polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Quem quer dinheiro?

Dinheiro

Ó Senhor, por que me fizeste belo, forte e justo
em vez de rico e poderoso?

( Pedro Prado )

Nem Jesus deixou de fazer comentários sobre. A parábola dos talentos é o que há. Judas por 30 dinheiros vendeu a mãe e entregou Jesus. O dinheiro deveria ser só o pão nosso de cada dia, mas ai de nós! Fraticídio por herança, o desfalque do traidor, o estelionato nato, o tráfico no sangue, a falsificação da verdadeira prostituição, o assalto mortal, o viver da profanação de túmulo, a cova onde se enterram os caçadores do tesouro de tolo. Tudo por dinheiro. O engraçado é que um mané rouba uma caixa de bolacha Maria, um litro de cinzano e meio cacho de banana podre pra dar de comer aos barrigudinhos e puxa uma cana braba, no entanto, inexplicavelmente somem 40 bilhões de dólares num dia no movimento das bolsas e não tem ninguém pra prender. No mundo, podres de rico tentam evitar que pobres de dar dó venham passar a flanela imunda no parabrisa limpo. A classe média só está em alta nos países baixos. No Brasil, ela só serve para servir o governo. Nós, poetas e leitores, obviamente, estamos sem nenhum tostão. E se ninguém o tem, onde ele estará? Existe dinheiro no além? Em marte também?

A Bolsa ou a Vida?

Todo dinheiro do mundo, em 1929,
cabia na caderneta de poupança do Bill Gates.
Hoje, 68 anos depois, é proibido proibir o capital.
Ninguém está a salvo de um ataque especulativo,
principalmente, quem é mais passivo do que ativo.
A Rússia já está em total petição de miséria,
os EUA, ao contrário, continuam mandando na Terra.
O terremoto de Hong Kong solapa a Bolsa de Tókio.
A Europa, caquética, se finge de morta para não morrer.
Os Tigres Asiáticos são presas fáceis para os fundos de pensão.
George Soros sozinho quebrou a banca da Inglaterra inteira.
O Brasil era de outro planeta mas, desta vez, não.
Pelo menos é o que prevê a História da Inteligência Brasileira.

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos.



Trecho do livro Fausto, quando Mefistófeles
inventa o papel moeda, cujo lastro era um pseudo tesouro que estaria enterrado no subsolo do império.


Primeiro-Ministro

Eu não podia morrer sem essa !
Vou ler o papel que fez do mal bom à beça:
“O Imperador assina embaixo do valor de 1.000 pratas
garantidas pelo seu incomensurável tesouro enterrado.
Todas as medidas cabíveis já foram totalmente tomadas
pra que cada níquel desencavado pague esse papel por mim avalizado.”


Imperador

Essa eu não vou engolir ! Falsificaram minha assinatura ?
Já colocaram os velhacos a ferros ?


Presidente do Banco Central

V. Excia. esquece o jamegão que despachou numa gravura ?
Estávamos todos na piscina do Baile do Havaí submersos,
o Primeiro-Ministro, de sunga, vos disse “basta uma penada
pra alegrar os foliões”. Então esse bilhete
se multiplicou industrialmente na Casa da Moeda.
Fizemos séries de 1, 5, 10, 50, 100, 1000 cada
e caiu com tanto gosto no meio do povo inadimplente
que o vosso nome idolatrado nunca esteve tão bem na goela
da patuléia. O alfabeto ganhou mais uma letra
no formato da impressão digital de vosso polegar direito.


Imperador

Jura que todo mundo aceita esses impressos sem reserva ?
Dou a régia mão à palmatória em estado de choque monetário.


Mefistófeles

Podemos aposentar a algibeira e rechear a carteira.
Melhor que carta de amor, só nota no meio dos peitos.
Perdoai a expressão chula mas as ações do Reino estavam em queda.
As pesquisas apontam o fim do tráfico e do câmbio usurário.
Está todo mundo de barriga cheia e roupa nova.
Perdoai-me novamente, esses detalhes rebaixam sua obra,
mas fiquei apaixonado por esses papeizinhos engenhosos.
Quereis metal ? O cambista está aí pra isso mesmo.
Não há metal ? Tudo bem, daqui a pouco vamos cavá-lo.
Quem quer outra vida ? Riqueza é coisa que nunca estrova.

Goethe, em livre adaptação de Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos.

cartão de natal american express

pendurei meu emprego no caribe
fugi com a filha menor do banqueiro
mulher e filhos, fodam-se
a partir de hoje eu vou me dar bem
quero uma amante como aquelas
mexicanas de novela
vou transformar meu iate
numa boate
e o meu camarote numa suíte do sexo
todo mundo pelada
é hoje
comê bem
bebê bem
já encomendei metade das lagostas do planeta
e o troco em caviar do bom

sobre as champanhes, sou o dono da importadora
com nome falso é claro
porque se não o advogado da, a partir deste momento,
ex-mulher, me fode

coleciono cadilacs rolls royces
mercedes bmws
e nem sei dirigir
porque, graças a deus,
sempre tive alguém para fazer isso por mim
o papai aqui viaja a jato pelo céu
levando um natal de felicidades

Marcos Prado e Edson de Vulcanis

Soneto da Contemplação das Coisas do Mundo.

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Gregório de Matos.
( 1633 -1696)

BRISA, SOMBRA & ÁGUA FRESCA

1. brisa

como um salário de fome
para o cabeça de vento
vem o sopro da primavera
e neste vale tudo de lágrimas
soletra o seu nome
para que eu viva de brisa

2. sombra

amor & cabana
sonho boboca
vida bacana

3. água fresca

Andam depositando dinheiro
em minha conta.
Ouço gente me chamando
de meu louro.
Alguém tem extraído
os meus fracassos das mentes.
E depois de me guiar
(e distrair com pensamentos bons)
ainda me dita o seu próprio louvor,
esse santo anjo do senhor.

Roberto Prado
***
Texto 13 do livro 234.

Ao ver o pacote de bala azedinha na mão da mulher:
- Assim não há dinheiro que chegue.
E um pontapé na traseira do piá de três aninhos.

Texto 4 do livro Ah, é?

- Você anda de romance com outro.
- Vou me encontrar com um homem. E daí?
- Cuidado, menina.
- Já não presta na cama. Você não é de nada?
- E quem paga o teu dentinho de ouro?

Dalton Trevisan

sou um sujeito sortudo
nasceu dinheiro
no meu pé de pinheiro

Solda


fraldões vaidosos

era um simples mortal
agora sou acadêmico
de estilo radical
hoje meio anêmico
minha farda é meu fardão
meu fraldão é minha farda
meu paletó de madeira
quinta-feira bolinho e dinheiro pro taxi
o enterro é grátis

Antonio Thadeu Wojciechowski, Édson de Vulcanis, Rodrigo Barros e Trindade


a vingança do povão

tenho fome
da carne que não comi
pena
dos ossos que roí

rato assado
você acha bão?
sabe o que é cheirar lingüiça
e ter que lamber sabão?


Antonio Thadeu Wojciechowski, Edílson del Grossi, Édson de Vulcanis, Márcio Goeder e Marcos Prado e Ubiratan Gonçalves de Oliveira


bíblia angelical

um paquiderme serpenteia por aí
rinoceronteando inverdades
por que o helicóptero não tem vida?
por ser uma libélula mecânica

sapiente estava o búfalo bill gates
no topo da cadeia alimentar
alguns bilhões de dólares a mais
salvavam a humanidade, nós e os animais

Antonio Thadeu Wojciechowski, Edílson del Grossi, Luiz Antonio Ferreira, Magoo,
Rodrigo Barros, Walmor Góes


chapéu sem cabeça


tenho calos nas mãos de tanto pedir
o dinheiro sempre me esfola
no frio, não tenho nem sonhos
para me cobrir

a fome me come
e ainda pensam que estou fingindo
cheirado de cola
que pra bebida estou pedindo

sou digno de ser mendigo
eu não encaro como profissão
até nem é tão divertido
melhor ter nascido cão


Antonio Thadeu Wojciechowski, Edílson del Grossi, Édson de Vulcanis, Márcio Goeder e Marcos Prado


saudades do papai-mamãe

por falta de pijama
dormi de baby-doll
a polução noturna
me veio ao nascer do sol
entra adentro minha turma
fazendo arruaça na cama

pedi vodka, veio sexo
ainda não sei se gozei
ou tive um ataque epilético

por trinta dinheiros
comprei uma forca nova
quanto vai ser o lucro
dos gigolôs da minha cova?

Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos

carta a joy


houve um tempo em que eu me amava
e não era correspondido
agora estou mesmo melhor pra mim
e muito pior pra você
que só pensa nas bananas
que comprou com o dinheiro maldito
que traz a tragédia para as pessoas podres
o apartamento que vai comprar
as bananas que você já comprou
hoje, diferente, junto com os podres, isso não!
a sua chance de decidir foi de cinco dias
e você escolheu isabel, bem, ela já viveu com seu pai
está acostumada a separações, é uma grande putana
assim como são todos os podres
esse dinheiro maldito comprou uma banana
e nos levou a uma tragédia
o suicida que fui matou outro no meu lugar

Antonio Thadeu Wojciechowski, Sérgio Viralobos e Sebastião Raimundo de Faria


lavabo pro porco cerebral

para o porco puro de coração
vale a lavagem da alma
para um porco nojento cachaço capadão
o importante é a lavagem cerebral
o porco político brasileiro
só da valor à lavagem do dinheiro
lavabo pro porco cerebral
vazo minhas tripas e mostro o pau

Antonio Thadeu Wojciechowski, Sérgio Viralobos e Ubiratan Gonçalves de Oliveira

11 Comentários:

Às 14 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Hoje, graças ao Ruga, pude corrigir a tempo, uma postagem equivocada. Valeu, Ruga.

Abraço

Thadeu

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Eu quero, eu quero!!!!!

BB

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Estamos de volta, Prof. Thadeu! Que tal uma nova palestra para março?

Maria Luíza

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

É para refletir. Confesso que levei um soco na barriga.

Henriquesgoto

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Oi, Thadeu. Voltamos ao trabalho e já comentamos seu blog hoje aqui. O pessoal gostou muito, aliás, como sempre. Abração.

Julio Okada

PS: Não se esqueça de me enviar o poema do Yeats.

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Só podia ser coisa do diabo mesmo essa porra de dinheiro. Muito boa a tradução do Fausto. Tem ela inteira em livro?

Santo

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Mestre, é de tirar o chapéu. A Bolsa ou a Vida é um dos melhores poemas que já ali aqui.

Renato

 
Às 14 fevereiro, 2006 , Blogger polacodabarreirinha disse...

Ô, Santo, tudo bem com vc? Finalmente apareceu, hein? Tem a primeira parte publicada, com o título Um Fausto. A tradução completa deve sair com o título Um Fausto Dois, mas, apesar de pronto, ainda não tem data pra publicar. Estou num momento financeiro muito ruim.

Grande abraço

Thadeu

 
Às 15 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Poucas vezes na vida li algo tão perfeitamente coerente. Apesar de cruel, o painel foi montado com graça, bom humor e inteligência. Até o apelo à fala popular encaixou-se dignamente. Comecei a ler seu blog ontem, mas não imaginava que pudesse existir algo assim em meio a este nihilismo que assalta os blogs e sites. Meus parabéns, sinceros e sadiamente espantados.

Hélio de Alencar

 
Às 15 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Sou demais

Ruga

P.S. Vaum si Fudê

 
Às 15 fevereiro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

o verdadeiro paraíso fiscal é
aqui e ninguém nota

édson de vulcanis

 

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