polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

quinta-feira, junho 28, 2007






lua cheia, que beleza
caminhei a noite inteira
pela redondeza


Thadeu W

terça-feira, junho 26, 2007



A VINGANÇA DO POVÃO

Capítulo 10

O nome da guerra


“De janeiro de dois mil e sete até hoje
Mais de vinte mil mortos mostrados em close
Desfilaram nas capas e nos noticiários
De jornais e TVs desse nosso Brasil.
O país do futuro? Puta que o pariu!
Massacres e chacinas, estupros diários,
Polícia mais corrupta do mundo, juízes
Saindo pelo ladrão. Nação dos infelizes,

Terra de ninguém, Osso. Estamos por nossa
Conta, cada um por si. Tem três leis nessa joça:
Da selva, do mais forte e do cão. Entendeu?
Turista traz na mala rosários, colete
À prova de bala, patuás, mas ricochete
Não tem superstição, onde pegou, valeu.
Veja lá no distrito, não se salva um só.
Eu é que sei. Tem lei pra pobre de dar dó.

Quem tem o poderoso checão, não tem erro.
Rouba, corrompe, mata, envia flores pro enterro.
Não condeno você, Osso; pelo contrário,
Te admiro pra caramba. Você me conhece
E amigo que é amigo a gente não esquece
Nem muda de opinião. È extraordinário
Se ter um de verdade, vale para sempre.
Quem não tem, nunca vai viver completamente.”

- Que que tá pegando, hein, mano? Tá urubuzando
O verbo, bródi! Levanta, meu. Filosofando,
A morte chega antes. Morrer sem saber
O que tá acontecendo é pra jacu de teta,
Pra esses caras que têm medo de buceta
E sentam pra mijar. Jamais deve comer
Quem tem medo de cagar, diz um velho dito.
Sem essa de papagaiar meu periquito!

Tu é o Escriba, tem licença pra falá.
Tamos junto na guerra pra morrê e matá.
Desde o dia que saímos fazendo justiça,
Não lembro de vacilo nem de trairagem.
Meu olho esquerdo vê direito, não reage.
Se tá certo, tá certo e fim. Enchê lingüiça
É pra otário, playboy, filhinho de papai.
Nós tamos noutra. Nós balança mas não cai.

“Ha ha ha...Você lembra daqueles palhaços
Que encheram de porrada a Marlene dos Passos?”
- Claro, aquela diarista que por muito pouco
Não morreu de tanto apanhá da playboyzada.
“Os pais dos desgraçados, essa burguesada
Filha da puta, quase me deixaram louco.
Era um tal de prefeito, deputado, juiz
E desembargador mostrando os pedigrees

Que o nosso delegado ainda pediu desculpas
Pela prisão. Saíram sorrindo os batutas.
- É. Pensaram que tinham se dado bem, né?
Botei a tropa na rua na semana seguinte
E peguei um a um. Pais, mães, filhos, deu vinte
E um no fechar das contas. E tudo mané.
“Nem Dante imaginou inferno igual ao deles.”
- Tu e tua poética trouxa. Mandei é pau neles.

Apanharam mais que Jesus na cruz, meu Deus!
Deixei tudo pelado aqueles fariseus
E dei voz de comando pra tropa descer
O cacete bonito. Esfolemo vivo
Os cara e as granfina passemo no crivo.
“Ah ah ah ah ah...Essa eu pagava pra ver.”
- Foi muito divertido vê as madame dando
O cu pra turma toda c’os fiofó sangrando.

E depois chamei Preto Feio, rei da salsinha,
Que levou as melhores carnes pra cozinha.
Comprei paio, feijão branco, bacon, lingüiça
E costelinha defumada, da mais cara.
Muita cerveja e pinga de Salinas, cara!
Chamei as vilas todas para o forra-tripa.
Vieram mais de quinhentas pessoas, acredita?
Todo mundo comeu de estufar a barriga.

“Até hoje lá no distrito o delegado
Leva esporro do juiz, pra resolver o caso.”
- Ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah!!
Estão no meio da bosta junto com o Zeca.
“He he... isso que eu chamo de ficar na merda!”
-Bom, pelo menos, não podem nem se queixar,
Foram eles que criaram esse mundo cão.
E têm que agüentar a vingança do povão.


Fim

Antonio Thadeu Wojciechowski

segunda-feira, junho 25, 2007




A VINGANÇA DO POVÃO

Capítulo 9

Peidando para o diabo.


Gilberto, amargurado, coração aos trancos
E barrancos, sem rumo, golpeia c’os tamancos
O barro e com as mãos, a sua própria cabeça.
“Puta, filha da puta! Libertina, pulha,
Meretriz, prostituta! Pensa que me embrulha?
Vou te matar, cadela! Tudo que aconteça
Daqui pra frente vai ser obra do demônio.
Porra, merda de amor, o horror mais medonho!”

Já na oficina, Giba tenta se acalmar.
Mas não dá. Abre um litro e vai até secar.
Bêbado, chora, ri, grita, quebra suas obras,
Tudo que fez com tanto amor, todos os móveis
De seu futuro lar. Depois, braços imóveis,
Deixa-se cair ao chão, pra chorar entre as sobras.
“Ana, Ana, sacana! Pra que fazer isso,
Se era tão bonito o nosso compromisso?

Eu te respeitei, pus nas coxas, gozei fora,
Para você casar de branco, mas agora
Vejo, nítido e claro, o imbecil que sou.
Devia ter feito aquele cu em mil pedaços
E arrombado a buceta. Mas não, os amassos
Do idiota aqui paravam no melhor. Se estou
Nesta merda é porque já engomei muita cueca
Por não entubar a brachola em perereca.

Daí, a puta vai e dá para o primeiro macho
Que aparece e me deixa na mão por um cacho?!
Eu mato essa filha da puta, lazarenta!”
Vai ao armário, pega o revólver e mira
No pôster de Ana, preso à parede. Atira
Sete vezes e sete vezes se lamenta.
“Eu mato ou morro, Deus do Céu? Me ajude, Pai.”
Dois minutos de paz e o corpo morto cai.

Enforca-se e o seu olhar esbugalhado
Se detém no retrato do rosto amado.
Neste exato momento, Ana dava adeus
À virgindade, do outro lado da cidade.
No céu, estrelas flertam com a eternidade,
Querendo intimidades pelo amor de Deus.
Na Terra, o sangue tinge o branco do lençol
Com a tinta da aurora, anunciando o sol.

Ana acorda cercada de rosas vermelhas
E com a voz de Giba soando em suas orelhas.
Olha para o relógio, a manhã se foi.
Lê o bilhete sob a cômoda e se sente
Só, como nunca se sentiu. “Este presente,
Meu anjo, é a prova de que um simples oi
Pode ser o começo de um grande amor.
Pelo primeiro encontro, aceite por favor!

Beijos, Artur.” Relê várias vezes, mas chora
Mais e mais. Está só no apartamento agora.
A voz de Giba vem com o vento e entra
Pelas janelas, bate nas paredes brancas
E ecoa pelos quartos deixando às escâncaras
O balé das cortinas em câmera lenta.
Ana tem um estranho mau pressentimento
E o remorso anuncia que haverá linchamento.

Liga para o seu pai e o que era pesadelo
Faz tremer até o último fio de cabelo.
Tremendo, abre o presente de Artur: um colar
De diamantes, a jóia de seu sonho mais lindo,
Mas que agora, em seus dedos, está consumindo,
Para poder brilhar, a luz de seu olhar.
Ana pede perdão, cai num choro profundo
E, sem Giberto, dá de cara com o mundo.

Levanta-se, respira e resolve viver:
“Tudo isso me custou caro. Pago pra ver.”
Vai à sacada e deixa a brisa envolvê-la.
“Vou ser feliz, mais nada me importa. O amor
Acabou com a minha vida. Mas, se a dor
Começa é porque tem um fim. Reconhecê-la
E combatê-la vai ser tarefa infernal,
Porém nunca corri, em minha vida, do pau!”

E assim os dias se foram. Ana faz de tudo
Para se mostrar bem feliz. Volta ao estudo.
Mantém o apartamento limpo e arrumado.
Mas tem pequenas crises de alheamento mórbido,
Como se entrasse em outro mundo, cruel, sórdido.
Toda vez que faz sexo vai para o lavabo,
Fica horas a fio, lavando e relavando
Seu corpo num ritual tristemente nefando.

Mais se afasta de Artur, mais se apega a Netinho.
A ele dedica amor, atenção e carinho
Maternais, desmedidos, como se o enteado
Fosse realmente cria de suas entranhas, ser
Do seu ser, fruto da paixão que viu nascer
Quando pela primeira vez viu seu amado
Gilberto. Único homem que a fez, acordada,
Sonhar; e, dormindo, sorrir apaixonada.

A pequenina mancha que Netinho tem
No pênis, seus trejeitos, sua alegria sem
Fim, a cada dia, mais se revelavam como
Provas definitivas de que é seu filho.
Em seus delírios vê o parto tão tranqüilo.
Giba à sua cabeceira e, sem nenhum incômodo,
Vendo a boca tomar, esperta, a farta teta
E dela sugar leite, a seiva que sustenta,

Ampara, fortalece, defende e prepara
Netinho para a vida. Às vezes, ela pára,
Completamente absorta em seus delírios crônicos
E acaricia a mancha e a beija e a afaga.
Em tudo vê tristeza, desilusão, mágoa;
Só Netinho provoca-lhe arroubos cômicos.
Por ele vive, morre, acorda e respira.
“O que Deus me deu é pra sempre, ninguém tira.”

“O que você pensa que está fazendo, puta?”
Ela parece não entender o que escuta.
Leva alguns bofetões, ouve gritos, vê a mão
Pronta para agarrar e levar seu filhinho.
Mas não deixa que Artur sequer toque em Netinho.
Corre para a sacada e o seu coração
Salta de encontro à morte, levando o amor,
Todo o amor que um dia não soube onde por.


Fim do capítulo 9


quinta-feira, junho 21, 2007

Ademir, Thadeu, Bortolotto e Chico Cardoso.
Fim da novelha.



Segunda e terça, penúltimo e último capítulos da novelha.

Aguardem. Estão demais e vão ficar melhores ainda com os retoques finais.
Abraço a todos e bom final de semana. A foto acima é da Catarina Velasco, no bar Parlapatões em Sampa, após o show no Sesc Santana, promovido pelo grande Carlos Careqa, que estará se apresentando em Curitiba nos próximos dias.

Polaco da Barreirinha


Sesc Santana

Amigos me pediram para postar o texto do Leminski que declamei no show em sampa.
Aí está. Para quem tem o Catatau, edição da Travessa dos Editores, está nas páginas 35 e 36. E o que se refere ao ritmo nas páginas 75 e 76.




Excertos do Catatau


Desde verdes anos tentaram-me o eclipse e a economia dos esquemas

Exímio dos mais hábeis nos manejos de ausências
Busquei apoio nos últimos redutos do zero

Foi a época que eu mais prestigiei o silêncio, o jejum e o não.
Sabem com quem estão falando?

Cultivei meu ser, fiz-me pouco a pouco, constituí-me
Letras me nutriram desde a infância
Mamei nos compêndios
E me abeberei das noções das nações

Compulsei índices e consultei episódios
Desatei o nó das atas
Manuseei manuais
E vasculhei tomos

Olho noturno e diurno
Palmilhei as letras em estradas
Tropecei nas vírgulas
Caí no abismo das reticências
Jazi no cárcere dos parênteses
Rolei a mó das maiúsculas
Emagreci o nó górdio das interrogações
O florete das exclamações me transpassou
Enchi de calos a mão fidalga torcendo páginas

Em decifrar enigmas, fui Édipo
Enrolar cogitações, Sísifo
Em multiplicar folhas pelo ar, outono

Freqüentei guerras e arraiais
Assíduo no adro das basílicas
Cruzei mares
Pisei o pau dos navios
O mármore dos paços
E a cabeça das cobras

Estou com Parmênides
Fluo com Heráclito
Transcendo com Platão
Gozo com Epicuro
Privo-me estoicamente
Duvido com Pirro
E creio em Tertuliano porque é mais absurdo

Lanterna na mão
Bati à porta dos volumes
Mendigando-lhes o senso

E na noite escura das bibliotecas
Iluminava-me o céu a luz dos asteriscos

Matei um a um os bichos da bíblia!
Sabem com quem estão falando?


Paulo Leminski


Estarei lá nem que chova peixeira.

quinta-feira, junho 14, 2007

Parabéns pra você, Dalton.

saiu um solzinho
a voz de um amigo
já não estou mais sozinho

quarta-feira, junho 13, 2007

Isabel e Edílson, nossos bem amados anfitriões.

Ademir Assunção, Clarah Averbuck e Thadeu. Haja poesia pra tanto eu!



Thadeu e Luana Vignon, um verdadeiro encontro poético.





Thadeu e Chico Capetão. Poesia em dose dupla dá porre, porisso tomamos todas.







Catarina e Cláudia, presentes sábado e domingo no SESC Santana, fotografaram tudo.




O Edílson também.






Tudo perfeito!


Estive em São Paulo no final de semana e, como sempre, fiquei na casa de amigos. Normalmente fico na casa do Sérgio Viralobos, Ana, Felipe e Flávia, queridos de todas as horas. Mas desta vez fiquei na casa do Edílson e de minha adoradíssima Isabel. A viagem foi super agradável, ao lado da Catarina e do Chico Capetão. Uma série de programas gravados pelo Almirante sobre o Noel Rosa foi a trilha musical durante o trajeto. Na chegada, lá estavam Sérgio Viralobos e Edílson, com a geladeira cheia de cervejas e outras delícias. Tomamos e comemos sem perdoar nada. À noite, me apresentei no SESC SANTANA, abrindo o show do Patife Band, um grupo pra lá de bom. Me senti muito à vontade e acho que consegui demonstrar todo meu respeito e carinho pela poesia de Augusto dos Anjos, Paulo Leminski, Gregório de Matos e Maiakovski, como eles merecem. O meu querido Carlos Careqa está de parabéns pelo projeto. Conseguiu reunir uma turma genial: Mário Bortolotto, Clara Averbuck, Marcelino Freire; Paulo Miklos, Edvaldo Santana e bandas. São Paulo, mais uma vez, me provou que é a melhor cidade do Brasil, indiscutivelmente. Ou vcs pensam que é pouca coisa entrar num bar e dar de cara com o Bortolotto, Ademir Assunção, Luana Vignon, Clarah Averbuck, Carlos Careqa, Sérgio Viralobos e Edílson Del Grossi? Não se assustem se, dia desses, vcs abrirem meu blog e estiver escrito o Polaco da Lapa ou Polaco do Bexiga.
Amanhã tem mais fotos.


Thadeu W

sábado, junho 09, 2007


Hoje vou de eu mesmo, Leminski, Maiakóvski e Augusto dos Anjos. Precisa mais?

quarta-feira, junho 06, 2007






A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 8


Cada um tem seus pobrema.


Por um triz, Tonho não morreu. Graça ao pastor
Marcos, da Universal. A morte causou dor
E comoção em todo bairro. Linchamento
É o que prometiam ao pai dos quatro piás.
A Igreja Universal intercedeu, aliás,
Não permitiu violência, porque o julgamento
Só caberia a Deus e não às suas criaturas.
A salvo, Tonho foi levado por viaturas,

Ao Décimo Distrito para depoimento.
A ressaca não deixa que o acontecimento
Se esclareça em seu cérebro. Está confuso.
Só sabe que seus filhos morreram queimados
E que não tem mais nada. Olha para os lados
E abaixa sua cabeça. “Fudeu, perdi tudo.
Mas pelo menos tô livre de alimentá
Quatro boca. Mocó faço outro no lugá.

Cada um tem seus pobrema.” Essa perspectiva
O alivia quando senta à frente do Escriba.
Ouvido, Tonho foi solto imediatamente
E levado pelo pastor para prestar serviços
À igreja. A idéia era dar um fim aos vícios
E convertê-lo ao bem como todo bom crente.
Assim se fez. O filho de uma puta vira
filho de Deus e parte pra uma nova vida.

Apresentado como exemplo a mais de mil
Fiéis, rapidamente, o cachação subiu
Na hierarquia da organização, ocupando
Um cargo no Núcleo de Serviços Gerais.
Formou-se em pedreiro recebendo a mais
Alta nota entre todos que estavam cursando.
Como dentro da Igreja manda a lei do cão,
Que diz que irmão só dá serviço a outro irmão,

Antônio ficou rico e fez grande sucesso
Na tela da TV. “Cristo me deu acesso
A tudo que sonhei um dia ter e hoje eu tenho.
Uma casa boa, dois automóveis, dinheiro
Na poupança, uma linda esposa e um veleiro.
Sou um homem feliz pela fé que mantenho.”
Seu depoimento em rede nacional rendeu
Grande leva de novos fiéis. E o fariseu

Foi guindado à condição de estrela-guia.
Seu jeito simples, fala mansa, a cada dia
Conquistava mais gente: um marketing perfeito.
Cidadão exemplar, adotou duas meninas,
Maria de nove, Marta de oito anos. Franzinas,
Aparentam bem menos idade. “Aceito
Essa responsabilidade ( disse ao vivo
Para as televisões) de ser pai adotivo.

É um ato de coragem, de fé, de respeito
E amor ao próximo. Ninguém tem o direito
De ficar alheio, fora da realidade
Triste desses menores que vagam nas ruas,
Abandonados, vítimas fatais das burras
Políticas que regem nossa sociedade.”
Com a melhora do discurso e o visual
Novo, ganhou lugar na sala episcopal.

E todo santo dia, leva alguns presentinhos
Para dar às filhinhas junto c’os carinhos
Sob os lençóis, enquanto a mulher lê a Bíblia,
Trancada em um quartinho, pagando os pecados
Do mundo e agradecendo os votos alcançados.
Reza sempre pedindo a Deus por sua família,
Que dê a ela saúde, mais felicidade
E dinheiro. Amém por toda a eternidade!

Fim do capítulo 8





terça-feira, junho 05, 2007




A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 7


As sombras de um grande amor


Meu nome é Wanderlei de Souza Lima Santos,
Mas me chamam de Lima, por todos os cantos.
Só os bem mais chegados, pela alcunha Escriba.
Gosto desse apelido, tem a ver comigo,
É minha profissão, a cara do meu umbigo.
Eu sou um filho pródigo de Curitiba,
Amante dessa ecologia que faz nascer
Poetas aos borbotões, como eu deveria ser.

Os livros me fizeram cócegas no espírito
Tão cedo que acabou virando um caso clínico.
Lia dia e noite sem parar, a adolescência
Foi me encontrar raquítico e cheio de espinhas,
Repetindo sentenças, ecoando ladainhas.
Primeiro foi Olavo Bilac, que inocência!
O vate parnasiano ainda estrebuchava,
Quando me deparei com o que mais buscava.

Ah! A poesia de Augusto dos Anjos me pega,
De tal jeito, tal forma, que sua luz me cega.
Haeckel, Spencer, Darwin, Schopenhauer entram
Em meus poros e, junto com eles, o ritmo
Alucinadamente feroz e legítimo
Desse músico paraibano, a quem tentam
Reduzir a um excêntrico tuberculoso,
Pessimista maior, cantador do horroroso.

Se alguém riu como Henri Heine riu, foi ele.
Não duvidem de mim, pois eu ri através dele.
Sei que ele fez das tripas o seu coração,
Sei também que da dor e do cientificismo
Se serviu, mas não fez do amargo ceticismo
A válvula de escape, o doce da ilusão.
Não! Mastigou com fúria todas as palavras
Pra lavrar em sua alma as rimas mais raras.

“Ah, dentro de toda alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca.
Assim também observa a ciência crua,
Na elipse ignívoma da lua,
A realidade de uma esfera opaca.

Somente a arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo fogo telúrico profundo
E reduz, sem que entanto a desintegre,
À condição de uma planície alegre
A aspereza orográfica do mundo.

Provo dessa maneira ao mundo odiento,
Pela grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria!” (1)

Quantas vezes reli essas três estrofes...Eu
Perdi a conta, meu Deus! Mas ainda não nasceu
Poeta melhor no mundo. Talvez do tamanho;
Maior, não. O Leminski é outro parada
Dura, nem Maiakóvski dá pra chegada.
Aqui em Curitiba, não tem jogo ganho.
Os poetas dão no gorgomilo, vão na veia,
Então, ninguém convida pra uma santa ceia.

Do Catatau nem falo, quem quiser saber (2)
Comece agora mesmo a aprender a ler.
Mas mudou minha vida, mudei eu, mudou
O mundo e a guinada fatal foi passar
Num concurso para escrivão e indo parar
No décimo distrito, onde até hoje estou.
Meu ímpeto heróico brochou como brocha,
Diante da força d’água, a dureza da rocha.

Anos a fio passei roendo dedos e unhas,
Ouvindo réus, culpados ou não; testemunhas,
Falsas e verdadeiras, e sem fazer nada,
Mas absolutamente nada! Zero à esquerda,
Um zé ninguém, que só sabia de lucro e perda.
Um navio que se perde na canoa furada
Em que entrou de gaiato. Mas tudo tem volta.
E foi o Osso quem deu vez à minha revolta.


Fim do Capítulo 7


(1) Excerto do poema Monólogo da Sombra, de Augusto dos Anjos
(2) Livro mais polêmico de Paulo Leminski

segunda-feira, junho 04, 2007







A VINGANÇA DO POVÃO

Capítulo 6

Para onde vão os sonhos quando, enfim, morrem?


Há um desenho sobre a mesa, há uma toalha
Branca e muito papel. Em seus sonhos trabalha
Gilberto. São pequenos, simples, como podem
Ser os sonhos de um homem que vive dos parcos
Frutos de seu trabalho. “Artistas são arcos
De onde saem flechas vivas que no alvo explodem.”
Giba, como é chamado pela turma, tem
Um dom muito especial, que já veio em seu gen.

Exímio dos mais hábeis na marcenaria,
Giba é admirado pela arte que cria,
Dando a tudo que faz, originalidade
E graça. “A madeira é uma grande amiga,
Dela só tiro as sobras. O que mais me intriga
É o fato de eu nunca saber de verdade
Quem fez o quê. Se a peça já estava pronta,
Meus méritos são poucos, não os levo em conta.

Filho de marceneiro, marceneiro é.”
Repete sempre esse jargão, em sua boa fé.
Pra não ser caricato e nem piegas, afirmo,
Sem medo de errar: Giba é um cara feliz.
É certo que é simplório e certo quem diz
Que ele também adora cair num abismo.
Profundas depressões às quais, de quando em quando,
Sucumbe sua alma sensível, aluando-o.

Foi num desses buracos negros que encontrou
Ana pela primeira vez. Ela tomou
Assento no banco, ao seu lado, no Ligeirinho
São José-Barreirinha e, ao ver escorrerem
Lágrimas, puxou papo, antes de descerem.
- Puxa vida! Por que você está tão tristinho?
A vida é boa, sorria. Isso! Assim é melhor.
Seu rosto ficou lindo e já passou o pior.

“Obrigado. Nem sei por que estou me sentindo
Tão mal. Mas, muitas vezes, penso que estou indo
Na contramão da vida, como se daqui
A pouco fosse dar de cara com um muro
A duzentos quilômetros por hora. Juro.”
- O número do meu telefone está aqui.
Ligue pra mim à noite, desço neste ponto.
Desce e Giba já sonha c’um novo encontro.

Às dezenove e trinta, com o coração
Na mão, liga. Dá certo. Ao ouvir “Pois não?”,
Suas pernas começaram a tremer; e a voz,
A gaguejar: “Sou eu, Gilberto. Des-desculpe,
Mas vo-você pediu pra eu ligar. Escute,
Se eu estiver te incomodando...então...nós
Poderemos falar quando você puder.”
- Não, não. Calma, pois não se apressa uma mulher!

“Perdão, perdão. Estou nervoso em demasia.
Meu estômago está dando pulos. Azia
É um refresco perto do que estou sentindo.”
- Que bom!, fiquei em dúvida, achei que não
Iria ligar pra mim. Não jogava um tostão,
Se fosse pra apostar. Eu só perco no bingo.
Acho que estou te enchendo com todo esse papo...
“Ao contrário, minha conversa é que é um saco.

Por mim, eu fico aqui até minha orelha inchar.”
-Vejo que seu humor mudou. Quer me agradar
Ou está se sentindo melhor, de verdade?
“Você nem imagina o bem que me fez.
Desde que nos falamos, um segundo é um mês,
Cada minuto, bem mais que uma eternidade.”
- Uau, tenho um poeta no meu telefone.
Você não disse ainda se gostou do meu nome.

Essas amenidades, ditas via Gran Bell,
Em pouquíssimo tempo, levou-os ao céu.
Uma paixão devastadora, dessas fúrias
Que só a natureza é capaz de criar,
Com dois corpos ocupando um só lugar.
O noivado chegou pondo fim às lamúrias
Do pai de Ana, que via nos amassos sem fim
Um projeto de neto e não é bom assim.

Ele queria que a filha casasse de véu
E grinalda ou faria o maior escarcéu.
Gilberto passa as horas de folga fazendo
Planos ou desenhando sua nova casa.
Sem grana, vai ao chão, perdendo vôo e asa.
Adaptou o projeto, mesmo entristecendo
Ana, pois eram dela as idéias cortadas,
Por serem muito caras e inapropriadas.

Prevaleceu o bom senso de Giba e sogro,
Que cedeu ao casal, do seu terreno, o dobro
Da área que ocupava sua residência.
“Trezentos e dez metros quadrados, amor!
Seu pai é demais mesmo. Nos fez um favor
Tão grande que nem sei o que dizer. Paciência
É só o que precisamos agora, querida.
E então construir o ninho para a nossa vida.”

Ana não disse nada. Mas nem bem Gilberto
Sai, cai num choro só, triste, de peito aberto.
No céu, estrelas piscam para o infinito
Se desfazendo em luz e vida para os poetas.
Giba se sente um deles, pois todas as setas
Apontam a um futuro em paz e tão bonito.
“Ana é a melhor coisa que já me aconteceu.
Deus teve um belo dia, sorriu e ela nasceu.”

Fim do Capítulo 6





Foto de Cláudia Becker do show Clube da Claudete. Da esquerda para a direita:
Rodolfo, Thadeu, Octavio e Troi.




Só pra CHATear


Hoje à tarde falei com Octávio Camargo ( o horário que aparece é o da Macedônia) e, como sempre, meu bom amigo levantou meu astral. Então resolvi postar nossa conversa. Visitem os links que aparecem. Vale a pena conferir.


19:50 Thadeu: fala, monstro
19:51 Octávio Camargo: tô na tua terra
skopje

Thadeu: polhaco!!!
Octávio Camargo: ducaraaaaaaaaaaaaaaaaaalho
Thadeu: iebas
Octávio Camargo: muito lindo
tô aqui na função
ensinando as helenas a blogar

duas helenas foram pegar a gente na fronteira

19:52 a elena
e a jelena
Thadeu: rsrsrsrsrs
Octávio Camargo: macedônia
e búlgara
mas escrevem em cirilico
como os teus parentes

Thadeu: putz
Octávio Camargo: de varsóvia

muito massa
tô fazendo o post
abraço pra todos

19:53 Thadeu: tire umas fotos
Octávio Camargo: saudades de oceis
pode deixar
vai rolar na seqüência
Thadeu: mande no meu email
Octávio Camargo: blz
abre o hackeando
Thadeu: tire das casas rurais
Octávio Camargo: cha comigo
Thadeu: eu quero comparar com a arquitetura que eles trouxeram
19:54 Octávio Camargo: blz
Thadeu: é parecido ainda?
Octávio Camargo: aqui é macedônia
mas é eslavo
outra coisa

diferente da Europa
povo pobre
e carinhoso

Thadeu: duca
19:55 Octávio Camargo: foram buscar comida pra nós
Thadeu: saiu a grana?
Octávio Camargo: gente de primeira
saiu nada
tamo na fita
Thadeu: putz
Octávio Camargo: mas blz
Thadeu: como é q vcs tão se virando?
Octávio Camargo: de um lado pra outro
hehe
Thadeu: tão fazendo shows pra levantar algum?
19:56 Octávio Camargo: não

cara
tô notra
nada de grana
não quero isso

Thadeu: sim, mas pras despesas
Octávio Camargo: vamos de gente em gente

esse é o jeito

Thadeu: certíssimo
Octávio Camargo: hehe
19:57 com grana a gente não fazia isso
Thadeu: tô ensaiando o show de sampa
Octávio Camargo: não ia ter sorriso
massa
quebra tudo
Thadeu: acho que vai ser do caralho
vou misturar letras com poemas

19:58 Octávio Camargo: isso
Thadeu: e a claudete?
Octávio Camargo: cozinhando
tá bem
de mochilonha
Thadeu: tá se divertindo?
Octávio Camargo: parece uma gatinha
indo pro morumbi

Thadeu: rsrsrsrs
Octávio Camargo: sim
Thadeu: manda um abração prela
Octávio Camargo: pode dexa
19:59 Thadeu: e vc tá tocando?
Octávio Camargo: agora tô blogando

com uma elena de cada lado
hehe

Thadeu: óbvio, desgraçado
rsrsrsrs
Octávio Camargo: tão rindo aqui comigo

vo mandar foto na seqüência

Thadeu: diga que eu amo as polacas
20:00 Octávio Camargo: acabei de falar
ganhei dois sorrisos
hehe
Thadeu: fala de amigo
cada lembrança
um sorriso
Octávio Camargo: iuhuuuuuuuuuuuuu
20:01 Thadeu: fiz agora
Octávio Camargo: ducaralho
Thadeu: vou colocar no blog
Octávio Camargo: isso ae
copie o chat
Thadeu: mandou tá mandado

Octávio Camargo: e sobe lá
Thadeu: tá
20:02 Octávio Camargo: tô diminuindo o tamanho pra caber no email

tô baixando o gimp agora
guenta aí

20:03 Thadeu: ok
Octávio Camargo: 10 minutos
já vai
20:04 Thadeu: como é q está o tempo aí?

aqui um frio do caracoles

Octávio Camargo: 20 graus
Thadeu: aqui de manhã 0 grau

agora deve estar uns 12

20:05 Octávio Camargo: vish
Thadeu: estou há10 dias de cama
Octávio Camargo: mas já tá melhor?
Thadeu: hoje estou me sentindo melhor
Octávio Camargo: eba
saúde!
20:06 Thadeu: é, espero que agora a doença vá desaparecendo

acho que foi gripe com pneumonia
e uma recaída

20:07 Octávio Camargo: caralho
Thadeu: passei mal pra caralho
sem força
Octávio Camargo: a gente precisa circular

muda tudo
isso é incompreensão
sei o q que tô falando
daí cai de cama

20:08 pera aí, já volto
Thadeu: pro
cura-se
um doente
Octávio Camargo: já tá melhor
tá vendo?
Thadeu: o texto do augusto dos anjos vai ficar um tesão, cara
20:09 putz até eu tô gostando da minha interpretação
Octávio Camargo: tenho certeza
hehe
Thadeu: acabei de abortar um et
porra tá saindo tudo
20:10 acho que foi allien só que esverdeado
Octávio Camargo: tosse que sai tudo
Thadeu: chega de tossir

meu diafragma ainda está dolorido

20:11 Octávio Camargo: faz poema
que o resto ajeita
20:12 Thadeu: tô fazendo a novelha

tá no quinto já
hoje vou postar o sexto à noite

Octávio Camargo: massa
vou ler
20:13 Thadeu: mas o pessoal não está entendendo

tá muito ruim a resposta
vai ser a última

Octávio Camargo: não dá pra esperar isso aí

tô falando faz tempo
tem que dar a volta

20:14 mas vai rolar

tô fazendo o trecho
vai dar certo
tudo vai mudar
hehe

Thadeu:

saiu um solzinho
a voz de um amigo
já não estou tão sozinho

Octávio Camargo: hehe
20:17 duca
Thadeu: 20:18 qual a previsão de vcs voltarem?
Octávio Camargo: 17 de junho tamos de volta
20:19 Thadeu: quantas apresentações vcs ainda vão fazer?
Octávio Camargo: mil e trinta
Thadeu: rsrsrsrs

a cata está te mandando um beijo

Octávio Camargo: athenas

berlin
e amsterdan
http://www.turbulence.org/blog/archives/004333.html

Thadeu: esse é o arquivo?
20:20 Octávio Camargo: não

é o link de skopje

20:21 Thadeu: acabei de ler
20:22 Octávio Camargo: tem o de berlin tb
pera ai
Thadeu: é isso aí
20:23 Octávio Camargo: http://www.upgrade-berlin.net/
20:24 Thadeu: vou colocar esses links lá no blog
du caralhíssimo
Octávio Camargo: é, velho
tem athenas tb
Thadeu: vcs vão sair e voltar p/a Grécia?
20:25 Octávio Camargo: sim
amanhã
Thadeu: arrumaram passagens como?
Octávio Camargo: jesus cristo
Thadeu: esse é confiável
Octávio Camargo: sim
20:26 Thadeu: se conseguir postais ou fotos dos monumentos em berlim,
guarde uns para mim
Octávio Camargo: blz
20:27 Thadeu: o win wenders mostrou alguns nos filmes Tão Perto, Tão Longe
e Asas do Desejo
Octávio Camargo: sim

mas bom mesmo é aqui
Europa oriental
o resto já era
aqui tem povo

20:28 Thadeu: o povo eslavo é um dos mais misericordiosos do planeta
Octávio Camargo: tô percebendo
Thadeu: humanos demais, por isso sofrem
por isso são tão felizes

20:29 Octávio Camargo: faz sentido
20:32 Thadeu: vou ensaiar
Octávio Camargo: prega fumo
Thadeu: nos falamos na continuação
Octávio Camargo: blz
Thadeu: grande abraço e arrebentem
Octávio Camargo: de um beijo no povo ai
po dexa
Thadeu: dou sim

dá um beijo nessas polacas

20:33 Octávio Camargo: xa co beque
20:36 Thadeu: fui dar um copy nos links e perdi tudo
20:37 mande de novo pra mim
Octávio Camargo: é só abrir o arquivo com o chat

tá em bate papo
à tua esquerda
na tela
tá tudo gravado lá

20:39 Thadeu: não tá
Octávio Camargo: claro que tá
Thadeu: então tá

domingo, junho 03, 2007


Infelizmente vou perder o show do Careqa e a performance do Bortolotto,
pois só poderei estar em São Paulo na sexta pela manhã.
Fico aqui torcendo pra que os dois arrebentem.
Bom show pra vcs.

sexta-feira, junho 01, 2007





A VINGANÇA DO POVÃO


Capítulo 5


Um homem sem buceta não é nada?


“Cansei de ser ninguém, papai, vou mudar mesmo.
Eu quero mais pra mim. Não lhe faltou esmero
Ou carinho na minha educação, papai.
Mas cansei de ser pobre. Chega de contar
De tostão em tostão. Isso vai me matar.
Diga ao meu noivo fim, adeus, tchau e bye bye.
Vou sumir, quero um homem rico, poderoso,
Que me dê valor, jóias e seja generoso.

Eu amo o Gilberto, o senhor sabe bem.
Faria qualquer loucura por ele, mas sem
Dinheiro não consigo mais viver, ok?”
- Minha filha, você é tão jovem ainda,
Mal começou a vida. Espere que um dia finda
Essa amargura. Saiba que o que eu não te dei,
Não foi porque não quis; eu realmente não pude.
Tua mãe sofreu demais c’as bobagens de Hollywood.

Ela me deixou só e falando sozinho,
Encantada c’a grana do nosso vizinho,
Que é sempre mais verdinha. Até riu da minha
Cara e disse que tinha vergonha de mim.
Cinco anos depois, o sonho chega ao fim
E volta para casa, trazendo sua ruína.
Tinha se tornado uma alcoólatra, viciada
Em cocaína e outra droga mais pesada.

Não morreu porque Deus não quis levar a triste.
Por favor, não me faça pôr o dedo em riste.
“Já decidi, papai. Minha mala está pronta.
Vou aprender a amar o Artur, mas voltarei
Um dia, e provarei ao senhor que acertei.
Sei que lhe devo muito e pagarei a conta
Com juros e juras de amor. Tá bem, paizinho?”
- Não, não está bem não. Eu me sinto miudinho.

Esse cara vai ser tua desgraça, meu anjo.
Você é uma criança; ele, um baita marmanjo.
Já tem filho e vocês mal se conhecem, Ana.
“Você e a mãe, deu certo? Namoraram cinco
E ficaram noivos mais de dois anos. Vínculo,
Papai, só faz o amor. Artur não é um sacana.
Ele tem sido bom pra mim, me sinto bem
Ao seu lado. Cansei, pai, de não ser ninguém.”

- Está bem então, filha. Se tua mãe não serve
De exemplo, apodrecendo no hospital, observe,
Pelo menos, o aviso que vou dar agora:
Não engravide já. Espere ter certeza
De seu amor, de seus sentimentos, princesa.
“Claro, papai. Mas tenho que ir sem mais demora,
O Artur odeia quando o faço esperar
E, aliás, pai, ele acabou de buzinar.”

Foi, deixando seu pai e um coração partido.
- Mas o senhor não poderia ter impedido?
- Tentei, Gilberto, pode acreditar. Tentei,
Com todos argumentos de um desesperado
Pai, mas falhei. Falhei...Estou desamparado
Como você, meu filho. Tudo que sonhei
Foi embora também. Não sobrou nada. Nada.
Espero que a tristeza seja camarada.

Gilberto ficou mudo, acendeu um cigarro
E saiu violentamente, amassando o barro.
Foi à sua oficina e enforcou-se todo.
Encontraram-no preso por um cabo de aço.
A ironia maior: Ana perdia o cabaço
Na mesma hora em que a alma abandonou o corpo.
Quando soube da morte, Ana pediu pra morrer.
E morre, só a paixão de Artur não deixa ver.


Fim do capítulo 5