Para Renata Mele
Saboro Nossuco, quando não está pregando no deserto das idéias, pelas ruas de Curitiba, normalmente está em seu modesto templo na Barreirinha.
Lá, na companhia de pardais, tucanos, preás, pacas, sabiás, bananeiras, laranjeiras, limoeiros, figueiras, minhocas e cachorros, passa as horas em meditação. A vizinhança toda tem certeza de que ele não é bem certo, mas o acham inofensivo, então, não o incomodam. Só se afastam rapidamente quando o encontram em altos papos com bananeiras, canários ou seja lá com quem for. Mas as crianças gostam dele, porque elas ainda não esqueceram as palavras que trouxeram do céu para conversar com poetas, plantas e outros bichos. Umas dessas tardes desse verão, Saboro contava para discípulos e curiosos alguns de seus diálogos com crianças.
1.
- Oi.
Aquela coisinha de olhos azuis, cabelo loiro e cacheado, aparentemente com 4 anos, com ranho escorrendo no nariz e sorrindo pra mim, mais parecia saído de um conto de fadas. Mas fui pra conversa:
- Oi, cara de boi.
Ele ri muito e depois me olha sério:
- Cê fala com anjinho também?
- Só quando encontro um.
Ele corre em minha direção e cai.
- Eu caiu. Disse olhando para o joelho que estava meio ralado.
- O certo é “eu caí.”
- Eu também.
Saboro Nossuco
2.
- Mãe, ó, o homem que fala c’os bichos. Vamos lá falar com ele.
Diz apontando pra mim.
A mãe pega a menina pelo braço e puxa-a para dentro do quintal, rapidamente, como se tivesse visto um demônio. A menina senta numa cadeirinha e fica lá toda encolhida.
Uma borboleta, que via e ouvia tudo, pousada numa flor de maracujá, apressou-se em sua direção:
- Não fique triste.
- Por que não?
- Porque isso não tem importância.
- É mesmo?
- Claro.
- Você fica feliz se eu não ficar triste?
- Muito.
- Então tá! E saiu serelepe correndo atrás da borboleta.
Saboro Nossuco
3.
- Oi.
- Oi, cara de boi.
- O que que o passarinho te disse?
- Me disse que você não tem falado mais com ele.
- Mas ele não te disse que eu estou bem de mal com ele?
Saboro Nossuco
4.
- A fada do dente levou meu dentinho.
Ela me disse com aquele lindo vazio em meio ao seu sorriso.
- Ela deixou um dinheirinho?
- Dois reais.
- Nossa! E o que você vai fazer com todo esse dinheiro?
- Estou pensando.
- Ah, está bem.
- Dá pra comprar esse bosque?
- Falta um pouquinho.
- Então eu vou juntar no porquinho.
Saboro Nossuco
Saboro Nossuco, quando não está pregando no deserto das idéias, pelas ruas de Curitiba, normalmente está em seu modesto templo na Barreirinha.
Lá, na companhia de pardais, tucanos, preás, pacas, sabiás, bananeiras, laranjeiras, limoeiros, figueiras, minhocas e cachorros, passa as horas em meditação. A vizinhança toda tem certeza de que ele não é bem certo, mas o acham inofensivo, então, não o incomodam. Só se afastam rapidamente quando o encontram em altos papos com bananeiras, canários ou seja lá com quem for. Mas as crianças gostam dele, porque elas ainda não esqueceram as palavras que trouxeram do céu para conversar com poetas, plantas e outros bichos. Umas dessas tardes desse verão, Saboro contava para discípulos e curiosos alguns de seus diálogos com crianças.
1.
- Oi.
Aquela coisinha de olhos azuis, cabelo loiro e cacheado, aparentemente com 4 anos, com ranho escorrendo no nariz e sorrindo pra mim, mais parecia saído de um conto de fadas. Mas fui pra conversa:
- Oi, cara de boi.
Ele ri muito e depois me olha sério:
- Cê fala com anjinho também?
- Só quando encontro um.
Ele corre em minha direção e cai.
- Eu caiu. Disse olhando para o joelho que estava meio ralado.
- O certo é “eu caí.”
- Eu também.
Saboro Nossuco
2.
- Mãe, ó, o homem que fala c’os bichos. Vamos lá falar com ele.
Diz apontando pra mim.
A mãe pega a menina pelo braço e puxa-a para dentro do quintal, rapidamente, como se tivesse visto um demônio. A menina senta numa cadeirinha e fica lá toda encolhida.
Uma borboleta, que via e ouvia tudo, pousada numa flor de maracujá, apressou-se em sua direção:
- Não fique triste.
- Por que não?
- Porque isso não tem importância.
- É mesmo?
- Claro.
- Você fica feliz se eu não ficar triste?
- Muito.
- Então tá! E saiu serelepe correndo atrás da borboleta.
Saboro Nossuco
3.
- Oi.
- Oi, cara de boi.
- O que que o passarinho te disse?
- Me disse que você não tem falado mais com ele.
- Mas ele não te disse que eu estou bem de mal com ele?
Saboro Nossuco
4.
- A fada do dente levou meu dentinho.
Ela me disse com aquele lindo vazio em meio ao seu sorriso.
- Ela deixou um dinheirinho?
- Dois reais.
- Nossa! E o que você vai fazer com todo esse dinheiro?
- Estou pensando.
- Ah, está bem.
- Dá pra comprar esse bosque?
- Falta um pouquinho.
- Então eu vou juntar no porquinho.
Saboro Nossuco
7 Comentários:
Deus do Céu, que maravilha, querido amigo.
Bj
É, só você mesmo, Polaco, pra dar valor a essas coisas. Você pegou o espírito, parece papo da minha filha Lila de 4 anos. Grande abraço.
Beto
Lança essa porra desse livro logo!
Nossa Mestre! Pra mim?! Uau!!! Eu, aqui de joelhos, agradeço. Mereço? ADOREI. Beijo querido!
Feliz aniversário, Renata.
Passei os textos para as crianças aqui da escola, para interpretação. Você sabe, aqui eles tem em média 8 anos. Você precisava estar aqui para ouvir o que eles disseram. Adoraram. Se tiver mais alguns com crianças no diálogo, eu gostaria muito. Parabéns.
Maria Luíza
PUTA QUE O PARIU - com todo respeito à Dona Francelina !!!!!!!!!!
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