polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

segunda-feira, agosto 29, 2005


Pellegrini, conte um pouquinho sobre suas origens.

- Nasci filho de barbeiro e dona de pensão, na Rua Maranhã, em Londrina, em 1949, no período de apogeu da cafeicultura no Norte do Paraná, quando "dinheiro corria pelas ruas". Lembro de um camelô formando roda de gente em cada esquina, o agenciador da pensão Zé Gomes, indo buscar hóspedes na rodoviária, o piso da barbearia forrado de cabelos, os peões comendo pratos-feitos na pensão, os mascates e camelôs contando histórias depois da janta... Depois minha mãe e meu pai se separaram, quando eu tinha sete anos, e fui morar com minha mãe em Cornélio Procópio, Assis, Marília, cada vez mais longe dele, até que voltaram a viver juntos, em Londrina, apenas para se infernizarem mutuamente. Em Londrina terminei o ginásio, e estava no meio do Clássico quando fui expulso, fui morar em Marília, em hotel, quando entrei para a política clandestina. Voltei para Londrina para fazer Letras, e já no primeiro ano, em 68, comecei a trabalhar como jornalista, depois como publicitário. Hoje, sou jornalista (crônicas e artigos), publicitário autônomo, palestrista, professor de cursos de roteiro de cinema e escritor, além de chacareiro. Três casamentos, quatro filhos, quase quarenta livros, árvores não sei quantas.

Quando nasce o escritor, poeta, Domingos Pellegrini Jr.?

- Meu nascimento literário se deu aos 12 onze anos, quando estava no cinema, em Marília, num sábado à tarde, e o lanterninha passou perguntando por um Domingos. Estavam me chamando no colégio, disse uma funcionária, coisa urgente e importante. Fui pensando que é que eu tinha feito de errado. No dia anterior, tinha faltado ao colégio por causa de gripe, que foi quando divulgaram os vencedores do concurso de redação. E eu tinha ganhado não só o prêmio da minha série, mas também o prêmio geral de melhor redação de todas! Recebi um grande aplauso do salão lotado e o livro Pelos Caminhos de Minha Vida, de J. Cronin, em que o famoso romancista irlandês revela como se tornou escritor depois de ter exercido a medicina durante décadas. Então li o livro e pensei bem, se não foi tarde para ele, não será tarde para mim, começar aos 12, e comecei a escrever contos. Antes, aos 11 anos, já tinha começado a escrever poemas, o primeiro depois de ver um filme de Mazzaropi, em que um escravo era açoitado num pelourinho. Assim, tive dois partos literários, o da prosa e o da poesia.

No início de sua carreira, percebe-se uma forte influência do pensamento comunista. Até onde isso influenciou sua obra? E onde exatamente acontece a ruptura?

- Fui marxista-leninista aos 16 anos, quando fazia o Curso Clássico em Marília, SP, depois de ter sido expulso do colégio em Londrina, por indisciplina. Morei em Marília antes disso, quando minha mãe e meu pai se separaram. Foi preciso achar outro colégio com Curso Clássico fora de Londrina, escolheram Marília porque eu já tinha morado lá. E lá fui doutrinado por um colega chamado Figueiredo, que era filho de família rica, o que não é incomum entre lideranças comunistas. Voltando a Londrina com 18 anos, já pertencia à Dissidência do Partido Comunista Brasileiro, cujo líder maior do setor estudantil era o José Dirceu, ele mesmo. Formei célula em Londrina e militei durante uns dois anos, até perceber que não só a estratégica da esquerda brasileira, a luta armada, era furada, como toda a ideologia era furada. Vi que meu humanismo, conseguido com muitas leituras, de Whitman a Henry Miller, não podia se conformar com um regime de ditadura, mesmo que do proletariado... nem com censura, partido único, culto da personalidade ou ditador eventual etc. E deixei, passando a ser anarquista, depois cristão (não religioso), conhecendo também djanaioga, a ioga do conhecimento, que não tem nada a ver com o corpo, só com a mente, e de tudo, como diz Drummond, ficou um pouco. Do marxismo-leninismo ficou a convicção e a experiência de que ideologia é prisão, e só não passa para quem passa a ter interesse nela (emprego, cargo público, militância remunerada ou simplesmente identidade e segurança diante da perplexidade da existência).

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial