O que é vanguarda pra vc?
- É querer estar na frente, coisa que não me interessa. Minha opção foi fazer literatura de agregação, não de segregação, conforme conceitos famosos de Foster, acho, não me lembro mais. O exemplo mais luminoso é Ferreira Gullar, que com A Luta Corporal fez o mais radical mergulho numa linguagem experimental, para dele sair com uma linguagem clara e aparentemente simples. Como ele diz, “quem sabe, é claro”. Creio que devem florir todas as flores na cultura, até porque a característica mais distintiva do ser humano é a diversidade, mas vanguardas não me atraem, me chateiam, me dão tédio e sono, até por parecerem muito semelhantes nas suas pretensões de chocar, de inusitar, de se isolar, de criar linguagens cifradas para poucos. Falar para muitos, com dignidade e emoção ou graça (no melhor sentido), é muito mais difícil. Paulo Coelho, por exemplo, não vejo com restrições, não faz uma literatura má, ao contrário, é uma literatura boa, embora artisticamente não seja uma ótima literatura. Mas as pessoas que lêem Paulo Coelho não procuram arte, e sim espiritualidade, dicas de vida, visão de mundo. Se eu tivesse de escolher um livro para ir a uma ilha deserta, não escolheria nenhum de Paulo Coelho, nem de qualquer vanguardista. Levaria uma enciclopédia bem grossa, para ter papel para acender fogo e outros usos por muito tempo.
A poesia concreta tem uma forte militância em todos os setores de comunicação e educação, como vc vê esse movimento e quais os principais serviços e desserviços que ela prestou à poesia brasileira?
- A pergunta já traz a resposta. A poesia concreta apenas revelou técnicas de concisão sintática e expressão gráfica/visual-etc (a fenomenologia verbi-voco-visual, conforme a empombação teórica dos Campos), mas não tem visão de mundo, não tem ética, não tem nada a não ser expressão, que, quando a nada se dirige, acaba como na tradução que eles fizeram de Shakespeare: “um discurso tonto contado por um idiota signi / ficando nada”. No entanto, é importantíssima a contribuição dessa exercitação teórica e lúdica, para a publicidade, e para incrementação expressiva da poesia etc. Mas ser canonicamente concretista, limitar-se ao concretismo, é aprisionar a expressão, a visão e o coração. A partícula “que”, por exemplo, que é um símbolo de narração como & é símbolo de empresas e contabilidade, é abominada pela poesia concretistas, mas, na minha poesia, tem função vital. Uso o “que” com – significativa ironia – concretude, significando assumir que a poesia não é só verbo, é visão, é coração, pode ter também pulso narrativo, embora em tons e freqüências diferentes da prosa. Pela mesma razão, faço sonetos, não vejo as formas fixas como formas mortas, ao contrário de muitas vanguardas, que rejeitam as formas fixas (e a métrica, e as rimas, e o ritmo) e fazem uma poesia já morta ao nascer.
Vc tem um site (www.sitioterravermelha.com.br) onde diariamente posta poemas, mensagens, músicas. Como vc se utiliza das novas ferramentas e que importância vê nelas?
- Vejo como mais um meio de expressão, como é o jornalismo, as palestras, os livros. É também um forma de exercício, de avaliação, de socialização e de cidadania. Hoje a imprensa não pode mais se dar ao luxo de ter a última palavra sobre nenhum assunto, como todo veículo de comunicação e jornalista adoram fazer. A última palavra será sempre dos blogs, e nem será última, mas últimas, em série infinita. A Ruth Bolognese, por exemplo, não pode mais alfinetar alguém e achar que ficará por isso mesmo, que, mesmo que a pessoa responda, ela poderá manipular a resposta e ainda dar uma última estocada. Não: a pessoa pode dizer o que quiser no seu blog e a Ruth tem que engolir na íntegra.
- É querer estar na frente, coisa que não me interessa. Minha opção foi fazer literatura de agregação, não de segregação, conforme conceitos famosos de Foster, acho, não me lembro mais. O exemplo mais luminoso é Ferreira Gullar, que com A Luta Corporal fez o mais radical mergulho numa linguagem experimental, para dele sair com uma linguagem clara e aparentemente simples. Como ele diz, “quem sabe, é claro”. Creio que devem florir todas as flores na cultura, até porque a característica mais distintiva do ser humano é a diversidade, mas vanguardas não me atraem, me chateiam, me dão tédio e sono, até por parecerem muito semelhantes nas suas pretensões de chocar, de inusitar, de se isolar, de criar linguagens cifradas para poucos. Falar para muitos, com dignidade e emoção ou graça (no melhor sentido), é muito mais difícil. Paulo Coelho, por exemplo, não vejo com restrições, não faz uma literatura má, ao contrário, é uma literatura boa, embora artisticamente não seja uma ótima literatura. Mas as pessoas que lêem Paulo Coelho não procuram arte, e sim espiritualidade, dicas de vida, visão de mundo. Se eu tivesse de escolher um livro para ir a uma ilha deserta, não escolheria nenhum de Paulo Coelho, nem de qualquer vanguardista. Levaria uma enciclopédia bem grossa, para ter papel para acender fogo e outros usos por muito tempo.
A poesia concreta tem uma forte militância em todos os setores de comunicação e educação, como vc vê esse movimento e quais os principais serviços e desserviços que ela prestou à poesia brasileira?
- A pergunta já traz a resposta. A poesia concreta apenas revelou técnicas de concisão sintática e expressão gráfica/visual-etc (a fenomenologia verbi-voco-visual, conforme a empombação teórica dos Campos), mas não tem visão de mundo, não tem ética, não tem nada a não ser expressão, que, quando a nada se dirige, acaba como na tradução que eles fizeram de Shakespeare: “um discurso tonto contado por um idiota signi / ficando nada”. No entanto, é importantíssima a contribuição dessa exercitação teórica e lúdica, para a publicidade, e para incrementação expressiva da poesia etc. Mas ser canonicamente concretista, limitar-se ao concretismo, é aprisionar a expressão, a visão e o coração. A partícula “que”, por exemplo, que é um símbolo de narração como & é símbolo de empresas e contabilidade, é abominada pela poesia concretistas, mas, na minha poesia, tem função vital. Uso o “que” com – significativa ironia – concretude, significando assumir que a poesia não é só verbo, é visão, é coração, pode ter também pulso narrativo, embora em tons e freqüências diferentes da prosa. Pela mesma razão, faço sonetos, não vejo as formas fixas como formas mortas, ao contrário de muitas vanguardas, que rejeitam as formas fixas (e a métrica, e as rimas, e o ritmo) e fazem uma poesia já morta ao nascer.
Vc tem um site (www.sitioterravermelha.com.br) onde diariamente posta poemas, mensagens, músicas. Como vc se utiliza das novas ferramentas e que importância vê nelas?
- Vejo como mais um meio de expressão, como é o jornalismo, as palestras, os livros. É também um forma de exercício, de avaliação, de socialização e de cidadania. Hoje a imprensa não pode mais se dar ao luxo de ter a última palavra sobre nenhum assunto, como todo veículo de comunicação e jornalista adoram fazer. A última palavra será sempre dos blogs, e nem será última, mas últimas, em série infinita. A Ruth Bolognese, por exemplo, não pode mais alfinetar alguém e achar que ficará por isso mesmo, que, mesmo que a pessoa responda, ela poderá manipular a resposta e ainda dar uma última estocada. Não: a pessoa pode dizer o que quiser no seu blog e a Ruth tem que engolir na íntegra.
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