polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

segunda-feira, dezembro 04, 2006





Capítulo 9

Entre o Céu e a Terra


Algo aconteceu comigo, tenho certeza,
Por duas janelas abertas, eu enxergava
Meu corpo fumando, bebendo e sobre a mesa,
Velas, pratos, santos, flores. Onde eu estava?

Por que não ouvia absolutamente nada?
Morri, só pode ser isso. Bati co’as dez.
Fui assassinado, virei alma penada
E agora estou vagando entre os infiéis!

Claro, é isso! O que estou vendo é meu espírito,
Eu estou preso em algum lugar entre o Céu
E a Terra. E, por alguma graça de Cristo,
As janelas unem a sala ao Beleléu.

Ou então agora como câmera reencarnei.
Mas que raios de câmera é esta com duas lentes?
Um binóculo!? É mesmo!! Será? Ou serei...
Uma energia que se move entre duas correntes,

Anjos versus demônios? Eu mesmo sou Deus,
Então! Claro, sempre me achei especial,
Diferente, um cara bom, justo com os meus
Amigos, inteligente, diria genial,

Mas descubro agora que sou um Deus modesto.
Sim, tudo no momento faz sentido. Tudo!
Bom, nem tudo, para ser um Deus bem honesto,
Há detalhes que ainda me deixam confuso.

E, que eu saiba, Deus não tem dúvida nenhuma.
Sim, mas faz cinco minutos que eu me toquei
Da minha divindade, porra! Nem eu, uma
Entidade única, à perfeição cheguei.

Será bem possível que eu um dia chegue lá,
Afinal, sou o que há de melhor nesse mundo,
Que tirei da manga em homenagem a Alá,
Ou seja, a mim mesmo e ao que existo junto.

Opa! Já começo a pensar como um Deus pensa.
O diabo é que, quando era gente, às vezes,
Eu tinha esses rompantes de vaidade imensa
E me fechava, dias, semanas, meses.

Eu ficava curtindo meu ego e me
Pegava para cristo e sofria mais que Cruz
E Sousa, quando Gavita* enlouquece e se
Vê envolta por uma névoa espessa e sem luz.

Assim eu vivia ou pelo menos achava
Que vivia, mas, olhando para trás agora,
Confesso minha nulidade e minha rasa
Compreensão. Essa fé cega e surda, que adora

Simplesmente por adorar, não tenho mais.
Analisando bem, eu sou um deus de bosta.
Faço tanta cagada, que até satanás
Acha que eu estou do jeito que o diabo gosta.

Bem...ele que se foda! Filho de uma puta,
Eu vou transformar a sua vida num inferno!
Canhoto do caralho, sob minha batuta,
Não há nada além de sofrimento eterno

Guardado pra você e sua trupe morfética.
Quem dá as cartas aqui sou eu e mais ninguém.
Vocês rezam por minha bíblia, corja maléfica!
Pra cima de mim não! Nem venham que não tem!

Comigo é assim. Abro os olhos e onde estou?
No bar, é lógico. E todo mundo me olhando.
“Que porre, hein?!” Reconheço a voz do seo Nestor.
E sinto aos poucos minha consciência voltando.

* Gavita, esposa do grande poeta simbolista Cruz e Sousa.

Fim do capítulo 9





10 Comentários:

Às 04 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Como dizia Cazuza:

"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"

Maringas

 
Às 04 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Como dizia Cazuza:

"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"

Maringas

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

dio mio

ruga

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Mais um, mais um!

André Tonato

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Que venha o último desta e o primeiro da próxima.

BB

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Que drible que vc deu na gente, heim, polaco?
Gostei da loucura.

Abraço

Marcos Roberto Lemos

 
Às 05 dezembro, 2006 , Blogger Ivan disse...

Pela primeira vez comento, visto que eu estava atrasado no tempo e no espaço das leituras:

linkei em postagem, como reforço, que é pro pessoal que vai ficar de recuperação este ano.

Quem rodar ganha um blog de merda...

:P

beijos às fiéis leitoras, tão carinhosas, gentis e apetecíveis que se revelam...

E o polaco que cuide da garganta e pare de vez com o cigarro, porra!

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Adorei, como sempre.

Beijo

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Valeu a pena esperar.

Ricardo Coração de Leão

 
Às 05 dezembro, 2006 , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns, antes do fim, acho que cada capítulo tem sua vida própria e a dependência única é a continuação. Nestes 9 capítulos pude perceber uma grande capacidade de criar fatos, misturar realidade e fantasia, mas percebi também um escritor de recursos ilimitados no uso da palavra, do ritmo e da rima.
Parabéns novamente.

Arlindo Siqueira Campos

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial