 29 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

É um ser humano bem temperadinho, frito até ficar crocante, com limãozinho e uma cerveja bem gelada, deve ficar um tesão. A gente poderia começar a comer todos esses políticos filhos da puta. Pelo menos o povão ia encher a pança.

 
Às 29 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Falta pouco pro povão sair quebrando tudo.

Rita Kiss

 
Às 29 junho, 2007 , Blogger Projeto Miolo Mole disse...

adorei. beijos.

 
Às 30 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Quem gosta de ler tem que estar sempre por aqui. Porra, do caralho.

Hermes

 
Às 30 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vc montou um quebracabeças quase sem solução, porém deu a volta e fez o impossível possível.

Ari Costa

 
Às 09 julho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Li todos os capítulos hoje por indicação de um amigo. Confesso que no começo achei apelativo, mas a medida que fui lendo e entendendo pude perceber a grandeza do que tinha diante dos olhos. Uma obra prima de cabo a rabo.

Péricles Nataniam

 

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