polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

terça-feira, setembro 30, 2008


Faça exercício mental, todo dia.
Solda é terapia.





poeminha para reflexão

um poeta, poeta,
não precisa disso
nem daquilo
é tão comum
todo mundo está careca de saber
tudo aquilo
não vai nos levar a lugar nenhum

se não tens nada pra fazer agora
escreve um verso bem bonito
diz adeus e vá-te embora

só não digas que os grandes espaços siderais
refrigeram tua alma e arrefecem tua dor
por que vamos acabar pensando
que, em vez de coração,
tu tens no peito um baita radiador

Polaco da Barreirinha









E, então, o que você quer?

Fiz tremer as colunas do jornal
abrindo olhos nas manchetes à mão cheia.
E logo, num piscar de cílios,
de cada fronteira, de cada local,
explodiu um barril de pólvora que ricocheteia
em meio à casa e seus utensílios.


Neste último ano
nada de novo houve
no rugir do trovão
que está no ar.

Não estou alegre, mas meu plano
pelo que eu soube
ninguém irá julgar...

Mas também por que razão
eu haveria de estar triste?
O mar da história
é agitado.
A ameaça existe
e a guerra, a ilusão da vitória
são coisas do passado.

Está lançada a minha sorte !
Perscruto outras sondas
mas é ainda minha quilha que aprofunda o corte
sobre as ondas.



Vladimir Maiakóvski


Livre adaptação de Comedor de Ranho




segunda-feira, setembro 29, 2008


Fiz esse poema do Guardador de Vaca
e as duas livre-adaptações do Rimbaud e do Baudelaire,
hoje de manhã, no meu primeiro dia de folga em Nova Mutum.
Espero que se deliciem tanto quanto eu.


Saudades de todos.


Thadeu


O ALBATROZ


Muita vez, por não ter o que fazer, marujos
Pegam um albatroz, nômade ave marinha,
Que traz um pouco de alegria aos ditos cujos
e ao navio que, sobre abismos, quebra a rotina.

Nem bem o põem no chão, sobre as tábuas molhadas,
O rei do azul do céu, sem graça e desengonçado,
Deixa cair suas asas que, imobilizadas,
São arrastadas tal muletas ao seu lado.

Que figura! Como um palhaço interagindo,
A ave divina fica muito cômica... Ei-la!
Um a aborrece pondo em seu bico um cachimbo;
Outro, por imitar um manco que coxeia!

Sou poeta, sou como esse príncipe do ar,
Que enfrenta a tempestade e ri da flecha a voar,
Mas com os pés no chão, em meio à plebe rude,
Também quis abrir asas e voar, mas não pude!


Charles Baudelaire

Livre adaptação de Antonio Thadeu Wojciechowski



FANTASIA


E lá vou eu, de mão no bolso roto,

A linda blusa caindo aos pedaços.

Sob o céu, Musa! Ah...nossos amassos...

Uhlalá! Ao lembrar solto um arroto!


Em minha única calça um perdigoto.

— Pequeno Polegar eu sonho espaços

Sob a Ursa Maior, rimas em meus braços,

Som do céu em rumor de estrela envolto.


Sentado à beira do caminho ouvia

Nas noites de setembro a cotovia.

O orvalho no meu rosto como um vinho


E eu compondo em meio a espectros esparsos.

As cordas da lira eram meus cadarços,

Um pé de sapato ao meu peito juntinho!




Arthur Rimbaud





Livre adaptação de

Antonio Thadeu Wojciechowski








jamais imaginei a tua imagem
mas quando a vi, reconheci
o tempo parado a esculpir
tua beleza que pede passagem




thadeu w







meu coração de colinas
vai condor
ao seu encontro




thadeu w






DIMENSÕES

Perdi meus sonhos de luar e lírios
Na cova das demências e delírios.
O que era sonho, aura e fantasia
Foi-se de não em não naquele dia.

O sol soltando seus longos suspiros
Já acordava a noite e seus vampiros.
Tu ias à minha frente, arredia
E triste; eu, também, assim seguia.

Com a cabeça pensa tu pensavas
Em mim e em quanto não querias junto
A ti, eu, nu em pêlo, pele a pele.

Com a minha tristeza nem sonhavas,
Mas viste ao veres que mudei de assunto
Que o sol fica só ao perder um L !


Guardador de Vaca

sábado, setembro 27, 2008



desmemória

onde foi parar meu cachecol
minha caneta
meu guarda-chuva
meu isqueiro cadê?

onde foi que guardei a esperança
aquele sonho onde
quem foi que levou meu coração
minha inocência, perdi?

onde foi que deixei minha infância
minha coleção de bala zequinha
meu primeiro beijo
meus amigos já morreram?

foi tudo para o universo paralelo
ou esses fragmentos de história mal contada
são de alguém perdido
esquecido em suas próprias lembranças?


Thadeu W

quinta-feira, setembro 25, 2008



me olha o velho
e segue como um anjo
o novo evangelho



quarta-feira, setembro 24, 2008

Caros amigos:


Aí está mais uma série da coleção
NO POEMA EU ME RETRATO.


Assim como ontem, todos os textos/poemetos
foram escritos na ordem e no tempo
em que aparecem na postagem.
No exato momento em que ficava pronta a montagem.
Ou seja: instantaneamente.
O Ivan Justen não gosta quando eu digo
que essas coisas são apenas exercícios.
Ele está certo.
Mas amigo é pra essas coisas mesmo.

Abraço a todos.
DIVIRTAM-SE!

Polaco da Barreirinha


o presidente russo
manda bala na georgia
enquanto eu fumo e tusso




sentai-vos
eu também pensava
que não valia um centavo


no porta-retrato, quem me segura
é minha mãe
suas mãos, a verdadeira moldura

veja só que show
na velha TV
o futuro já chegou


mesmo num canto abandonado
todo quebrado
não tenho nada de pobre coitado

o que ela esconde
já fez mudar de hábito
o habitat de muito monge


não estava escrito
no contrato publicitário
me pegaram pra cristo

essa foto é minha
mas lá no fundo
a igreja é da barreirinha



isso é sensacional
quanto mais me copiam
mais me sinto original


assim todo iluminado
se eu não for paulo leminski
devo ser o marcos prado




eu, na moldura,
sou ainda um pobre poeta
na maior cara dura



arte da pryscila
minha criatura
já é uma caricatura



eu na TV
sou um gato
ou é quem me vê?

terça-feira, setembro 23, 2008




Meus caros amigos:


Taí uma COLEÇÃO de poemetos que me dei ao luxo de chamar

"NO POEMA EU ME RETRATO"


Divirtam-se!


A coleção ficará em exposição

nesta espelunca

até o dia de São Nunca.


Antonio Thadeu Wojciechowski



taí uma coisa que eu sempre fiz
saber bem
onde colocar o meu nariz


do jeito que vou fundo
qualquer dia vou parar
lá no fim do mundo




não se afobe
qualquer informação
envie para este blog




já estão vendendo foto minha
da groelândia
até a barreirinha


na tela do cinema
eu, o octávio e o solda
só a sombra faz jogo de cena


devagar e uma a uma
sozinho já sou bom
imagine eu em turma



quem não queria estar ali
por favor
não me apareça mais aqui


eu, o solda e o dante
sempre damos um gás
pra qualquer ignorante



quanto mais a gente se esconde
mais perto a gente fica
de acabar indo longe



famoso desse jeito
se não for pela formosura
deve ser por algum defeito



eu do meu lado
ainda vou acabar ficando
mal falado


eu, na capa da vogue,
depois de toda essa fama
não posso mais ir nem no açougue


vamos e venhamos
acho que sou grande demais
pra ser do meu tamanho


sou do brasil
mas vai ser amado assim
lá na puta que o pariu



em wall street
só de ver minha imagem
me dá gastrite


nem com todo esse cartaz
me deixam
fumar em paz

no museu

será que o thadeu

sou eu?


que bom gosto
minha musa
usa
e abusa
do meu rosto

segunda-feira, setembro 22, 2008




comigo é no porrete

bebi
enchi a cara
cheguei a vazar
mas me redimi
perante a mim mesmo

brindei à vida
à essa incontinência de sentimentos
que contamina meus versos
e dá à minha poesia força,
resistência
e concretude

como os faróis de alexandria
eu, comedor de ranho,
lanço as luzes do porvir
sobre o passado
e sou todo revolução no presente

minha poesia forja o aço
assenta tijolos
pede esmolas
come o pão amanhecido
e assalta alguém na esquina

minha poesia
não está nas revistas
nem na boca de críticos
ou poetas de salão
ela é um simples
e sonoro não

NÃO
somente esta palavra tem o poder
é ela que faz a mudança
é ela que desmancha as teorias
é ela que faz
a efemeridade das coisas eternas

minha poesia
tem essa alma
o coração do avesso
ela é quem faz dos que sentem e pensam
os arautos dos novos tempos
símbolos dos que vão morrer nas ruas

vão morrer
porque há mais glória na morte de quem luta
por uma causa justa
do que em todas essas vidas vãs
que deixaram amolecer o cérebro
apodrecer os corações pela submissão
e perderam a alma na hipocrisia

não, essa gentalha
que faz do amor ação de genitálias
não vai colocar uma flor no meu túmulo
nenhum deles
antes, vão cuspir, escarrar
achando que me insultam
e que eu apanho
mas estarão, na verdade,
pura e tão somente,
alimentando o comedor de ranho.

Comedor de Ranho

sábado, setembro 20, 2008






você deu mais que chuchu na serra
chupou até ficar roxa e murcha
hoje taí co cu todo espalhado na fuça

não tem amigo meu que não te comeu
você abriu as pernas até pro teu irmão
mas não pense que fiquei magoado não


estou cagando e andando pra tudo isso
meu amor por você é fluido, é éter
é ferrão de vespa em tua estrela vésper


Comedor de Ranho









poeta

eu sou uma pedra no meu caminho
me atiro no meu telhado de vidro
desde pequenininho




Antonio Thadeu Wojciechowski








comemore hoje
todos os dias que você tem de vida
nesta data querida


(thadeu e bira)



EPÍSTOLA SOBRE A PISTOLA NAS MÃOS

Matar-se... Pense nisso...
Qualquer um pode fazer isso.
Bata um papo com as lavadeiras sobre o assunto
Antes de se decidir por virar defunto.
Discuta com os amigos os prós e os contras,
Mas evite a vertigem, afinal de contas,
Cair no abismo não é bem ir fundo na questão.
Amanhã você pode ter uma outra opinião.
Que tal uma pequena mentira ?:
- Tô de saco cheio com essa merda de vida!
Ou essa:
- Minha mulher é infiel à beça!
Isso funciona com os que ficam surpresos com essas coisas.
Mas, convenhamos, o que são afinal essas coisas?
Por mim, você não devia deixar transparecer
Que dá tanta importância ao seu ser.

Berthold Brecht

Livre Adaptação Antonio Thadeu Wojciechowski