polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, junho 05, 2007




A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 7


As sombras de um grande amor


Meu nome é Wanderlei de Souza Lima Santos,
Mas me chamam de Lima, por todos os cantos.
Só os bem mais chegados, pela alcunha Escriba.
Gosto desse apelido, tem a ver comigo,
É minha profissão, a cara do meu umbigo.
Eu sou um filho pródigo de Curitiba,
Amante dessa ecologia que faz nascer
Poetas aos borbotões, como eu deveria ser.

Os livros me fizeram cócegas no espírito
Tão cedo que acabou virando um caso clínico.
Lia dia e noite sem parar, a adolescência
Foi me encontrar raquítico e cheio de espinhas,
Repetindo sentenças, ecoando ladainhas.
Primeiro foi Olavo Bilac, que inocência!
O vate parnasiano ainda estrebuchava,
Quando me deparei com o que mais buscava.

Ah! A poesia de Augusto dos Anjos me pega,
De tal jeito, tal forma, que sua luz me cega.
Haeckel, Spencer, Darwin, Schopenhauer entram
Em meus poros e, junto com eles, o ritmo
Alucinadamente feroz e legítimo
Desse músico paraibano, a quem tentam
Reduzir a um excêntrico tuberculoso,
Pessimista maior, cantador do horroroso.

Se alguém riu como Henri Heine riu, foi ele.
Não duvidem de mim, pois eu ri através dele.
Sei que ele fez das tripas o seu coração,
Sei também que da dor e do cientificismo
Se serviu, mas não fez do amargo ceticismo
A válvula de escape, o doce da ilusão.
Não! Mastigou com fúria todas as palavras
Pra lavrar em sua alma as rimas mais raras.

“Ah, dentro de toda alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca.
Assim também observa a ciência crua,
Na elipse ignívoma da lua,
A realidade de uma esfera opaca.

Somente a arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo fogo telúrico profundo
E reduz, sem que entanto a desintegre,
À condição de uma planície alegre
A aspereza orográfica do mundo.

Provo dessa maneira ao mundo odiento,
Pela grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria!” (1)

Quantas vezes reli essas três estrofes...Eu
Perdi a conta, meu Deus! Mas ainda não nasceu
Poeta melhor no mundo. Talvez do tamanho;
Maior, não. O Leminski é outro parada
Dura, nem Maiakóvski dá pra chegada.
Aqui em Curitiba, não tem jogo ganho.
Os poetas dão no gorgomilo, vão na veia,
Então, ninguém convida pra uma santa ceia.

Do Catatau nem falo, quem quiser saber (2)
Comece agora mesmo a aprender a ler.
Mas mudou minha vida, mudei eu, mudou
O mundo e a guinada fatal foi passar
Num concurso para escrivão e indo parar
No décimo distrito, onde até hoje estou.
Meu ímpeto heróico brochou como brocha,
Diante da força d’água, a dureza da rocha.

Anos a fio passei roendo dedos e unhas,
Ouvindo réus, culpados ou não; testemunhas,
Falsas e verdadeiras, e sem fazer nada,
Mas absolutamente nada! Zero à esquerda,
Um zé ninguém, que só sabia de lucro e perda.
Um navio que se perde na canoa furada
Em que entrou de gaiato. Mas tudo tem volta.
E foi o Osso quem deu vez à minha revolta.


Fim do Capítulo 7


(1) Excerto do poema Monólogo da Sombra, de Augusto dos Anjos
(2) Livro mais polêmico de Paulo Leminski

17 Comentários:

Às 05 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

É de aplaudir de pé.

 
Às 05 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Enlouqueceu, Polaco? Porra, é dois por dia ou eu é que perdi a conta?
Muito bom mesmo. Pago a conta da próxima noitada.

Fabiano

 
Às 05 junho, 2007 , Blogger Paulo Ugolini disse...

Isso elé orgánsmoi putaquepariu7
Polacdo doiiso do caralhp
yuhuuuuuuuuuuuu

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Clap clap clap Bravo!!!!

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

O que vem por aí, meu Deus? Sensacional o clima criado. 10, Polaco.

Arthur Fialho Netto

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Vim por indicação de um amigo, estou lendo tudo. Legal que aqui é tudo sempre válido, atual. Nada se perde. Vou ler todos os capítulos mas já gostei do jeito que você escreve. Eu também escrevo, mas não tenho ainda tanta técnica. Um abraço.

Sérgio Luís

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Dukaraio!!!

César Rodrigues

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Ritmo impressionantemente musical, belíssima cadência, rimas bastante ousadas e inovadoras. As três novelhas são surpreendentes. É um grande prazer entrar em contato com um poeta de tal calibre.
Parabéns.

Moacir Ventura

 
Às 06 junho, 2007 , Blogger bertol disse...

é....

só resta falar q é do caralho!!!!

:D

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Uma jogada de mestre polaco. Vc pegou duas coisas absurdamente longe uma da outra e está fazendo uma teia digna das melhores tecedeiras. Perfeita.

Nelson Junqueira

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Concordo com a avaliação dos poetas, Antonio Thadeu. Muito bem. O Augusto merece este título.

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

10000000000000000000000000000000000é pouco. Está demais.

abração

Felipe Dutra

 
Às 06 junho, 2007 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Vai ganhar um livro de presente quem acertar que poetas são homenageados, através de citação de parte de seus versos. São dois.
Quero ver quem são os experts.

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

O que me intriga é o uso do vocabulário comum, vc não usa quase nada que não seja do cotidiano. Conta o segredo pra mim, Polaco.

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Isso é poesia pra mim.

Arnaldo Lemos

 
Às 06 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

bla bla bla...só isso.. ecom alguma técnica.


alcides vicios

 
Às 07 junho, 2007 , Anonymous Anônimo disse...

Maravilhoso.

bj

 

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