polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, novembro 03, 2005


O Marcos Prado e você fizeram muitas pérolas que até hoje são cantadas em prosa e verso. Como vocês se encontraram ? O que significou para você ?

Meu encontro com Marcos e com você foi uma das coisas que mais me marcaram na vida. Eu e o Renato Incesto estávamos indo pela primeira vez para a Ilha do Mel, lá pelos idos de 1980, e chegamos à noite em Pontal do Sul. Como só podíamos atravessar para a Ilha durante o dia, acampamos na praia e ficamos tocando violão à luz de uma fogueira. Eis que surgem dois personagens na escuridão, que ficaram falando um monte de barbaridades, alugações, poemas e canções. Do mesmo jeito que vieram, foram, e só fomos conhece-los, às claras, alguns dias depois na Praia das Encantadas. Marcos chegou para mim e disse: “Prazer, Marcos Prado, sou poeta”. A partir daí foram muitos e muitos anos de risadas, sacanagens e até mesmo poesias.


Você é mais um de Curitiba que está em São Paulo. Como vive um coração curitibano em SP?

Muito bem, graças a Deus. Desde meus 18 anos, sempre dava um jeito de passar uns dias em São Paulo, de 6 em 6 meses. Virou, mudou, mexeu, e já estou morando aqui desde 1998. Minha mulher e meus filhos não queriam vir pra cá nem a pau: imagine, mudar de Curitiba para São Paulo, só você mesmo. Pergunte se eles querem sair daqui hoje. Curitibanos talentosos, não tenham medo, tenham culhões, vocês vão sofrer pra caralho no início, mas a BR116 é o único caminho.

Você se relaciona com algum artista paranaense que está morando em Sampa ?

Deus me livre. O único que vejo, de quando em muito, é o Edílson Del Grossi, que mora em cima de um bar, cercado de traficantes.

Você, com alguns parceiros, tem vários livros prontos, quais são os projetos e para quando estão previstos novos lançamentos ?

Tenho livro pronto pra mais de metro. Se conseguisse lançar um por ano, não precisaria escrever mais nada até a década de 10. Parece que o próximo lançamento vai ser o “Nada Temos a Perder”, em parceria com esse repórter impertinente, no mês de agosto de deus.

Você prefere escrever letras ou poemas ? Por quê ?

Para mim dá tudo no mesmo. Praticamente todos os meus sucessos foram poemas musicados posteriormente, ou seja, letras em potencial.

De fora fica mais fácil enxergar claramente. Como você analisa o ambiente cultural em Curitiba ?

O ambiente cultural em Curitiba é claramente diferenciado, conseqüência do caldo cultural da cidade. Aonde, no Brasil, você ouve um pinguço de bar de bairro recitar um poema de Shakespeare ?

O que falta para os nossos artistas serem reconhecidos nacionalmente ? Ou isso é conversa provinciana ?

O que sobra, visivelmente, nos artistas curitibanos, é o talento, cultura, erudição. Falta sentido de localização: não pense que um produtor cultural de São Paulo vai ficar atrás de talentos curitibanos; ele tem uma oferta muito grande de mão-de-obra de todo o país e de outros lugares do mundo. O grande exemplo a ser seguido é o da Sutil Companhia de Teatro, que tem um pé de criação em Curitiba e outro pé de exibição em São Paulo e Rio, e agora, Europa. Fora disso, esqueça: se falta coragem pra enfrentar a megalópole, não fiquem bancando os injustiçados pela indústria cultural.

Você pensa em voltar definitavamente para Curitiba?

Penso, penso, depois dispenso.

Você é um dos maiores devoradores de livro que eu conheço. Quem você mais curte ?

Leio muito, desde criança, mas o texto que mudou meus padrões de leitura, em plena adolescência, foi o conto “Cemitério dos Elefantes”, de Dalton Trevisan. Eu morava em Brasília, à época, e comecei a entender Curitiba, que eu tinha deixado há 10 anos antes, através de tudo que pude conhecer do Vampiro. Quanto aos poetas: Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Leminski e Augusto de Campos.

E na música ?

Eis o roteiro histórico dos músicos que me emocionaram desde os 15 anos de idade: Nat King Kole, Beatles, Caetano Veloso, Led Zeppelin, Sex Pistols, Clash, Racionais MC e acho que já está bom.

O que está acontecendo no mundo e como você vê o futuro das artes ?

Recentemente descobri que nasci quase na mesma data do Marcos Valério. Por uma questão de poucos dias eu poderia estar hoje na maior encrenca da minha vida. Quanto ao futuro das artes, acho que está decaindo bastante o nível das perguntas desta nossa entrevista.

O que mais te marcou na vida ?

A facada que meu amigo Black levou, ao meu lado, numa treta no bar Volts, em nossos tempos punks.

Qual foi a coisa mais engraçada que te aconteceu ?

Foi a primeira vez que transei, mas essa eu não conto nem a pau.

3 Comentários:

Às 03 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Esse cara é gênio. As letras do Beijo são o máximo.

Grande abraço

Augusto Ribeiro

 
Às 03 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Boas perguntas, boas respostas, ótima entrevista. Sincera e verdadeira.

Júlio Okada

 
Às 04 novembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Sérgio Viralobos foi responsável por algumas das melhores coisas que já passaram diante da bicicleta dos meus óculos.

O cara é foda, bicho. Não é fácil manter essa qualidade, esse vigor e essa beleza de texto por, pelo menos (que eu testeminhei)23 anos.

Quero mais. Mas isso não é querer demais?

Roberto Prado, fã de camiseta, botton e carteirinha

 

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