polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quarta-feira, setembro 14, 2005

3 poemas de Ivan Justen

MEU AMIGO, O POETA BATISTA DE PILAR

Meu amigo, o poeta Batista de Pilar,
entra no bar como quem sai de casa,
como quem está prestes a assobiar
a última canção.

— Pare com a cachaça,
Batista! eu digo, ao lhe passar o copo,
e apenas um olhar dele me arrasa
e se for pra beber todas logo eu topo.

E então bebemos toda a madrugada
e declamamos todos os poemas, sem
pestanejar.

— Batista, não devemos nada,
eu digo, não devemos nada a ninguém!
E ao ver a minha frase assim, errada,

Batista sai do bar só com uma ponta
de alegria,
e eu fico pra pagar a conta.



INSTRUÇÕES PARA MORRER BEM NUM AVIÃO


"caio verticalmente e me transformo em notícia"

Carlos Drummond de Andrade


I – Suba a bordo. Comissárias sorridentes
ajudarão a achar seu lugar marcado.
Inevitavelmente ali logo a seu lado
haverá mais coadjuvantes inocentes.

II – Decole para a morte tranqüilamente:
Pense no destino dançando um fado:
diante disso assistir assim assustado
é sofrer enfermo esse fim bem em frente.

III – Sofra, ao inverso, com bastante alegria,
e com muita pena pela leveza de um dia
na vida de aves que só tem mais um mês.

IV – Agradeça ao piloto que enfim decide o
seu final sem suicídio ou homicídio,
e pra variar pode pousar dessa vez.




Tigre!

tigre! tigre! bêbado biltre
nos botecos de Curitiba:
que imortal garrafa vai
revelar-te a arte de ser pai?

em que longínquos cafundós
cantaste tuas notas a sós?
com que asas tua mãe ascendeu
do fogo que lambeu jezebel?

e qual belzebu e qual urubu
tornaram tua sampa um sampaku?
e quando teu sul trilou em ré
quem desculpou? quem foi? quem é?

que neurônio? ou qual martelo?
martelaram teu cérebro belo?
quanto é o joio? quanto trigo
gasta este grotesco e triste amigo?

quando o mar cansou das ondas
e veio molhar todas as bundas
alguma delas sorriu de me ver aqui?
posso? ou a tigresa é só pra ti?

tigre! tigre! bêbado biltre
nas bodegas de bom alvitre:
que imortal dosagem vai
tornar tua poesia haicai?


Ivan Justen Santana

6 Comentários:

Às 14 setembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

curitiba é o mar da poesia

 
Às 14 setembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

e thadeu é a praia do mar da poesia de curitiba

 
Às 14 setembro, 2005 , Blogger Unknown disse...

E daí, Norton, onde vc andava?
Cumé que tá essa Fortaleza? Cadê minhas lagostas? Cumé que tá o blog.
Atenção, pessoal, dêem uma olhada no www.ceudonorte.blogspot.com

Grande abraço, Norton e a todo pessoal do Ceará.

 
Às 14 setembro, 2005 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei, Thadeu. Não há dúvida que o rapaz tem talento. Fico estressado às vezes quando penso que podem existir dezenas de outros, em várias áreas, que jamais vou conhecer. Nosso país é decepcionante na área cultural, tomara que proliferem outros blogs como esse. Parabéns pela belíssima página Mar.

Roberto Trompowski

 
Às 14 setembro, 2005 , Blogger Ivan disse...

grrrrrrrrr:

o poema do tigre tem que ser revisado (foi culpa minha de ter mandado um arquivo velho...)

o verso:
e veio molhar todas as ondas
deveria ser:
e veio molhar as tantas bundas

no verso seguinte:
alguma delas sorriu de me ver aqui
deve-se extrair a palavra "delas" que está sobrando e engordando o versículo...

e finalmente, eu devia estar muito surtado quando deixei escapar o ritornello do poema, que remete ao poema do tigre de William Blake: as alterações têm que ser mínimas em relação à primeira estrofe, mantendo a "simetria estranha" do bicho, assim:

tigre! tigre! bêbado biltre
nas bodegas de mau alvitre:
que imortal dosagem vai
revelar-te a arte de ser pai?

(edita logo isso, Thadeu!: mas enfim, bom comentar isso em aberto, é como abrir a oficina da poesia aos curiosos...)

 
Às 15 setembro, 2005 , Blogger Unknown disse...

Se vc concordar, Ivan, fica como está. A tua explicação é papa fina.
E se o poema fosse corrigido, o que faríamos com seu comentário?

 

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