chico mendes
Cabeça, tronco e membros fazem um homem,
assassinos, juízes, demônios e santos -
seres - vivos os contrastes: peso, medida, cor.
Mas um homem não é apenas um mero nome,
isso todos têm e os títulos são tantos,
que, em essência, a diferença está mesmo no amor.
Amar é conhecer o chão em que se pisa,
sabedoria que brota pela profundidade das raizes
e vai de coração a coração prestando benefícios.
O sol, por exemplo, com sua irradiação precisa,
entre luz e sombra, matriz de todos os matizes,
sobre tudo brilhando, bons e maus, virtudes e vícios.
Uma Amazônia não cabe apenas num poema,
só mesmo um Deus para defini-la ao certo,
ou um homem que Dele se aproxime e dela faça parte.
Alguém que não prede o seu próprio ecossistema,
pois sendo planta, peixe ave, bicho e não deserto,
sabe que reside dentro de si, intacto, o seu habitat.
Fora, longe do equilíbrio que a tudo regenera,
estão os que só vêem lucro por toda a mata,
com suas armas de fogo, machados e motosseras.
É necessário, aqui, definir o que realmente é fera:
de um lado, aquela que mata na medida exata;
do outro, a que perdeu a noção do que são essas terras.
Chico, incorporado ao espírito da floresta,
não sente mais as balas que lhe atingiram o tronco
e hoje vive como nunca entre gnomos e duendes.
É que a sua vitória régia é a que nos resta
até que seringueiros e índios ensinem ao homem bronco
o que significa para o mundo a Amazônia e Chico Mendes.
antonio thadeu wojciechowski, marcos prado e ubiratan gonçalves de oliveira