polacodabarreirinha

Poesia, música, gracinhas e traquinagens

segunda-feira, junho 30, 2008



Pôr do Sol


Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda

De todas as delícias; um momento

Escutei o sol, amorável adolescente,

Tirar da lira celeste as notas de ouro

Do seu canto da noite.


Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;

Ele no entanto já ia longe, levando luz

A gentes mais devotas

Que o honram ainda.



Friederich Hölderlin

Tradução de Manuel Bandeira



"Viver sem filosofar é o que se chama
ter os olhos fechados
sem nunca os haver tentado abrir."


René Descartes



"O dinheiro é uma felicidade humana abstracta; por isso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele."



Arthur Schopenhauer



Mágoa


Eu que cheguei a ter essa alegria
de junto ao meu possuir teu coração,
eu que julgara eterna a duração
do voluptuoso amor que nos unia,

sou,- apagada a última ilusão,
morto o deslumbramento em que vivia,
- um cego que ao lembrar a luz do dia
sente mais negra ainda a escuridão.

Tu me deste a ventura mais perfeita,
perdi-a, e dei-te a chama insatisfeita
dessa imensa paixão com que te quis...

Hoje, o que sinto, inútil, revoltada,
não é mágoa de ser tão desgraçada,
é pena, de ter sido tão feliz.


Virgínia Victorino


Renúncia


Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
Devia ter cantado e não cantei...

Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...

Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...

E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...

Virgínia Victorino




Cinzas

Tu também morrerás, cinza adorada.

Essa beleza é certo que pereça,

Essa mão, essa esplêndida cabeça,

Esse corpo de argila iluminada.


Sob o gume da morte ou sob a geada

Serás mais uma folha que estremeça

E co’as outras te vás – verde e travessa,

Depois de morta, sem cor, desintegrada.


De nada o meu amar terá valido.

Apesar deste amor, tu chegarás

Ao fim do dia e tombarás vencido,


Obscuro como a flor que cai, por mais

Que tenhas sido belo e tenhas sido

Mais amado que todos os mortais!


Edna ST. Vincent Millay





Fernando Pessoas escreveu centenas de quadrinhas ao gosto bem popular,

utilizando-se de heptassílabos e temáticas simplórias.




Deixa que um momento pense

Que ainda vives ao meu lado...

Triste de quem por si mesmo

Precisa ser enganado!



Fernando Pessoa

Esta foto é do tempo que se amarrava carne com lingüiça.

BICHO DO PARANÁ

Édson de Vulcanis, o aranha. Poeta, letrista, filósofo e funcionário público, esse cara é tudo do bom e do melhor. Mais que amigo, é meu irmão. Temos algumas centenas de parcerias, poemas, músicas e milhares de gracinhas, chistes, pilhérias e bazófias. Foi um dos grandes parceiros do Marcos Prado e fizeram coisas absolutamente geniais como os livros PASSEI MINHA MÃO NA CARA, PARAGUAYOS DO UNIVERSO E TRÊS QUADRÚPEDES BÍPEDES, este último junto com o Cobaia. Visitem os seus blogs:

www.ideiasaracnídias.blogspot.com

www.nocoesunidas.blogspot.com


Bem no meio


Segunda-feira, trinta de junho, meu deus!,

Meio ano se foi e já foi tarde.

Pra que que serve um ano inteirinho?

Ei, pare aí mesmo! Esses dias são meus,

Tempo ladrão, lazarento, covarde!

Pensa que não tô vendo, saindo de fininho,

Minha vida escapulindo do meu controle?

Ê, basta de ser besta, seu bosta!

Poeta que é poeta fica fazendo versinho

Nem que a inspiração o abandone

E a musa vá bater em outra porta.


A semana começou faz uma vida e meia

E depois que começou, você já sabe,

Não acaba nem quando chega ao fim.

Nunca houve uma terça-feira,

Esta segunda é tudo que nos cabe.

E pensando bem, a continuar assim

É melhor parar por aqui mesmo.

Eu por todos e todos por mim,

Antes que nunca seja tarde demais

E esta segunda-feira já seja o de menos

Agora que mais dia menos dia tanto faz!



Thadeu W




domingo, junho 29, 2008

Leminski by Solda

Bigodes pra mais de metro.

Thadeu by Pryscila

Bigodes pra mais de metro.


Três Destinos do Solda

1.


isso é coisa do destino:
o que seria do ébrio
sem o Vicente Celestino?



2.


sou assim genuíno
por obra e graça
do meu destino



3.


alguém já disse e hoje eu ensino:
cada um deve seguir
o seu próprio destino





Bigodes pra mais de metro.


O home é bão


meu senhor, minha senhora

vou falar de um homem bão

um filósofo alemão

que tirava cada idéia da razão


certa feita sucedeu

que um carroceiro xucro

espancava seu corcel

Nietzsche com seu bigodão

apinchou-se na frente do alazão


escreveu: Deus morreu!

Deus morreu e respondeu:

"como você é bobo, meu filho

pra mim a morte não é empecilho"


meu senhor, minha senhora

não esqueça a lição

aqui, super-homem só sai do chão

nas verdadeiras asas da imaginação




Thadeu W, Rodrigão, Édson de Vulcanis e Chico Capetão






Foto que tirei no meu quintal durante a última lua cheia.

Atentem para as teias armadas no cedro rosa.


BICHO DO PARANÁ

O Sérgio Viralobos é uma das figuras mais polêmicas do sul do cu do mundo. Poeta genial, letrista, punk, trabalhoólatra. Foi um dos fundadores da Contrabanda e do Beijo AA Força.

Traduziu junto comigo Fausto Um e Um Fausto Dois. Com o Marcos Prado fez vasta parceria, que inclui centenas de canções, traduções, poemas. Nós três juntos, fizemos a livre adaptação do Inferno, da Divina Comédia. Recentemente lançamos o livro de poemas Não temos nada a perder, com algumas nossas parcerias. Hoje o Sérgio está no Pará onde é Superintendente do Banco do Brasil.

Polaco da Barreirinha


morte artificial



Ninguém mais morre de fato,

a morte perdeu seu antigo status.

A vida ocupou todo o espaço

assim como nos desertos os cactus.


Foi-se pra sempre a negra figura da morte,

decretamos nossa eternidade à revelia.

Doações de órgãos de toda sorte:

um olho pra fulano, outro pra beltrano, alegria

pra sicrano e o coração pra qualquer uma.


Aos pedaços, algum incauto há de dizer:

isso é vida? uma duna que se avoluma?

Só sei que foi tudo que pude morrer.



Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos






imagem e semelhança

que bicho é esse
que me deu a sensação
de nós sermos menos?

tudo que nele vê-se
pele, olhar, sonhar de dragão
são asas que ainda não vemos?

mesmo que eu lesse
mil vezes a teoria da evolução
acharia que deus o fez para nele crermos


thadeu w



sábado, junho 28, 2008


Clic 2 vezes para ler.


Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça.

Clic 2 vezes para ler.






O gênio de Pau Grande


Quando Garrincha jogava
a bola ia sempre na mesma direção,
para o mesmo lado da quadra
ou às vezes nem ia até.


Ficava ali, parada, olhando pro Mané,
que olhava os adversários no chão.
Ela, em segundos que pareciam horas,
pensava: “Deus joga certo por pernas tortas”


Antonio Thadeu Wojciechowski



Hoje, sábado, a partir das 14h, bate papo com Ulf Lindberg,
o filho sueco de Mané Garrincha.
Todo mundo lá.

quinta-feira, junho 26, 2008

O Chico Fantasma, quando não está no terreiro, está torcendo.


Bola Perdida

“Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.”

Claudiomiro, meia do Internacional ao chegar em Belém do Pará para jogar contra o Payssandu, pelo campeonato brasileiro de 1972.


“Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.”

Jardel, ex-atacante do Grêmio e do Vasco.


Meus inteligentíssimos leitores, confesso a vocês que ocupar este espaço aqui no polaco da barreirinha me tem sido uma grata surpresa e, além disso, me proporcionado inéditas alegrias. Este blog tem essa coisa maravilhosa que é o encontro, a confraternização, a felicidade de dividir para poder multiplicar. A inteligência aqui é tratada a nacos de broinha de fubá mimoso e goles inquestionáveis de licor de ovos. Um blog feito para o intelecto, para a alma, para o coração, onde as idéias respiram o ar de uma atmosfera criativa e libertária. Um espaço único em que a sutileza dos pensamentos consiste em descobrir a semelhança entre as coisas diferentes e a diferença entre as semelhantes. Mas isso não tem importância.


OS FALACIANOS NÃO PASSAM DE UMA BAZÓFIA.


- Que coisa lamentável, puta que pariu! A vaca velha repete, repete, repete. Nunca tem nada original. Será possível, camafeu de puta? É sempre o mesmo lero-lero, um nhém-nhém-nhem interminável, um blá-blá-blá afeito a gongorismos, barroquismos que ninguém agüenta. Fecha essa matraca, ô boca de asno! Muge e pensa que me agride o ser úmido, pegajoso e untuoso ao tato, sentado à minha direita. O Geraldo, vocês sabem, meus conscientíssimos leitores, fornica com a própria alma, fato que faz com que sua aparência se degrade desesperadamente a cada minuto.

- Deixa pra lá, Geraldo. O Dalton é um caso perdido. O traça de biblioteca acha que está acima de nós, acima do bem e do mal, acima de Deus. É um coitado, com quase sessenta anos e o mesmo terno de 30 anos atrás. Essa gravata, que ela está usando sem parar, era do avô dele e naquele tempo já estava fora de moda. Ahahahahaha...Ri-se a espinha Ribamar prestes a entrar em erupção.

- Ahahahahahah...O foda é que o cara é pobre duas vezes: de matéria e de espírito. Ahahahah...Já pensou, Riba, se esse escriba de quinta categoria tivesse grana?

- Tá louco! Sendo mendigo, já anda com o rei na barriga...ahahahaha...imagine com grana...ahahahahah....

Muita vez, eu acho graça das bazófias desses dois. Pelo menos eles ficam felizes com a minha completa desgraça financeira e total inabilidade para gerir-me economicamente. Sou um pobre coitado atropelado pelas dívidas diariamente. Uma cava humilhação que me acompanha desde que, aos 6 anos, comprei fiado a minha primeira maria-mole no armazém do seu Boleslau. Na verdade, saber escrever me deu apenas prestígio e prestígio só dá dinheiro mesmo para a Nestlé. Mas não me lamento por viver com a corda no pescoço. Tiradentes também esteve assim e hoje é herói nacional. Mas isso não tem importância.


A MAIORIA ESMAGADORA É IGNORANTE
DE PAI E MÃE.


O que eu quero mesmo lhes dizer, meus impacientíssimos leitores, é que não existe nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal. Ou como eu sempre digo e repito, a ignorância trava o espírito, a inteligência o imortaliza. Raciocinem comigo. A ignorância é como nossos tribunais, que, cegos pela lei, existem com um único fim: manter a sociedade no seu estado atual. O poder ampara, promove e aduba a ignorância e seus adeptos, que, por sua vez e por sua maioria esmagadora, se tornam mantenedores do poder, num círculo viciado e vicioso. O brasileiro, por natureza, é um ser essencialmente omisso, da mais cínica e deslavada omissão. Vejam vocês, no trânsito, por exemplo, o brasileiro até na hora de ser atropelado quer tirar o corpo fora. Mas sem querer partir pra ignorância, digo-lhes que toda omissão gera corrupção e toda corrupção gera mais miséria e mais ignorância. E foi assim que nossos políticos se tornaram os mais religiosos do mundo, levando, em cada obra, dois terços. Mas não riam, meus bem-humoradíssimos leitores, pois quem acha tudo gozado é faxineira de motel. E é sempre bom também lembrar que o cérebro é uma coisa tão maravilhosa que todos deveriam ter um. Mas já que desistir é uma solução permanente para um problema temporário, eliminemos essa hipótese covarde e vamos ver a vida com outros olhos. O Brasil, por exemplo, precisa explorar com urgência a sua riqueza, porque a pobreza não agüenta mais ser explorada. E por onde começamos? Pelo começo é óbvio, ou seja, pela educação. Platão dizia que pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre idéias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas. Nós, meus sapientíssimos leitores, por estarmos atentos às idéias, já descobrimos que, quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas. Mas isto não tem importância.


POLÍTICO BOM É POLÍTICO MORTO
OU SENDO NOIVINHA ATRÁS DAS GRADES.



O que eu queria mesmo lhes dizer é que os políticos são como as fraldas: devem ser trocados constantemente, e sempre pelo mesmo motivo. Entre uma troca e outra, tudo que nos resta é esperar o melhor, se preparar para o pior e receber o que vier. Mas não custa lembrar que só existem dois dias no ano em que a gente não pode fazer nada pela nossa vida: ontem e amanhã. Hoje vocês podem até dançar um tango argentino. Caso contrário, restam ainda os livros de auto-ajuda. O quê? Vocês acham que não funcionam? É claro que sim. Os livros de auto-ajuda já deixaram milionários centenas de escritores medíocres. Bom, mas o mundo não acaba aqui e agora. E vocês têm belíssimas opções. Existem os clássicos, mas é claro que esses exigem um maior esforço, mais concentração, não são pra qualquer ignorante ler e sair por aí citando-os à boca pequena. Porém, dos ignorantes e idiotas eu perdôo a falta de ambição intelectual. Pra mim, os verdadeiros analfabetos não são eles e, sim, os que aprenderam a ler e não lêem. Tiveram boa escola, bons mestres, pais interessados e comprometidos com o futuro dos filhos, e, no entanto, são uns burros metidos à besta. Uns cretinos, marcados a ferro e fogo pela pusilaminidade. Mas isso não tem importância.


DOS MALES O MENOR.


Na terça-feira, o Trevisan chegou cedinho lá em casa, querendo saber notícias do meu tio:

- E daí, índio velho, como é que está o nosso Torcedor?

- Completamente mudo.

- Sério? Puta merda!

- Tentei conversar com ele, argumentei, falei até sobre a influência das aranhas na imprensa marron. E o máximo que ouvi foi um muxoxo.

- Tá foda o troço, então!?

- Tudo culpa do Dunga.

- É pra você ver, o Torcedor ama o futebol arte e o Dunga implanta o futebol força, de marcação, onde o craque tem que ser um perna-de-pau que nem ele. O teu tio vai morrer seco e arreganhado. Mas me diga, ele não moveu um lábio para perguntar do Atletiba?

- Quando toquei no assunto, ele dormiu. Você acha que...
O Trevisan saiu e não disse nem tchau. Fiquei a pensar com os meus botões de futebol de mesa. Hoje em dia se sairmos de casa e um pombo cagar em nossa cabeça, o negócio é relaxar e pensar na perfeição da Mãe Natureza, que deu asas aos pombos e não às vacas ou aos elefantes. Mas me dêm uma licencinha que o telefone está tocando:

- Alô!

- Oi!

- Desembucha, animal!

- Ô Dalton, sou eu, o Roberto Prado.

- Não reconheci a voz, Beco (Pronuncia-se Béco). Que que manda?

- Quem conhece a sua própria ignorância revela a mais profunda sabedoria. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão. A diretoria do coxa virou ignorante agora?

- Do que você está falando?

- Do Carlinhos Paraíba, o único craque do time. Estão querendo fazer grana com ele. Se ele for pras Arábias, o time vai pras cucuias.

- Não acredito que o Cirino vá permitir uma heresia dessas.

- É, não sei não. Dois milhões de dólares por 3 meses de empréstimo fazem muita cociquinha no bolso.

- Mas, Beco, dinheiro é uma coisa que você precisa apenas para o caso de não morrer amanhã. Veja que...
O desgracido desligou, antes que eu completasse meu raciocínio. Vou até a varanda, sirvo-me de um belo copo de licor de ovos e uma travessa de broinhas de fubá mimoso e durante horas fico bebericando e papando as delícias, que o papai aqui não é bobo. Mas isso não tem importância.


A HISTÓRIA SÓ SE REPETE COMO BARSA
OU GOOGLE.



O que eu quero mesmo lhes dizer é que dedico um amor enorme aos meus filhos e criá-los, confesso, é como jogar videogame, pois a fase seguinte é sempre mais difícil. Dia desses, o meu filho mais novo, 17 anos, sentou-se ao meu colo e remexendo meus cabelos brancos,
saiu-se com essa:

- Roubar idéias de uma pessoa é plágio; roubar de várias, é pesquisa.

- De onde você tirou isso, piá de bosta?

- Ah...todo mundo faz assim lá na faculdade. Você vai no Google e daí é só Ctrl C e Ctrl V. Em 10 minutos está feito o trabalho.

- Você acha justo, ou melhor, você acha que está aprendendo alguma coisa, agindo assim?

- Ah, pai, a imaginação é mais importante que o conhecimento.
Deu um último peteleco na minha bochecha e saiu correndo. Fiquei mudo por uns 10 segundos e, confesso a vocês, me senti o mais ignorante entre todos os ignorantes do mundo. Mas isso não tem importância.


ENTERREM MEU CORAÇÃO NA CURVA DE ENTRADA DO ESTÁDIO.


O que vale é que o campeonato brasileiro é por pontos corridos e vai que vai. O Coritiba depois de uma brilhante vitória sobre o time do Fluminense, teve uma semana relativamente tranqüila. Mas deu nojo ler os nossos jornais na segunda-feira. Todos unanimemente depreciaram a bela conquista, dizendo em letras garrafais que o time ganhou com os calções na mão dos reservas do Flu. Uma hipocrisia cínica e deslavada. O coxa dominou o jogo inteirinho e não permitiu quase nada ao adversário. Mesmo após a bobeira de permitir o empate, o time não se abalou e foi pra cima. A bela jogada do Marlos foi premiada com o segundo gol e, conseqüentemente, com a vitória. Justa, muito justa. E diante de um time grande como o tricolor das laranjeiras, não tem essa de reservas.

O Atlético perdeu para o Grêmio por 3x0, em três cobranças de penalidades máximas. Somente uma infração realmente aconteceu, outra foi duvidosa e a terceira foi um descalabro total, uma barbeiragem do senhor Guilherme Cereta de Lima, árbitro de São Paulo. O Atlético, desta vez, jogou bem, foi agressivo, fez boas triangulações. Caiu, mas caiu de pé, provando que o trabalho do novo técnico começa a produzir bons resultados.

O Paraná, conforme eu previ na semana passada, conseguiu sua primeira vitória diante do ABC, mas teve que usar todo um alfabeto para furar a firme e retrancada defesa do time paulista. Hoje, sexta-feira, à noite, vai jogar lá em Natal- RN contra o América, lanterna absoluto da competição. Eis aí uma boa oportunidade para escapar definitivamente da zona de rebaixamento. É só jogar que nem homem.


ENTRAM EM CAMPO SOBRENATURAL DE ALMEIDA
E DETALHE DOS SANTOS.


Meus obstinadíssimos leitores, salvo um daqueles solavancos do destino que, entre muitos acontecimentos, já provocou o desaparecimento de uma Atlândida ou fez cair o avião de meia seleção italiana, tem Atletiba pintando domingo. Mas, catástrofes à parte, dou como certo o pega dos dois velhos rivais para mais um tira-teima, daqueles de fazer coronárias alviverdes e rubronegras pedirem carona para a eternidade. O Atlético, depois de duas derrotas longe de casa, com toda a certeza, virá soltando fogo pelas ventas, querendo fazer valer a vantagem de jogar com o estádio lotado e torcendo a seu favor. Fato que, convenhamos, lhe dá um certo favoritismo, mas que pode também ser mais uma armadilha armada pelo destino da bola, principalmente se avaliarmos a instabilidade de seu desempenho no campeonato. O Coritiba, pela tradição da camisa – também campeão brasileiro das séries A e B, tem ainda em seu cartel de títulos o Torneio do Povo e incontáveis outros do campeonato paranaense – normalmente cresce em Atletibas e é sempre um inimigo poderoso na Baixada.Nelson Rodrigues, certa feita, me sussurrou ao pé do ouvido: “No futebol quem ganha ou perde as partidas é a alma.” Ao que acrescentei: “Mas quem empata é o espírito de porco.” Rimos, como duas grandes almas puras e, sob a luz das estrelas, mais emocionados que mãe de padre em dia de primeira missa, fomos um para cada lado do gramado do Maracanã. Às torcidas sempre cabe o grande e oscilante espetáculo: a louca alegria , o penoso sofrimento, a catarse do drama, o coração querendo saltar pela boca cheia de dentes. A euforia de uma é sempre a desgraça da outra. Mas isso não tem importância, o que eu quero mesmo dizer é que esse jogo será totalmente igual aos que Atlético e Coritiba têm enfrentado desde que surgiram. Mas nada de desespero, coxas; ou de euforia, atleticanos. Depois de uma Tragédia do Sarriá sempre tem uma Curva do Tamborello. A verdade é que, num Atletiba, o Sobrenatural de Almeida é um verdadeiro Pelé em campo. Explico melhor: quando ele joga até santo de barro apressa o andor e faz milagre. Eu, confesso, já vi muitas coisas estranhas durante um Atletiba, só não vi falta de garra, valentia, luta. Jogador deste clássico tem mais fôlego e força que um Sansão, antes da Dalila descabelar o palhaço. Mas agora me dêem licença que vou atender ao telefone.

- Alô.

- E daí, Dalton?

- Ô, Chico Fantasma, que grande prazer.

- Você já escalou o Sobrenatural de Almeida para jogar domingo?

Claro, né?

- É, imaginei, mas ele não joga sozinho...(pausa)

- ... Glupt...(Engulo em seco 3 ou 4 recôncavos bahianos).

- Ele tem ao seu lado o Coutinho para tabelar, aliás, Coutinho é apelido, o nome verdadeiro é Detalhe dos Santos. E aqui chego aonde queria: à escalação dos dois pelo Grande Técnico. Entendeu, Dalton?

Desligou, antes de eu acabar de pigarrear. O que fazer? O Chico Fantasma, o Trevisan, o Torcedor, o Roberto Prado, o Maringas são peças raras. Mais esquisitos que dissidentes russos, presos na Sibéria, lamentando e batendo a cabeça, aos gritos desesperados, ao receberem a notícia da morte de Stalin, que os havia praticamente dessossado, para usar ossos como dormentes num projeto de estrada de ferro mais fajuto que a Transamazônica. Mas, como sempre fazem, me deixam a pensar com os meu botões de futebol de mesa. Estarão lá, os dois? Sobrenatural e Detalhe, Pelé e Coutinho. Jogando pra quem?


MEDA, TEMORA, PÂNICA, HORRORA!
O JOGO É JOGADO, MEUS AFLITÍSSIMOS LEITORES!



Pego a mensagem do Machado de Assis em seus garranchos elegantes e, com a alma sofrendo os fortes abalos peristálticos que sofrem os elefantes, leio: “O melhor sempre ganha, a menos que acabe perdendo a partida pra si mesmo.” Vencerá a heróica e sofrida nação coxa-branca (uma força da natureza) ou a plácida e auto-elogiada formação rubro-negra (produto da moderna economia globalizada)? Um amigo, por e-mail, me mandou, já faz tempo, um arrazoado pra lá de razoável. Confiram: “Um clássico como Atletiba tem mais de Sobrenatural de Almeida e Detalhe dos Santos do que de Realidade da Silva, tudo ou nada pode acontecer. Dalton, do alto da glória dos meus muitos anos de Atletiba, cheguei a algumas verdades definitivas sobre o clássico: 1. Nem sempre o que está melhor vence. 2. Jogar em casa representa vantagem mínima, já que não é incomum aparecer um Cavalo de Tróia dentro do gramado. 3. O resultado dos jogos é questão de detalhe, principalmente, quando alguém é goleado. 4. Existe uma metamorfose plena e total em certos jogadores, assomam-se-lhes características de craque, personalidade de gênio e intuição divina. Ou exatamente o contrário disso, o cara vira mosca morta e só serve mesmo pra ter chilique e ser expulso. 5. No dia do jogo, Curitiba vai a 17 graus na escala Richter. Pense nisso com carinho. Grande abraço do Maringas.”
O Maringas está certo? Respondam vocês, meus cartomantíssimos leitores, ou calem-se para sempre. Como eu me calo e sei onde me aperta o silêncio. Mas, por favor, poupem-me, porque diante da perspectiva de um terremoto no estádio Joaquim Américo (me nego a chamá-lo de arena), eu já me sinto um habitante de Pompéia esperando um Vesúvio me soterrar totalmente. E, o que é pior, eu completamente fora de mim, como um verdadeiro ignorante.
Até sexta.


Dalton Machado Rodrigues

daltonmrodrigues@gmail.com

O último a chegar é filho bastardo da mulher do padre.




Solivan.
O movimento das águas sem fim.

O olho tem pensamentos que a mão adivinha. E Solivan tem a mão cheia de galhos, habitados por circunféricas laranjas, solares tangerinas às margens de Quedas do rio Iguaçu. Olho que olha muito para essas águas acaba virando peixe ou ganha contornos de vento. E pedra na mão do vento é areia. Cada grão um deus-tema para Solivan. Nele, a palavra pedra já vem com avalanche; a palavra água, com inundação e abertura de picadas. Um poeta vertiginoso, um rio de palavras que não aceita barragens e nem a opressão das margens. Um grande poeta. Uma poesia que não corre pro mar, mas para nós. Nosso coração, a foz.
Aos marinheiros de primeira viagem, fica o aviso: terra firme, para Solivan, é nuvem pronta pra tempestade.

Polaco da Barreirinha


Ensaio mínimo

Ler
é escutar com os olhos.
Escrever
é falar com a mão.





Orações ecumênicas
ou sombras divinas


Buda
descansou à sombra
de uma árvore.
A árvore morreu,
mas sua sombra ainda esta lá.

Shiva
com todos esses braços
sua sombra parece com a de
uma árvore.

Maomé
alimentou com sua sombra
um leão esfomeado.

Tupã
disse aos Tamoios:
- A harpia voa,
mas sua sombra rasteja na terra.

Jesus
ficou parado sob o sol escaldante
porque um menino
dormia no frescor mentolado
de sua sombra.


Pensamentos dispersivos
sobre minha reencarnação

Esta manhã quis que
meu rosto fosse
e sentisse a água fresca
temperada com musgos e folhas,
correr eterna sobre minha face.

E meu olhar distâncias
ou linha do horizonte
para ver o sol
estender sua luz limpa e quente sobre a terra,
como um lençol recém passado sobre
a cama.

Que de meus braços emplumados de folhas
e dedos transformados em galhos de árvores
pingassem tangerinas.



Apresentação

Nasci
no útero da Via Láctea,
neste óvulo fecundado pelo sol
chamado terra
como todos.
Era fraco,
mantive-me vivo graças às vitaminas, proteínas
e sais minerais
contidos nas orações de minha avó.
Meu corpo é feito de folhas, carne
ar, sol e água.
Meu primeiro medo foi que das sementes
engolidas nascesse
pela minha boca um galho carregado de laranjas.
Das etapas
já mastiguei a doce infância, a amarga adolescência
estou roendo o osso da vida adulta
e roer osso é saboroso.
Amanhã morrerei
aliás absolvo a morte,
é a morte que renova a vida.
Por fim
sou poeta
porque gosto de lamber
folhas em branco,
lembra-me leite materno.



Solivan Brugnara

quarta-feira, junho 25, 2008


bom dia


à meia-noite acordei feliz
estava nascendo um novo dia
tudo era novidade pra mim
saí pelado na rua
acharam normal

minhas vizinhas manequins de babydoll
sorriam pra mim
sorriam pra mim
bom dia, bom dia
Bom dia, Gisele
Bom dia, Luíza Brunet

Thadeu W e Trindade

Música gravada no meu CD


WOJCIECHOWSKI





BICHO DO PARANÁ

Roberto Prado, poeta, jornalista, compositor, redator e pai de todos os filhos do mundo. Autor de várias músicas em parceria com Adriano Sátiro, Trindade, Osvaldo Rios, Paulo Leminski, Thadeu, Rodrigo, Edilson Del Grossi e Ferreira, entre outros. Tem vários livros e recentemente lançou pela FTD sua adaptação da obra de Gogol, o Inspetor Geral. Enfim, o cara é o bicho mesmo. Se quiser ler uma entrevista completa com ele, procure aqui no blog nas postagens antigas. Eu não direi a data (ihihihihi!!).

Polaco da Barreirinha



Cruz e Sousa: o Negro Branco


Quem toca neste livro toca numa vida. A vida problemática e atormentada de um negro genial, um dos maiores poetas do Brasil. O Cisne Negro, o Dante de Ébano, como já foi chamado, é a figura central do nosso simbolismo, esse movimento tão importante e tão incompreendido. Negro Cruz e Sousa. Negro simbolismo brasileiro. Ambos, alvos do preconceito. Da segregação. Da incompreensão. Acompanhando a trajetória de Cruz e Sousa, você vai ver o que o Brasil tem de pior. E de melhor. Pobre Cruz. Ele era o melhor.


Quem leu não vai para o céu.


João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), a 24 de novembro de 1861 e morreu em Estação do Sítio, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro, alcunhado Dante Negro e Cisne Negro. Foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.
Filho de
negros alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais.
Em
1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor em Laguna (SC) por ser negro. Em 1885 lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com o jornal Folha Popular. Em Fevereiro de 1893, publica Missal (prosa poética) e, em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.
Faleceu a
19 de Março de 1898 no município mineiro de Antônio Carlos, num povoado chamado Estação do Sítio, para onde fora transportado às pressas vencido pela tuberculose. Teve o seu corpo transportado para o Rio de Janeiro em um vagão destinado ao transporte de cavalos. Ao chegar, foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier por seus amigos, dentre eles José do Patrocínio, onde permanece até hoje. A grande ironia é que o poeta e seus filhos morreram de doenças provocadas pela fome e hoje Cruz e Sousa dá nome ao
Palácio do Governo de Santa Catarina.


O Assinalado


Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema,
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado,
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco...

Na Natureza prodigiosa e rica,
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!



Cruz e Sousa

Em seu memorial, o tamarindo ainda o acompanha.




Vozes da Morte

Agora, sim! Vamos morrer reunidos,
Tamarindo da minha desventura,
Tu, com o envelhecimento da nervura,
Eu, com o envelhecimento dos tecidos!

Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!
E a podridão, meu velho! E essa futura
Ultrafatalidade de ossatura,
A que nos acharemos reduzidos!

Não morrerão, porém, tuas sementes!
E, assim, para o futuro, em diferentes
Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,

Na multiplicidade dos teus ramos,
Pelo muito que em vida nos amamos,
Depois da morte, inda teremos filhos!


Augusto dos Anjos



Foto de Jorge Veloso


quando as folhas caírem

quando as folhas caírem, e tu fores
procurar minha cruz no campo santo
hás de encontrá-la, meu amor, num canto,
circundada de flores.

colhe então, para os teus loiros cabelos,
cada flor que do meu peito florisse!

são versos que pensei sem escrevê-los,
são palavras de amor que não te disse...


Lorenzo Stecchetti

Tradução de Alphonsus de Guimaraens