O Leminski vivia dizendo que escrever em português era um ato incompleto, já que nos utilizamos de uma língua limitada territorialmente. Pound aprendeu português para ler Os lusíadas no original. Comente e responda: vc já pensou na possibilidade de escrever em outra língua?
- O Leminski soltava uns suspiros que faziam o bigode tremer, porque carregava uma imensa ansiedade, uma necessidade de ser reconhecido que o mataram, pois isso era o que movia ao consumo tão compulsivo de álcool e drogas, que foram os instrumentos letais dessa carência fatal. Já eu conheci djana-ioga, li Jesus direito e creio que o nascimento de cada um, em determinado país de determinado língua, obedece a uma loteria divina, que devemos encarar em nosso favor e como patrimônio, não como desgraça e infortúnio. O exemplo maior é mesmo Jesus, que, conforme Leminski me disse várias vezes, nasceu na mais pobre província romana, falando uma língua que morreria depois, nada escreveu, tendo sua vida biografada apenas décadas depois de sua morte, por quatro escribas que tiveram seus escritos adulterados pelas igrejas, e, no entanto, quem mais vivo e famoso? A não ser, claro, John Lennon...
Que autores influenciaram a sua obra e de que forma?
- Castro Alves, pela paixão. Hemingway, pelo estilo conciso (meu livro O Homem Vermelho, quase não tem adjetivos, pois na época eu abominava a literatura que se pretende e se apresenta como literatura, inclusive me enoja o estilo de Machado de Assis nos seus romances mais famosos, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, não só pelo estilo auto-evidentemente literário, mas também pelo cinismo e pelo caráter aberrante dos protagonistas, que parecem projeções do autor). Graciliano Ramos, também pelo estilo e pela fusão de arte luminosa e visão de mundo densa, como em Vidas Secas. Apesar de minha literatura ser clara e aparentemente simples (o que é mais difícil que complicar), sempre fui muito informado. Li os concretistas e sua parafernália teórica já aos 16 anos, a primeira vez que li Leminski foi numa revista ou coletânea concretista. Li Finnegans Wake aos 16 também, e Whitman no original aos 17. Lia teoria da literatura aos 18. Fiz Letras em Londrina e depois Especialização em Teoria da Literatura na UNESP de Assis. Aprendi as técnicas, li os clássicos, bebi nas fontes, fiz minha opção de caminho com conhecimento do mapa.
Grande sertão: veredas, Catatau, Galáxias, como vc analisa o experimentalismo como fator de transformação e renovação das formas de expressão na literatura brasileira?
- Galáxias já folheei em livrarias, nunca consegui entender, não leio o que não entendo, embora veja que muita gente parece gostar justamente por isso. Catatau é sintaticamente interessante, e não se deve lamentar que não tenha paradigma, enredo, porque essa é a proposta, explicitada logo no começo, quando o pseudo-protagonista fuma maconha e passa a delirar. Esse delírio é a torrente erudita-trocadilhesca de Leminski, que passou oito anos anotando e juntando tudo que lhe vinha à cabeça nessa torrente mental/verbal, que era um tipo de romance experimental meio em voga na época. É bom para dar umas lidas antes de dormir, mas não é o tipo de literatura que me entusiasma. Aliás, literatura experimental não é para entusiasmar, né? Grande Sertão tem passagens belíssimas, mas um misticismo que me chateia. De Guimarães prefiro os contos de Sagarana e as novelas de Corpo de Baile, magníficas e luminosas.
- O Leminski soltava uns suspiros que faziam o bigode tremer, porque carregava uma imensa ansiedade, uma necessidade de ser reconhecido que o mataram, pois isso era o que movia ao consumo tão compulsivo de álcool e drogas, que foram os instrumentos letais dessa carência fatal. Já eu conheci djana-ioga, li Jesus direito e creio que o nascimento de cada um, em determinado país de determinado língua, obedece a uma loteria divina, que devemos encarar em nosso favor e como patrimônio, não como desgraça e infortúnio. O exemplo maior é mesmo Jesus, que, conforme Leminski me disse várias vezes, nasceu na mais pobre província romana, falando uma língua que morreria depois, nada escreveu, tendo sua vida biografada apenas décadas depois de sua morte, por quatro escribas que tiveram seus escritos adulterados pelas igrejas, e, no entanto, quem mais vivo e famoso? A não ser, claro, John Lennon...
Que autores influenciaram a sua obra e de que forma?
- Castro Alves, pela paixão. Hemingway, pelo estilo conciso (meu livro O Homem Vermelho, quase não tem adjetivos, pois na época eu abominava a literatura que se pretende e se apresenta como literatura, inclusive me enoja o estilo de Machado de Assis nos seus romances mais famosos, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, não só pelo estilo auto-evidentemente literário, mas também pelo cinismo e pelo caráter aberrante dos protagonistas, que parecem projeções do autor). Graciliano Ramos, também pelo estilo e pela fusão de arte luminosa e visão de mundo densa, como em Vidas Secas. Apesar de minha literatura ser clara e aparentemente simples (o que é mais difícil que complicar), sempre fui muito informado. Li os concretistas e sua parafernália teórica já aos 16 anos, a primeira vez que li Leminski foi numa revista ou coletânea concretista. Li Finnegans Wake aos 16 também, e Whitman no original aos 17. Lia teoria da literatura aos 18. Fiz Letras em Londrina e depois Especialização em Teoria da Literatura na UNESP de Assis. Aprendi as técnicas, li os clássicos, bebi nas fontes, fiz minha opção de caminho com conhecimento do mapa.
Grande sertão: veredas, Catatau, Galáxias, como vc analisa o experimentalismo como fator de transformação e renovação das formas de expressão na literatura brasileira?
- Galáxias já folheei em livrarias, nunca consegui entender, não leio o que não entendo, embora veja que muita gente parece gostar justamente por isso. Catatau é sintaticamente interessante, e não se deve lamentar que não tenha paradigma, enredo, porque essa é a proposta, explicitada logo no começo, quando o pseudo-protagonista fuma maconha e passa a delirar. Esse delírio é a torrente erudita-trocadilhesca de Leminski, que passou oito anos anotando e juntando tudo que lhe vinha à cabeça nessa torrente mental/verbal, que era um tipo de romance experimental meio em voga na época. É bom para dar umas lidas antes de dormir, mas não é o tipo de literatura que me entusiasma. Aliás, literatura experimental não é para entusiasmar, né? Grande Sertão tem passagens belíssimas, mas um misticismo que me chateia. De Guimarães prefiro os contos de Sagarana e as novelas de Corpo de Baile, magníficas e luminosas.
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