Capítulo 6
O povão, no fundo, bem lá no fundo, é bão.
Beatriz diz que já volta, vai tomar um banho,
Trocar de roupa e dar um oi para a família.
Quer que eu faça o mesmo, se não apanho.
Digo que vou e não vou. "Cerveja! Maravilha!"
Quando boto o olho em volta, as coisas vão bem.
Carne no fogo, cerveja, vinho, é servida
Uma lingüicinha com pãozinho também.
Diga leitor (a), quem vai querer outra vida?
Os ânimos estão serenados, me sinto
Tranqüilo, em paz. O que que eu quero mais, Meu Deus!?
O que que eu quero? Uma talagada desse absinto,
Claro, é isso! Primeiro os meus, São Mateus!
Putz, um arrepio levanta todos meus pêlos,
Parece que adivinho, o que vai acontecer.
O seo Nestor, apesar de todos os apelos,
Fez mais um balde de caipira. “Beber!
Vamos beber!” Um pé inchado, de narigão
Avermelhado, berrava e ria, como um louco.
O balde rapidamente ia de mão em mão
E, quando chegou até mim, restava pouco.
O vozerio ultrapassou os decibéis
Permitidos por lei. As fêmeas riam e se abriam
Pra meio mundo. Tive que contar até dez,
Pra não meter a mão onde elas queriam.
- Hein, seo Nestor, quem viu esse pessoal e vê
Agora, não diz que são os mesmos, não é?
- O povão, no fundo, é bão, basta se querê
Bem o próchimo e olhá de longe sua muié.
- Se as pessoas seguissem a sua filosofia,
O mundo não andava com um pé atrás.
Não sei o que ouviu de tão engraçado, ria
Alto e desbragadamente, como quem faz
O que mais gosta. “Voismecê é uma bola.”
Me disse e caiu de novo na gargalhada.
O mulherio veio e o agarrou pela gola,
Pondo fim à nossa agradável palhaçada.
Os punks comem tudo que vem pela frente
E tomam aos litros porretes colossais.
É tão bom ser completamente diferente,
Eu penso, refletindo sobre os animais.
Já bebi mais do que cabe em mim quatro vezes,
A tarde cai e o sol está pegando fogo.
A primavera inteira só dura três meses,
Mas flores nascem durante o ano todo.
Estou pra lá de comovido, essa bebida,
Esse entardecer, essa gente, esse amor,
Que entrou em mim quando eu estava de saída,
Essa vontade de ser seja lá o que for.
Fim do capítulo 6