polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

sábado, julho 29, 2006








Rodrigo Ponts, pequena biografia.

Nasceu em Curitiba em 1980. Cursou Audiovisual na ECA-USP, mas não conseguiu terminar o curso por motivo de saúde. Foi poeta, tradutor, crítico e cinéfilo. Teve seus trabalhos publicados na E-zine Literária da Fundação Cultural de Curitiba, nas revistas Coyote, Inimigo Rumor, além de outros veículos. O fanzine Lá, feito em sua homenagem, traz um poema seu ao final de cada edição. Faleceu na cidade onde nasceu, de câncer, em 11/05/2004. Atualmente, trabalha-se na edição de seu livro de poemas colibrilhos&colibreus e na publicação de suas traduções dos poemas de E. E. Cummings.

Ricardo Ponts




O Rodrigo foi um amigo muito querido para mim. Sofri bastante acompanhando a doença que pouco a pouco acabou por levá-lo definitivamente. Era doce e alegre e permaneceu assim até o último suspiro. Tive a honra de merecer dois poemas dessa criatura maravilhosa que fazia versos e amava a poesia. Morreu jovem, mas a sua obra é bastante grande e merece uma publicação que faça jus ao seu grande talento e à sua generosidade infinita. Estes quatro poemas de seu livro colibrilhos&colibreus, tenho certeza, vão agradar a todos vocês.

Antonio Thadeu Wojciechowski





a manhã

aurora

cor-de-rosa

tudo

tudo

tudo cor-de-rosa


o dia desabrocha

e todas as flores

são rosas


lírios:

rosas;

e róseas

magnólias


margaridas:

rosas;

e róseos

amores-perfeitos


ainda muito

mais rosas

só as rosas

todas

todas

todas as rosas


as brancas

as rosas amarelas

as vermelhas

as rosas cor-de-rosa



? tio, por que o céu é rosa ¿



flores no céu

calor em nós

ruborizados

em nosso novo dia


lindo colorido

veja, e veja

e continue vendo

que vai mudando


que vai gritando mudo

pontualmente luminoso

quando o hoje já caído

e o céu rosinegro


rosas,

e mais rosas

e outras rosas

nuvens?


uma é uma

é uma é outra

uma é outra

e outra a mesma


alvas douradas

rubras rosas

as rosas

todas

todas

todas as rosas são rosas

e todas as flores, estrELAS





lao tsé curitibano

para Thadeu Wojciechowski




uma chuva disputava

p'ra ver quem que soava

os versos mais bonitíssimos


pasmem!

que n'algumas suas notas

ela perdia-a-dia

naquela noite

gota a gota

p'ro poeta


aquele

de cigarro à boca

violão à mão

cerveja à beça


num seu

acende&apaga&canta

no seu

nossos-males-espanta

quase um

vaga-lume-cigarra


que acordado, dormia

sonhandinho

poesia








olhar de denise

para Denise Roman




olhar

olhar

olhar

até ver

o mundo

com verdes

olhos


florindo

todo em xadrez

sempre estrelado

estampas várias

flocos de neve

coloridos

como os vestidos

das fadas

das bruxas

das mulheres

e das crianças

dançando

alegres

nas florestas

de araucárias


ver

em tudo

o brilho

é olhar

do ponto

de vista

da luz






que nem leminski



quem sabe nem tanto disso
nem bem surgindo
já em sumiço

sabe lá deus se esse tanto
um pouco tardio cedo
outro, centro de um canto

vai saber quem é que foi
que foi um dia
tchau que nem oi

talvez nem seja
ou seja menos
que estar estando

deve de ser
que nem um quase
como que um quando


Rodrigo Ponts (1980-2004)

Publicado no livro: A linha que nunca termina: pensando Paulo Leminski.
Organizado por André Dick e Fabiano Calixto

terça-feira, julho 25, 2006






ERA DUNGA 3

vamos pisotear nas viúvas do parreira
chega de cozinhar o zagalo velho
cafuné só no pé do pelé
a desfaçatez foi dez
perdemos por pouco
muito pouco
pouco mesmo


Chico Capetão, Edilson Del Grossi, Sergio Viralobos e Thadeu W




segunda-feira, julho 24, 2006






A dor me faz ver estrelas

Sou poeta, hipérbole dantesca imoral,
Espécime rara, de estirpe quase extinta,
Anjo, fantasma, guarda, pó do sobrenatural,
A caminho dos sentidos e do que sinta.

Essa palavra que agora engasga é tal-
Vez a única ligação mundana que ainda
Guardo e faço questão de manter, bem ou mal.
A minha doce vingança será maligna.

Oh, vida! Oh, céus! Oh, azar de ser mortal!
Viver anos a fio, dia e noite, noite e dia,
Até se dissolver em som na última linha.

Mas essa desagregação material
É a mesma reconstrução que aos astros anima
E torna divina a natureza animal!

Antonio Thadeu Wojciechowski




domingo, julho 23, 2006







amor é sempre um bom negócio

achei a mulher da vida perdida
é minha, eu vi primeiro
quem tentar tascar, chumbo vai levar
ela é proibida para menores de 18 anos
ela já deu tudo para qualquer um
que quisesse o que ela queria
minha vida ficou bem melhor
cheia de amor para dar, vender e emprestar


antonio thadeu wojciechowski e édson de vulcanis





quinta-feira, julho 20, 2006






Lula represidente

Dos descalabros deste mau governo,
Eu sei. Mas sei também do antecessor.
O PSDB é um partido enfermo,
O PT uma desilusão de amor.

O PSOL é muito pessoal mesmo,
A Heloísa Helena vai que é um trator,
Mas criticar é fácil, o que eu temo
É o ranço em seu discurso detrator.

Como bem disse o Chico Buarque ontem:
“O Lula é a nossa única opção”.
Eu penso que sim, pois o Alckmin é

Retrocesso puro. No mais, me contem
Se está certa ou errada minha intuição.
Abro o espaço, digam o que quiser!

Antonio Thadeu Wojciechowski










Desculpe, Leprevost!


Porra, Leprevost, eu queria tanto
Ir ao teu evento, mas alguém levou.
Eu estava aqui e agora onde estou?
O ônibus que me levaria, santo,

Partiu-me ao meio e pôs quebranto.
Agora eu digo ou ou ou ou ou...
Ficar sem teus poemas tudo bem, vou
Ser perdoado por tudo quanto é canto.

Mas aquelas cervejas do wonka não,
Pra essas não tomadas não tem perdão.
Se bem que seria muito legal ver

Você. Toda pose será perdoada.
Tudo bem, pobre tem que se foder.
Eu não vi você, mas que mancada!


Antonio Thadeu Wojciechowski





quarta-feira, julho 19, 2006






Vida de Poeta


Minha falta de habilidade nata
Pra lidar com o dia-a-dia é notória.
Mas pensando bem, pra que serve um cara,
Que escreve versos como quem namora?

Amar a poesia deixou-me a alma rala,
Um prego na parede da memória.
E olhando agora para aquela vala
Não há um final feliz pra minha história.

Assisto ao ritual da morte vivo
E como conviva celebro rindo
O mastigar faminto dos vermes vindo.

Ah! Pra viver eu tive um bom motivo.
E se me sinto cada vez mais cadavérico
É porque fiz da poesia esse banquete homérico!

Antonio Thadeu Wojciechowski





Malocabilly – porradaria poética da boa.


Meus amigos Sérgio Viralobos, Edílson Del Grossi e Chico Cardoso, inauguraram um blog que promete muito. O blog se autodestruirá em noventa dias. Aproveitem e vão lá conferir.
Poesia da boa de poetas da melhor qualidade.


Clic aqui.
http://www.malocabilly.blogspot.com/

quinta-feira, julho 13, 2006







Saudades de Curitiba


Azul celeste de doer nos olhos,
O inverno todo sem chuva castiga
Árvores, nascentes, plantas, rios, solos,
Que parecem ter que viver de brisa.

Neste céu, o sol, fritando meus miolos,
Entre brilhos, entre sombras, se estica,
Se espalha, senhor de si entre os dois pólos,
Tal faraó farol que o Egito agita

No tempo mumificado do templo
De Akhenaton e Nefertiti ao único
Deus. Em Curitiba, esse mesmo Sol,

No inverno, era outro, eu bem me lembro.
Era esfriar e se aconchegar junto:
Sol só sob sobretudo e o cachecol!


Antonio Thadeu Wojciechowski




quarta-feira, julho 12, 2006








“Meus amigos são mais interessantes
Que uma manada de elefantes”


Batista de Pilar

Recebi este email do meu amigo Carlos com um poema, que achei muito interessante e vai na íntegra pra vcs.




Daí, Thadeu, como vão as coisas? Td sossegado? Li umas coisas interessantes do Roberto Prado sobre o fato de Curitiba ser vista sempre em parques e jardins e não homens e mulheres, portanto pessoas, nos seus cartões postais... achei muito interessante o texto do Prado e isso me levou a um poema q vc escreveu tempos atrás no seu site q achei bem legal tb... finalmente lembrei de uma frase do Dalton: "Curitiba é uma cadela louca que devora os próprios filhotes"... algo assim, não estou certo, enfim, pensando nisso td me ocorreu o seguinte poema que dedico a vc e a todos aqueles que, por persistência ou loucura, sobrevivem aqui convictos do seu próprio valor apesar de negligenciados... espero sinceramente q vc goste... um grande abraço a vc... paz e boas energias por aí!



GUIA TURÍSTICO

atravesso Curitiba percorrendo o caminho dos cegos
e lançando meus olhos de mentira na brisa formada
entre os gestos moles dos distintos cavalheiros
que habitam bares no centro do tufão entre as pernas
sempre atrasadas das mulheres que amei

atravesso a caridade e o amor
nas mãos que se apertam na faixa de segurança

atravesso o desejo e a ganância
no jogo do bicho enjaulado entre os dentes da boca maldita

atravesso a ironia e a raiva
no sorriso sólido do homem feito de sombras

atravesso a vaidade e o sexo
nos corações de plástico que se partem sozinhos atrás das vitrines

atravesso a sanidade e a negligência
nas doses patéticas de café injetadas no tempo

atravesso a miséria e a loucura
no cheiro que se eleva dos becos entupindo turbinas e trombetas no céu

atravesso a fé e a retórica dos pecados
dissolvidos na saliva amarela dos homens santos da tv e do rádio

para que no fim do caminho diante da praça
eu ressuscite não uma lápide ou uma estátua de bronze
mas a felicidade muda de um cartão postal


Carlos Ferraiuolo




sexta-feira, julho 07, 2006





Para meu amigo poeta Ivan Justen, link ao lado, que me dedicou
um poema em arra, erra, irra, orra e urra, essa singela
homenagem nas mesmas rimas.


Viver quase sempre é uma puta barra,
Se a gente afrouxa e amolece, se ferra;
Mas se levar tudo a sério, na marra,
Por certo está procurando guerra.

O melhor da vida é a levada, a garra,
A fé, o sonho, pois daqui da Terra
Não se leva nada que a mão agarra.
E quem disser o contrário, sei que erra.

Brindo à vida e ao Ivan com gengibirra,
Pois preciso que a rima me socorra
E me leve a salvo do arra ao urra.

Mas se a métrica os ânimos acirra,
Aos poetas cabe o fim dessa modorra,
Já que toda unanimidade emburra!

Antonio Thadeu Wojciechowski


quinta-feira, julho 06, 2006




O Edson de Vulcanis sempre tem tiradas geniais. Uma noite lá em casa, ele criou essa pérola “nem tudo que reluz é aura”, que dias depois transformei em poema e que, finalmente, virou letra de uma belíssima canção que fiz com o Rodrigo Barros.





Crepúsculo da alma


Nem tudo que reluz é aura
O ouro da manhã é aurora
Quando o dia faz sua pausa
A prata da noite não demora

Assim também a nossa vida
Na infância é só luz, lucidez,
Mas vem o dia da despedida
E lá vamos nós outra vez!



Amor jogado no lixo?


É triste a pobre condição humana,
Feixe de músculos, nervos e ossos,
Que sob a ação do tempo reclama
Alma e continuidade para os nossos

Sonhos, projetos, ilusões. Bah! Quanta
Ambição, quanto egoísmo e destroços!
A febre da imortalidade dana,
Seca a água cristalina de outros poços,

Que não foram escavados ainda.
É que o amor, origem verdadeira
De toda idéia abstrata, não finda

E, sem fim, a vida fica mais linda.
Sendo assim, amar de qualquer maneira
É viver. O resto é tudo besteira!

Antonio Thadeu Wojciechowski