Miséria
A globalização determina: “quem não é um técnico altamente preparado, do tipo mão-de-obra qualificada, nascido num país equilibrado e com um tantinho de sorte, é melhor pedir pra morrer”. De fome, doença, stress, depressão ou, simplesmente, amanhecer com a boca cheia de formiga, vítima de qualquer um desses grupos de extermínio que existem, às escâncaras, chacinando por aí. Uma lei da física, que é fora-da-lei se aplicada na moral e na ética, acoberta a cobiça da falsa internacionalização: matéria atrai matéria na razão direta das massas. Grandes empresas incorporam as médias que já haviam incorporado as pequenas, formando mega-hiper-super-tubarões de porte e capital tão incalculáveis que beiram a fantasia e a abstração. Calculem então o número progressivo de desempregados vendendo coxinha, amendoim, cachorro-quente e contrabando por este mundão afora. Ou, como na Europa, receber um cala-boca na forma de salário desemprego e passar o resto da vida no escurinho de uma discoteca tomando ectasy, rebolando ao som da repetitiva e marcial batida da dancing music, da plena luz do dia até altas madrugadas. A lei do cão vale também para cartéis, máfias, exércitos mercenários, racistas, quadrilhas políticas, pornografistas e fanatismos em geral, que também vão se unindo em organizações universais. Na idade média os burgos já eram verdadeiras fortalezas, tentando deixar a pobreza e os problemas do lado de fora, imagine então o que será a idade mídia que vem por aí. Se te pegam, não vai dar pra saber nem de onde vem quanto mais quem está batendo: à noite todas as griffes são pardas. Escritores de ficção, diretores de cinema, pintores, sociólogos e historiadores já alertavam para o perigo do inferno se instaurar definitivamente entre nós. Ou seja, uma sociedade composta de pequenas tribos que vão trazer de volta a alegria do combate, a felicidade de se morrer na guerra, a glória de se deixar este mundo pela redenção dos irmãos e mais chegados. E olha que a miséria econômica é, na verdade, a menor das que maculam a Terra. Se comparada com a desgraceira das misérias intelectual, moral, ética, cultural, a miséria material é pouca bobagem. Nós, poetas, miseráveis por tradição, estamos irmanados com os que morrem pela falta e estupefatos com os que estrebucham pelo excesso. E pensar que esses pobres diabos um dia reinarão. Falando nisso: toda a ganância será castigada. Como? O tempo, senhor da razão, há de alumiar a escuridão que momentaneamente parece cegar e fazer misérias com todo mundo.
do Livro dos Contrários
o rico recebeu o pobre em seu palácio
lhe deu um tratamento digno de rei
“o que você quer de mim, palhaço?”
disse o pobre, e o rico: ainda não sei
o pobre ficou puto da cara e, mudo,
ouviu que o rico era o seu favor e queria
aumentar o que já tinha e dividir tudo
menos o que pra ele mais valia
o silêncio tomou conta da conversa
e ele mesmo passou a ser o assunto
o pobre quer ser rico e não confessa
o rico ser ralé por um segundo
Marcos Prado
roteiro para um pedinte mais incisivo
me jogue uma grana na mão
te pago quando seqüestrar o avião
eu já agüentei o mais que pude
é duro manter a fama de Robin Wood
tudo o que eu preciso é de uma força
torça por mim antes que eu te torça
morra com a grana aqui e agora
pra não morrer com ela depois lá fora
ser bonzinho foi o meu grande mal
quero a primeira página de jornal
o inferno só vive de cara esperto
meta a mão devagar e no bolso certo
muito cuidado ou viro bicho já
daí não quero nem estar onde você está
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
miserê
Nas favelas que existem nas cidades
se disputa comida com os urubus.
Difteria, raquitismo, verminose,
lá o verme bebe, come e dorme.
Pro capeta em pessoa é overdose:
epilepsia, dentes podres e fedor.
A vida dessas criança é um aparelho
só passa filmes de ódio e terror.
Não é mole ser feio, fraco e pobre,
acabar numa delegacia de menores
sem canivete, soco inglês e/ou revólver.
Eles mereciam dias melhores,
mas não é isso que resolve
o juizado de menores.
Antonio Thadeu Wojciechowski, Marcos Prado e Roberto Prado (Beco)
acabou-se tudo
baby, o gás acabou
baby, cortaram a luz
baby, cortaram a água
vamos pedir pra Jesus
baby, pule a cerca
baby, costure pra fora
baby, rode a bolsinha
enquanto eu peço esmola
baby, pegue quatro tijolos
e a grelha do fogão
vamos fazer um miojo-lámen
e pro nenê um pirão
Marcos Prado e Márcio Goedert (Cobaia)
vai querer o quê?
A globalização determina: “quem não é um técnico altamente preparado, do tipo mão-de-obra qualificada, nascido num país equilibrado e com um tantinho de sorte, é melhor pedir pra morrer”. De fome, doença, stress, depressão ou, simplesmente, amanhecer com a boca cheia de formiga, vítima de qualquer um desses grupos de extermínio que existem, às escâncaras, chacinando por aí. Uma lei da física, que é fora-da-lei se aplicada na moral e na ética, acoberta a cobiça da falsa internacionalização: matéria atrai matéria na razão direta das massas. Grandes empresas incorporam as médias que já haviam incorporado as pequenas, formando mega-hiper-super-tubarões de porte e capital tão incalculáveis que beiram a fantasia e a abstração. Calculem então o número progressivo de desempregados vendendo coxinha, amendoim, cachorro-quente e contrabando por este mundão afora. Ou, como na Europa, receber um cala-boca na forma de salário desemprego e passar o resto da vida no escurinho de uma discoteca tomando ectasy, rebolando ao som da repetitiva e marcial batida da dancing music, da plena luz do dia até altas madrugadas. A lei do cão vale também para cartéis, máfias, exércitos mercenários, racistas, quadrilhas políticas, pornografistas e fanatismos em geral, que também vão se unindo em organizações universais. Na idade média os burgos já eram verdadeiras fortalezas, tentando deixar a pobreza e os problemas do lado de fora, imagine então o que será a idade mídia que vem por aí. Se te pegam, não vai dar pra saber nem de onde vem quanto mais quem está batendo: à noite todas as griffes são pardas. Escritores de ficção, diretores de cinema, pintores, sociólogos e historiadores já alertavam para o perigo do inferno se instaurar definitivamente entre nós. Ou seja, uma sociedade composta de pequenas tribos que vão trazer de volta a alegria do combate, a felicidade de se morrer na guerra, a glória de se deixar este mundo pela redenção dos irmãos e mais chegados. E olha que a miséria econômica é, na verdade, a menor das que maculam a Terra. Se comparada com a desgraceira das misérias intelectual, moral, ética, cultural, a miséria material é pouca bobagem. Nós, poetas, miseráveis por tradição, estamos irmanados com os que morrem pela falta e estupefatos com os que estrebucham pelo excesso. E pensar que esses pobres diabos um dia reinarão. Falando nisso: toda a ganância será castigada. Como? O tempo, senhor da razão, há de alumiar a escuridão que momentaneamente parece cegar e fazer misérias com todo mundo.
do Livro dos Contrários
o rico recebeu o pobre em seu palácio
lhe deu um tratamento digno de rei
“o que você quer de mim, palhaço?”
disse o pobre, e o rico: ainda não sei
o pobre ficou puto da cara e, mudo,
ouviu que o rico era o seu favor e queria
aumentar o que já tinha e dividir tudo
menos o que pra ele mais valia
o silêncio tomou conta da conversa
e ele mesmo passou a ser o assunto
o pobre quer ser rico e não confessa
o rico ser ralé por um segundo
Marcos Prado
roteiro para um pedinte mais incisivo
me jogue uma grana na mão
te pago quando seqüestrar o avião
eu já agüentei o mais que pude
é duro manter a fama de Robin Wood
tudo o que eu preciso é de uma força
torça por mim antes que eu te torça
morra com a grana aqui e agora
pra não morrer com ela depois lá fora
ser bonzinho foi o meu grande mal
quero a primeira página de jornal
o inferno só vive de cara esperto
meta a mão devagar e no bolso certo
muito cuidado ou viro bicho já
daí não quero nem estar onde você está
Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
miserê
Nas favelas que existem nas cidades
se disputa comida com os urubus.
Difteria, raquitismo, verminose,
lá o verme bebe, come e dorme.
Pro capeta em pessoa é overdose:
epilepsia, dentes podres e fedor.
A vida dessas criança é um aparelho
só passa filmes de ódio e terror.
Não é mole ser feio, fraco e pobre,
acabar numa delegacia de menores
sem canivete, soco inglês e/ou revólver.
Eles mereciam dias melhores,
mas não é isso que resolve
o juizado de menores.
Antonio Thadeu Wojciechowski, Marcos Prado e Roberto Prado (Beco)
acabou-se tudo
baby, o gás acabou
baby, cortaram a luz
baby, cortaram a água
vamos pedir pra Jesus
baby, pule a cerca
baby, costure pra fora
baby, rode a bolsinha
enquanto eu peço esmola
baby, pegue quatro tijolos
e a grelha do fogão
vamos fazer um miojo-lámen
e pro nenê um pirão
Marcos Prado e Márcio Goedert (Cobaia)
vai querer o quê?
pobreza na velocidade máxima
não dá para acelerar mais
agora já preciso de óculos
não consigo enxergar quais
pra onde vai o brasil ?
cisco no olho
ou torpedo no céu de anil ?
miséria na velocidade mínima
será que não vai parar mais ?
agora já preciso de músculos
não consigo segurar tais
pra onde vai o brasil ?
cisco no olho
ou torpedo no céu de anil
(thadeu, marcos, walmor e beco)
policiais em tiras
muita violência pra pouco assassinato
pouco fubarim pra muito rato
a inflação roeu o dinheiro do assalto
AR 15, UZI, 44, granadas de mão
sequestro seguido de resgate nunca menos de um milhão
só o suficiente pra caber no camburão
(thadeu, marcos prado e cobaia)
a vingança do povão
tenho fome
da carne que não comi
pena
dos ossos que roí
rato assado
você acha bão
rato assado
você acha bão
sabe o que é cheirar lingüiça
e ter que lamber sabão
(thadeu, cobaia, edilson, edson, marcos prado e bira)
chão de brasas
“Eu só via frango a passarinho”
Retamozzo
comido o pastel de brisa
sonho pela barriga
o vídeo da última comida
não há piquenique sem formiga
salva de sal grosso
nas partes do elefante
acordo para o almoço:
espetinho sem carne
antonio thadeu wojciechowski, marcos prado, roberto prado e sérgio viralobos
7 Comentários:
Cheguei a conclusão que sou muito miserável.
Júlio Okada
linka eu aí rts rs rs rs
http://www.chfbinconcert.blogger.com.br
cláudio
É isso aí, bicho. E não dá outra.
Mas não faltou o Trindade naquela do "sabe o que é cheirar lingüiça"?
Abração
Beco
Não faltou não, Beco. Tá tudo certo.
Abraço
Thadeu
Miséria pouca não é bobagem. Toda miséria é digna de pena, de amor e solidariedade.
Maria Luíza
Falou e disse, Maria Luíza.
Grande abraço
Thadeu
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