Capítulo 9
Entre o Céu e a Terra
Algo aconteceu comigo, tenho certeza,
Por duas janelas abertas, eu enxergava
Meu corpo fumando, bebendo e sobre a mesa,
Velas, pratos, santos, flores. Onde eu estava?
Por que não ouvia absolutamente nada?
Morri, só pode ser isso. Bati co’as dez.
Fui assassinado, virei alma penada
E agora estou vagando entre os infiéis!
Claro, é isso! O que estou vendo é meu espírito,
Eu estou preso em algum lugar entre o Céu
E a Terra. E, por alguma graça de Cristo,
As janelas unem a sala ao Beleléu.
Ou então agora como câmera reencarnei.
Mas que raios de câmera é esta com duas lentes?
Um binóculo!? É mesmo!! Será? Ou serei...
Uma energia que se move entre duas correntes,
Anjos versus demônios? Eu mesmo sou Deus,
Então! Claro, sempre me achei especial,
Diferente, um cara bom, justo com os meus
Amigos, inteligente, diria genial,
Mas descubro agora que sou um Deus modesto.
Sim, tudo no momento faz sentido. Tudo!
Bom, nem tudo, para ser um Deus bem honesto,
Há detalhes que ainda me deixam confuso.
E, que eu saiba, Deus não tem dúvida nenhuma.
Sim, mas faz cinco minutos que eu me toquei
Da minha divindade, porra! Nem eu, uma
Entidade única, à perfeição cheguei.
Será bem possível que eu um dia chegue lá,
Afinal, sou o que há de melhor nesse mundo,
Que tirei da manga em homenagem a Alá,
Ou seja, a mim mesmo e ao que existo junto.
Opa! Já começo a pensar como um Deus pensa.
O diabo é que, quando era gente, às vezes,
Eu tinha esses rompantes de vaidade imensa
E me fechava, dias, semanas, meses.
Eu ficava curtindo meu ego e me
Pegava para cristo e sofria mais que Cruz
E Sousa, quando Gavita* enlouquece e se
Vê envolta por uma névoa espessa e sem luz.
Assim eu vivia ou pelo menos achava
Que vivia, mas, olhando para trás agora,
Confesso minha nulidade e minha rasa
Compreensão. Essa fé cega e surda, que adora
Simplesmente por adorar, não tenho mais.
Analisando bem, eu sou um deus de bosta.
Faço tanta cagada, que até satanás
Acha que eu estou do jeito que o diabo gosta.
Bem...ele que se foda! Filho de uma puta,
Eu vou transformar a sua vida num inferno!
Canhoto do caralho, sob minha batuta,
Não há nada além de sofrimento eterno
Guardado pra você e sua trupe morfética.
Quem dá as cartas aqui sou eu e mais ninguém.
Vocês rezam por minha bíblia, corja maléfica!
Pra cima de mim não! Nem venham que não tem!
Comigo é assim. Abro os olhos e onde estou?
No bar, é lógico. E todo mundo me olhando.
“Que porre, hein?!” Reconheço a voz do seo Nestor.
E sinto aos poucos minha consciência voltando.
* Gavita, esposa do grande poeta simbolista Cruz e Sousa.
Fim do capítulo 9
10 Comentários:
Como dizia Cazuza:
"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"
Maringas
Como dizia Cazuza:
"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"
Maringas
dio mio
ruga
Mais um, mais um!
André Tonato
Que venha o último desta e o primeiro da próxima.
BB
Que drible que vc deu na gente, heim, polaco?
Gostei da loucura.
Abraço
Marcos Roberto Lemos
Pela primeira vez comento, visto que eu estava atrasado no tempo e no espaço das leituras:
linkei em postagem, como reforço, que é pro pessoal que vai ficar de recuperação este ano.
Quem rodar ganha um blog de merda...
:P
beijos às fiéis leitoras, tão carinhosas, gentis e apetecíveis que se revelam...
E o polaco que cuide da garganta e pare de vez com o cigarro, porra!
Adorei, como sempre.
Beijo
Valeu a pena esperar.
Ricardo Coração de Leão
Parabéns, antes do fim, acho que cada capítulo tem sua vida própria e a dependência única é a continuação. Nestes 9 capítulos pude perceber uma grande capacidade de criar fatos, misturar realidade e fantasia, mas percebi também um escritor de recursos ilimitados no uso da palavra, do ritmo e da rima.
Parabéns novamente.
Arlindo Siqueira Campos
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