Rodrigo Ponts, pequena biografia.
Nasceu em Curitiba em 1980. Cursou Audiovisual na ECA-USP, mas não conseguiu terminar o curso por motivo de saúde. Foi poeta, tradutor, crítico e cinéfilo. Teve seus trabalhos publicados na E-zine Literária da Fundação Cultural de Curitiba, nas revistas Coyote, Inimigo Rumor, além de outros veículos. O fanzine Lá, feito em sua homenagem, traz um poema seu ao final de cada edição. Faleceu na cidade onde nasceu, de câncer, em 11/05/2004. Atualmente, trabalha-se na edição de seu livro de poemas colibrilhos&colibreus e na publicação de suas traduções dos poemas de E. E. Cummings.
Ricardo Ponts
O Rodrigo foi um amigo muito querido para mim. Sofri bastante acompanhando a doença que pouco a pouco acabou por levá-lo definitivamente. Era doce e alegre e permaneceu assim até o último suspiro. Tive a honra de merecer dois poemas dessa criatura maravilhosa que fazia versos e amava a poesia. Morreu jovem, mas a sua obra é bastante grande e merece uma publicação que faça jus ao seu grande talento e à sua generosidade infinita. Estes quatro poemas de seu livro colibrilhos&colibreus, tenho certeza, vão agradar a todos vocês.
Antonio Thadeu Wojciechowski
a manhã
aurora
cor-de-rosa
tudo
tudo
tudo cor-de-rosa
o dia desabrocha
e todas as flores
são rosas
lírios:
rosas;
e róseas
magnólias
margaridas:
rosas;
e róseos
amores-perfeitos
ainda muito
mais rosas
só as rosas
todas
todas
todas as rosas
as brancas
as rosas amarelas
as vermelhas
as rosas cor-de-rosa
? tio, por que o céu é rosa ¿
flores no céu
calor em nós
ruborizados
em nosso novo dia
lindo colorido
veja, e veja
e continue vendo
que vai mudando
que vai gritando mudo
pontualmente luminoso
quando o hoje já caído
e o céu rosinegro
rosas,
e mais rosas
e outras rosas
nuvens?
uma é uma
é uma é outra
uma é outra
e outra a mesma
alvas douradas
rubras rosas
as rosas
todas
todas
todas as rosas são rosas
e todas as flores, estrELAS
lao tsé curitibano
para Thadeu Wojciechowski
uma chuva disputava
p'ra ver quem que soava
os versos mais bonitíssimos
pasmem!
que n'algumas suas notas
ela perdia-a-dia
naquela noite
gota a gota
p'ro poeta
aquele
de cigarro à boca
violão à mão
cerveja à beça
num seu
acende&apaga&canta
no seu
nossos-males-espanta
quase um
vaga-lume-cigarra
que acordado, dormia
sonhandinho
poesia
olhar de denise
para Denise Roman
olhar
olhar
olhar
até ver
o mundo
com verdes
olhos
florindo
todo em xadrez
sempre estrelado
estampas várias
flocos de neve
coloridos
como os vestidos
das fadas
das bruxas
das mulheres
e das crianças
dançando
alegres
nas florestas
de araucárias
ver
em tudo
o brilho
é olhar
do ponto
de vista
da luz
que nem leminski
quem sabe nem tanto disso
nem bem surgindo
já em sumiço
sabe lá deus se esse tanto
um pouco tardio cedo
outro, centro de um canto
vai saber quem é que foi
que foi um dia
tchau que nem oi
talvez nem seja
ou seja menos
que estar estando
deve de ser
que nem um quase
como que um quando
Rodrigo Ponts (1980-2004)
Publicado no livro: A linha que nunca termina: pensando Paulo Leminski.
Organizado por André Dick e Fabiano Calixto
sábado, julho 29, 2006
terça-feira, julho 25, 2006
ERA DUNGA 3
vamos pisotear nas viúvas do parreira
chega de cozinhar o zagalo velho
cafuné só no pé do pelé
a desfaçatez foi dez
perdemos por pouco
muito pouco
pouco mesmo
Chico Capetão, Edilson Del Grossi, Sergio Viralobos e Thadeu W
segunda-feira, julho 24, 2006
A dor me faz ver estrelas
Sou poeta, hipérbole dantesca imoral,
Espécime rara, de estirpe quase extinta,
Anjo, fantasma, guarda, pó do sobrenatural,
A caminho dos sentidos e do que sinta.
Essa palavra que agora engasga é tal-
Vez a única ligação mundana que ainda
Guardo e faço questão de manter, bem ou mal.
A minha doce vingança será maligna.
Oh, vida! Oh, céus! Oh, azar de ser mortal!
Viver anos a fio, dia e noite, noite e dia,
Até se dissolver em som na última linha.
Mas essa desagregação material
É a mesma reconstrução que aos astros anima
E torna divina a natureza animal!
Antonio Thadeu Wojciechowski
domingo, julho 23, 2006
amor é sempre um bom negócio
achei a mulher da vida perdida
é minha, eu vi primeiro
quem tentar tascar, chumbo vai levar
ela é proibida para menores de 18 anos
ela já deu tudo para qualquer um
que quisesse o que ela queria
minha vida ficou bem melhor
cheia de amor para dar, vender e emprestar
antonio thadeu wojciechowski e édson de vulcanis
quinta-feira, julho 20, 2006
Lula represidente
Dos descalabros deste mau governo,
Eu sei. Mas sei também do antecessor.
O PSDB é um partido enfermo,
O PT uma desilusão de amor.
O PSOL é muito pessoal mesmo,
A Heloísa Helena vai que é um trator,
Mas criticar é fácil, o que eu temo
É o ranço em seu discurso detrator.
Como bem disse o Chico Buarque ontem:
“O Lula é a nossa única opção”.
Eu penso que sim, pois o Alckmin é
Retrocesso puro. No mais, me contem
Se está certa ou errada minha intuição.
Abro o espaço, digam o que quiser!
Antonio Thadeu Wojciechowski
Desculpe, Leprevost!
Porra, Leprevost, eu queria tanto
Ir ao teu evento, mas alguém levou.
Eu estava aqui e agora onde estou?
O ônibus que me levaria, santo,
Partiu-me ao meio e pôs quebranto.
Agora eu digo ou ou ou ou ou...
Ficar sem teus poemas tudo bem, vou
Ser perdoado por tudo quanto é canto.
Mas aquelas cervejas do wonka não,
Pra essas não tomadas não tem perdão.
Se bem que seria muito legal ver
Você. Toda pose será perdoada.
Tudo bem, pobre tem que se foder.
Eu não vi você, mas que mancada!
Antonio Thadeu Wojciechowski
quarta-feira, julho 19, 2006
Vida de Poeta
Minha falta de habilidade nata
Pra lidar com o dia-a-dia é notória.
Mas pensando bem, pra que serve um cara,
Que escreve versos como quem namora?
Amar a poesia deixou-me a alma rala,
Um prego na parede da memória.
E olhando agora para aquela vala
Não há um final feliz pra minha história.
Assisto ao ritual da morte vivo
E como conviva celebro rindo
O mastigar faminto dos vermes vindo.
Ah! Pra viver eu tive um bom motivo.
E se me sinto cada vez mais cadavérico
É porque fiz da poesia esse banquete homérico!
Antonio Thadeu Wojciechowski
Malocabilly – porradaria poética da boa.
Meus amigos Sérgio Viralobos, Edílson Del Grossi e Chico Cardoso, inauguraram um blog que promete muito. O blog se autodestruirá em noventa dias. Aproveitem e vão lá conferir.
Poesia da boa de poetas da melhor qualidade.
Clic aqui.
http://www.malocabilly.blogspot.com/
quinta-feira, julho 13, 2006
Saudades de Curitiba
Azul celeste de doer nos olhos,
O inverno todo sem chuva castiga
Árvores, nascentes, plantas, rios, solos,
Que parecem ter que viver de brisa.
Neste céu, o sol, fritando meus miolos,
Entre brilhos, entre sombras, se estica,
Se espalha, senhor de si entre os dois pólos,
Tal faraó farol que o Egito agita
No tempo mumificado do templo
De Akhenaton e Nefertiti ao único
Deus. Em Curitiba, esse mesmo Sol,
No inverno, era outro, eu bem me lembro.
Era esfriar e se aconchegar junto:
Sol só sob sobretudo e o cachecol!
Antonio Thadeu Wojciechowski
quarta-feira, julho 12, 2006
“Meus amigos são mais interessantes
Que uma manada de elefantes”
Batista de Pilar
Recebi este email do meu amigo Carlos com um poema, que achei muito interessante e vai na íntegra pra vcs.
Daí, Thadeu, como vão as coisas? Td sossegado? Li umas coisas interessantes do Roberto Prado sobre o fato de Curitiba ser vista sempre em parques e jardins e não homens e mulheres, portanto pessoas, nos seus cartões postais... achei muito interessante o texto do Prado e isso me levou a um poema q vc escreveu tempos atrás no seu site q achei bem legal tb... finalmente lembrei de uma frase do Dalton: "Curitiba é uma cadela louca que devora os próprios filhotes"... algo assim, não estou certo, enfim, pensando nisso td me ocorreu o seguinte poema que dedico a vc e a todos aqueles que, por persistência ou loucura, sobrevivem aqui convictos do seu próprio valor apesar de negligenciados... espero sinceramente q vc goste... um grande abraço a vc... paz e boas energias por aí!
GUIA TURÍSTICO
atravesso Curitiba percorrendo o caminho dos cegos
e lançando meus olhos de mentira na brisa formada
entre os gestos moles dos distintos cavalheiros
que habitam bares no centro do tufão entre as pernas
sempre atrasadas das mulheres que amei
atravesso a caridade e o amor
nas mãos que se apertam na faixa de segurança
atravesso o desejo e a ganância
no jogo do bicho enjaulado entre os dentes da boca maldita
atravesso a ironia e a raiva
no sorriso sólido do homem feito de sombras
atravesso a vaidade e o sexo
nos corações de plástico que se partem sozinhos atrás das vitrines
atravesso a sanidade e a negligência
nas doses patéticas de café injetadas no tempo
atravesso a miséria e a loucura
no cheiro que se eleva dos becos entupindo turbinas e trombetas no céu
atravesso a fé e a retórica dos pecados
dissolvidos na saliva amarela dos homens santos da tv e do rádio
para que no fim do caminho diante da praça
eu ressuscite não uma lápide ou uma estátua de bronze
mas a felicidade muda de um cartão postal
Carlos Ferraiuolo
sexta-feira, julho 07, 2006
Para meu amigo poeta Ivan Justen, link ao lado, que me dedicou
um poema em arra, erra, irra, orra e urra, essa singela
homenagem nas mesmas rimas.
Viver quase sempre é uma puta barra,
Se a gente afrouxa e amolece, se ferra;
Mas se levar tudo a sério, na marra,
Por certo está procurando guerra.
O melhor da vida é a levada, a garra,
A fé, o sonho, pois daqui da Terra
Não se leva nada que a mão agarra.
E quem disser o contrário, sei que erra.
Brindo à vida e ao Ivan com gengibirra,
Pois preciso que a rima me socorra
E me leve a salvo do arra ao urra.
Mas se a métrica os ânimos acirra,
Aos poetas cabe o fim dessa modorra,
Já que toda unanimidade emburra!
Antonio Thadeu Wojciechowski
Viver quase sempre é uma puta barra,
Se a gente afrouxa e amolece, se ferra;
Mas se levar tudo a sério, na marra,
Por certo está procurando guerra.
O melhor da vida é a levada, a garra,
A fé, o sonho, pois daqui da Terra
Não se leva nada que a mão agarra.
E quem disser o contrário, sei que erra.
Brindo à vida e ao Ivan com gengibirra,
Pois preciso que a rima me socorra
E me leve a salvo do arra ao urra.
Mas se a métrica os ânimos acirra,
Aos poetas cabe o fim dessa modorra,
Já que toda unanimidade emburra!
Antonio Thadeu Wojciechowski
quinta-feira, julho 06, 2006
O Edson de Vulcanis sempre tem tiradas geniais. Uma noite lá em casa, ele criou essa pérola “nem tudo que reluz é aura”, que dias depois transformei em poema e que, finalmente, virou letra de uma belíssima canção que fiz com o Rodrigo Barros.
Crepúsculo da alma
Nem tudo que reluz é aura
O ouro da manhã é aurora
Quando o dia faz sua pausa
A prata da noite não demora
Assim também a nossa vida
Na infância é só luz, lucidez,
Mas vem o dia da despedida
E lá vamos nós outra vez!
Amor jogado no lixo?
É triste a pobre condição humana,
Feixe de músculos, nervos e ossos,
Que sob a ação do tempo reclama
Alma e continuidade para os nossos
Sonhos, projetos, ilusões. Bah! Quanta
Ambição, quanto egoísmo e destroços!
A febre da imortalidade dana,
Seca a água cristalina de outros poços,
Que não foram escavados ainda.
É que o amor, origem verdadeira
De toda idéia abstrata, não finda
E, sem fim, a vida fica mais linda.
Sendo assim, amar de qualquer maneira
É viver. O resto é tudo besteira!
Antonio Thadeu Wojciechowski